Podemos criar vacinas que sofram mutações e se propaguem?
-
0:02 - 0:05Vou falar-vos de uma aluna minha.
-
0:05 - 0:09Há umas semanas, ela estava de férias
-
0:09 - 0:12quando, às três da manhã,
recebeu uma chamada. -
0:12 - 0:13Era o marido a dizer-lhe
-
0:13 - 0:19que a cidade onde ela estava ia entrar
em quarentena às 10 da manhã. -
0:19 - 0:21Ela estava em Wuhan, na China,
-
0:21 - 0:24o epicentro do surto do novo coronavírus.
-
0:25 - 0:28Às oito da manhã, ela estava na estrada
no carro de uma amiga -
0:28 - 0:31a percorrer 800 km até
ao aeroporto de Xangai. -
0:32 - 0:35Durante todo o caminho,
ia apavorada com medo de ser detida. -
0:36 - 0:39Conseguiu embarcar num dos últimos voos.
-
0:41 - 0:43Ficámos aliviados
por ela ter voltado para casa -
0:43 - 0:45e estar a salvo nos EUA.
-
0:46 - 0:49Mas e se eu dissesse que ela está aqui?
-
0:50 - 0:53Que ela está sentada ao vosso lado?
-
0:54 - 0:56Não há vacina.
-
0:56 - 1:00Não teremos nenhuma vacina
durante, pelo menos, 12 meses. -
1:01 - 1:03E este vírus está a sofrer mutações,
-
1:03 - 1:07por isso não há garantia de que a vacina
que produzirmos daqui a 12 meses -
1:07 - 1:10corresponda ao vírus alterado.
-
1:12 - 1:14Estamos a brincar à apanhada.
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1:15 - 1:19Este é o cenário em que nos encontramos,
sempre que há um surto. -
1:19 - 1:21As nossas quarentenas são porosas,
-
1:21 - 1:25as nossas respostas médicas
são desajeitadas, -
1:26 - 1:31O principal problema que enfrentamos
para controlar estes surtos -
1:31 - 1:35é que os vírus e outras infeções
fazem duas coisas muito bem feitas: -
1:35 - 1:37sofrem mutações
-
1:38 - 1:40e propagam-se.
-
1:42 - 1:45As nossas ferramentas médicas
não fazem nenhuma dessas coisas. -
1:45 - 1:49As nossas ferramentas médicas
não sofrem mutações nem se propagam. -
1:49 - 1:52Temos uma incompatibilidade fundamental
-
1:52 - 1:54entre as nossas ferramentas,
que são estáticas, -
1:54 - 1:57e as infeções, que são dinâmicas.
-
1:58 - 2:02Essa incompatibilidade é a razão
de nunca estarmos preparados. -
2:02 - 2:04É o motivo de estarmos um passo atrás.
-
2:04 - 2:07E essa incompatibilidade é universal.
-
2:08 - 2:12É a razão de termos infeções
resistentes a antibióticos, -
2:12 - 2:15que mataram mais de 40 000 americanos
no ano passado -
2:15 - 2:19e é a razão por que a vacina
contra a gripe não impediu -
2:19 - 2:22que a gripe matasse, no ano passado,
mais de 60 000 americanos. -
2:25 - 2:28Então como resolvemos
esta incompatibilidade? -
2:31 - 2:35Eu tenho dedicado a minha carreira
a estudar e resolver este problema. -
2:36 - 2:38Durante 100 anos,
-
2:38 - 2:42temos usado produtos químicos
como remédios para tratar infeções. -
2:42 - 2:46Os produtos químicos nunca sofrerão
mutações nem se propagarão. -
2:46 - 2:51As nossas vacinas também não passam
por mutações nem se propagam. -
2:53 - 2:55Há 20 anos,
-
2:55 - 2:57eu tive uma ideia radical
-
2:57 - 3:02para usar os vírus como terapias,
-
3:02 - 3:05— como blocos de construção
para terapias — -
3:05 - 3:09para criar terapias que pudessem
sofrer mutações e propagar-se. -
3:10 - 3:13Vou contar-vos
como fizemos um grande progresso, -
3:13 - 3:16e já estamos a testar
essas novas terapias. -
3:18 - 3:24O VIH é a pandemia
mais devastadora da nossa era. -
3:25 - 3:26São 75 milhões infetados;
-
3:26 - 3:2933 milhões de mortos.
-
3:29 - 3:33Muitos de nós acreditam
que o VIH é um problema resolvido. -
3:33 - 3:35Temos antivirais realmente incríveis:
-
3:35 - 3:37são seguros e eficazes.
-
3:37 - 3:39Passámos 15 anos
-
3:39 - 3:42e gastámos milhões de dólares
a distribuir esses remédios -
3:42 - 3:43por todo o mundo.
-
3:43 - 3:46Então, vamos olhar para os números.
-
3:46 - 3:48Em 2019,
-
3:48 - 3:52houve 1,7 milhões de pessoas
que contraíram o VIH. -
3:53 - 3:56Esse número só me impressionou
no ano passado, -
3:56 - 4:01quando visitei uma aldeia rural,
nos arredores de Durban, na África do Sul. -
4:01 - 4:04Eu ia a conduzir ao longo
duma estrada poeirenta, -
4:04 - 4:07com a minha filha de 10 anos
no banco de trás, -
4:07 - 4:11e ao nosso lado na estrada,
havia miúdas a caminhar, -
4:11 - 4:14com a mesma idade da minha filha,
descalças. -
4:15 - 4:18A minha filha perguntou-me
porque é que elas estavam descalças -
4:18 - 4:20e eu tive de lhe explicar a razão,
-
4:20 - 4:22o que não foi nada fácil.
-
4:23 - 4:27Mas o que realmente me chocou,
foi quando os meus colegas, -
4:27 - 4:31os cientistas africanos locais,
me explicaram -
4:31 - 4:35que essas raparigas
da mesma idade da minha filha -
4:35 - 4:37— desculpem —
-
4:37 - 4:41tinham 80% de hipóteses
de contrair VIH durante a sua vida. -
4:43 - 4:44Isso surpreendeu-me.
-
4:44 - 4:47Como é que elas podiam
correr um risco de 80%, -
4:47 - 4:50se nós temos medicamentos
seguros e eficazes? -
4:51 - 4:53A razão é a incompatibilidade fundamental.
-
4:55 - 4:58Isso cria uma barreira para controlar
doenças infecciosas, -
4:58 - 5:01principalmente em ambientes
com recursos limitados. -
5:02 - 5:05A primeira barreira é a mutação:
-
5:05 - 5:07os vírus sofrem mutações,
os nossos medicamentos não. -
5:07 - 5:10A segunda barreira é a adesão.
-
5:10 - 5:14É muito difícil chegar
àqueles que mais precisam. -
5:15 - 5:20Eu nem consigo aderir a um regime
de antibióticos de uma semana neste país. -
5:22 - 5:25Nós estamos a pedir àqueles
com recursos limitados, -
5:25 - 5:27que enfrentam
uma enorme adversidade, -
5:27 - 5:29para aderirem a regimes vitalícios.
-
5:29 - 5:33A terceira barreira é a distribuição,
-
5:33 - 5:34ou seja, o acesso.
-
5:34 - 5:39É muito difícil fazer chegar
esses medicamentos aos que mais precisam. -
5:40 - 5:45Não àquelas miúdas, mas às pessoas
que se dedicam a atividades de alto risco, -
5:45 - 5:48como o trabalho sexual
e o consumo de drogas injetáveis. -
5:50 - 5:52Na linguagem epidemiológica,
-
5:52 - 5:54chamamos a esses grupos
os "super-propagadores". -
5:54 - 5:56Na década de 1900,
-
5:56 - 5:59Um pequeno grupo de "super-propagadores"
-
5:59 - 6:02levou o VIH ao longo
das autoestradas transafricanas -
6:02 - 6:05e assim propagou o vírus
por todo o continente. -
6:06 - 6:09Esses grupos são muito
difíceis de identificar, -
6:09 - 6:10são pequenos,
-
6:10 - 6:14são objeto de um enorme estigma social,
e por isso não se identificam. -
6:14 - 6:17São eles que mais precisamos de atingir.
-
6:18 - 6:23Todas as barreiras combinadas, criaram
a situação em que nos encontramos hoje, -
6:23 - 6:28onde mais de 15% da população
da África do Sul vive com VIH. -
6:31 - 6:33A sabedoria convencional é:
-
6:33 - 6:36o que precisamos de conseguir
mais medicamentos -
6:36 - 6:39mais eficazes para mais pessoas.
-
6:39 - 6:43Eu diria que precisamos de resolver
a incompatibilidade fundamental: -
6:43 - 6:45precisamos de eliminar essas barreiras.
-
6:46 - 6:50Se conseguirmos criar terapias
que sofram mutações e se propaguem, -
6:50 - 6:53podemos superar a resistência
aos medicamentos, -
6:53 - 6:56superar as barreiras de adesão,
-
6:56 - 6:59e se pudermos fazer isso adequadamente,
-
6:59 - 7:02converteremos os super-propagadores
da maior barreira -
7:02 - 7:06para a estratégia de distribuição
mais poderosa que podemos imaginar. -
7:09 - 7:11Este é um conceito radical.
-
7:11 - 7:14Tem um grande potencial de recompensa,
-
7:14 - 7:17mas há um problema.
-
7:17 - 7:19E é muito profundo.
-
7:21 - 7:25Antes de distribuirmos uma terapia
que possa vir a propagar-se, -
7:26 - 7:30mesmo que seja apenas numa população
limitada de indivíduos já infetados, -
7:30 - 7:32antes de fazermos isso,
-
7:32 - 7:34precisamos de ser excecionalmente
cuidadosos. -
7:35 - 7:38Precisamos de testar com muito cuidado,
da maneira mais rigorosa possível. -
7:40 - 7:44A razão por que eu estou aqui hoje
é porque, pela primeira vez em 20 anos, -
7:44 - 7:45conseguimos que isto funcione.
-
7:45 - 7:49E é a primeira vez que estou
a comunicar isto em público. -
7:49 - 7:52(Aplausos)
-
7:58 - 8:00As duas últimas vezes
que fiz isto, chorei. -
8:00 - 8:02(Risos)
-
8:03 - 8:07Então, para vos ajudar
a entender essa descoberta, -
8:07 - 8:11vou recuar 20 anos, a 1999.
-
8:12 - 8:15Eu era estudante universitário
em Berkeley, na Califórnia, -
8:15 - 8:17a estudar a biofísica do VIH.
-
8:17 - 8:19Para uma epidemia tão complexa,
-
8:19 - 8:23fiquei fascinado
com a simplicidade deste vírus. -
8:24 - 8:28O VIH, assim como todos os vírus,
é um conjunto de instruções -
8:28 - 8:29um "software" maléfico.
-
8:30 - 8:34Sequestra uma célula e transforma-a
numa fábrica para fazer uma coisa: -
8:34 - 8:37produzir mais vírus, teimosamente.
-
8:37 - 8:40Todas as funções normais
da célula desaparecem. -
8:40 - 8:43O VIH infeta os glóbulos brancos
que nos mantêm saudáveis. -
8:44 - 8:47Esta célula já foi sequestrada
e transformada numa fábrica. -
8:48 - 8:50Se a ampliarmos,
-
8:50 - 8:52podemos ver a anatomia do vírus.
-
8:53 - 8:55Estas linhas vermelhas
onduladas no meio? -
8:55 - 8:57São o conjunto de instruções do VIH.
-
8:57 - 8:59O seu material genético.
-
9:00 - 9:04Este material genético
dirige o processo do sequestro, -
9:04 - 9:07transformando primeiro
a célula numa fábrica -
9:07 - 9:11para fazer mais cópias
do conjunto de instruções -
9:11 - 9:14e depois todos os outros
componentes do vírus -
9:14 - 9:16e montá-los numa partícula.
-
9:17 - 9:20É assim que o vírus se multiplica.
-
9:22 - 9:25Cada uma dessas partículas
pode sequestrar uma célula nova. -
9:26 - 9:28É assim que o vírus se propaga.
-
9:28 - 9:31E sempre que uma célula é sequestrada,
-
9:31 - 9:35ocorrem pequenos erros
ao copiar os materiais genéticos. -
9:35 - 9:38É assim que o vírus sofre mutações.
-
9:38 - 9:41Esta capacidade de se multiplicar,
de se propagar e de sofrer mutações -
9:41 - 9:44é uma coisa que os nossos
medicamentos atuais não fazem. -
9:45 - 9:49Então, como era jovem e ingénuo,
e um pouco ignorante. -
9:49 - 9:51eu pensei:
-
9:51 - 9:54porque é que não podemos criar
terapias mutantes, -
9:54 - 9:57que se propaguem e se multipliquem?
-
9:59 - 10:01A ideia era esta.
-
10:02 - 10:04Se pudermos pegar no vírus
-
10:04 - 10:08e modificá-lo para amputar
o material genético aqui a azul, -
10:08 - 10:12esse conjunto de instruções amputado
deixa de poder sequestrar a célula. -
10:13 - 10:17Mas esse conjunto de instruções amputado
pode fazer uma coisa especial. -
10:18 - 10:20Numa célula já infetada,
-
10:20 - 10:25esse conjunto de instruções amputado
pode sequestrar o sequestrador. -
10:25 - 10:31Pode obrigar o maquinismo do VIH
a fazer mais cópias de si mesmo, -
10:31 - 10:33o conjunto de instruções amputado,
-
10:33 - 10:38e assim cada uma dessas cópias pode
roubar todos os outros componentes do VIH, -
10:38 - 10:43para as células deixarem de ser
uma fábrica que produz vírus -
10:43 - 10:46e passem a ser uma fábrica
que produz a terapia. -
10:46 - 10:48Sequestradores.
-
10:48 - 10:50Estes não transmitem doenças.
-
10:50 - 10:53Isto abaixa enormemente
os níveis do VIH, -
10:53 - 10:55mantendo as células saudáveis.
-
10:57 - 11:01Esta ideia consumiu-me durante meses.
-
11:01 - 11:05Foi a experiência intelectual
mais intensa da minha vida. -
11:06 - 11:08Nas minhas viagens
de bicicleta para o laboratório, -
11:08 - 11:11nas minhas caminhadas até ao café,
-
11:11 - 11:14nas minhas corridas pelas colinas
acima do campus, -
11:14 - 11:16as ideias, os argumentos,
-
11:16 - 11:17os contra-argumentos,
-
11:17 - 11:20apareciam tão rapidamente na minha
cabeça, no meu monólogo interior -
11:20 - 11:23que eu ficava fisicamente sem fôlego.
-
11:23 - 11:26Pensei que, se de facto pudéssemos
criar uma terapia que se multiplicasse, -
11:26 - 11:29só precisaria de ser aplicada uma vez.
-
11:30 - 11:32Poderia sofrer mutações
juntamente com o vírus, -
11:32 - 11:36e possivelmente poderia propagar-se
entre os indivíduos infetados, -
11:36 - 11:38para os tratar.
-
11:39 - 11:43Era uma terapia que poderia fazer
todas as coisas que o vírus pode fazer. -
11:43 - 11:46Isso resolvia a incompatibilidade
fundamental. -
11:48 - 11:51A parte mais radical deste conceito,
-
11:51 - 11:55era que os super-propagadores
também seriam transformados: -
11:55 - 11:59em vez de propagarem o vírus
passavam a propagar a terapia. -
12:00 - 12:04Era uma terapia que se tornaria viral
juntamente com o vírus. -
12:06 - 12:08Isso assustou algumas pessoas.
-
12:08 - 12:11Mas já existe um precedente:
-
12:11 - 12:16nós já, involuntariamente,
usamos terapias que se propagam. -
12:17 - 12:20A vacina que erradicou
a poliomielite nos EUA, -
12:20 - 12:22a vacina oral contra a poliomielite,
-
12:22 - 12:24propaga-se entre as pessoas.
-
12:25 - 12:27Não é um facto muito conhecido,
-
12:27 - 12:30mas o facto de essa vacina se propagar
-
12:30 - 12:34faz parte da razão por que foi escolhida
para a tentativa de erradicação mundial, -
12:34 - 12:37apesar dos seus problemas de segurança.
-
12:38 - 12:43Então, o maior problema era que essas
terapias sequestradoras não existiam. -
12:44 - 12:47Os meus conselheiros
da Berkeley disseram-me: -
12:48 - 12:51"Uma ideia adorável, é pena
que nunca vá funcionar", -
12:51 - 12:55ou "Os reguladores
nunca irão permitir isso, abandona-a." -
12:57 - 12:59Mas a ideia não me abandonou.
-
13:02 - 13:03Se aquilo funcionasse,
-
13:03 - 13:06resolveria a incompatibilidade
fundamental. -
13:06 - 13:09Então, tentámos criá-la durante anos.
-
13:09 - 13:12Experimentámos todas as formas possíveis
-
13:12 - 13:15e falhámos vezes sem conta.
-
13:17 - 13:20Sempre que pensávamos
ter tido uma boa ideia, -
13:20 - 13:22passávamos meses,
às vezes anos a trabalhar nela, -
13:23 - 13:25para acabar sem nada.
-
13:26 - 13:29Uma vez passámos cinco anos
-
13:30 - 13:34a construir 150 000 versões
de uma terapia de sequestrador. -
13:35 - 13:37Todas elas falharam.
-
13:39 - 13:42Uma vez, perguntei a um aluno
muito inteligente -
13:42 - 13:45o que é que ele esperava aprender
comigo durante o seu doutoramento. -
13:45 - 13:47(Risos)
-
13:47 - 13:48E ele respondeu:
-
13:49 - 13:50"Como continuar,
-
13:50 - 13:52"como seguir em frente
-
13:52 - 13:55"mesmo com zero evidências
de que há ali alguma coisa." -
13:55 - 13:57(Risos)
-
13:58 - 14:01Fiquei a pensar se ele estava
a tentar dizer-me alguma coisa. -
14:01 - 14:02(Risos)
-
14:03 - 14:06Em 2018, as coisas pareciam correr mal.
-
14:08 - 14:10Não havia nenhum indício
-
14:10 - 14:12de ser possível
uma terapia de sequestrador. -
14:12 - 14:16Na verdade, tínhamos indícios
de que isso podia ser impossível. -
14:17 - 14:20Era altura de encarar a difícil verdade.
-
14:20 - 14:22Essa solução que tanto queríamos,
-
14:22 - 14:26essa terapia de sequestrador não existia.
-
14:28 - 14:30Durante 20 anos,
-
14:30 - 14:32eu tinha andado a perseguir um fantasma.
-
14:35 - 14:37Até que um dia,
-
14:37 - 14:39Elizabeth, uma pós-doutorado,
no meu laboratório, -
14:39 - 14:42veio mostrar-me esta foto.
-
14:42 - 14:44Não tinha um grande aspeto.
-
14:44 - 14:47A minha mulher acha que se parece
com um teste de gravidez. -
14:47 - 14:49(Risos)
-
14:50 - 14:53Mas esta pequena banda aqui
-
14:53 - 14:56era o material genético amputado
-
14:56 - 14:58de que andávamos à procura há 20 anos.
-
14:59 - 15:03Todo o tempo que tínhamos
tentado construí-lo e tínhamos falhado, -
15:03 - 15:06ele evoluíra por si mesmo
num frasco na traseira do laboratório. -
15:06 - 15:08(Audiência) O quê?
-
15:08 - 15:09(Risos)
-
15:09 - 15:11Finalmente tínhamos uma base.
-
15:11 - 15:14E usámos isto para criar
o primeiro sequestrador. -
15:15 - 15:19Não havia nenhum indício de que
o que tínhamos construído era uma terapia. -
15:20 - 15:24O primeiro obstáculo que qualquer
terapia tem de vencer é o teste num rato. -
15:24 - 15:26Pode ser arriscado.
-
15:26 - 15:30No nosso caso, se o rato morresse,
-
15:30 - 15:31poderíamos perder o financiamento
-
15:31 - 15:34e, com isso, a esperança
de criar uma terapia, -
15:34 - 15:37e muito menos uma terapia transformadora.
-
15:38 - 15:39Depois de tantos fracassos,
-
15:39 - 15:44estávamos todos céticos,
mas não tínhamos muitas alternativas. -
15:44 - 15:47Tínhamos de arriscar;
tínhamos de tentar. -
15:49 - 15:54Surpreendentemente, a terapia
do sequestrador funcionou num rato, -
15:54 - 15:58e funcionou exatamente como tínhamos
previsto 20 anos antes. -
15:58 - 16:01Protegeu as células do rato contra o VIH.
-
16:01 - 16:04Estas são as células
vistas ao microscópio. -
16:04 - 16:07Primeiro, o VIH a vermelho
infeta as células, -
16:07 - 16:11e depois o sequestrador, a azul,
pode ser ativado, -
16:11 - 16:14protege essas células
e propaga-se para outras. -
16:16 - 16:20Finalmente criámos
um sequestrador ao fim de 20 anos. -
16:20 - 16:23Todos no laboratório estavam eufóricos.
-
16:23 - 16:26Para mim, foi uma prova do conceito.
-
16:27 - 16:30Se podíamos fazer isso com um vírus,
era possível com outros. -
16:32 - 16:35Para entender como esse sequestrador
pode ter impacto -
16:35 - 16:37nos níveis do VIH no mundo inteiro,
-
16:37 - 16:39fizemos simulações em computador.
-
16:39 - 16:41Modelos epidemiológicos.
-
16:41 - 16:44E os resultados foram incríveis.
-
16:45 - 16:48Se não fizermos nada
nas áreas mais atingidas de África, -
16:48 - 16:52a prevalência do VIH
vai manter-se entre 25 e 30%. -
16:54 - 16:59Se conseguirmos introduzir os medicamentos
em três quartos da população, -
16:59 - 17:03ou se um dia encontrarmos
a tão procurada vacina, -
17:03 - 17:06reduziríamos esses números a 20%.
-
17:06 - 17:09Mas estes são os melhores cenários.
-
17:09 - 17:12Se o VIH desenvolver resistência
-
17:12 - 17:14ou se as pessoas mudarem
os seus comportamentos, -
17:14 - 17:17esses números poderão voltar aos 30%
-
17:17 - 17:19ou até mais do que isso.
-
17:19 - 17:23O azul é a terapia do sequestrador.
-
17:24 - 17:26E não encontrámos uma forma,
-
17:26 - 17:29teórica ou experimental,
-
17:29 - 17:33de que o VIH pode desenvolver
resistência ao sequestrador. -
17:34 - 17:38Esse sequestrador funciona muito bem
por conta dos super-sequestradores. -
17:39 - 17:43Se o sequestrador for introduzido
num local aqui, -
17:44 - 17:48o super-propagador pode apanhá-lo
e propagar-se para a população. -
17:53 - 17:58Imaginem se daqui a 10 anos,
o VIH já não for uma pandemia. -
17:59 - 18:00Para lá chegar,
-
18:00 - 18:04temos de começar testes clínicos
de grande escala, dentro de cinco anos, -
18:04 - 18:08o que significa testes em seres humanos
já no próximo ano. -
18:08 - 18:13A FDA autorizou-nos a iniciar testes
em doentes VIH positivo -
18:13 - 18:16que tenham um cancro terminal
-
18:16 - 18:19e tenham um prognóstico
de menos de um ano de vida. -
18:22 - 18:24Oferecer-se como voluntários
para esses testes -
18:24 - 18:27é o último ato generoso
desses doentes para com o mundo. -
18:27 - 18:30Chamam-lhes "A coorte do último presente".
-
18:30 - 18:34Para testar nesses pacientes altruístas
no próximo ano, -
18:34 - 18:38precisamos de finalizar os testes
pré-clínicos este ano -
18:38 - 18:40e acho que conseguiremos.
-
18:40 - 18:42Eu ainda encontro colegas que resistem
-
18:42 - 18:46e se opõem a deixar-nos
avançar com os testes. -
18:46 - 18:49Dizem: "E se alguma coisa correr mal?
-
18:49 - 18:52"Vocês não podem desfazer isso."
-
18:52 - 18:54Dizem: "Há problemas éticos;
-
18:54 - 18:57"as pessoas não podem consentir."
-
18:57 - 19:00A vacina oral da poliomielite
enfrentou preocupações semelhantes -
19:00 - 19:02sobre ética e segurança.
-
19:02 - 19:07A vacina oral da poliomielite enfrentou
uma campanha de desinformação tão eficaz -
19:07 - 19:09que muitas pessoas
ainda não sabem que se propaga, -
19:09 - 19:13que erradicou a poliomielite
com êxito em muitos países -
19:13 - 19:16ou que essa vacina é a base
para novas vacinas. -
19:17 - 19:22Quando apresentámos a ideia da terapia
de sequestrador em África no ano passado, -
19:22 - 19:26os cientistas africanos
tiveram uma reação diferente. -
19:27 - 19:30Disseram: "Como é
que não podem testar isso?" -
19:30 - 19:34Disseram que seria antiético
não a testar. -
19:34 - 19:37Então, mesmo que possamos vir a falhar,
-
19:37 - 19:40está muita coisa em jogo
para deixar de tentar. -
19:40 - 19:42Se não fizermos nada,
-
19:42 - 19:46aquelas miúdas nos arredores de Durban
vão contrair o VIH -
19:46 - 19:49e a próxima vez que surgir um novo vírus,
-
19:51 - 19:54estaremos tão vulneráveis
como estamos hoje, -
19:55 - 19:58com quarentenas porosas
-
19:59 - 20:04e vacinas em que é preciso esperar meses
e que talvez não sejam compatíveis. -
20:06 - 20:08Acho que é altura
de uma nova abordagem, -
20:08 - 20:12uma abordagem diferente
do século passado. -
20:13 - 20:16É altura de uma tecnologia
que seja menos reativa -
20:16 - 20:18e mais proativa.
-
20:19 - 20:21Acho que é altura para tratamentos
-
20:21 - 20:24que não beneficiem apenas
os que são mais ricos, -
20:24 - 20:29mas também quem enfrenta
grandes dificuldades. -
20:32 - 20:35Acho que é altura
de um novo tipo de arma -
20:35 - 20:37que seja compatível,
-
20:37 - 20:40ou que resolva
a incompatibilidade fundamental. -
20:40 - 20:42Acho que é altura para as terapias
se tornarem virais. -
20:42 - 20:44Muito obrigado.
-
20:44 - 20:45(Aplausos)
- Title:
- Podemos criar vacinas que sofram mutações e se propaguem?
- Speaker:
- Leo Weinberger
- Description:
-
Os vírus sofrem mutações e propagam-se de pessoa para pessoa, um processo dinâmico que muitas vezes nos deixa a brincar à apanhada quando há um novo surto duma doença. E se as vacinas funcionassem da mesma forma? O virologista Leor Weinberger partilha uma descoberta científica: "terapia de sequestrador," um tipo de tratamento médico que pode atacar, modificar e propagar-se tal como um vírus, tratando indivíduos afetados e retardando a propagação de infeções como o VIH.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 20:59
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