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Sobre o capitalismo paciente

  • 0:02 - 0:04
    Sinto muita honra em estar aqui,
    e como o Chris disse,
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    há mais de 20 anos
    que comecei a trabalhar em África.
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    A minha primeira introdução
    foi no aeroporto de Abidjan
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    numa suada manhã da Costa do Marfim.
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    Acabara de sair de Wall Street,
    cortara o cabelo como a Margaret Mead,
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    dera quase tudo o que possuía,
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    e chegara com o essencial
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    — alguma poesia, umas roupas,
    e claro uma guitarra —
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    porque eu ia salvar o mundo,
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    e pensei que poderia começar
    pelo continente africano.
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    Mas uns dias após a minha chegada
    foi-me dito, claramente,
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    por uma série de mulheres da África Oriental,
    que os africanos não queriam ser salvos,
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    muito obrigada, muito menos por mim.
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    Eu era muito nova,
    não era casada, não tinha filhos,
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    não conhecia a África, e além disso,
    o meu francês era deplorável.
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    Foi um período incrivelmente
    doloroso na minha vida.
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    Contudo começou a dar-me a humildade
    necessária para começar a escutar.
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    Penso que o fracasso também pode ser
    uma força incrivelmente motivadora.
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    Então mudei para o Quénia
    e trabalhei no Uganda,
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    e conheci um grupo de mulheres ruandesas,
    que me pediram, em 1986,
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    que fosse para Kingali
    para ajudá-las a iniciar ali
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    a primeira instituição microfinanceira.
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    Assim fiz, e acabámos por dar-lhe
    o nome de Duterimbere,
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    que significa "seguir em frente
    com entusiasmo".
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    Entretanto, verifiquei
    que não havia muitos negócios
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    que fossem viáveis
    e começados por mulheres,
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    e talvez eu devesse também
    tentar montar um negócio.
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    Comecei a olhar à volta,
    e ouvi falar sobre uma padaria
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    que era gerida por 20 prostitutas.
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    Fiquei um pouco intrigada,
    fui conhecer este grupo,
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    e encontrei 20 mães solteiras
    que estavam a tentar sobreviver.
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    Foi o princípio do meu entendimento
    do poder da linguagem,
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    e como aquilo que chamamos às pessoas
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    muitas vezes nos distancia delas,
    e as diminui.
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    Também descobri que a padaria
    não era nada um negócio,
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    era, de facto, uma obra de caridade clássica
    gerida por uma pessoa bem-intencionada,
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    que, essencialmente,
    gastava 600 dólares por mês
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    para manter estas 20 mulheres ocupadas
    a fazer bolinhos e pães,
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    e a viver com 50 cêntimos por dia,
    ainda na pobreza.
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    Então, fiz um acordo com as mulheres:
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    "Olhem, pomos a caridade de lado,
  • 2:11 - 2:13
    e gerimos isto como um negócio
    e eu ajudo-as."
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    Elas nervosamente concordaram.
    Eu nervosamente comecei.
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    Claro que as coisas são sempre mais duras
    do que pensamos que irão ser.
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    Primeiro, pensei, bem,
    precisamos de uma equipa de vendas,
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    e nós não somos a 'A-Team',
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    portanto eu fiz toda esta formação.
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    E o epítome foi quando eu marchei
    pelas ruas de Nyamirambo
  • 2:31 - 2:34
    que é o popular quarteirão de Kigali,
    com um balde,
  • 2:34 - 2:37
    e vendi todos os pequenos donuts
    às pessoas, voltei e disse:
  • 2:37 - 2:38
    "Estão a ver?"
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    E as mulheres disseram:
  • 2:40 - 2:43
    "Jacqueline, em Nyamirambo,
    quem é que não vai comprar donuts
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    de um balde cor-de-laranja
    a uma mulher alta norte-americana?"
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    (Risos)
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    É um bom ponto.
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    Então fui pelo caminho americano,
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    com competições, equipa e indivíduo,
    um fracasso total.
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    Com o passar do tempo, as mulheres
    aprenderam a vender à sua própria maneira.
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    Começaram a escutar o mercado,
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    e voltavam com ideias para mandiocas fritas,
    bananas fritas e pão de sorgo,
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    e antes de me dar conta, tínhamos
    o controlo do mercado de Kigali,
  • 3:06 - 3:09
    e as mulheres estavam a ganhar
    3 a 4 vezes a média nacional.
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    Com essa onda de confiança, pensei,
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    "Bem, é tempo de criar uma verdadeira
    padaria, portanto vamos pintá-la."
  • 3:15 - 3:17
    E as mulheres disseram:
    "É uma grande ideia."
  • 3:17 - 3:19
    E eu: "De que cor querem pintá-la?"
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    E elas: "Escolhe tu."
  • 3:21 - 3:23
    E eu: "Não, estou a aprender a escutar.
    Escolham vocês.
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    É a vossa padaria, a vossa rua,
    o vosso país — não o meu."
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    Mas elas não me deram uma resposta.
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    Passou-se uma semana,
    duas semanas, três semanas
  • 3:30 - 3:32
    e por fim eu disse, "Que tal azul?"
  • 3:32 - 3:35
    E elas: "Nós adoramos azul.
    Vamos pintá-la de azul."
  • 3:35 - 3:39
    Então, fui à loja, levei a Gaudence,
    a mais hesitante de todas,
  • 3:39 - 3:42
    e trouxemos a tinta
    e tecido para fazer cortinas.
  • 3:42 - 3:45
    No dia da pintura,
    juntámo-nos todas em Nyamirambo.
  • 3:45 - 3:48
    A ideia era pintá-la de branco
    com azul nas bordas,
  • 3:48 - 3:50
    como uma pequena padaria francesa.
  • 3:50 - 3:52
    Mas isso não era tão satisfatório
  • 3:52 - 3:55
    como pintar uma parede de azul
    como o céu da manhã.
  • 3:55 - 3:57
    Então, azul, azul, tudo tornou-se azul.
  • 3:57 - 3:59
    Paredes azuis, janelas azuis,
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    o passeio lá fora em frente
    foi pintado de azul.
  • 4:01 - 4:06
    Aretha Franklin
    estava a gritar "R-E-S-P-E-C-T."
  • 4:06 - 4:07
    as ancas das mulheres balançavam
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    e os miúdos tentavam apanhar
    os pincéis, mas era o dia delas.
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    No fim, ficámos do outro lado da rua,
  • 4:13 - 4:16
    a olhar para o que tínhamos feito,
    e eu disse: "É tão bonito!"
  • 4:16 - 4:19
    E as mulheres disseram: "Realmente é."
  • 4:19 - 4:21
    E eu disse: "Penso que a cor é perfeita,"
  • 4:21 - 4:24
    e todas acenaram com a cabeça,
    excepto a Gaudence,
  • 4:24 - 4:25
    e eu disse, "O que é?"
  • 4:25 - 4:27
    E ela: "Nada." E eu: "O que é!?"
  • 4:27 - 4:32
    E ela: "Bem, é bonito mas, sabes,
    a nossa cor, realmente, é o verde."
  • 4:32 - 4:35
    (Risos)
  • 4:36 - 4:41
    Então aprendi que escutar
    não é só sobre paciência,
  • 4:41 - 4:46
    mas que quando vivemos da caridade
    e dependentes a vida inteira,
  • 4:46 - 4:49
    é realmente difícil dizermos
    o que pensamos.
  • 4:49 - 4:52
    Muitas vezes porque as pessoas
    nunca perguntam,
  • 4:52 - 4:55
    e quando o fazem, pensamos
    que elas não querem saber a verdade.
  • 4:55 - 4:58
    Aprendi que escutar
    não é só sobre esperar,
  • 4:58 - 5:01
    mas é também aprender
    como fazer melhores perguntas.
  • 5:02 - 5:06
    Vivi em Kigali cerca de dois anos e meio,
    a fazer estas duas coisas,
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    e foi um tempo extraordinário
    na minha vida.
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    Ensinou-me três lições
  • 5:10 - 5:14
    que penso serem hoje
    bastante importantes para nós,
  • 5:14 - 5:15
    e certamente no trabalho que faço.
  • 5:15 - 5:19
    Primeira: a dignidade é mais importante
    para o espírito humano do que a riqueza.
  • 5:19 - 5:23
    Como a Eleni disse, quando as pessoas
    ganham dinheiro, ganham escolha,
  • 5:23 - 5:25
    e isso é fundamental para a dignidade.
  • 5:25 - 5:28
    Mas como seres humanos,
    também nos queremos ver uns aos outros,
  • 5:28 - 5:32
    e queremos ser ouvidos uns pelos outros,
    e nunca nos devemos esquecer disso.
  • 5:32 - 5:35
    Segunda: as tradicionais
    obras de caridades e auxílios
  • 5:35 - 5:37
    nunca irão resolver
    os problemas da pobreza.
  • 5:37 - 5:40
    O Andrew cobriu muito bem isso,
    portanto passo para a terceira:
  • 5:40 - 5:45
    os mercados por si só também
    não resolvem os problemas da pobreza.
  • 5:45 - 5:47
    Sim, nós gerimos isto como um negócio,
  • 5:47 - 5:52
    mas, alguém precisa de pagar
    o suporte filantrópico
  • 5:52 - 5:56
    que vem da formação, e do suporte à gestão,
    o aconselhamento estratégico
  • 5:56 - 5:58
    e, talvez mais importante de tudo,
  • 5:58 - 6:02
    o acesso a novos contactos,
    redes e novos mercados.
  • 6:02 - 6:06
    A um nível micro, existe um papel real
    para esta combinação
  • 6:06 - 6:09
    de investimento e filantropia.
  • 6:09 - 6:13
    E a um nível macro,
    alguns dos oradores inferiram
  • 6:13 - 6:15
    que até a saúde deveria ser privatizada.
  • 6:15 - 6:18
    Mas, como tive um pai
    com uma doença do coração,
  • 6:18 - 6:21
    e me apercebi de que
    o que a nossa família podia suportar
  • 6:21 - 6:24
    não foi o que ele deveria ter tido,
  • 6:24 - 6:27
    e como tenho um bom amigo
    que apareceu para ajudar,
  • 6:27 - 6:31
    eu acredito realmente que todas as pessoas
    merecem acesso à saúde
  • 6:31 - 6:33
    a preços que possam suportar.
  • 6:33 - 6:35
    Acho que o mercado
    pode ajudar-nos a perceber isso,
  • 6:35 - 6:37
    mas tem que haver
    uma componente de caridade,
  • 6:37 - 6:40
    senão não criaremos o tipo de sociedade
    em que queremos viver.
  • 6:40 - 6:43
    Foram aquelas lições
    que me fizeram decidir
  • 6:43 - 6:46
    a criar a Acumen Fund
    há cerca de seis anos.
  • 6:46 - 6:49
    É um fundo de capital de risco
    sem fins lucrativos, para os pobres,
  • 6:49 - 6:51
    uns poucos oximoros numa frase.
  • 6:51 - 6:56
    Essencialmente recolhe fundos de caridade
    de indivíduos, fundações e corporações,
  • 6:56 - 6:59
    e depois investimos
    em títulos e empréstimos
  • 6:59 - 7:01
    a entidades lucrativas e não lucrativas
  • 7:01 - 7:05
    que forneçam saúde, casas, energia,
    água potável a preços razoáveis
  • 7:05 - 7:07
    a pessoas de baixos rendimentos
    da Ásia do Sul e África,
  • 7:07 - 7:10
    a fim de elas poderem fazer
    as suas próprias escolhas.
  • 7:10 - 7:13
    Investimos cerca de 20 milhões de dólares
    em 20 empresas diferentes.
  • 7:13 - 7:18
    Ao fazer isto,
    criámos cerca de 20 000 empregos,
  • 7:18 - 7:20
    e entregámos dezenas de milhões
    de serviços a pessoas
  • 7:20 - 7:23
    que de outro modo não lhes teriam acesso.
  • 7:24 - 7:27
    Quero contar duas histórias.
    Ambas são em África.
  • 7:27 - 7:30
    Ambas são sobre investir em empresários
  • 7:30 - 7:33
    que estão empenhados em servir
    e que realmente conhecem os mercados.
  • 7:33 - 7:37
    Ambos vivem na confluência
    da saúde pública e empresa,
  • 7:37 - 7:39
    e ambos, como são fabricantes,
  • 7:39 - 7:43
    criam directamente empregos,
    e criam indirectamente ganhos,
  • 7:43 - 7:45
    porque estão no sector da malaria.
  • 7:45 - 7:49
    África perde cerca de 13 mil milhões
    de dólares por ano devido à malária.
  • 7:49 - 7:53
    Portanto à medida que as pessoas
    têm mais saúde, também ficam mais ricas.
  • 7:53 - 7:56
    A primeira chama-se
    Advanced Bio-Extracts Limited.
  • 7:56 - 7:59
    É uma companhia criada no Quénia
    há cerca de sete anos
  • 7:59 - 8:02
    por um incrível empresário de nome
    Patrick Henfrey e três colegas,
  • 8:02 - 8:04
    agricultores à moda antiga
  • 8:04 - 8:07
    que viveram todos os altos e baixos
    da agricultura do Quénia
  • 8:07 - 8:08
    nos últimos 30 anos.
  • 8:08 - 8:11
    Esta é uma planta Artemisia,
  • 8:11 - 8:13
    é o componente básico para a artemisinina,
  • 8:13 - 8:15
    melhor tratamento
    conhecido para a malária.
  • 8:15 - 8:18
    É originária da China e do Extremo Oriente
  • 8:19 - 8:22
    mas dado que a prevalência da malária
    é aqui em África,
  • 8:22 - 8:23
    Patrick e os colegas disseram:
  • 8:23 - 8:27
    "Vamos trazê-la para aqui,
    porque é um produto de valor acrescentado."
  • 8:27 - 8:33
    Os agricultores recebem três a quatro vezes
    as receitas que teriam com o milho.
  • 8:33 - 8:37
    Assim, usando capital paciente — dinheiro
    que puderam encontrar logo no início,
  • 8:37 - 8:40
    cujo rendimento é inferior ao do mercado
  • 8:40 - 8:43
    e se manteria a longo prazo
    e podia ser combinado
  • 8:43 - 8:46
    com a ajuda da gestão,
    do apoio estratégico —
  • 8:46 - 8:50
    criaram uma companhia
    que compra a 7500 agricultores.
  • 8:50 - 8:52
    Portanto, são cerca
    de 50 000 pessoas afectadas.
  • 8:52 - 8:55
    Talvez alguns de vós já a tenham visitado.
  • 8:55 - 8:57
    São ajudados pela KickStart
    e pela TechnoServe
  • 8:57 - 9:00
    que os ajudam a tornarem-se
    mais auto-suficientes.
  • 9:00 - 9:02
    Compram-na, secam-na
    e trazem-na para esta fábrica
  • 9:02 - 9:06
    que, em parte, foi comprada também
    com capital paciente da Novartis,
  • 9:06 - 9:09
    que tem um interesse real em adquirir o pó
  • 9:09 - 9:12
    para poderem fazer Coartem.
  • 9:12 - 9:17
    A Acumen tem trabalhado com a ABE
    durante o último ano, ano e meio,
  • 9:17 - 9:19
    na procura de um novo plano de negócio,
  • 9:19 - 9:22
    nas perspectivas da expansão,
    ajudando-a com o apoio à gestão
  • 9:22 - 9:26
    e ajudando a fazer listas de condições
    e levantamento de capital.
  • 9:26 - 9:30
    Compreendi realmente o que
    o capital paciente significava emocionalmente
  • 9:30 - 9:31
    no último mês mais ou menos.
  • 9:31 - 9:37
    Porque faltavam 10 dias para a companhia
    provar que o produto que fabricavam
  • 9:37 - 9:41
    tinha o nível de qualidade mundial
    necessário para fazer Coartem
  • 9:41 - 9:44
    quando estavam na maior crise
    de dinheiro da sua história.
  • 9:44 - 9:47
    Chamámos todos os investidores sociais
    que conhecíamos.
  • 9:47 - 9:51
    Alguns destes mesmos investidores sociais
    estão realmente interessados em África
  • 9:51 - 9:54
    e compreendem a importância da agricultura,
  • 9:54 - 9:56
    e até ajudam os agricultores.
  • 9:56 - 9:59
    Mesmo quando nós explicamos que,
    se a ABE se for embora,
  • 9:59 - 10:03
    todos aqueles 7500 empregos
    vão embora também,
  • 10:03 - 10:08
    nós às vezes temos esta bifurcação
    entre negócio e o social.
  • 10:08 - 10:12
    É tempo de começarmos a pensar
    mais criativamente como fundir os dois
  • 10:12 - 10:15
    A Acumen fez, não um,
    mas dois empréstimos a curto prazo.
  • 10:15 - 10:20
    A boa notícia é que eles conseguiram
    a classificação de qualidade mundial.
  • 10:20 - 10:23
    Estão agora na fase final de beneficiar
    de 20 milhões de dólares
  • 10:23 - 10:26
    para passar para o próximo nível.
  • 10:26 - 10:30
    Penso que virá a ser uma das mais importantes
    companhias da África Oriental.
  • 10:32 - 10:34
    Este é o Samuel. É um agricultor.
  • 10:34 - 10:36
    Ele vivia nas favelas de Kibera
  • 10:36 - 10:40
    quando o pai o chamou e lhe falou sobre
    a Artemisia e o seu potencial valor acrescido.
  • 10:40 - 10:43
    Ele regressou à quinta e, resumindo,
  • 10:43 - 10:46
    eles têm agora
    uma cultura de três hectares.
  • 10:46 - 10:49
    Os filhos de Samuel
    estão numa escola privada,
  • 10:49 - 10:51
    e ele está a ajudar
    outros agricultores na área,
  • 10:51 - 10:54
    que também vão entrar
    na produção de Artemisia,
  • 10:54 - 10:57
    a dignidade é mais importante
    que a riqueza.
  • 10:58 - 11:01
    A próxima — muitos de vocês conhecem-na.
  • 11:01 - 11:03
    Falei um pouco sobre ela
    em Oxford há dois anos
  • 11:03 - 11:06
    e alguns de vocês visitaram
    a A to Z Manufacturing ,
  • 11:06 - 11:09
    que é uma das grandes companhias
    na África Oriental.
  • 11:09 - 11:14
    É outra que vive na confluência
    da saúde e empresa.
  • 11:14 - 11:18
    E esta é uma história sobre
    uma solução público-privada
  • 11:18 - 11:20
    que realmente funcionou.
  • 11:20 - 11:22
    Começou no Japão.
  • 11:22 - 11:24
    A Sumitomo desenvolveu uma tecnologia
  • 11:24 - 11:29
    para impregnar uma fibra baseada
    em polietileno com insecticida orgânico,
  • 11:29 - 11:31
    para criar um mosquiteiro para a malária
  • 11:31 - 11:33
    que durasse 5 anos sem precisar
    de voltar a ser impregnado.
  • 11:33 - 11:36
    Podia alterar o vector,
    mas tal como a Artemisia,
  • 11:36 - 11:38
    era produzido apenas na Ásia Oriental.
  • 11:38 - 11:42
    Dentro da sua responsabilidade social,
    a Sumitomo disse:
  • 11:42 - 11:43
    "Porque não experimentamos
  • 11:43 - 11:46
    se podemos produzi-lo em África,
    para os africanos?"
  • 11:46 - 11:47
    A UNICEF interveio e disse:
  • 11:47 - 11:50
    "Nós compramos a maior parte das redes,
    e oferecemo-las,
  • 11:50 - 11:54
    ao abrigo dos fundos globais
    e do compromisso das Nações Unidas
  • 11:54 - 11:57
    para com as mulheres grávidas e crianças."
  • 11:58 - 12:00
    A Acumen entrou com o capital paciente,
  • 12:00 - 12:03
    e nós também ajudámos
    a identificar o empresário
  • 12:03 - 12:05
    com quem iríamos fazer parceria
    aqui em África,
  • 12:05 - 12:08
    e a Exxon providenciou a resina inicial.
  • 12:08 - 12:11
    Quando procurámos empresários,
  • 12:11 - 12:14
    não podíamos encontrar
    nenhum melhor do que a Anuj Shah,
  • 12:14 - 12:16
    na companhia A to Z Manufacturing.
  • 12:16 - 12:18
    É uma companhia com 40 anos
    e percebe de fabrico.
  • 12:18 - 12:21
    Passou de uma Tanzânia socialista
    para uma Tanzânia capitalista,
  • 12:21 - 12:23
    e continuou a florescer.
  • 12:23 - 12:26
    Tinha cerca de 1000 empregados
    quando a encontrámos pela primeira vez.
  • 12:26 - 12:29
    A Anuj assumiu o risco empresarial
    aqui em África
  • 12:29 - 12:34
    de produzir um bem público que era comprado
    pela assistência social oficial
  • 12:34 - 12:37
    para trabalhar com a malária.
  • 12:37 - 12:41
    Resumindo, eles foram muito bem sucedidos
  • 12:41 - 12:45
    No primeiro ano, a primeira rede
    saiu em Outubro de 2003.
  • 12:45 - 12:50
    Pensávamos que a produção inicial
    seria de 150 000 redes por ano.
  • 12:50 - 12:54
    Este ano, estão a produzir
    cerca de 8 milhões de redes por ano,
  • 12:54 - 12:55
    e empregam 5000 pessoas,
  • 12:55 - 12:59
    das quais 90% são mulheres,
    maioritariamente sem qualificações.
  • 12:59 - 13:01
    Estão associados com a Sumitomo.
  • 13:02 - 13:04
    Numa perspectiva empresarial para a África,
  • 13:04 - 13:07
    e numa perspectiva de saúde pública,
    estes são sucessos reais.
  • 13:07 - 13:12
    Mas é só metade da história se quisermos
    tentar resolver os problemas da pobreza,
  • 13:12 - 13:13
    porque não é sustentável a longo prazo.
  • 13:13 - 13:16
    É uma companhia com um grande cliente.
  • 13:17 - 13:20
    Se surgir a gripe da aves ou,
    por outra razão qualquer,
  • 13:20 - 13:24
    o mundo decidir que a malária deixa de ser
    uma grande prioridade, todos perdem.
  • 13:25 - 13:28
    Por isso, a Anuj e a Acumen
  • 13:28 - 13:31
    têm estado a falar
    sobre testar o sector privado
  • 13:31 - 13:35
    porque a hipótese que o organismo
    social de assistência fez
  • 13:35 - 13:37
    foi que num país como a Tanzânia,
  • 13:37 - 13:40
    80% da população ganha menos
    de dois dólares por dia.
  • 13:40 - 13:44
    O custo do fabrico duma rede
    é de seis dólares por unidade
  • 13:44 - 13:49
    e o organismo social de assistência
    gasta outros seis dólares a distribuí-la,
  • 13:49 - 13:52
    pelo que o preço num mercado livre
    será de cerca de 12 dólares por rede.
  • 13:52 - 13:55
    "As pessoas não podem pagar isso,
    portanto vamos oferecê-las.
  • 13:55 - 13:57
    Nós dissemos: "Existe outra opção.
  • 13:57 - 14:01
    Vamos usar o mercado como a melhor
    fonte de informação que temos,
  • 14:01 - 14:05
    saber quanto as pessoas pagariam por isto,
    de modo a terem a dignidade de escolher.
  • 14:05 - 14:07
    Podemos começar a construir
    uma distribuição local,
  • 14:07 - 14:11
    e pode custar
    ao sector público muito menos."
  • 14:12 - 14:15
    Assim, entrámos numa segunda etapa
    de capital paciente com a A to Z,
  • 14:15 - 14:19
    um empréstimo e uma doação, de modo que
    a A to Z pudesse jogar com os preços
  • 14:19 - 14:22
    auscultasse o mercado,
    e descobrisse uma série de coisas.
  • 14:22 - 14:25
    Uma, é que as pessoas pagariam
    preços diferentes,
  • 14:25 - 14:28
    mas a esmagadora maioria das pessoas
    pagariam um dólar por rede
  • 14:28 - 14:30
    e tomariam a decisão de comprá-la.
  • 14:30 - 14:33
    Quando as ouvimos,
    elas também têm muito a dizer
  • 14:33 - 14:35
    sobre o que gostam e o que não gostam.
  • 14:35 - 14:39
    Alguns dos canais que pensávamos
    que funcionariam não funcionaram.
  • 14:39 - 14:42
    Mas devido à experimentação
    e iteração que foi permitida
  • 14:42 - 14:44
    devido ao capital paciente,
  • 14:44 - 14:48
    descobrimos que a distribuição
    custa um dólar no sector privado
  • 14:48 - 14:50
    e um dólar a comprar a rede.
  • 14:50 - 14:53
    Portanto, de uma perspectiva política,
    quando começamos com o mercado,
  • 14:53 - 14:55
    nós temos uma escolha.
  • 14:55 - 15:01
    Podemos continuar com 12 dólares por rede
    e o cliente paga zero,
  • 15:01 - 15:05
    ou podíamos experimentar,
    pelo menos com uma parte,
  • 15:05 - 15:09
    cobrar um dólar por rede, pagando o sector
    público outros seis dólares por rede,
  • 15:09 - 15:12
    dando às pessoas a dignidade de escolher,
  • 15:12 - 15:14
    e ter um sistema de distribuição
    que, com o tempo,
  • 15:14 - 15:17
    poderá começar a sustentar a si próprio.
  • 15:17 - 15:19
    Temos de começar a ter
    conversas com estas,
  • 15:19 - 15:22
    e penso que não há melhor maneira
    de começar do que escutar o mercado
  • 15:22 - 15:26
    mas também trazer outras pessoas
    à volta da mesa.
  • 15:26 - 15:34
    Sempre que vou visitar a A to Z,
    penso na minha avó, Stella.
  • 15:34 - 15:38
    Ela era muito como aquelas mulheres
    sentadas por trás das máquinas de costura.
  • 15:38 - 15:40
    Cresceu numa quinta na Áustria,
    muito pobre,
  • 15:40 - 15:42
    e não tinha muitas habilitações.
  • 15:42 - 15:45
    Foi para os Estados Unidos,
    onde conheceu o meu avô,
  • 15:45 - 15:47
    que era camionista de cimento.
  • 15:48 - 15:52
    Tiveram nove filhos.
    Três deles morreram bebés.
  • 15:52 - 15:56
    A minha avó tinha tuberculose,
    e trabalhava numa oficina de costura,
  • 15:56 - 15:58
    a fazer camisas por cerca
    de 10 cêntimos por hora.
  • 15:59 - 16:02
    Tal como muitas das mulheres
    que vejo na A to Z,
  • 16:02 - 16:06
    trabalhava arduamente todos os dias,
    compreendia o que o sofrimento era,
  • 16:06 - 16:08
    tinha uma fé profunda em Deus,
    amava os seus filhos
  • 16:08 - 16:11
    e nunca teria aceitado uma doação.
  • 16:11 - 16:15
    Mas como tinha a oportunidade do mercado,
  • 16:15 - 16:19
    e vivia numa sociedade
    que providenciava a segurança
  • 16:19 - 16:23
    de ter acesso a uma saúde
    e educação sustentáveis
  • 16:23 - 16:26
    os seus filhos e os filhos deles
  • 16:26 - 16:29
    puderam viver vidas de objetivos reais
    e seguir os seus sonhos reais.
  • 16:30 - 16:33
    Olho à minha volta
    para os meus irmãos e primos
  • 16:33 - 16:35
    — e como disse, somos muitos —
  • 16:35 - 16:41
    e vejo professores e músicos,
    gestores , designers.
  • 16:41 - 16:45
    Uma irmã que faz os sonhos
    de outras pessoas realizarem-se.
  • 16:45 - 16:49
    O meu desejo, quando vejo aquelas mulheres,
    encontro aqueles agricultores,
  • 16:49 - 16:52
    e penso em todas as pessoas
    por este continente
  • 16:52 - 16:55
    que trabalham arduamente todos os dias,
  • 16:55 - 16:59
    é que elas tenham o sentido
    da oportunidade e da possibilidade,
  • 16:59 - 17:04
    e que elas também possam acreditar
    e ter acesso a serviços,
  • 17:04 - 17:07
    para os seus filhos também poderem viver
    uma vida de grandes objectivos.
  • 17:07 - 17:09
    Não devia ser assim tão difícil.
  • 17:09 - 17:13
    Mas o que é necessário
    é um empenho de todos nós
  • 17:13 - 17:18
    para recusar presunções banais,
  • 17:18 - 17:20
    sair das nossas caixas ideológicas.
  • 17:20 - 17:23
    É preciso investir nos empresários
  • 17:23 - 17:26
    que estão empenhados
    em servir e em ter sucesso.
  • 17:27 - 17:31
    É preciso abrirem os vossos braços,
    ambos, bem abertos,
  • 17:31 - 17:33
    e esperar muito pouco amor de volta,
  • 17:33 - 17:35
    mas exigir responsabilidade,
  • 17:35 - 17:38
    e pôr também a responsabilidade
    em cima da mesa.
  • 17:39 - 17:42
    E mais que tudo, mais que tudo,
  • 17:42 - 17:45
    requer que todos nós tenhamos
    a coragem e a paciência,
  • 17:45 - 17:49
    quer sejamos ricos ou pobres,
    africanos ou não-africanos,
  • 17:49 - 17:51
    locais ou da diáspora,
    da esquerda ou da direita,
  • 17:51 - 17:54
    de começar a escutar-nos uns aos outros.
  • 17:54 - 17:55
    Obrigada.
  • 17:56 - 17:58
    (Aplausos)
Title:
Sobre o capitalismo paciente
Speaker:
Jacqueline Novogratz
Description:

Jacqueline Novogratz partilha histórias sobre como o "capital paciente" pode trazer empregos, bens, serviços sustentáveis — e dignidade — aos mais pobres do mundo.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
18:06
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Patient capitalism
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Patient capitalism
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Patient capitalism
Dimitra Papageorgiou approved Portuguese subtitles for Patient capitalism
Sara Leite accepted Portuguese subtitles for Patient capitalism
Sara Leite edited Portuguese subtitles for Patient capitalism
Alexandre Kapancioglu edited Portuguese subtitles for Patient capitalism
Alexandre Kapancioglu edited Portuguese subtitles for Patient capitalism
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