Um guia do "wrestler" profissional para a confiança

"Vocês são mais do que aquilo que pensam que são", diz o antigo "wrestler" profissional Mike Kinney. "Têm apenas que descobrir o que vos torna únicos e usá-lo para vosso benefício". Durante anos, Kinney "melhorou" aquilo que o tornava especial à medida que inventava e aperfeiçoava a sua personagem no "wrestling", o Cowboy Gator Magraw. Numa palestra em partes iguais de humor e inteligência, Kinney traz a sua sabedoria do ringue para o dia a dia, partilhando como podemos todos viver com mais confiança e atingir o nosso potencial.

Imaginem isto: um homem grande,
suado e tatuado

vestido de "cowboy",

entra no ringue

à medida que a arena
cheia de fãs o incentiva.

O seu herói:

o "Cowboy" Gator Magraw.

Gator ganha balanço nas cordas
mas leva um "body slam" e fica no tapete.

O seu adversário louco salta no ar

e aterra na caixa torácica de Gator.

Gator, ofegante questiona-se:

"Foi para isto que o meu pai me criou?"

(Risos)

Aquele homem louco
vestido de "cowboy"

era eu.

(Risos)

(Aplausos)

(Ovação)

E a resposta à pergunta
é um surpreendente

sim.

(Risos)

Cresci a assistir
ao "wrestling" profissional

com o meu pai.

E tal como ele,
adoro tudo no "wrestling":

a exuberância,
as capacidades atléticas,

o drama.

Em pequeno, saltitava
por toda a sala de estar,

a imitar os meus lutadores
preferidos que via na TV.

Na verdade, o meu pai fazia-me
lembrar o Hulk Hogan,

mas eu era o Hulk Hogan
e ele o Andre, o Gigante.

Fazia uma cara muito séria
e dizia coisas como:

"Pai, um dia vou ser
campeão do mundo de pesos pesados."

E ele, por norma, sorria
e com muita calma dizia:

"Deixa-me adivinhar, posso contar contigo
para seres a minha poupança reforma."

(Risos)

Quando tinha 16 anos,

chegou à minha cidade no Minnesota
um espetáculo de "wrestling"

Nem queria acreditar.

Nunca tinha havido
nada assim na minha cidade.

Cheguei cedo de manhã à arena
no dia do espetáculo,

à espera no parque de estacionamento
para ver se encontrava algum lutador

a estacionar o carro.

Não era tão estranho como soa.

Eu conseguia identificar os "wrestlers",

só pela forma como andavam.

Eram altos, confiantes e intimidadores,

vestidos com mangas à cava,
calças Zubaz e pochetes.

Porque não haveria
de querer ser como eles?

(Risos)

Só conseguia pensar:

"Quem são estas pessoas,
como são eles na realidade?

"Como se tornaram 'wrestlers'?"

Antes de começar o espetáculo,

entrei numa arena pequena

— parecia mais um ginásio —

e perguntei se podia ajudar
a montar o ringue de "wrestling".

"Claro puto. Sem medos."

Depois implorei que me mostrassem
algumas manobras de "wrestling".

"Claro puto. Sem medos."

Meu, deram-me murros
e pontapés, com força!

Mas nunca me queixei.

Nesse ano, vieram à minha cidade
uma noite, de dois em dois meses,

e depois... puf!
no dia seguinte desapareciam.

No ano seguinte,

falaram-me de um campo
de treinos de "wrestling"

que era gerido por um dos "wrestlers",

e implorei aos meus pais
que me inscrevessem.

Quando dei por mim,
era aluno do secundário durante o dia

e lutava à frente de uma plateia à noite.

Havia um poster gigante de um "alligator"
na parede do meu quarto.

Por isso, quando precisei de inventar
um nome, à última da hora,

e Jesse "The Body" Ventura
já tinha dono...

(Risos)

escolhi "Gator."

Também lutei de T-shirt
e com calças camufladas

porque era isso
que tinha no meu armário.

Ainda não imaginara
como desenvolver a minha persona,

mas estava a aprender.

Era como uma espécie de estágio.

Mas eu era um "wrestler".

O meu pai assistia a todos os combates

com uma T-shirt a dizer
"Papa Gator" na frente.

(Risos)

E gabava-se aos amigos

sobre como o filho
lhe ia um dia pagar a reforma.

(Risos)

E eu bem que teria pago.

Pouco depois de eu começar a lutar,

o meu pai faleceu inesperadamente.

Como podem imaginar,

especialmente enquanto adolescente,

fiquei de rastos.

Se já perderam alguém,
sabem o quão difícil pode ser.

A cabeça não funciona como deve de ser.

Toda a situação é surrealista.

Queria sentir-me normal
nem que fosse só por um segundo,

então voltei quase
imediatamente ao "wrestling".

Era algo que era meu
e do meu pai, entendem?

Então ali estava eu,

sentado no balneário,

a preparar-me para um combate
poucos dias depois de o meu pai falecer.

Ele tinha partido.

E ao estar ali sentado sozinho,

senti que me estava a esconder.

Mas também senti
que precisava de estar ali.

Um dos "wrestlers" mais experientes

sabia o que eu estava a passar,

e foi ver como é que eu estava.

As palavras não me saiam.

Só dizia: "Não sei o que estou a fazer."

Depois, ficámos
apenas sentados em silêncio.

apenas... silêncio.

Antes de ele sair para o seu combate,

deu-me um conselho

que iria mudar completamente
o rumo da minha vida.

Disse-me que os melhores "wrestlers"
são apenas eles mesmos, mas "melhorados".

Disse que os "wrestlers" de sucesso
encontram dentro de si

aquilo em que são mais fortes

e tornam isso o foco
de quem se tornam no ringue.

Então ali estava eu...

um adolescente assustado
que não sabia quem era

ou sequer porque
ainda praticava "wrestling".

Olhava em volta no balneário
para os outros "wrestlers",

e pensava:

"Eu sou tão diferente.
Como posso vir a ser como eles?"

E de repente percebi.

Foi nesse momento que percebi
que não tinha de ser como eles.

O que tinha de descobrir era:
O que significa ser eu mesmo?

O que me torna especial?

E como posso usar
isso em meu proveito?

Sabia que não era um atleta
todo definido como os outros,

mas não me importava.

A primeira coisa que pensei foi:

"Como posso ampliar algo simples como
sentir-me confortável com o meu corpo?"

Eu não sabia.

E depois pensei:

Calções de banho!

(Risos)

(Aplausos)

Ou calções de banho,

como lhes chamamos no "wrestling".

Ya, calções de banho.

Eu podia ser um tipo grande

confortável a usar estes calções

em frente de um monte de estranhos.

Então abandonei a T-shirt
e as calças camufladas,

e assim nasceu
a nova imagem do Gator.

(Risos)

Eu também era muito bom
a fazer desenhos,

questionei-me se não
poderia usar isso também

Podia desenhar
as minhas próprias roupas,

assim cada par de calções
teria o seu "design" único e cor,

todos completamente diferentes

— e extremamente
confortáveis, já agora.

(Risos)

Eu era também
o miúdo engraçado na escola,

acreditem ou não.

Pensei que também podia usar isso.

Podia passar do rapaz
que fazia rir os seus amigos

para o homem que poderia
reunir centenas ou milhares.

Comprometi-me com a ideia

de que a minha personagem não iria
ser assustadora como as outras.

Iria ser hilariante a partir do momento
em que entrasse na arena.

Com cada combate,
aprofundava cada vez mais.

Descobri que conseguia
rir de mim mesmo.

Este tipo iria dançar e cantar
a sua música de entrada

o caminho todo para o ringue.

Aquilo era dançar já agora.

(Risos)

Descobri que era um "wrestler" mediano,

mas que era um animador ainda melhor.

E ao melhorar-me, tornei-me
inesquecível para os fãs.

Tentava descobrir
estas coisas sobre mim,

as coisas simples que eram especiais,

e depois perguntava:
"Como as posso melhorar?"

Queria que a minha personagem
fosse máscula como a do meu pai.

Pensei: "Haverá algo mais másculo
do que um 'cowboy'?"

Foi assim que o Gator se tornou
"Cowboy"... Gator...

Claro, precisava de um apelido.

Pensei nisso até me doer a cabeça,
não conseguia lembrar-me de nada.

Estava sentado, uma noite,
a ver TV, a passar os canais,

e começa um anúncio

sobre um cantor de "country"

que tinha recebido o prémio
"O animador do ano".

Tim McGraw.

Era um "cowboy" fixe com um apelido fixe.

E eu gostava da música dele.

Fazia tudo parte do processo.

Continuei a melhorar-me

até me tornar no Cowboy Gator Magraw!

(Risos)

(Aplausos)

Sabia que, se continuasse a melhorar-me

e a esforçar-me,

as oportunidades iriam surgir.

Até que finalmente aconteceu.

A meio da noite,

recebi um telefonema.

Era a chamada que desejava
que o meu pai tivesse ouvido.

A WWE,

a maior organização
de "wrestling" do mundo,

queria que eu fizesse parte
da "Monday Night Raw".

Sim, todo o meu trabalho árduo
e os quilómetros na estrada

estavam finalmente a compensar.

Pude descer a rampa de entrada
da WWE Raw ao vivo na televisão...

(Risos)

vestido como um falso segurança...

(Risos)

a acompanhar outro "wrestler" ao ringue.

(Risos)

Claro, estava desapontado,
não pude lutar,

mas muito poucos "wrestlers"
recebem uma chamada da WWE.

Talvez um em poucas centenas.

E tornar-me no Cowboy Gator Magraw
foi o que me levou até lá.

Ao invés de desistir nesse dia,

decidi melhorar-me mais uma vez

e tornar-me no melhor
segurança que conseguia.

Na verdade, correu tão bem

que fui o único segurança
a ter um "close-up" na TV naquela noite.

Isso é muito importante, sabem?

(Risos)

E pude passar o dia nos bastidores

com alguns dos "wrestlers"
mais famosos do mundo,

alguns dos quais meus heróis de infância.

Pude conversar e aprender com eles,

e durante esse dia,

fui aceite como um deles.

Talvez a minha experiência na WWE
não tenha sido a ideal.

Quero dizer, não cheguei a lutar.

Mas fez-me trabalhar ainda mais,

melhorar-me cada vez mais,
ano após ano.

Tornava-me numa versão maior
de mim mesmo no ringue,

e outras pessoas aperceberam-se disso.

Quando me apercebi,

passei de lutar talvez
uma vez por mês no Minnesota

para até quatro vezes
por semana por todo o país

no circuito independente de "wrestling".

Estava literalmente a viver o sonho.

Enquanto lutava nos anos seguintes,

sofri uma lesão grave no ombro

logo a seguir a eu
e a minha mulher descobrirmos

que iríamos ter o nosso primeiro filho.

Sei o que estão a pensar,

mas acreditem que estes
dois acontecimentos não têm ligação.

(Risos)

Mas tive de fazer uma cirurgia ao ombro,

e queria estar em casa
com a minha família.

Era a minha vez de ser pai.

No dia 27 de julho de 2007,

fiz o meu último combate

e abandonei o "wrestling" profissional

para seguir um novo
capítulo da minha vida.

À medida que o tempo passava,

apercebi-me de algo estranho.

Descobri que, quando
alguém é melhorado,

é muito difícil voltar atrás.

Deixei o ringue
mas o Gator continua comigo,

e uso a minha versão
melhorada todos os dias.

A minha bela esposa esteve comigo
durante todo o caminho.

E já agora...
Ela não gosta de "wrestling".

(Risos)

Detesta mesmo.

Mas foi sempre a minha maior fã.

Ainda é.

Ela sabe que vai sempre haver
uma parte de Gator Magraw aqui,

e quer que a nossa filha
e os nossos gémeos descubram,

tal como eu descobri

mas talvez com menos "body slams"
e cadeiras de metal na cabeça.

Têm noção de quantas vezes
ela me impediu

de atacar os árbitros nos jogos
de futebol dos meus filhos?

(Risos)

Quero dizer, foi só uma vez,

e a minha filha sofreu
claramente uma falta!

(Risos)

Enquanto pai agora, começo a perceber
que o meu pai queria algo

muito mais valioso
que uma poupança reforma.

Como a maioria dos pais,

ele queria apenas que os seus filhos
atingissem o seu potencial.

Estou a tentar ensinar os meus filhos

que melhorar-nos não serve apenas
para sermos os maiores,

é uma forma de vida...

procurar constantemente
aquilo que nos torna diferentes

e como o podemos ampliar
para que todos o vejam.

Já agora, os meus filhos também
não gostam de "wrestling".

(Risos)

Mas eu não me importo,

porque cada um deles tem o seu
talento único que pode ser melhorado

tal como todos nós.

Um dos meus filhos,
é especialista em eletrónica.

Por isso se o ajudar a melhorar,

talvez ele venha a ser
o próximo Steve Jobs.

O meu outro filho e a minha filha,
têm queda para as artes,

por isso se os ajudar a melhorar
os seus talentos,

talvez eles venham a ser
o próximo Pablo Picasso.

Nunca sabemos que temos
a capacidade para fazer algo

enquanto não o tentarmos.

Não tenham medo de arriscar.

Olhem à vossa volta.

Dizem que, se ficarmos nervosos
em frente a uma plateia,

imaginemos que estão
todos em roupa interior.

Mas depois penso:
"Epá, já lutei com menos roupa."

(Risos)

(Aplausos)

O circo do "wrestling" não precisa
de ir à vossa cidade

para conhecerem
o vosso verdadeiro eu,

a maior, a mais espetacular
versão de vocês mesmos.

Não tem de vir
necessariamente dos nossos pais.

Melhorar-nos significa
fazer uma introspeção

e ouvir a voz que diz:

"Talvez,

"eu seja mais do que aquilo que julgava."

Obrigado.

(Aplausos)