O meu desejo: Ajudem-me a deter as pandemias
-
0:01 - 0:03Sou o homem mais sortudo do mundo.
-
0:03 - 0:07Assisti ao último caso
de varíola assassina no mundo. -
0:08 - 0:11Estava na Índia, o ano passado,
-
0:11 - 0:14e posso ter visto os últimos casos
de poliomielite no mundo. -
0:16 - 0:20Não há nada que nos faça
sentir melhor a bênção e a honra -
0:20 - 0:23de trabalhar num programa como este
-
0:23 - 0:27do que saber que desapareceu
uma coisa tão terrível.. -
0:28 - 0:32(Aplausos)
-
0:32 - 0:35Por isso, vou mostrar-vos
umas imagens revoltantes. -
0:35 - 0:40São difíceis de ver,
mas devem olhar para elas com otimismo, -
0:41 - 0:47porque o horror destas imagens
será compensado -
0:47 - 0:51com o conforto animador
de saber que já não existem. -
0:51 - 0:55Mas primeiro, vou falar-vos um pouco
da minha experiência. -
0:56 - 0:59A minha formação não é propriamente
a formação médica convencional -
0:59 - 1:01de que podiam estar à espera.
-
1:01 - 1:05Quando eu era interno em São Francisco,
-
1:05 - 1:10ouvi falar dum grupo de nativos americanos
que tinham ocupado a Ilha de Alcatraz -
1:10 - 1:13e de uma nativa americana
que queria dar à luz naquela ilha, -
1:13 - 1:17mas nenhum médico queria lá ir
para ajudá-la no parto. -
1:17 - 1:21Fui a Alcatraz e vivi na ilha
durante várias semanas. -
1:22 - 1:25Ela deu à luz, eu aparei o bebé
e vim-me embora da ilha. -
1:25 - 1:27Desembarquei em São Francisco.
-
1:27 - 1:28Toda a imprensa queria falar comigo
-
1:28 - 1:30porque as minhas três semanas na ilha
-
1:30 - 1:33tinham-me tornado num especialista
dos assuntos índios. -
1:33 - 1:34(Risos)
-
1:34 - 1:36Apareci em todos
os programas de televisão. -
1:36 - 1:38Viram-me na TV,
chamaram-me e perguntaram-me -
1:38 - 1:41se eu queria entrar num filme
e representar um jovem médico -
1:41 - 1:45dum grupo de estrelas do "rock"
que viajavam de autocarro -
1:45 - 1:47de São Francisco a Inglaterra.
-
1:47 - 1:48Eu disse que sim, que faria isso.
-
1:48 - 1:52Assim, tornei-me médico
num filme absolutamente horrível -
1:52 - 1:55chamado "Medicine Ball Caravan."
-
1:55 - 1:56(Risos)
-
1:56 - 2:00Nos anos 60, ou se estava num autocarro,
ou fora dele; eu estava lá dentro. -
2:00 - 2:03A minha mulher, de há 37 anos, e eu
apanhámos o autocarro. -
2:03 - 2:06A nossa viagem de autocarro
levou-nos de São Francisco a Londres, -
2:06 - 2:09Tínhamos trocado de autocarro
no Oceano Atlântico. -
2:09 - 2:12Depois apanhámos mais dois autocarros
-
2:12 - 2:14e atravessámos a Turquia,
o Irão, o Afeganistão, -
2:14 - 2:17atravessámos o Passo Khyber
para o Paquistão, -
2:17 - 2:19como qualquer outro jovem médico.
-
2:19 - 2:21Estes somos nós no Passo Khyber,
aquele é o nosso autocarro. -
2:21 - 2:25Tivemos muita dificuldade
em atravessar o Passo Khyber, -
2:25 - 2:27mas acabámos por chegar à Índia.
-
2:27 - 2:29Depois, como toda a gente
da nossa geração, -
2:29 - 2:32fomos viver para um mosteiro
nos Himalaias. -
2:32 - 2:34(Risos)
-
2:35 - 2:37Isto era apenas como um estágio
-
2:37 - 2:39para os que andam a estudar medicina.
-
2:39 - 2:41(Risos)
-
2:41 - 2:45Estudámos com um homem sábio,
um guru chamado Karoli Baba, -
2:45 - 2:49que me disse para me desfazer da túnica,
-
2:49 - 2:51vestir um fato de três peças,
-
2:51 - 2:54ir para a ONU como diplomata
-
2:54 - 2:57e trabalhar para
a Organização Mundial de Saúde. -
2:57 - 3:01Ele fez uma profecia incrível
de que a varíola seria erradicada, -
3:01 - 3:04era uma dádiva de Deus à humanidade,
-
3:04 - 3:07por causa do trabalho difícil
de cientistas dedicados. -
3:07 - 3:09Essa profecia concretizou-se.
-
3:10 - 3:12Esta rapariguinha é Rahima Banu.
-
3:12 - 3:15Foi o último caso mundial
da varíola assassina. -
3:15 - 3:20Este documento é o certificado
que a comissão mundial assinou, -
3:20 - 3:25certificando que o mundo tinha erradicado
a primeira doença da História. -
3:26 - 3:32A chave para a erradicação da varíola
foi a deteção precoce e uma resposta rápida -
3:33 - 3:37Vou pedir-vos que repitam comigo:
deteção precoce e resposta rápida. -
3:37 - 3:38São capazes de dizer isto?
-
3:38 - 3:41Público: Deteção precoce e resposta rápida.
-
3:41 - 3:44Larry Brilliant: A varíola foi
a pior doença da História. -
3:44 - 3:47Matou mais pessoas
que todas as guerras da História. -
3:47 - 3:51No século passado,
matou 500 milhões de pessoas. -
3:54 - 3:56Vocês já andam a ler Larry Page.
-
3:56 - 3:58Há aqui gente que lê muito depressa.
-
3:59 - 4:01No ano em que Larry Page
e Sergey Brin -
4:01 - 4:04— por quem tenho um certo afeto
e uma recente afiliação — -
4:04 - 4:06no ano em que eles nasceram,
-
4:06 - 4:09morreram com varíola
dois milhões de pessoas. -
4:09 - 4:13Declarámos a varíola
erradicada em 1980. -
4:14 - 4:18Este é o diapositivo mais importante
que já vi sobre saúde pública. -
4:18 - 4:19[Soberanos mortos pela varíola]
-
4:19 - 4:22porque mostra
que os mais ricos e os mais fortes, -
4:22 - 4:24os reis ou as rainhas do mundo,
-
4:24 - 4:26não estavam imunes a morrer de varíola.
-
4:26 - 4:29Não podemos duvidar
que estamos todos no mesmo barco. -
4:31 - 4:34Mas ver a varíola
na perspetiva de um soberano -
4:34 - 4:36é a perspetiva errada.
-
4:37 - 4:40Devemos vê-la
na perspetiva duma mãe, -
4:39 - 4:43que vê o seu filho com esta doença
e não pode fazer nada. -
4:43 - 4:48Dia um, dia dois, dias três,
-
4:49 - 4:50dia quatro,
-
4:51 - 4:53dia cinco,
-
4:54 - 4:55dia seis.
-
4:55 - 4:57Uma mãe a olhar para o filho.
-
4:59 - 5:02No dia seis, vemos as pústulas
a ficarem duras. -
5:03 - 5:08Dia sete, mostram as cicatrizes clássicas
da umbilicação da varíola. -
5:08 - 5:10Dia oito.
-
5:10 - 5:14Al Gore disse há bocado
que a imagem mais divulgada do mundo, -
5:14 - 5:17a imagem mais vezes impressa
no mundo, era a da Terra. -
5:18 - 5:21Mas esta foi em 1974
e, nessa época, -
5:21 - 5:25esta fotografia era a fotografia
mais vezes impressa por toda a parte -
5:25 - 5:28porque imprimimos 2000 milhões
de exemplares desta fotografia -
5:28 - 5:31e entregámo-las, de mão em mão,
porta a porta, -
5:31 - 5:36para mostrar às pessoas e perguntar-lhes
se tinham varíola em casa, -
5:36 - 5:38porque era esse
o nosso sistema de vigilância. -
5:38 - 5:41Não tínhamos o Google,
não tínhamos motores de busca, -
5:41 - 5:43não tínhamos computadores.
-
5:44 - 5:48No dia nove — vemos esta foto
e ficamos horrorizados — -
5:48 - 5:50eu vi esta foto e disse:
"Obrigado, meu Deus", -
5:50 - 5:54porque é óbvio que se trata
apenas de um caso vulgar de varíola -
5:54 - 5:57e sei que esta criança vai viver.
-
5:58 - 6:03No dia 13, estão a formar-se crostas,
as pálpebras estão inchadas, -
6:03 - 6:07mas sabemos que a criança
não tem nenhuma infeção secundária. -
6:07 - 6:11No dia 20, embora fique toda a vida
com cicatrizes, vai viver. -
6:12 - 6:15Há outros tipos de varíola
que não são assim. -
6:15 - 6:18A varíola confluente,
-
6:18 - 6:21em que não há um único local no corpo
onde possamos pôr um dedo -
6:21 - 6:24sem estar coberto de lesões.
-
6:24 - 6:29A varíola maligna, que matou
100% das pessoas que a apanharam. -
6:29 - 6:32A varíola hemorrágica,
a mais cruel de todas, -
6:32 - 6:35que tinha uma predileção
por mulheres grávidas. -
6:35 - 6:39Vi morrer umas 50 mulheres.
Todas tinham varíola hemorrágica. -
6:39 - 6:43Nunca vi ninguém morrer com ela,
senão mulheres grávidas. -
6:44 - 6:47Em 1967, a OMS entrou
num programa ambicioso -
6:47 - 6:49para erradicar uma doença.
-
6:49 - 6:53Nesse ano, havia 34 países
afetados pela varíola. -
6:54 - 6:57Em 1970, estavam reduzidos a 18 países.
-
6:57 - 7:00Em 1974, estavam reduzidos a cinco países.
-
7:00 - 7:04Mas, nesse ano, a varíola
explodiu por toda a Índia. -
7:05 - 7:09A Índia foi o local
em que a varíola teve o seu último poiso. -
7:10 - 7:13Em 1974, a Índia
tinha uma população de 600 milhões. -
7:13 - 7:16Há 21 estados na Índia
com línguas diferentes, -
7:16 - 7:18o que é o mesmo que dizer
21 países diferentes. -
7:18 - 7:21Há 20 milhões de pessoas
na estrada, em qualquer momento, -
7:21 - 7:27em autocarros, comboios, a pé;
500 000 aldeias, 120 milhões de famílias -
7:27 - 7:30e nenhuma delas queria comunicar
-
7:30 - 7:32se tinham um caso de varíola em casa,
-
7:32 - 7:35porque pensavam que a varíola
era uma visita duma deusa, -
7:35 - 7:37Shitala Mata, a mãe fria,
-
7:37 - 7:43e era mau meter desconhecidos
dentro de casa, quando a deusa lá estava. -
7:44 - 7:47Não incentivava a comunicar a varíola.
-
7:47 - 7:50Não era só a Índia
que tinha deusas da varíola, -
7:50 - 7:53havia deusas da varíola
presentes por todo o mundo. -
7:53 - 7:59Portanto, para erradicar a varíola
a vacinação em massa não funcionaria. -
7:59 - 8:01Podíamos vacinar toda a gente na Índia,
-
8:01 - 8:03mas um ano depois, haveria
mais 21 milhões de bebés -
8:03 - 8:06ou seja, a população
do Canada na altura. -
8:06 - 8:08Não chegava vacinar toda a gente.
-
8:08 - 8:11Era preciso encontrar cada caso
de varíola no mundo -
8:11 - 8:14ao mesmo tempo, e traçar
um círculo de imunidade em volta dele. -
8:15 - 8:16Foi o que nós fizemos.
-
8:17 - 8:21Só na Índia, os meus 150 000
melhores amigos e eu -
8:21 - 8:23fomos de porta em porta,
-
8:23 - 8:25com a mesma imagem,
-
8:25 - 8:26a cada casa na Índia.
-
8:26 - 8:29Fizemos mais de mil milhões
de visitas ao domicílio. -
8:30 - 8:33Neste processo, aprendi
uma coisa muito importante. -
8:34 - 8:38Sempre que fazíamos
uma pesquisa casa a casa, -
8:38 - 8:42tínhamos um pico no número
de relatos de varíola. -
8:43 - 8:45Quando não fazíamos a pesquisa,
-
8:45 - 8:48tínhamos a ilusão
de que a doença não existia. -
8:48 - 8:53Quando fazíamos pesquisa, tínhamos
a ilusão de que havia mais doença. -
8:53 - 8:55Era necessário um sistema de vigilância
-
8:55 - 9:00porque precisávamos
de deteção precoce, de resposta rápida. -
9:02 - 9:04Portanto, pesquisámos e pesquisámos
-
9:04 - 9:07e encontrámos todos os casos
de varíola na Índia. -
9:07 - 9:10Tínhamos uma recompensa.
Aumentámos a recompensa. -
9:10 - 9:12Continuámos a aumentar a recompensa.
-
9:12 - 9:14Tínhamos um quadro das datas
de visitas feitas, -
9:14 - 9:16escrito em todas as casas.
-
9:16 - 9:21Quando fizemos isso, o número de casos
mundiais reportados caiu para zero. -
9:23 - 9:27Em 1980, declarámos o globo
isento de varíola. -
9:27 - 9:32Foi a maior campanha na história das ONU,
até à guerra do Iraque. -
9:34 - 9:37150 000 pessoas de todo o mundo
-
9:37 - 9:40médicos de todas as etnias,
religiões, culturas e países, -
9:40 - 9:45que lutaram lado a lado,
irmãos e irmãs, -
9:45 - 9:48em conjunto, não uns contra os outros,
-
9:48 - 9:52numa causa comum
para tornar o mundo melhor. -
9:51 - 9:55Mas a varíola era a quarta doença
que se pretendia erradicar. -
9:55 - 9:58Falhámos outras três vezes.
-
9:58 - 10:01Falhámos contra a malária,
a febre amarela e a bouba. -
10:01 - 10:05Mas, em breve, talvez vejamos
erradicada a poliomielite. -
10:05 - 10:10A chave para a erradicação da pólio
é deteção precoce, resposta rápida. -
10:11 - 10:14Este pode ser o ano
em que erradicamos a pólio. -
10:14 - 10:16Será a segunda doença da História.
-
10:17 - 10:21David Heymann, que nos está
a ver pela Internet -
10:21 - 10:23— David, continua. Estamos perto.
-
10:23 - 10:26Só nos faltam quatro países.
-
10:26 - 10:29(Aplausos)
-
10:32 - 10:33Sinto-me como Hank Aaron.
-
10:33 - 10:36Barry Bonds pode substituir-me
a qualquer altura. -
10:36 - 10:40Vamos riscar outra doença desta lista
de coisas terríveis que nos preocupam. -
10:40 - 10:43Eu estava na Índia a trabalhar
no programa da pólio. -
10:43 - 10:47O programa de prevenção da pólio
são quatro milhões de pessoas, -
10:47 - 10:49que vão de porta em porta.
-
10:49 - 10:51É este o sistema de vigilância.
-
10:51 - 10:55Mas temos que ter
deteção precoce, resposta rápida. -
10:55 - 10:57A cegueira é a mesma coisa.
-
10:57 - 11:02A chave para detetar a cegueira
é fazer exames epidemiológicos -
11:02 - 11:07e descobrir as causas da cegueira,
para podermos criar a resposta correta. -
11:08 - 11:12A Fundação Seva
foi iniciada por um grupo de ex-alunos -
11:12 - 11:15do Programa de Erradicação da Varíola,
-
11:15 - 11:18que, depois de terem subido
à montanha mais alta, -
11:18 - 11:22provaram o elixir do êxito
da erradicação duma doença -
11:22 - 11:24e quiseram prová-lo de novo.
-
11:24 - 11:29Nos últimos 27 anos
os programas Seva em 15 países -
11:29 - 11:32devolveram a vista
a mais de dois milhões de cegos. -
11:33 - 11:36A Seva arrancou porque queríamos
aplicar essas lições -
11:36 - 11:39de vigilância e epidemiologia
-
11:39 - 11:41a uma coisa que ninguém
estivesse a considerar -
11:41 - 11:44como um problema de saúde pública,
-
11:44 - 11:47a cegueira, que até aí era considerada
apenas como uma doença clínica. -
11:48 - 11:54Em 1980, Steve Jobs deu-me aquele
computador, um Apple número 12, -
11:54 - 11:57que ainda está em Katmandu
e ainda está a trabalhar. -
11:57 - 12:00Devíamos leiloá-lo
e ganhar dinheiro para a Seva. -
12:02 - 12:06Fizemos o primeiro inquérito de saúde
no Nepal que jamais tinha sido feito -
12:06 - 12:09e o primeiro inquérito sobre a cegueira
a nível do país, jamais feito. -
12:09 - 12:11Tivemos resultados espantosos.
-
12:11 - 12:13Em vez de descobrirmos
o que julgávamos ser o caso -
12:13 - 12:17— que a cegueira era provocada
sobretudo pelo glaucoma e pelo tracoma — -
12:17 - 12:19ficámos estupefactos ao descobrir
-
12:19 - 12:24que a cegueira era causada
sobretudo pelas cataratas. -
12:24 - 12:28Não podemos curar ou evitar
aquilo que não sabemos que existe. -
12:30 - 12:35Nos vossos pacotes TED
há um DVD, "Visão Infinita", -
12:35 - 12:38sobre o Dr. V
e o Hospital dos Olhos Aravind. -
12:38 - 12:39Espero que o vejam.
-
12:39 - 12:42Aravind, onde se iniciou o projeto Seva,
-
12:42 - 12:45é hoje o maior e o melhor
hospital oftalmológico do mundo. -
12:45 - 12:48Este ano, este hospital
devolverá a visão -
12:48 - 12:52a mais de 300 000 pessoas
em Tamil Nadu, na Índia. -
12:52 - 12:55(Aplausos)
-
12:56 - 12:57A gripe das aves.
-
12:57 - 13:00Estou aqui a representar
de todas as coisas terríveis -
13:00 - 13:02— esta pode ser a pior de todas.
-
13:02 - 13:07A chave para evitar ou mitigar
a pandemia da gripe das aves -
13:07 - 13:09é a deteção precoce, uma resposta rápida.
-
13:09 - 13:15Não vamos ter uma vacina
nem quantidades adequadas de um antiviral -
13:15 - 13:18para combater a gripe das aves,
se ela ocorrer nos próximos três anos. -
13:19 - 13:22A OMS simula a progressão da pandemia.
-
13:22 - 13:27Estamos agora na fase três
da fase de alerta da pandemia -
13:27 - 13:31apenas com um pouco
de transmissão homem-a-homem, -
13:31 - 13:34mas não há transmissão sustentada
de homem-a-homem-a-homem. -
13:34 - 13:38Quando a OMS disser
que passámos à fase quatro, -
13:38 - 13:41não será como o Katrina.
-
13:41 - 13:43O mundo, como o conhecemos, parará.
-
13:43 - 13:45Os aviões deixarão de voar.
-
13:45 - 13:48Entraríamos num avião
com 250 pessoas que não conhecemos, -
13:48 - 13:49a tossir e a espirrar,
-
13:49 - 13:53quando sabemos que algumas delas
podem ter uma doença que nos pode matar, -
13:53 - 13:56e para a qual não temos
antivirais nem vacina? -
13:58 - 14:02Eu fiz um estudo dos melhores
epidemiólogos mundiais, em outubro. -
14:01 - 14:04São todos especialistas de gripes.
-
14:04 - 14:08Fiz-lhes as perguntas
que vocês deviam gostar de fazer: -
14:08 - 14:11Quais são as probabilidades
de vir a haver uma pandemia? -
14:11 - 14:15Se ela ocorrer, qual será
o grau de gravidade? -
14:15 - 14:1715% disseram que achavam
-
14:17 - 14:19que ia haver uma pandemia
dentro de três anos. -
14:19 - 14:21Mas muito pior do que isso,
-
14:21 - 14:2490% disseram que achavam
que iria haver uma pandemia -
14:24 - 14:27no prazo da vida dos nossos filhos`
ou dos nossos netos. -
14:29 - 14:32Pensavam que, se houver uma pandemia,
-
14:32 - 14:34vai atingir mil milhões de pessoas.
-
14:35 - 14:38Poderão morrer 165 milhões de pessoas.
-
14:39 - 14:41Haverá uma recessão
e uma depressão mundiais -
14:41 - 14:44quando o nosso sistema
de inventário "just-in-time" -
14:44 - 14:47e o delgado elástico da globalização
falharem. -
14:48 - 14:51O custo para a nossa economia.
de um a três biliões de dólares. -
14:51 - 14:57será muito pior para toda a gente
do que 100 milhões de mortos, -
14:57 - 15:00porque haverá muito mais gente
a perder os seus postos de trabalho -
15:00 - 15:03e os benefícios da assistência à saúde.
-
15:03 - 15:05As consequências são quase inimagináveis.
-
15:05 - 15:10Vai ser cada vez pior
porque as viagens são cada vez melhores. -
15:12 - 15:17Vou mostrar-vos uma simulação
do aspeto duma pandemia -
15:18 - 15:21para percebermos do que estamos a falar.
-
15:21 - 15:24Suponhamos, por exemplo,
que o primeiro caso ocorre no sul da Ásia. -
15:26 - 15:28Inicialmente, evolui lentamente.
-
15:28 - 15:30Ocorre em dois ou três locais discretos.
-
15:32 - 15:37Depois, ocorrem surtos secundários
e a doença espalha-se -
15:37 - 15:41de país para país, tão depressa,
que nem sabemos o que foi que nos atingiu. -
15:42 - 15:45Ao fim de três semanas,
está presente no mundo inteiro. -
15:47 - 15:51Se tivéssemos um botão "desfazer",
se pudéssemos voltar atrás e isolá-la, -
15:51 - 15:55apanhá-la logo que ela começou
— se conseguíssemos descobri-la cedo -
15:55 - 15:58e tivéssemos uma deteção precoce
e uma resposta rápida, -
15:58 - 16:01e pudéssemos pôr cada um
desses vírus na cadeia — -
16:01 - 16:06é a única forma de lidar
com uma pandemia. -
16:08 - 16:10Vou mostrar-vos porque é que é assim.
-
16:10 - 16:13Temos uma piada.
Esta é uma curva epidémica. -
16:13 - 16:17Toda a gente em medicina
acaba por saber o que é isto. -
16:17 - 16:18A piada é a seguinte:
-
16:18 - 16:21um epidemiólogo gosta de chegar
a uma epidemia aqui mesmo -
16:21 - 16:24e cavalgar gloriosamente
a curva descendente. -
16:24 - 16:25(Risos)
-
16:25 - 16:27Mas normalmente
não conseguimos fazer isso. -
16:27 - 16:29Normalmente chegamos mais ou menos aqui.
-
16:29 - 16:34Nós queremos chegar aqui,
para podermos deter a epidemia. -
16:34 - 16:37Mas nem sempre conseguimos fazer isso.
-
16:37 - 16:40Mas há uma organização
que tem sido capaz de encontrar uma forma -
16:40 - 16:43de saber quando ocorrem
os primeiros casos. -
16:43 - 16:45Chama-se GPHIN:
-
16:45 - 16:48é a Rede Mundial de Informações
de Saúde Pública. -
16:48 - 16:50Aquela simulação que vos mostrei
-
16:50 - 16:53e que vocês julgaram tratar-se
da gripe das aves, era a SARS. -
16:53 - 16:55A SARS é a pandemia
que não aconteceu. -
16:56 - 17:03Não aconteceu porque a GPHIN descobriu
a pandemia em gestação da SARS -
17:03 - 17:08três meses antes de a OGM
a ter anunciado -
17:08 - 17:13e, por causa disso, conseguimos
deter a pandemia da SARS. -
17:13 - 17:15Penso que temos
uma enorme dívida de gratidão -
17:15 - 17:17para com a GPHIN e Ron St. John
-
17:17 - 17:20que, espero, esteja no público
algures — está ali — -
17:20 - 17:22e que é o fundador da GPHIN.
-
17:22 - 17:24(Aplausos)
-
17:24 - 17:25Olá, Ron!
-
17:25 - 17:28(Aplausos)
-
17:34 - 17:38O TED trouxe Ron de Otava,
onde está a sede da GPHIN -
17:38 - 17:42não só porque a GPHIN
descobriu cedo a SARS -
17:42 - 17:45mas — devem ter visto a semana passada
-
17:45 - 17:49que o Irão anunciou que têm
gripe das aves no Irão — -
17:49 - 17:52porque a GPHIN descobriu
a gripe das aves no Irão, -
17:52 - 17:55não a 14 de fevereiro
mas em setembro passado. -
17:55 - 17:58Precisamos de um sistema de alerta precoce
-
17:58 - 18:02que nos proteja contra as coisas
que são o pior pesadelo da humanidade. -
18:04 - 18:09Portanto, o meu desejo TED baseia-se
no denominador comum destas experiências. -
18:08 - 18:11A varíola — deteção precoce,
resposta rápida. -
18:11 - 18:14A cegueira, a pólio
— deteção precoce, resposta rápida. -
18:14 - 18:18Pandemia da gripe das aves
— deteção precoce, resposta rápida. -
18:18 - 18:20É uma litania.
-
18:20 - 18:25É tão óbvio que a única forma
de lidar com estas novas doenças -
18:25 - 18:29é descobri-las precocemente
e detê-las antes que se espalhem. -
18:29 - 18:31Portanto, o meu desejo TED
-
18:31 - 18:34é que vocês ajudem
a montar um sistema global -
18:34 - 18:36— um sistema de alerta precoce —
-
18:36 - 18:39que nos proteja contra
os piores pesadelos da humanidade. -
18:41 - 18:45Pensei chamar-lhe "Deteção Precoce".
-
18:47 - 18:49Mas, na verdade, devia chamar-se
-
18:51 - 18:52"Total Early Detection."
[TED] -
18:53 - 18:54(Risos)
-
18:54 - 18:55O que é?
-
18:56 - 18:58(Aplausos)
-
19:02 - 19:04O que é?
-
19:03 - 19:05(Aplausos)
-
19:06 - 19:08Estou a falar muito a sério.
-
19:08 - 19:12Como esta ideia nasceu no TED
-
19:12 - 19:15gostava que fosse um legado do TED
-
19:15 - 19:17e gostava que se chamasse
-
19:17 - 19:22o International System for Total
Early Disease Detection. -
19:22 - 19:24[INSTEDD]
-
19:26 - 19:31INSTEDD passa a ser o nosso lema.
-
19:33 - 19:36Em vez duma pandemia oculta
de gripe das aves, -
19:36 - 19:39encontramo-la imediatamente
e podemos contê-la. -
19:39 - 19:41Em vez de um novo vírus
-
19:41 - 19:46causado pelo bioterrorismo
ou pelo erro biológico, -
19:46 - 19:48encontramo-la e podemos contê-la.
-
19:49 - 19:51Em vez de acidentes industriais
como derrames de petróleo -
19:51 - 19:53ou a catástrofe no Bopal,
-
19:53 - 19:56encontramo-los e reagimos a eles.
-
19:57 - 20:00Em vez de fome,
oculta até ser tarde demais, -
20:00 - 20:03detetamo-la e reagimos-lhe.
-
20:04 - 20:08Em vez de um sistema
que pertence apenas a um governo, -
20:08 - 20:10oculto nas entranhas do governo,
-
20:10 - 20:12vamos montar um sistema de deteção precoce
-
20:12 - 20:16que seja gratuito a toda a gente
do mundo, na sua língua. -
20:17 - 20:22Façamo-lo de modo transparente,
não governamental, -
20:22 - 20:25sem ser propriedade
dum só país ou duma só empresa, -
20:25 - 20:29com sede num país neutro,
com uma cópia de segurança redundante -
20:29 - 20:32numa zona horária diferente,
num continente diferente. -
20:33 - 20:35Vamos montá-lo na GPHIN.
-
20:35 - 20:36Comecemos com a GPHIN.
-
20:36 - 20:39Aumentemos os "sites"
que eles pesquisam -
20:39 - 20:41de 20 000 para 20 milhões.
-
20:42 - 20:44Aumentemos as línguas
que eles pesquisam -
20:44 - 20:47de sete para 70, ou mais.
-
20:47 - 20:51Vamos construir mensagens
de confirmação -
20:51 - 20:54usando SMS ou mensagens instantâneas
-
20:54 - 20:57para ter informações de pessoas
que estão num raio de 100 metros -
20:57 - 20:59do rumor que ouvimos
-
20:59 - 21:01se ele é válido, realmente.
-
21:01 - 21:03Juntemos a confirmação por satélite.
-
21:03 - 21:07Vamos juntar gráficos espantosos
do Gapminder, em primeiro plano. -
21:07 - 21:10Cresceremos como uma força moral
no mundo, -
21:10 - 21:13encontrando essas coisas terríveis
-
21:13 - 21:15antes que mais ninguém
tenha ouvido falar nelas, -
21:15 - 21:18e enviando-lhes as nossas respostas,
-
21:18 - 21:21para que, no próximo ano,
em vez de nos encontrarmos aqui, -
21:21 - 21:24a lamentar-nos das coisas terríveis
que existem no mundo, -
21:24 - 21:28tenhamos unido as nossas forças,
utilizado competências únicas -
21:28 - 21:31e a magia desta comunidade
-
21:31 - 21:35e nos sintamos orgulhosos de termos feito
tudo o que pudemos para deter pandemias, -
21:35 - 21:39outras catástrofes e mudar o mundo,
começando neste preciso momento. -
21:40 - 21:43(Aplausos)
-
21:59 - 22:02Chris Anderson: Uma palestra espantosa.
-
22:02 - 22:04Primeiro, para que todos percebam:
-
22:04 - 22:08disse que, criando motores de busca,
-
22:08 - 22:11procurando padrões na Internet,
-
22:11 - 22:15podemos detetar alguma coisa suspeita
-
22:16 - 22:19antes da OMS, antes de qualquer
outra pessoa, não foi? -
22:20 - 22:23Dê-nos um exemplo de como isso
pode ser verdade. -
22:23 - 22:27Larry Brilliant: Você não fica furioso
com a violação dos direitos de autor? -
22:27 - 22:29CA: Não. Até gosto dela.
-
22:29 - 22:31LB: Bom, você sabe como é Ron St. John.
-
22:31 - 22:34Espero que vá ter com ele
logo ao jantar e fale com ele. -
22:34 - 22:36Quando iniciámos a GPHIN...
-
22:36 - 22:41Em 1997, houve um surto
de gripe das aves — o H5N1. -
22:41 - 22:42Foi em Hong Kong.
-
22:42 - 22:45Um médico notável em Hong Kong
respondeu imediatamente, -
22:45 - 22:50matando 1,5 milhões de galinhas e aves.
-
22:50 - 22:54Detiveram esse surto no início.
-
22:54 - 22:56Deteção imediata, resposta imediata.
-
22:56 - 22:58Depois, passaram alguns anos
-
22:58 - 23:00e falava-se muito na gripe das aves.
-
23:01 - 23:04Ron e a sua equipa em Otava
começaram a explorar a Internet -
23:04 - 23:10— só exploraram 20 000 "sites" diferentes
sobretudo periódicos — -
23:10 - 23:14e leram e ouviram falar
de uma preocupação com muitas crianças -
23:14 - 23:18que tinham febre alta
e sintomas de gripe das aves. -
23:18 - 23:20Informaram a OMS.
-
23:20 - 23:23A OMS levou algum tempo a agir,
-
23:23 - 23:27porque a OMS só recebe
um relatório de um governo -
23:27 - 23:30porque se trata das Nações Unidas.
-
23:30 - 23:33Mas eles conseguiram alertar
a OMS e dar-lhe a conhecer -
23:33 - 23:38que havia um grupo surpreendente
e inexplicado de doenças -
23:38 - 23:40que pareciam gripe das aves.
-
23:40 - 23:41Aconteceu que se tratava de SARS.
-
23:41 - 23:44Foi assim que o mundo descobriu a SARS.
-
23:44 - 23:48Por causa disso, conseguimos deter a SARS.
-
23:48 - 23:50O que é importante é que,
antes de haver a GPHIN, -
23:50 - 23:54100% de todos os relatórios mundiais
de coisas más -
23:55 - 23:59— quer se falasse da fome
da gripe das aves ou do Ébola — -
23:59 - 24:03100% de todos esses relatórios
provinham de países. -
24:03 - 24:05Na altura em que estes tipos em Otava
-
24:05 - 24:09— com um orçamento de 800 000 dólares
por ano — começaram a agir, -
24:09 - 24:1375% de todas as notícias do mundo
provinham da GPHIN. -
24:13 - 24:15e 25% de todas as notícias do mundo
-
24:15 - 24:18vinham de todos os outros 180 países.
-
24:19 - 24:21Isto é que é mesmo interessante:
-
24:21 - 24:23depois de estarem a trabalhar uns anos,
-
24:23 - 24:25o que é que acham que aconteceu
a esses países? -
24:25 - 24:27Sentiram-se bastante estúpidos.
-
24:27 - 24:30Começaram a enviar
as suas notícias mais cedo. -
24:30 - 24:33Agora, a percentagem das notícias
desceu para 50%, -
24:33 - 24:35porque outros países
começaram a dar notícias. -
24:36 - 24:39Portanto, podemos encontrar doenças
precocemente, explorando a Internet? -
24:39 - 24:41Claro que podemos.
-
24:41 - 24:44Podemos encontrá-las ainda mais cedo
do que a GPHIN o faz hoje? -
24:44 - 24:45Claro que podemos.
-
24:45 - 24:49Viram que eles encontraram a SARS
usando o motor de busca chinês -
24:49 - 24:55umas seis semanas antes de a encontrarem
usando o motor de busca inglês. -
24:55 - 24:57Estavam a pesquisar
apenas em sete línguas. -
24:57 - 25:00Estes vírus maus não têm qualquer intenção
-
25:00 - 25:03de se mostrarem primeiro em inglês,
em espanhol ou em francês. -
25:03 - 25:04(Risos)
-
25:05 - 25:09Portanto, sim, quero agarrar na GPHIN,
quero construir em cima dela. -
25:09 - 25:13Quero acrescentar-lhe todas as línguas
do mundo que pudermos. -
25:13 - 25:15Quero tornar isto aberto a toda a gente,
-
25:15 - 25:19para que o responsável pela saúde,
em Nairobi ou em Patna, no Bihar -
25:19 - 25:22tenha o mesmo acesso que
as pessoas em Otava ou em CDC. -
25:23 - 25:25Quero torná-lo parte da nossa cultura
-
25:25 - 25:29em que haja uma comunidade de pessoas
que estão a observar -
25:29 - 25:31os piores pesadelos da humanidade
-
25:31 - 25:33e que isso seja acessível a toda a gente.
- Title:
- O meu desejo: Ajudem-me a deter as pandemias
- Speaker:
- Larry Brilliant
- Description:
-
Ao aceitar o Prémio TED 2006, o Dr. Larry Brilliant fala de como a varíola foi erradicada do planeta, e apela a um novo sistema global que possa identificar e conter pandemias antes que elas se espalhem.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 25:33
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