Perceber o divórcio pode melhorar o vosso casamento

Para percebermos o que faz um casamento resultar, precisamos de falar sobre o porquê de, por vezes, acabarem, diz a professora de direito da família, Jeannie Suk Gersen. Acompanhem-na enquanto ela explica as três formas como pensar nas decisões matrimoniais através do ponto de vista do divórcio vos pode ajudar a explorar a união desde o início.

"Até que a morte nos separe."

Quando casamos, fazemos votos.

Para amar, para honrar,
para renunciar a todos os outros.

Ou, como diz um amigo meu:

"Não deixar meias sujas por toda a casa."

(Risos)

Por vezes, talvez não cumpramos
as nossas promessas,

mas uma que fica verdadeira
para sempre é a primeira:

"até que a morte nos separe".

Porque os casais ficam unidos
pelas suas decisões,

no casamento e no divórcio.

Por isso, um mentor meu disse-me, uma vez:

"Deves sempre casar-te primeiro
com o teu segundo marido."

(Risos)

O que quis dizer com isso?

Não quis dizer que o homem certo
está à espera,

escondido atrás da porta número dois.

Quis dizer que, se quisermos compreender

o que faz um casamento funcionar

devemos pensar
em como termina um casamento.

O divórcio torna extremamente explícitas

quais são as regras tácitas do casamento.

Toda a gente devia saber essas regras,

porque fazê-lo ajuda-nos a criar
casamentos melhores logo de início.

Eu sei, não parece muito romântico,

mas, por vezes,
as coisas que fazemos por amor

podem ser as coisas
que tornam difícil esse amor durar.

Sou professora de direito da família.

Já dei aulas a alunos,

já fui advogada,

sou mediadora

e também já me divorciei.

Agora, estou num casamento feliz
com o meu segundo marido.

(Risos)

A razão por que isto
é tão importante para mim

é porque acho que todos
devíamos ter estas conversas difíceis,

que as pessoas divorciadas experimentam.

São conversas penosas sobre
qual foi a nossa contribuição,

o que devemos,

o que estamos dispostos a dar
e aquilo de que abdicamos.

E, também, o que é importante para nós.

Essas conversas devem acontecer
durante um casamento feliz,

e não depois de estar destruído.

Porque, quando esperamos
até estar destruído, é demasiado tarde.

Mas, se as tivermos a tempo, podem ajudar
a criar um casamento melhor.

Tenho três ideias
que quero que considerem.

Primeira, o sacrifício deve ser visto
como uma troca justa.

Segunda, não há cuidados
gratuitos de crianças.

E terceira, o que é teu,
provavelmente, vai tornar-se nosso.

Vou falar de cada uma destas ideias.

A primeira, o sacrifício
deve ser uma troca justa.

Tomemos o exemplo da Lisa e do Andy.

No início do casamento,
Lisa decide estudar medicina

e Andy trabalha para se sustentarem.

Para tal, Andy faz turnos noturnos

e renuncia a um ótimo trabalho
noutra cidade.

Fá-lo por amor.

Mas claro que também sabe

que, no final, o curso de Lisa
vai beneficiá-los a ambos.

Mas após uns anos, Andy sente-se
negligenciado e ressentido,

e começa a beber muito.

Lisa olha para a sua vida,
olha para Andy e pensa:

"Não era esta a troca que eu queria."

Passam-se uns anos,
ela acaba o curso de medicina

e pede o divórcio.

No meu mundo perfeito,

um mediador de casamentos
podia ter falado com eles,

antes de Lisa começar a estudar medicina.

Nessa altura, um mediador
podia ter perguntado:

"Como funciona uma troca justa para vocês?

"Como é que funciona no vosso casamento?

"O que é que estão dispostos a dar
e o que é que estão dispostos a dever?"

Num divórcio,

Lisa, provavelmente, fica a dever a Andy
um apoio monetário durante anos.

E Andy...

Não há dinheiro no mundo
que o faça sentir-se compensado

por tudo aquilo de que abdicou

e por ter perdido o rumo da sua carreira.

Se, no início, ambos tivessem pensado
numa separação,

o que podia ter sido diferente?

É possível que Lisa tivesse decidido

aceitar um empréstimo,
ou arranjar um "part-time",

para pagar as propinas,

para Andy não ter
de carregar o fardo sozinho.

E talvez Andy tivesse decidido aceitar
aquele trabalho noutra cidade

e, durante uns anos,
só se verem de vez em quando,

enquanto Lisa acabava o curso.

Olhemos para outro casal,
Emily e Deb.

Vivem numa cidade grande,
têm dois filhos e ambas trabalham.

Emily recebe uma proposta de trabalho
numa cidade pequena

e decidem mudar-se para lá as duas.

Deb despede-se para ficar a cuidar
dos filhos a tempo inteiro.

Deb deixa para trás a família,
os amigos e um trabalho que adorava.

Nessa cidade pequena,
Deb começa a sentir-se isolada e só.

Dez anos depois, Deb tem um caso
e as coisas desmoronam-se.

O mediador de casamentos,
que devia ter entrado em ação

antes de se mudarem e de Deb se despedir,
ter-lhes-ia perguntado:

"Como é que as vossas escolhas
quanto aos cuidados com as crianças

"afetam as obrigações que têm
uma para com a outra?

"Como é que afetam a vossa relação?

"Porque têm de se lembrar
que não cuidados de crianças gratuitos."

Se ambas tivessem pensado
na sua separação de antemão,

o que podia ter sido diferente?

Talvez Deb se tivesse apercebido

do quão importantes eram para si
os seus amigos e a família,

especialmente no desafio que enfrentava,
a maternidade a tempo inteiro.

Talvez Emily, ao medir o entusiasmo
pela nova oferta de emprego,

também tivesse pensado
no que isso custaria a Deb

e o que lhe ficaria a dever,

em consequência de ela ficar
a ser mãe a tempo inteiro.

Voltemos a Lisa e Andy.

Antes do casamento, Lisa tinha
direito a uma herança da avó.

Quando se casaram, compraram uma casa

e Lisa usou o dinheiro da herança
para a entrada para a casa.

Andy trabalhou para pagar a hipoteca.

Toda a propriedade, antes e durante
o casamento, tornou-se conjunta.

Essa herança é, agora,
propriedade matrimonial.

Em caso de separação,
o que vai acontecer?

Terão de vender a casa e dividir o lucro,

ou um deles pode comprar a parte do outro?

Se o mediador de casamentos

tivesse falado com eles
antes de tudo acontecer,

talvez lhes tivesse perguntado:

"O que querem manter em separado?
E o que querem manter em comunhão?

"E como é que essa escolha
servirá de apoio ao casamento?

"Porque têm de se lembrar

"que o que é teu,
provavelmente, vai tornar-se nosso,

"a não ser que sejam conscientes

"e tomem medidas
para que isso não aconteça."

Portanto, se tivessem pensado
na sua separação,

talvez tivessem decidido de outra forma,

talvez Lisa tivesse decidido:

"É melhor a herança ficar em separado

"e ser guardada, para um dia em que,
de facto, precisassem dela."

Talvez a hipoteca que pagaram
não tivesse sido tão pesada

e Andy não tivesse
de trabalhar tanto para a pagar.

Talvez ele tivesse ficado
menos ressentido.

Talvez ficassem a viver
numa casa mais pequena

e ficassem felizes com isso.

A questão é:

se tivessem tido uma conversa
consciente sobre divórcio,

e sobre o que manter em separado,

o casamento deles podia ter sido
mais unido e mais íntimo.

Muitas vezes, no casamento,
fazemos sacrifícios

e exigimo-los,
sem pensar no seu custo.

Mas é inteligente olhar para o preço

associado às nossas
decisões matrimoniais,

tal como a lei do divórcio
nos ensina a fazer.

O que quero é que as pessoas pensem
nas suas trocas matrimoniais,

segundo o ponto de vista do divórcio.

E que perguntem:

"Como é que o casamento é um sacrifício,
uma troca de sacrifícios?

"Como é que vemos a nossa troca?"

Em segundo lugar:

"Como é que pensamos na
guarda das crianças

"e lidamos com o facto de não haver
cuidados com as crianças gratuitos?"

"Como é que lidamos com o facto

"de algumas coisas poderem ser separadas
e outras conjuntas?"

Se não pensarmos nisso,

tudo passará a fazer parte
da empresa conjunta.

Então, basicamente,
o que quero transmitir-vos

é que, no casamento ou no divórcio,

as pessoas deviam pensar se aquele
casamento de "até que a morte nos separe"

é. de facto, para sempre.

Obrigada.

(Aplausos)