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Susan Cain: O poder dos introvertidos

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    Quando eu tinha nove anos
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    fui para um acampamento de férias pela 1ª vez.
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    E minha mãe encheu minha mala
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    de livros,
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    o que me pareceu a coisa mais natural do mundo.
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    Porque em minha família,
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    ler era nossa principal atividade em grupo.
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    E isso pode soar anti-social para vocês,
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    mas para nós era apenas um jeito diferente de ser sociável.
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    Você tem o calor da sua família
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    sentada bem a seu lado,
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    mas você também é livre para perambular pela terra das aventuras
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    em sua própria mente.
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    E eu tinha essa ideia
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    que o acampamento seria assim, só que melhor.
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    (Risos)
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    Imaginava 10 meninas numa cabana, sentadas
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    confortavelmente, de pijamas combinando, lendo livros.
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    (Risos)
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    O acampamento foi como um festival do vinho sem vinho.
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    E no primeiro dia
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    nossa monitora reuniu todo mundo
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    e nos ensinou um refrão que ela disse que iríamos repetir
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    todos os dias até o fim do verão
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    para entrarmos no espírito de acampar.
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    E era assim:
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    "R-O-W-D-I-E,
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    é assim que se soletra "rowdie".
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    Agitadas, agitadas, vamos ficar agitadas."
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    É.
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    Eu não conseguia entender por nada deste mundo
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    porque deveríamos ficar tão agitadas,
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    ou porque tínhamos de soletrar essa palavra incorretamente.
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    (Risos) (Rowdy)
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    Mas eu recitei o refrão. Recitei o refrão junto com todo mundo.
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    Fiz o meu melhor.
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    E só esperava o momento
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    em que poderia me isolar e ler meus livros.
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    Mas na primeira vez que tirei meu livro da mala,
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    a menina mais legal do alojamento se aproximou
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    e perguntou, "Porque você está assim tão quieta?"
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    quieta, claro, sendo exatamente o oposto
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    de R-O-W-D-I-E
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    Na minha segunda tentativa,
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    a monitora se aproximou com uma expressão preocupada
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    e repetiu o objetivo do espírito de acampar
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    e disse que deveríamos fazer um esforço
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    para sermos extrovertidos.
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    Então guardei meus livros,
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    novamente na mala,
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    coloquei-os embaixo da cama,
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    e lá ficaram por todo o verão.
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    Eu me sentia meio culpada por isso.
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    Sentia que os livros precisavam de mim,
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    estavam me chamando e eu os havia abandonado.
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    Mas os abandonei mesmo e não abri mais a mala
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    até voltar para casa com minha família
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    no fim do verão.
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    Conto a vocês essa história sobre o acampamento.
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    Poderia ter-lhes contado outras 50 parecidas --
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    todas as vezes que captei a mensagem
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    que, de alguma forma, meu jeito quieto e introvertido de ser
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    não era bem o jeito certo de ser,
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    que eu deveria tentar parecer mais extrovertida.
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    Em meu íntimo sempre senti que isso estava errado
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    e que introvertidos eram excelentes exatamente como eram.
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    Mas durante anos neguei essa intuição,
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    e por isso, tornei-me advogada em Wall Street,
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    em vez da escritora que sempre desejei ser --
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    em parte por precisar provar a mim mesma
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    que poderia ser audaciosa e assertiva também.
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    Eu sempre ia a bares lotados
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    quando o que queria mesmo era um jantar agradável com amigos.
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    E em autonegação fiz essas escolhas
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    tão automaticamente,
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    que nem tinha consciência de que as fazia.
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    Isso é o que muitos introvertidos fazem
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    e a perda certamente é nossa,
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    mas também é de nossos colegas
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    e de nossa comunidade.
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    E, correndo o risco de soar pretenciosa, a perda é do mundo.
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    Pois quando se trata de criatividade e liderança,
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    precisamos dos introvertidos fazendo o que sabem fazer melhor .
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    De um terço à metade da população é introvertida --
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    de um terço à metade.
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    Isso é uma em cada duas ou três pessoas que conhecemos.
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    Então, mesmo que vocês sejam extrovertidos,
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    estou falando de seus colegas de trabalho.
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    seus cônjuges e seus filhos
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    e da pessoa sentada a seu lado agora --
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    todas sujeitas a esse preconceito
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    que é bem arraigado e real em nossa sociedade.
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    Todos nós interiorizamos isso desde pequenos
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    sem ao menos termos uma linguagem para o que fazemos.
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    Para enxergar claramente o preconceito
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    vocês precisam entender o que é introversão.
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    É diferente de ser tímido.
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    Timidez tem a ver com o medo do julgamento social.
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    Introversão é mais sobre
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    como alguém reage à estimulação,
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    incluindo estimulação social.
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    Portanto, extrovertidos precisam de muita estimulação,
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    enquanto os introvertidos se sentem mais vivos,
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    mais ativos e mais capazes
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    quando estão em ambientes mais silenciosos e calmos.
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    Nem sempre -- essas coisas não são absolutas --
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    mas a maior parte do tempo.
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    Então o segredo
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    para maximizarmos nossos talentos
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    é nos colocar
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    na zona de estimulação que nos seja adequada.
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    Mas agora é que entra o preconceito.
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    Nossas instituições mais importantes,
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    nossas escolas e nossos locais de trabalho,
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    são geralmente projetados para os extrovertidos
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    e sua necessidade de muita estimulação.
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    E hoje também temos esse sistema de crença
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    que chamo de o novo 'pensamento de grupo',
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    que considera que toda criatividade e produtividade
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    vêm de um lugar curiosamente gregário.
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    Então imaginem a típica sala de aula atual:
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    Quando eu estava na escola,
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    nós sentávamos em filas.
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    Sentávamos em filas de carteiras como essa,
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    e fazíamos a maior parte dos trabalhos individualmente.
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    Mas hoje em dia, a típica sala de aula
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    tem grupos de carteiras --
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    quatro, cinco, seis ou sete crianças frente a frente.
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    E as crianças fazem inúmeros trabalhos em grupo.
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    Mesmo em disciplinas como matemática e redação criativa,
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    que pensamos que dependeriam de voos solo de pensamento,
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    espera-se que as crianças ajam como membros de um comitê.
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    E para as que preferem
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    ficar sozinhas ou simplesmente trabalhar sozinhas,
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    elas costumam ser vistas como estranhas
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    ou, pior, como problemas.
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    E a grande maioria dos professores acredita
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    que o estudante ideal é o extrovertido
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    e não o introvertido,
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    mesmo os introvertidos tendo melhores notas
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    e sendo mais cultos,
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    segundo pesquisa.
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    (Risos)
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    Ok, o mesmo acontece em nosso local de trabalho.
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    Quase todos nós trabalhamos em escritórios abertos,
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    sem paredes,
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    onde somos sujeitos
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    ao barulho e aos olhares constantes de nossos colegas.
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    E quando se trata de liderança,
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    os introvertidos geralmente são desconsiderados para posições de liderança,
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    ainda que costumem ser muito atentos,
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    bem menos passíveis de correr riscos incalculados --
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    que é algo que, hoje, talvez todos valorizemos.
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    Uma pesquisa interessante feita por Adam Grant na Wharton School
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    descobriu que líderes introvertidos
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    costumam ter melhores resultados que os extrovertidos,
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    porque quando gerenciam empregados proativos,
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    são mais passíveis de deixá-los seguir suas próprias ideias,
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    enquanto que um extrovertido pode, involuntariadamente,
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    ficar tão empolgado com tudo
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    que suas ideias acabam prevalecendo,
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    e as ideias dos outros podem não vir à tona
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    tão facilmente.
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    De fato, alguns líderes transformadores da história eram introvertidos.
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    Darei alguns exemplos.
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    Eleanor Roosevelt, Rosa Parks, Gandhi --
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    todas essas pessoas descreviam-se como
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    quietas, de voz suave e até tímidas.
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    E todas foram o centro das atenções,
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    apesar de todos seus instintos
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    dizerem o contrário.
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    E isso resulta em um poder próprio e especial,
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    porque as pessoas podiam sentir que esses líderes estavam no comando,
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    não porque gostavam de mandar nos outros
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    nem por gostarem de ser admirados;
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    eles estavam lá por não terem escolha,
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    porque foram levados a fazer o que achavam certo.
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    Penso que à esta altura é importante dizer
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    que adoro os extrovertidos.
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    Gosto de dizer que alguns de meus melhores amigos são extrovertidos,
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    incluindo meu querido marido.
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    E claro nos situamos todos em pontos diferentes,
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    no espectro introvertido/extrovertido.
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    Até Carl Jung, o psicólogo que popularizou esses termos, disse
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    que não há um introvertido puro
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    nem um extrovertido puro.
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    Ele disse que tal homem estaria num hospício,
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    se acaso existisse.
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    Algumas pessoas caem bem no meio
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    do espectro introvertido/extrovertido,
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    e as chamamos de 'ambivertidas'.
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    Costumo pensar que elas têm o melhor dos dois mundos.
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    Mas muitos de nós se reconhecem como um dos dois tipos.
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    O que digo é que culturalmente precisamos de um melhor equilíbrio.
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    Precisamos de mais yin e yang
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    entre esses dois tipos.
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    Isso é especialmente importante
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    quando nos referimos à criatividade e à produtividade,
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    porque quando os psicológos observam
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    a vida da maioria das pessoas criativas,
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    o que encontram
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    são pessoas muito boas em trocar ideias
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    e em desenvolver ideias,
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    mas que também têm um traço forte de introversão.
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    E isso porque a solidão é muitas vezes um ingrediente crucial
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    para a criatividade.
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    Darwin,
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    fazia longos passeios sozinho no mato
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    e declinava enfaticamente convites para jantares.
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    Theodor Geisel, mais conhecido como Dr. Seuss,
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    inventava muitas de suas fantásticas criações
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    num escritório isolado que tinha num campanário
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    atrás da sua casa em La Jolla, Califórnia.
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    Ele até tinha receio de conhecer
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    as crianças que liam seus livros
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    por temer que elas esperassem que ele fosse
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    uma pessoa animada como Papai Noel
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    e ficassem desapontadas com sua personalidade reservada.
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    Steve Wozniak inventou o primeiro computador Apple
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    sozinho, sentado em seu cubículo
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    na Hewlett-Packard, onde trabalhava na época.
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    Ele diz que jamais teria se tornado um expert
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    caso não fosse tão introvertido para sair de casa
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    quando estava crescendo.
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    Claro que
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    isso não significa que devemos parar de colaborar --
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    e um bom exemplo é o fato de Steve Wozniack ter se associado a Steve Jobs
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    para lançar o computador Apple --
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    mas significa, sim, que a solidão importa
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    e que para algumas pessoas
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    é como o ar que respiram.
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    E, de fato, sabemos há séculos
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    do poder transcendente da solidão.
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    Só agora é que estranhamente começamos a esquecê-lo.
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    Se vocês observarem as grandes religiões do mundo,
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    encontrarão pensadores --
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    Moisés, Jesus, Buda, Maomé --
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    pensadores que vão por conta própria
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    sozinhos na natureza
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    onde têm epifanias e revelações profundas
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    que depois trazem para o resto da comunidade.
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    Então, nada de natureza, nada de revelações.
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    Isto não é nenhuma surpresa
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    se vocês observarem as ideias da psicologia contemporânea.
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    Parece que nem conseguimos estar em um grupo de pessoas
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    sem instintivamente as espelharmos, imitando suas opiniões.
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    Mesmo sobre coisas aparentemente pessoais e íntimas,
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    como quem nos atrai,
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    começamos a imitar as crenças das pessoas à nossa volta
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    sem ao menos percebermos o que fazemos.
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    E os grupos, como se sabe, seguem as opiniões
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    da pessoa mais dominante e carismática presente,
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    mesmo não havendo nenhuma correlação
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    entre ser o melhor orador e ter as melhores ideias --
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    Quero dizer, zero.
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    Portanto...
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    (Risos)
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    Vocês podem estar seguindo a pessoa com melhores ideias,
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    mas também podem não estar.
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    E querem mesmo deixar isso ao acaso?
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    É muito melhor todos seguirem seus próprios caminhos,
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    gerando suas próprias ideias
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    livres das distorções das dinâmicas de grupo,
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    e depois reunirem-se como equipe
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    para falarem num ambiente bem gerenciado
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    e começar daí.
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    Se tudo isso é verdade,
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    então por que estamos entendendo tudo errado?
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    Por que organizamos nossas escolas e locais de trabalho assim?
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    E por que fazemos esses introvertidos se sentirem tão culpados
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    por vez ou outra quererem estar sozinhos?
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    Uma das respostas está enraizada em nossa história cultural.
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    As sociedades ocidentais,
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    em particular os Estados Unidos,
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    sempre favoreceram o homem de ação
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    em vez do homem contemplativo
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    e "homem" contemplativo.
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    Mas nos primórdios da América,
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    vivíamos o que os historiadores chamavam de cultura do caráter,
  • 11:25 - 11:27
    quando ainda valorizávamos as pessoas
  • 11:27 - 11:30
    pelo seu interior e sua retidão moral.
  • 11:30 - 11:32
    E se olharem os livros de autoajuda daquele tempo,
  • 11:32 - 11:34
    todos tinham títulos como
  • 11:34 - 11:37
    "Caráter, a Coisa Mais Importante do Mundo."
  • 11:37 - 11:40
    E eles tiveram exemplos como Abraham Lincoln
  • 11:40 - 11:42
    que era elogiado por ser modesto e despretencioso.
  • 11:42 - 11:44
    Ralph Waldo Emerson apelidou-o de
  • 11:44 - 11:47
    "Um homem que não ofende pela superioridade."
  • 11:47 - 11:50
    Mas depois chegamos ao século XX
  • 11:50 - 11:52
    e entramos numa nova cultura
  • 11:52 - 11:54
    que historiadores chamam de cultura da personalidade.
  • 11:54 - 11:56
    Aconteceu que evoluímos de uma economia agrícola
  • 11:56 - 11:58
    à um mundo de grandes negócios.
  • 11:58 - 12:00
    De repente, as pessoas mudaram
  • 12:00 - 12:02
    de vilas pequenas para cidades.
  • 12:02 - 12:05
    Em vez de trabalharem com pessoas que conheceram a vida toda,
  • 12:05 - 12:07
    agora têm que provar seu valor
  • 12:07 - 12:09
    numa multidão de estranhos.
  • 12:09 - 12:11
    Então, compreensivelmente,
  • 12:11 - 12:13
    qualidades como magnetismo e carisma
  • 12:13 - 12:15
    parecem, de repente, muito importantes.
  • 12:15 - 12:18
    E assim livros de autoajuda mudam para satisfazer essas novas necessidades
  • 12:18 - 12:20
    e eles começam a ter nomes
  • 12:20 - 12:22
    como "Como Ganhar Amigos e Influenciar Pessoas."
  • 12:22 - 12:24
    E eles têm como modelos
  • 12:24 - 12:27
    grandes vendedores.
  • 12:27 - 12:29
    Este é o mundo em que vivemos.
  • 12:29 - 12:33
    É a nossa herança cultural.
  • 12:33 - 12:35
    Nada disso quer dizer
  • 12:35 - 12:38
    que as habilidades sociais não são importantes,
  • 12:38 - 12:40
    e também não invoco
  • 12:40 - 12:43
    a abolição do trabalho em equipe.
  • 12:43 - 12:46
    As mesmas religiões que enviaram seus sábios para isolados cumes de montanha
  • 12:46 - 12:49
    também nos ensinam sobre amor e confiança.
  • 12:49 - 12:51
    E os problemas que enfrentamos hoje
  • 12:51 - 12:53
    em áreas como ciência ou economia
  • 12:53 - 12:55
    são tão amplos e complexos
  • 12:55 - 12:57
    que precisamos de exércitos de pessoas se unindo
  • 12:57 - 12:59
    para resolvê-los, trabalhando juntos.
  • 12:59 - 13:02
    Quanto mais liberdade dermos aos introvertidos para que sejam eles mesmos,
  • 13:02 - 13:04
    maior a probabilidade de eles
  • 13:04 - 13:07
    surgirem com suas próprias e únicas soluções para esses problemas.
  • 13:09 - 13:11
    Então gostaria de compartilhar com vocês
  • 13:11 - 13:14
    o que está em minha mala hoje.
  • 13:18 - 13:20
    Adivinham?
  • 13:20 - 13:22
    Livros.
  • 13:22 - 13:24
    Tenho uma mala cheia de livros.
  • 13:24 - 13:26
    Aqui está Margaret Atwood, "Olho de Gato"
  • 13:26 - 13:29
    Aqui está um romance de Milan Kundera.
  • 13:29 - 13:31
    E aqui está "O Guia dos Perplexos"
  • 13:31 - 13:34
    de Maimonides.
  • 13:34 - 13:37
    Mas estes não são de fato meus livros.
  • 13:37 - 13:39
    Trouxe-os comigo
  • 13:39 - 13:43
    porque foram escritos pelos autores favoritos de meu avô.
  • 13:43 - 13:45
    Meu avô era um rabino
  • 13:45 - 13:47
    e era um viúvo,
  • 13:47 - 13:50
    que vivia sozinho num pequeno apartamento no Brooklyn,
  • 13:50 - 13:53
    que era meu lugar favorito quando criança,
  • 13:53 - 13:56
    em parte, porque estava envolto por sua presença amável e cortês
  • 13:56 - 13:59
    e, em parte, porque estava cheio de livros.
  • 13:59 - 14:02
    Literalmente todas as mesas, todas as cadeiras desse apartamento
  • 14:02 - 14:04
    tinham cedido sua função original
  • 14:04 - 14:07
    para agora servirem de base para equilibrar pilhas de livros.
  • 14:07 - 14:09
    Tal como o restante da família,
  • 14:09 - 14:12
    a atividade favorita de meu avô era ler.
  • 14:12 - 14:15
    Mas ele também adorava sua congregação
  • 14:15 - 14:18
    e podíamos sentir esse amor em seus sermões,
  • 14:18 - 14:22
    todas as semanas, durante os 62 anos em que foi rabino.
  • 14:22 - 14:25
    Ele pegava os frutos da leitura de cada semana
  • 14:25 - 14:28
    e tecia essas tapeçarias intrincadas do pensamento antigo e humanista.
  • 14:28 - 14:30
    As pessoas vinham de todo lugar
  • 14:30 - 14:32
    para ouvi-lo falar.
  • 14:32 - 14:35
    Mas eis algo interessante sobre meu avô.
  • 14:35 - 14:37
    Debaixo dessa função cerimonial,
  • 14:37 - 14:40
    ele era muito modesto e introvertido --
  • 14:40 - 14:43
    tanto que quando pregava esses sermões,
  • 14:43 - 14:45
    tinha problemas em manter contato visual
  • 14:45 - 14:47
    com sua congregação
  • 14:47 - 14:49
    para quem havia falado por 62 anos.
  • 14:49 - 14:51
    E mesmo afastado do púlpito,
  • 14:51 - 14:53
    quando vinham cumprimentá-lo,
  • 14:53 - 14:55
    ele costumava acabar logo a conversa
  • 14:55 - 14:59
    com receio de estar tomando muito tempo dos outros.
  • 14:59 - 15:02
    Mas quando morreu aos 94 anos,
  • 15:02 - 15:05
    a polícia teve que fechar as ruas da sua vizinhança
  • 15:05 - 15:07
    para acomodar a multidão
  • 15:07 - 15:10
    que foi despedir-se dele.
  • 15:11 - 15:14
    E agora tento seguir o exemplo do meu avô
  • 15:14 - 15:16
    à minha maneira.
  • 15:16 - 15:19
    Publiquei recentemente um livro sobre introversão,
  • 15:19 - 15:21
    e demorei uns 7 anos para escrevê-lo.
  • 15:21 - 15:24
    Para mim, esses 7 anos foram uma benção,
  • 15:24 - 15:27
    porque eu estava lendo, escrevendo,
  • 15:27 - 15:29
    pensando, pesquisando.
  • 15:29 - 15:31
    Era a minha versão
  • 15:31 - 15:34
    das horas que meu avô passava sozinho na biblioteca.
  • 15:34 - 15:37
    Mas agora, de repente, meu trabalho é muito diferente,
  • 15:37 - 15:40
    e meu trabalho é estar aqui falando sobre isso,
  • 15:40 - 15:43
    falando sobre introversão.
  • 15:43 - 15:47
    (Risos)
  • 15:47 - 15:49
    E isso é bem mais difícil para mim,
  • 15:49 - 15:51
    pois por mais honrada que eu me sinta
  • 15:51 - 15:53
    de estar aqui com vocês agora,
  • 15:53 - 15:56
    este não é meu ambiente natural.
  • 15:56 - 15:58
    Então me preparei para momentos como este
  • 15:58 - 16:00
    o melhor que pude.
  • 16:00 - 16:02
    Passei o último ano praticando oratória
  • 16:02 - 16:04
    sempre que pude.
  • 16:04 - 16:07
    E o chamo de meu "ano de falar perigosamente".
  • 16:07 - 16:09
    (Risos)
  • 16:09 - 16:11
    E isso me ajudou muito.
  • 16:11 - 16:13
    Mas digo-lhes, o que ajuda ainda mais
  • 16:13 - 16:16
    é meu sentimento, minha convicção, minha esperança
  • 16:16 - 16:18
    de que, no que diz respeito à nossa postura
  • 16:18 - 16:20
    quanto à introversão, ao silêncio e à solidão,
  • 16:20 - 16:22
    estamos mesmo à beira de uma mudança profunda.
  • 16:22 - 16:24
    Quero dizer, estamos mesmo.
  • 16:24 - 16:26
    E agora vou deixá-los,
  • 16:26 - 16:28
    antes fazendo três apelos
  • 16:28 - 16:30
    aos que compartilham dessa visão.
  • 16:30 - 16:32
    Número um:
  • 16:32 - 16:34
    Parem com a loucura de trabalho em grupo constante.
  • 16:34 - 16:36
    Parem.
  • 16:36 - 16:39
    (Risos)
  • 16:39 - 16:41
    Obrigada.
  • 16:41 - 16:43
    (Aplausos)
  • 16:43 - 16:45
    E quero ser clara no que estou dizendo,
  • 16:45 - 16:47
    porque acredito profundamente que os nossos escritórios
  • 16:47 - 16:49
    deviam encorajar
  • 16:49 - 16:51
    as interações casuais, conversas de café --
  • 16:51 - 16:53
    do tipo em que as pessoas se reunem,
  • 16:53 - 16:55
    e, do nada, trocam ideias.
  • 16:55 - 16:57
    Isso é ótimo.
  • 16:57 - 16:59
    É ótimo para introvertidos e extrovertidos.
  • 16:59 - 17:01
    Mas precisamos de muito mais privacidade, liberdade
  • 17:01 - 17:03
    e autonomia no trabalho.
  • 17:03 - 17:05
    Na escola, a mesma coisa.
  • 17:05 - 17:08
    Claro que precisamos ensinar às crianças a trabalhar juntas,
  • 17:08 - 17:10
    mas também temos que ensiná-las a trabalhar sozinhas.
  • 17:10 - 17:13
    Isso é particularmente importante para crianças extrovertidas.
  • 17:13 - 17:15
    Elas precisam trabalhar sozinhas
  • 17:15 - 17:17
    porque em parte é daí que vem o pensamento profundo.
  • 17:17 - 17:20
    Ok, número dois: Vão para a natureza.
  • 17:20 - 17:23
    Sejam como Buda, tenham suas próprias revelações.
  • 17:23 - 17:25
    Não estou dizendo
  • 17:25 - 17:28
    que temos de ir todos agora construir nossas cabanas no mato
  • 17:28 - 17:31
    e nunca mais falar uns com os outros,
  • 17:31 - 17:33
    mas digo que deveríamos conseguir nos desligar
  • 17:33 - 17:35
    e ter contato com nosso próprio interior
  • 17:35 - 17:38
    mais frequentemente.
  • 17:39 - 17:42
    Número três:
  • 17:42 - 17:44
    Deem uma boa olhada no que há em sua própria mala
  • 17:44 - 17:46
    e no motivo daquilo estar lá.
  • 17:46 - 17:48
    Extrovertidos,
  • 17:48 - 17:50
    talvez sua mala também esteja cheia de livros.
  • 17:50 - 17:52
    Ou cheia de copos de champanhe
  • 17:52 - 17:55
    ou equipamento de paraquedismo.
  • 17:55 - 17:59
    Seja o que for, espero que mostrem essas coisas sempre que possam
  • 17:59 - 18:02
    e nos agraciem com sua energia e alegria.
  • 18:02 - 18:05
    Mas, introvertidos, vocês sendo vocês mesmos,
  • 18:05 - 18:07
    provavelmente têm o impulso de guardar cuidadosamente
  • 18:07 - 18:09
    o que há dentro de sua mala.
  • 18:09 - 18:11
    E está tudo bem.
  • 18:11 - 18:13
    Mas ocasionalmente, só ocasionalmente,
  • 18:13 - 18:16
    espero que abram sua mala para as outras pessoas verem,
  • 18:16 - 18:19
    porque o mundo precisa de vocês e das coisas que carregam.
  • 18:21 - 18:23
    Desejo-lhes a melhor de todas as jornadas possíveis
  • 18:23 - 18:26
    e a coragem para falar suavemente.
  • 18:26 - 18:28
    Muito obrigada.
  • 18:28 - 18:32
    (Aplausos)
  • 18:32 - 18:35
    Obrigada. Obrigada.
  • 18:35 - 18:42
    (Aplausos)
Title:
Susan Cain: O poder dos introvertidos
Speaker:
Susan Cain
Description:

Em uma cultura onde ser sociável e extrovertido é valorizado como nunca, pode ser difícil, até vergonhoso, ser introvertido. Mas, como Susan Cain argumenta nesta apaixonante palestra, introvertidos trazem ao mundo habilidades e talentos extraordinários e devem ser encorajados e reconhecidos.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
18:43
Jenny Zurawell approved Portuguese, Brazilian subtitles for The power of introverts
Viviane Ferraz Matos added a translation

Portuguese, Brazilian subtitles

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