Se eu tiver uma filha...
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0:01 - 0:03Se eu tiver uma filha,
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0:03 - 0:08em vez de Mãe, ela vai chamar-me Ponto B,
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0:09 - 0:12porque assim ela saberá que,
aconteça o que acontecer, -
0:12 - 0:14vai sempre conseguir
encontrar o caminho até mim. -
0:15 - 0:18E vou pintar-lhe sistemas solares
nas palmas das mãos, -
0:18 - 0:21para ela aprender o universo inteiro
antes de poder dizer: -
0:21 - 0:23"Oh, conheço isso
como a palma da minha mão". -
0:24 - 0:26Ela vai aprender que esta vida
-
0:26 - 0:28vai acertar-lhe com força na cara,
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0:28 - 0:31esperar que ela se levante
só para te dar um soco no estômago. -
0:31 - 0:33Mas ficarmos sem fôlego
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0:33 - 0:36é a única forma de nos lembrarmos
que temos pulmões -
0:36 - 0:38de quanto gostamos do sabor do ar.
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0:38 - 0:40Há mágoas que não podem ser curadas
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0:40 - 0:42com pensos rápidos ou com poesia.
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0:42 - 0:44Então, a primeira vez que ela perceber
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0:44 - 0:46que a Mulher Maravilha não aparece,
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0:46 - 0:48vou certificar-me de que ela saiba
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0:48 - 0:50que não vai ter que usar a capa sozinha.
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0:50 - 0:52Porque por mais que estiquemos os dedos,
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0:52 - 0:54as nossas mãos serão
sempre demasiado pequenas -
0:54 - 0:56para agarrar toda a dor
que queremos curar. -
0:56 - 0:58Acreditem, eu já tentei.
-
0:58 - 0:59Vou dizer-lhe:
-
0:59 - 1:01"Querida, não andes de nariz empinado."
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1:01 - 1:04"Eu conheço esse truque,
já o usei milhões de vezes. -
1:04 - 1:06"Estás só a cheirar o fumo
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1:06 - 1:08"para poderes seguir-lhe o rasto
até à casa em chamas -
1:08 - 1:11"para encontrares o rapaz
que perdeu tudo no incêndio -
1:11 - 1:13"e ver se o podes salvar.
-
1:13 - 1:16"Ou então encontrar o rapaz
que ateou o fogo, -
1:16 - 1:18"para ver se o consegues mudar."
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1:19 - 1:21Mas eu sei que ela acabará por fazê-lo,
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1:21 - 1:23por isso, vou antes ter
um carregamento extra -
1:23 - 1:25de chocolate e galochas por perto,
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1:25 - 1:28porque não há nenhum desgosto
que o chocolate não cure. -
1:28 - 1:31OK, há alguns desgostos
que o chocolate não cura. -
1:31 - 1:33Mas é para isso que servem as galochas.
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1:33 - 1:36Porque a chuva lava tudo, se a deixares.
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1:36 - 1:38Quero que ela veja o mundo
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1:38 - 1:41através da parte inferior
de um barco com fundo de vidro, -
1:41 - 1:43que veja através de um microscópio
-
1:43 - 1:46as galáxias que existem na mente humana,
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1:46 - 1:49porque foi assim
que a minha mãe me ensinou. -
1:49 - 1:51Que vai haver dias assim.
-
1:51 - 1:54♫ Vai haver dias assim,
dizia a minha mãe. ♫ -
1:54 - 1:55Quando abrires as mãos para apanhar algo
-
1:55 - 1:58e acabares apenas com bolhas e esfolões,
-
1:58 - 2:00quando saíres da cabine telefónica
e tentares voar -
2:00 - 2:02e as pessoas que queres salvar
-
2:02 - 2:04são as que estão a pisar-te a capa,
-
2:04 - 2:06quando as tuas botas
se encherem com a chuva, -
2:06 - 2:08e a desilusão te chegar aos joelhos,
-
2:08 - 2:12são precisamente esses os dias em que
tens mais razão para dizer obrigada. -
2:12 - 2:13Porque não há nada mais belo
-
2:13 - 2:16que a forma como o oceano
se recusa a deixar de beijar a margem -
2:16 - 2:19sem se importar quantas vezes
é empurrado para trás. -
2:19 - 2:22Vais ganhar e vais perder.
-
2:22 - 2:24Vais ter que recomeçar,
-
2:24 - 2:26uma e outra vez.
-
2:26 - 2:29E não importa quantas minas
surjam num minuto, -
2:29 - 2:31assegura-te que a tua mente aterra
-
2:31 - 2:33na beleza deste engraçado lugar
chamado vida. -
2:33 - 2:36E sim, numa escala de um a superconfiante,
-
2:36 - 2:38eu sou bastante ingénua.
-
2:38 - 2:42Mas quero que ela saiba
que este mundo é feito de açúcar. -
2:42 - 2:44Pode esboroar-se tão facilmente,
-
2:44 - 2:46mas não tenhas medo de pôr
a língua de fora e de o provar. -
2:46 - 2:49Vou dizer-lhe: "Querida, lembra-te
que a tua mãe se preocupa, -
2:49 - 2:51"e que o teu pai é um lutador
-
2:51 - 2:54"e que tu és a menina de mãos pequenas
e olhos grandes -
2:54 - 2:56"que nunca deixa de pedir mais".
-
2:56 - 2:58"Lembra-te que as coisas boas
vêm em grupos de três -
2:58 - 3:00"tal como as coisas más.
-
3:00 - 3:02"Pede desculpa sempre
que fizeres algo de errado. -
3:02 - 3:04"Mas nunca peças desculpa
-
3:04 - 3:07"por os teus olhos se recusarem
a deixar de brilhar. -
3:07 - 3:09"A tua voz é pequena,
mas nunca pares de cantar. -
3:09 - 3:12"E quando finalmente te magoarem,
-
3:12 - 3:14"quando, por baixo da porta,
te meterem a guerra e o ódio -
3:14 - 3:18"e pelas esquinas te derem panfletos
de cinismo e derrota, -
3:18 - 3:22"diz-lhes que deviam conhecer a tua mãe.
-
3:23 - 3:25(Aplausos)
-
3:25 - 3:27Obrigada. Obrigada.
-
3:28 - 3:30(Aplausos)
-
3:30 - 3:32Obrigada.
-
3:32 - 3:35(Aplausos)
-
3:36 - 3:37Obrigada.
-
3:37 - 3:40(Aplausos)
-
3:40 - 3:42Obrigada.
-
3:42 - 3:44(Aplausos)
-
3:45 - 3:48Ok. Quero então que percam uns segundos,
-
3:48 - 3:50e pensem em três coisas
-
3:50 - 3:52que sabem ser verdadeiras.
-
3:52 - 3:54Podem ser sobre qualquer coisa
que queiram: -
3:54 - 3:56tecnologia, entretenimento, design,
-
3:56 - 3:59a vossa família, o que tomaram
ao pequeno-almoço. -
3:59 - 4:01A única regra é não pensarem muito.
-
4:01 - 4:04Ok, prontos? Podem começar.
-
4:10 - 4:11Ok.
-
4:11 - 4:14Aqui estão três coisas
que sei serem verdadeiras. -
4:14 - 4:16Sei que o Jean-Luc Godard tinha razão
-
4:16 - 4:20quando dizia que uma boa história
tem um princípio, um meio e um fim, -
4:20 - 4:22embora não necessariamente por esta ordem.
-
4:22 - 4:26Sei que estou incrivelmente nervosa
e entusiasmada por estar aqui, -
4:26 - 4:29o que inibe grandemente a minha capacidade
de me manter calma. -
4:29 - 4:30(Risos)
-
4:30 - 4:34Sei que estive à espera a semana toda
para contar esta piada. -
4:34 - 4:35(Risos)
-
4:36 - 4:38Porque é que o espantalho
foi convidado para o TED? -
4:39 - 4:41Porque se destacava no seu campo.
-
4:42 - 4:44(Risos)
-
4:45 - 4:47Desculpem.
-
4:47 - 4:50Ok, então estas são três coisas
que sei serem verdadeiras. -
4:50 - 4:54Mas há muitas coisas
que tenho dificuldade em compreender. -
4:54 - 4:57Então eu escrevo poemas
para perceber as coisas. -
4:57 - 5:00Por vezes, a única forma
que sei para resolver uma coisa -
5:00 - 5:02é escrever um poema.
-
5:02 - 5:04E, por vezes, chego ao fim do poema
-
5:04 - 5:06olho para trás e digo:
"Oh, então era isto." -
5:06 - 5:08Outras vezes, chego ao fim do poema
-
5:08 - 5:09e não resolvi nada,
-
5:09 - 5:12mas, pelo menos,
consegui sacar um novo poema. -
5:12 - 5:15A poesia falada
é a arte da poesia representada. -
5:15 - 5:17Eu digo às pessoas
que implica criar poesia -
5:17 - 5:19que não se limita a ficar no papel,
-
5:19 - 5:21que há nela qualquer coisa
que exige ser ouvida -
5:21 - 5:23ou testemunhada em pessoa.
-
5:23 - 5:25No primeiro ano de liceu,
-
5:25 - 5:29eu era uma pilha de nervos.
-
5:30 - 5:33Era subdesenvolvida e super-emotiva.
-
5:33 - 5:35E apesar de não gostar
-
5:35 - 5:37que olhassem para mim por muito tempo,
-
5:37 - 5:40tinha um fascínio
pela ideia da poesia falada. -
5:40 - 5:44Sentia que os meus dois amores secretos,
a poesia e o teatro, -
5:44 - 5:47se tinham juntado, tinham tido um bebé,
-
5:47 - 5:49um bebé que eu precisava conhecer.
-
5:49 - 5:51Então decidi tentar.
-
5:51 - 5:53O meu primeiro poema de poesia falada,
-
5:53 - 5:56recheado com a sabedoria
de uma menina de 14 anos, -
5:56 - 5:58era sobre a injustiça
-
5:58 - 6:00de ser vista como pouco feminina.
-
6:00 - 6:02O poema era muito indignado,
-
6:02 - 6:04e essencialmente exagerado,
-
6:04 - 6:07mas a única poesia falada
que eu tinha visto até à altura -
6:07 - 6:09era essencialmente indignada.
-
6:09 - 6:12Por isso achei que era isso
que esperavam de mim. -
6:12 - 6:14A primeira vez que recitei,
-
6:14 - 6:17a audiência de adolescentes
dava gritos de incentivo, -
6:17 - 6:19e quando saí do palco estava a tremer.
-
6:19 - 6:21Senti baterem-me no ombro.
-
6:21 - 6:23Quando me voltei para ver quem era,
-
6:23 - 6:26vi uma miúda gigante,
de camisola com capuz. -
6:26 - 6:27Devia ter dois metros de altura,
-
6:27 - 6:30parecia que me podia bater
só com uma mão. -
6:30 - 6:31Mas apenas acenou com a cabeça e disse:
-
6:31 - 6:34"Senti mesmo o que disseste. Obrigada".
-
6:35 - 6:37Foi como se um raio me atingisse.
-
6:37 - 6:38Fiquei viciada.
-
6:39 - 6:42Descobri um bar
no Lower East Side de Manhattan -
6:42 - 6:45que tinha noites semanais
de poesia de microfone aberto,. -
6:45 - 6:47Os meus pais, admirados mas apoiantes,
-
6:47 - 6:50levavam-me lá para beber cada bocadinho
de poesia falada que pudesse. -
6:50 - 6:53Era a mais nova de longe,
-
6:53 - 6:56mas o certo é que os poetas
do Bowery Poetry Club -
6:56 - 6:59não pareciam incomodados pela presença
da menina de 14 anos. -
6:59 - 7:01Na verdade, receberam-me bem.
-
7:01 - 7:04E foi lá, a ouvir todos aqueles poetas
partilhar as suas histórias -
7:04 - 7:07que aprendi que a poesia falada
não tinha que ser indignada, -
7:07 - 7:09podia ser divertida ou dolorosa,
-
7:09 - 7:11ou séria ou tonta.
-
7:11 - 7:15O Bowery Poetry Club tornou-se
a minha sala de aulas e a minha casa. -
7:15 - 7:16E os poetas que recitavam
-
7:16 - 7:19encorajavam-me a partilhar
também as minhas histórias. -
7:19 - 7:21Esquecendo o facto de eu ter 14 anos,
disseram-me: -
7:21 - 7:23"Escreve sobre o que é ter 14 anos".
-
7:24 - 7:26Então fi-lo e ficava maravilhada
todas as semanas -
7:26 - 7:28quando estes poetas, adultos e brilhantes,
-
7:28 - 7:31riam comigo, lamentavam com compaixão
-
7:31 - 7:32aplaudiam e me diziam:
-
7:32 - 7:34"Ei, eu também senti isso".
-
7:34 - 7:38Posso dividir esta minha viagem
de poesia falada -
7:38 - 7:39em três passos.
-
7:39 - 7:41O primeiro passo foi quando disse:
-
7:41 - 7:43"Eu consigo. Eu consigo fazer isto".
-
7:43 - 7:46Isso graças à miúda de camisola e capuz.
-
7:46 - 7:48O segundo passo foi quando disse:
-
7:48 - 7:49"Eu vou. Eu vou continuar.
-
7:49 - 7:53"Eu adoro a poesia falada.
Vou continuar a vir semana após semana". -
7:53 - 7:55E o terceiro passo começou
-
7:55 - 7:57quando percebi que não tinha
que escrever poemas indignados, -
7:57 - 7:59se eu não era assim.
-
7:59 - 8:01Estas coisas são específicas para mim.
-
8:01 - 8:03Quanto mais me focava nelas,
-
8:03 - 8:05mais estranha se tornava a minha poesia,
-
8:05 - 8:08mas mais eu sentia que era minha.
-
8:08 - 8:11Não é só o adágio "escreve o que sabes",
-
8:11 - 8:13é juntar todo o conhecimento e experiência
-
8:13 - 8:15que acumulámos até então
-
8:15 - 8:18para nos ajudar a mergulhar
nas coisas que não conhecemos. -
8:18 - 8:21Eu uso a poesia para me ajudar
com o que não compreendo, -
8:21 - 8:23mas ataco cada novo poema
-
8:23 - 8:26com uma mochila cheia
de todos os lugares onde já estive. -
8:27 - 8:30Quando fui para a universidade,
conheci outro poeta -
8:30 - 8:32que partilhava a minha crença
na magia da poesia falada. -
8:32 - 8:35Na verdade, o Phil Kaye e eu
-
8:35 - 8:37até partilhamos o mesmo apelido.
-
8:38 - 8:41Quando estava no liceu,
criei o Projeto V.O.I.C.E. -
8:41 - 8:44para encorajar os meus amigos
a fazerem poesia falada comigo. -
8:44 - 8:46Mas o Phil e eu decidimos
reinventar o projeto V.O.I.C.E., -
8:46 - 8:48desta vez mudando a missão
-
8:48 - 8:51para usar a poesia falada
como forma de entreter, -
8:51 - 8:53de educar e de inspirar.
-
8:53 - 8:56Continuámos como estudantes
a tempo inteiro, mas também viajávamos, -
8:56 - 8:58atuando e ensinando
-
8:58 - 9:01desde crianças de 9 anos
a estudantes de Belas Artes -
9:01 - 9:03da Califórnia ao Indiana, à Índia,
-
9:03 - 9:06ao liceu público perto
do campus universitário. -
9:06 - 9:08E vimos, vezes sem conta,
-
9:08 - 9:11a forma como a poesia falada
arromba fechaduras. -
9:12 - 9:14Mas acontece que, por vezes,
-
9:14 - 9:17a poesia pode ser bem assustadora.
-
9:17 - 9:19Acontece que, por vezes,
-
9:19 - 9:22temos que iludir os adolescentes
para que escrevam poesia. -
9:22 - 9:25Então lembrei-me de usar listas.
Toda a gente consegue escrever listas. -
9:25 - 9:27A primeira lista que peço
-
9:27 - 9:29é "Dez Coisas Que Sei Serem Verdadeiras".
-
9:30 - 9:32O que acontece, vocês iriam descobrir
-
9:32 - 9:35se começássemos a partilhar
as nossas listas em voz alta. -
9:35 - 9:36A certa altura, apercebemo-nos
-
9:36 - 9:40que há outra pessoa
com algo exatamente igual -
9:40 - 9:42ou muito parecido
-
9:42 - 9:43com a nossa lista.
-
9:43 - 9:48E há outra pessoa com uma coisa
completamente oposta à nossa. -
9:48 - 9:51Terceiro, alguém tem uma coisa
que nunca ouvimos antes. -
9:51 - 9:54E quarto, alguém tem uma coisa
que pensávamos conhecer bem, -
9:54 - 9:57mas com uma nova perspetiva.
-
9:57 - 10:00Eu digo às pessoas que é assim
que começam as grandes histórias, -
10:00 - 10:02a partir destas quatro intersecções
-
10:02 - 10:04daquilo por que somos apaixonados
-
10:04 - 10:06e daquilo a que outros se dedicam.
-
10:06 - 10:09A maior parte das pessoas
responde bem a este exercício. -
10:09 - 10:12Mas uma das minhas alunas,
uma caloira chamada Charlotte, -
10:12 - 10:14não estava convencida.
-
10:14 - 10:18A Charlotte era muito boa a escrever listas,
mas recusava-se a escrever poemas. -
10:18 - 10:21"Professora", dizia,
"Eu não sou interessante. -
10:21 - 10:23"Não tenho nada
de interessante para dizer". -
10:23 - 10:25Então mandei-a fazer lista atrás de lista
-
10:25 - 10:27e um dia pedi-lhe a lista das
-
10:27 - 10:29"Dez Coisas Que Eu Já Devia Ter Aprendido".
-
10:29 - 10:32Em terceiro lugar,
na lista da Charlotte, estava: -
10:32 - 10:34"Já devia ter aprendido
a não me apaixonar por rapazes -
10:34 - 10:36"com o triplo da minha idade".
-
10:36 - 10:38Perguntei-lhe o que queria dizer
e ela disse: -
10:38 - 10:40"É uma história muito comprida".
-
10:40 - 10:43E eu:, "Charlotte, isso parece-me
muito interessante". -
10:43 - 10:45Foi então que ela escreveu
o primeiro poema, -
10:45 - 10:48um poema de amor
como eu nunca tinha ouvido. -
10:48 - 10:50O poema começava assim:
-
10:50 - 10:53"O Anderson Cooper é um homem lindo".
-
10:53 - 10:54(Risos)
-
10:55 - 10:57"Viram-no no 60 Minutes,
-
10:57 - 10:59"a nadar numa piscina
com o Michael Phelps, -
10:59 - 11:00"só com calções de banho,
-
11:00 - 11:03"a mergulhar, apostado a bater
este campeão de natação? -
11:03 - 11:06"Depois da corrida, sacudiu
o cabelo molhado e branco e disse: -
11:06 - 11:07"'És um deus'.
-
11:07 - 11:09"Não, Anderson, tu é que és um deus".
-
11:09 - 11:11(Risos)
-
11:11 - 11:14(Aplausos)
-
11:15 - 11:19Eu sei que a primeira coisa
para se ser fixe -
11:19 - 11:21é parecer sempre imperturbável.
-
11:21 - 11:24Nunca admitir que algo nos assusta
-
11:24 - 11:26ou nos impressiona ou nos entusiasma.
-
11:26 - 11:29Uma vez disseram-me que é
como atravessar a vida assim. -
11:29 - 11:32Protegemo-nos de todas as inesperadas
misérias ou mágoas -
11:32 - 11:34que nos possam surgir.
-
11:34 - 11:37Mas eu tento atravessar a vida assim.
-
11:37 - 11:40Sim, isso implica levar
com todas essas misérias e mágoas, -
11:40 - 11:43mas também implica que,
quando cai do céu -
11:43 - 11:44uma coisa bela e fantástica,
-
11:44 - 11:46eu estou pronta para a apanhar.
-
11:46 - 11:49Eu uso a poesia falada
para ajudar os meus alunos -
11:49 - 11:51a redescobrir a maravilha,
-
11:51 - 11:53a lutarem, em vez de serem
fixes e imperturbáveis, -
11:53 - 11:56a tentarem ativamente estar envolvidos
com tudo que os rodeia, -
11:56 - 11:59para poderem reinterpretar
e criar qualquer coisa a partir disso. -
12:00 - 12:02Eu não acho que a poesia falada
-
12:02 - 12:03seja a forma de arte ideal.
-
12:03 - 12:07Estou sempre a tentar encontrar
a melhor forma de contar cada história. -
12:07 - 12:10Escrevo musicais, faço curtas-metragens
juntamente com os meus poemas. -
12:10 - 12:14Mas ensino poesia falada
porque é acessível. -
12:14 - 12:16Nem toda a gente consegue ler música,
-
12:16 - 12:18ou ter uma câmara,
-
12:18 - 12:20mas toda a gente consegue comunicar
de qualquer forma, -
12:20 - 12:22e toda a gente tem histórias
-
12:22 - 12:24com as quais o resto de nós pode aprender.
-
12:24 - 12:27Mais, a poesia falada permite
fazer ligações imediatas. -
12:27 - 12:29Não é invulgar as pessoas sentirem-se sós
-
12:29 - 12:31ou que ninguém os compreende,
-
12:31 - 12:33mas a poesia falada ensina-nos
-
12:33 - 12:35que, se tivermos a capacidade
de nos expressarmos -
12:35 - 12:38e a coragem de apresentar
essas histórias e opiniões, -
12:38 - 12:39seremos recompensados
-
12:39 - 12:41com uma sala cheia dos nossos pares,
-
12:41 - 12:43da nossa comunidade, que nos ouvirá.
-
12:43 - 12:45E talvez até uma miúda gigante
-
12:45 - 12:48se sentirá ligada
ao que acabámos de dizer. -
12:48 - 12:50Isso é uma coisa fantástica de perceber,
-
12:50 - 12:52especialmente quando se tem 14 anos.
-
12:52 - 12:54Mais, agora com o YouTube,
-
12:54 - 12:57essa ligação não está limitada
à sala em que estamos. -
12:57 - 13:00Tenho muita sorte de ter
um arquivo de atuações -
13:00 - 13:02que posso partilhar com os meus alunos.
-
13:02 - 13:04Permite que haja mais oportunidades
-
13:04 - 13:06para que possam encontrar
um poeta ou um poema -
13:06 - 13:08ao qual se liguem.
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13:08 - 13:10Assim que sabemos como o fazer,
-
13:10 - 13:13é tentador escrever sempre o mesmo poema,
-
13:13 - 13:15ou contar sempre a mesma história,
-
13:15 - 13:18depois de sabermos
o que nos faz conquistar aplausos. -
13:18 - 13:20Não chega ensinar
que nos podemos expressar, -
13:20 - 13:22mas também que podemos
crescer e explorar, -
13:22 - 13:24correr riscos e desafiarmo-nos.
-
13:24 - 13:27Esse é o terceiro passo.
-
13:27 - 13:29Conseguir uma infusão daquilo que fazemos
-
13:29 - 13:31com as coisas específicas que nos definem,
-
13:31 - 13:34mesmo quando essas coisas
estão sempre a mudar. -
13:34 - 13:36Porque o terceiro passo nunca acaba.
-
13:36 - 13:39Mas não podem começar no terceiro passo,
-
13:39 - 13:42sem passarem pelo primeiro:
"Eu consigo". -
13:42 - 13:44Eu viajo muito enquanto ensino,
-
13:44 - 13:47e nem sempre consigo ver os meus alunos
atingir esse terceiro passo, -
13:47 - 13:49mas tive muita sorte com a Charlotte
-
13:49 - 13:52cuja viagem vi desabrochar
da forma que vi. -
13:52 - 13:53Vi-a compreender que,
-
13:53 - 13:56ao colocar as coisas que sabe
serem verdadeiras no trabalho que faz, -
13:56 - 13:59ela consegue criar poemas
que só a Charlotte pode escrever, -
13:59 - 14:02sobre globos oculares e elevadores
e Dora, A Exploradora. -
14:02 - 14:05Eu tento contar as histórias
que só eu consigo, -
14:05 - 14:06como esta história.
-
14:06 - 14:09Passo muito tempo a pensar na melhor forma
de contar esta história, -
14:09 - 14:11e penso se a melhor forma
-
14:11 - 14:13seria com um PowerPoint
ou um pequeno filme, -
14:13 - 14:16e onde estava o princípio,
ou o meio, ou o fim. -
14:16 - 14:18E pensei se conseguiria chegar
ao fim desta palestra -
14:18 - 14:21e perceber tudo, ou não.
-
14:21 - 14:24Sempre pensei que o meu princípio
tinha sido no Bowery Poetry Club, -
14:24 - 14:26mas talvez tenha sido muito mais cedo.
-
14:27 - 14:28Ao preparar-me para o TED,
-
14:28 - 14:30descobri esta página de um diário.
-
14:30 - 14:34Acho que 54 de dezembro devia ser 24.
-
14:34 - 14:36É óbvio que quando era criança,
-
14:36 - 14:38eu andava pela vida assim.
-
14:38 - 14:40Acho que todos o fizemos.
-
14:40 - 14:43Eu queria ajudar os outros
a redescobrir essa maravilha, -
14:43 - 14:45a empenharem-se nela, a quererem aprender,
-
14:45 - 14:47a quererem partilhar o que aprenderam,
-
14:47 - 14:49o que descobriram ser verdade
-
14:49 - 14:51e o que ainda estão a descobrir.
-
14:51 - 14:54Gostava de terminar com este poema.
-
14:55 - 14:57Quando bombardearam Hiroxima
-
14:57 - 15:00a explosão formou uma pequena supernova,
-
15:00 - 15:04de tal forma que todo o animal,
ser humano ou planta -
15:04 - 15:07que recebeu contacto direto
com os raios desse sol -
15:07 - 15:09se transformou instantaneamente em cinza.
-
15:09 - 15:12E o que sobrou da cidade
logo sofreu o mesmo destino. -
15:12 - 15:14O efeito duradouro
dos danos da radiação nuclear -
15:14 - 15:17fizeram com que uma cidade inteira
e a sua população -
15:17 - 15:19se transformasse em pó.
-
15:19 - 15:23Quando nasci, a minha mãe diz que olhei
em volta do quarto de hospital -
15:23 - 15:26com um olhar que dizia:
"Isto? Eu já fiz isto antes". -
15:26 - 15:29Ela diz que eu tenho olhos velhos.
-
15:29 - 15:31Quando o meu avô Genji morreu,
eu só tinha cinco anos, -
15:31 - 15:33mas peguei na mão
da minha mãe e disse-lhe: -
15:33 - 15:36"Não te preocupes, ele vai voltar
na forma de um bebé". -
15:36 - 15:40No entanto, para alguém que
aparentemente já fez isto antes, -
15:40 - 15:42ainda não percebi nada.
-
15:42 - 15:45Os meus joelhos ainda tremem
quando subo a um palco. -
15:45 - 15:47A minha autoconfiança pode ser medida
-
15:47 - 15:50em colheres de chá
misturadas com a minha poesia, -
15:50 - 15:53e ainda deixa um sabor estranho
na minha boca. -
15:53 - 15:55Mas em Hiroxima,
algumas pessoas foram varridas, -
15:55 - 15:59deixando só um relógio de pulso
ou a página de um diário. -
15:59 - 16:02Não importa se tenho inibições
para encher todos os meus bolsos, -
16:02 - 16:03continuo a tentar,
-
16:03 - 16:05à espera que um dia escreva um poema
-
16:05 - 16:08de que me orgulhe tanto
que possa ser exibido num museu -
16:08 - 16:10como a única prova de que eu existi.
-
16:10 - 16:12Os meus pais deram-me o nome de Sarah,
-
16:12 - 16:13que é um nome bíblico.
-
16:13 - 16:17Na história original, Deus disse a Sarah
que ela podia fazer algo impossível -
16:17 - 16:19e ela riu-se,
-
16:19 - 16:21porque essa Sarah
-
16:21 - 16:23não sabia o que fazer com o impossível.
-
16:23 - 16:26E eu? Bem, eu também não,
-
16:26 - 16:28mas eu vejo o impossível todos os dias.
-
16:28 - 16:31O impossível é tentarmos
relacionar-nos neste mundo, -
16:31 - 16:34tentarmos agarrar os outros
enquanto tudo explode à nossa volta, -
16:34 - 16:36sabendo que, enquanto falamos,
-
16:36 - 16:39eles não estão à espera da sua vez
de falar, eles ouvem-nos. -
16:39 - 16:41Sentem exatamente aquilo que sentimos
-
16:41 - 16:42ao mesmo tempo que nós.
-
16:42 - 16:45É o que desejo sempre
que abro a minha boca, -
16:45 - 16:47essa ligação impossível.
-
16:47 - 16:49Há um pedaço de parede em Hiroxima
-
16:49 - 16:52que ficou enegrecido pela radiação.
-
16:52 - 16:54Mas nos degraus, estava uma pessoa sentada
-
16:54 - 16:57que impediu a radiação de atingir a pedra.
-
16:57 - 16:58A única coisa que resta agora
-
16:58 - 17:01é a permanente sombra de luz positiva
-
17:01 - 17:02Depois da bomba atómica,
-
17:02 - 17:05os especialistas disseram
que demoraria 75 anos -
17:05 - 17:08para que no solo de Hiroxima,
danificado pela radiação, -
17:08 - 17:09voltasse a crescer alguma coisa.
-
17:09 - 17:13Mas nessa mesma primavera,
já havia rebentos a brotar da terra. -
17:13 - 17:15Quando eu te conheço, nesse momento,
-
17:15 - 17:16eu deixo de fazer parte do teu futuro.
-
17:16 - 17:19Rapidamente passo
a fazer parte do teu passado. -
17:19 - 17:21Mas nesse instante,
eu partilho o teu presente. -
17:21 - 17:23E tu, tu partilhas o meu.
-
17:23 - 17:25E esse é o maior presente de todos.
-
17:25 - 17:27Se me dizes que eu consigo
fazer o impossível, -
17:27 - 17:29provavelmente vou-me rir de ti.
-
17:29 - 17:32Não sei se consigo mudar o mundo,
-
17:32 - 17:34porque não o conheço muito bem
-
17:34 - 17:36e também não sei muito sobre reencarnação,
-
17:36 - 17:38mas se me fizeres rir e bem,
-
17:38 - 17:40até posso esquecer-me
do século em que estou. -
17:40 - 17:44Não é a primeira vez que estou aqui.
Não é a última vez que estou aqui. -
17:44 - 17:46Estas não serão as últimas palavras
que partilho. -
17:46 - 17:49Mas, por via das dúvidas,
estou a dar o máximo -
17:49 - 17:51para acertar desta vez.
-
17:51 - 17:53Obrigada.
-
17:53 - 17:55(Aplausos)
-
17:55 - 17:56Obrigada.
-
17:56 - 17:58(Aplausos)
-
17:58 - 18:00Obrigada.
-
18:00 - 18:03(Aplausos)
- Title:
- Se eu tiver uma filha...
- Speaker:
- Sarah Kay
- Description:
-
"Se eu tiver uma filha, em vez de Mãe, ela vai chamar-me Ponto B...", começou a poetisa da palavra falada, Sarah Kay, numa palestra que inspirou duas ovações de pé no TED2011. Conta a história da sua metamorfose: de uma adolescente de olhos arregalados a absorver versos no Bowery Poetry Club de Nova Iorque, a uma professora que liga os miúdos com o poder da autoexpressão através do Project V.O.I.C.E., e interpreta de forma arrebatadora os poemas "B" e "Hiroxima".
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 18:08
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for If I should have a daughter ... | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for If I should have a daughter ... | ||
Sérgio Lopes added a translation |