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A neurociência forense pode significar a vida ou a morte | Dr. Scott Fraser | TEDxUSC

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    O homicídio aconteceu
    há pouco mais de 21 anos,
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    a 18 de janeiro de 1991
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    num pequeno bairro dormitório
    de Lynwood, na Califórnia,
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    a uns quilómetros a sudeste
    de Los Angeles.
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    O pai saiu de casa
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    para dizer ao filho adolescente
    e aos seus cinco amigos
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    que já era altura de eles
    deixarem de andarem a passear
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    pelos jardins e passeios em frente da casa
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    e fossem para casa
    acabar os trabalhos da escola
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    e prepararem-se para irem para a cama.
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    Quando o pai estava a dar
    estas instruções,
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    passou um carro, devagar.
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    Logo depois de ter passado
    o pai e os rapazes,
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    uma mão saiu da janela
    do passageiro da frente
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    e bang! bang! matou o pai
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    e o carro acelerou.
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    Os agentes de investigação da polícia
    foram muito eficazes.
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    Consideraram todos os culpados habituais
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    e, em menos de 24 horas
    tinham selecionado o suspeito:
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    Francisco Carrillo,
    um rapaz de 17 anos
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    que vivia a dois ou três quarteirões
    de onde tinha ocorrido o tiroteio.
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    Encontraram fotos dele,
    prepararam um conjunto de fotos
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    e um dia depois do tiroteio
    mostraram-nas a um dos adolescentes
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    que disse: "É este, é o atirador
    que eu vi que matou o pai".
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    Foi tudo o que o juiz do inquérito
    preliminar precisou de ouvir
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    para acusar Carrillo
    de homicídio premeditado.
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    Na investigação que se seguiu,
    antes do julgamento,
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    mostraram as mesmas fotografias
    a cada um dos outros cinco adolescentes.
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    Pensamos que a polícia
    deve ter mostrado a foto
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    que está em baixo à esquerda,
    no conjunto de fotos dos suspeitos.
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    Não temos a certeza absoluta
    por causa do sistema
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    de preservação de provas
    no nosso sistema judicial.
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    Mas isso será para outra palestra TEDx.
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    No julgamento, todos os seis
    adolescentes testemunharam
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    e indicaram a identificação
    que tinham feito no conjunto de fotos.
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    O suspeito foi considerado culpado,
    foi condenado a prisão perpétua,
  • 2:49 - 2:52
    e transportado para a prisão Folsom.
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    Então, o que é que está errado?
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    Uma investigação séria,
    um julgamento imparcial.
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    É que não se encontrou nenhuma arma.
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    Nunca se identificou nenhum veículo
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    como sendo aquele de onde
    o assassino esticou o braço
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    e nunca houve nenhum acusado
    de ter guiado o veículo do atirador.
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    E o álibi de Carrillo?
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    Qual de vocês, pais,
    aqui na sala, não mentiria
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    no que se refere ao paradeiro
    do vosso filho ou filha
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    acusado numa investigação de um homicídio?
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    Foi enviado para a prisão,
    insistindo firmemente na sua inocência,
  • 3:43 - 3:46
    o que continuou a fazer durante 21 anos.
  • 3:48 - 3:50
    Então, qual é o problema?
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    O problema é que este tipo
    de processo se repete muitas vezes
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    desde há décadas
    de investigação científica
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    que envolve a memória humana.
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    Primeiro que tudo, temos
    todas as análises estatísticas
  • 4:05 - 4:09
    do trabalho do Projeto Inocência,
    em que sabemos
  • 4:09 - 4:13
    que já temos documentados
    250 a 280 processos
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    em que as pessoas foram
    condenadas erradamente
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    e posteriormente ilibadas,
    algumas do corredor da morte,
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    com base em análises posteriores de ADN.
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    Sabemos que mais de três quartos
    destes casos de anulação de condenações
  • 4:29 - 4:34
    só envolviam testemunhos
    de identificação visual
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    durante o julgamento
    que os tinha condenado.
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    Sabemos que as identificações
    visuais são falíveis.
  • 4:42 - 4:46
    Há um outro aspeto interessante
    da memória humana
  • 4:46 - 4:48
    que está relacionado com
    diversas funções cerebrais
  • 4:48 - 4:52
    mas vou resumi-lo numa simples frase,
    para poupar tempo:
  • 4:53 - 4:56
    o cérebro tem horror ao vácuo.
  • 4:58 - 5:03
    Mesmo nas melhores condições
    de observação, nas melhores possível,
  • 5:03 - 5:07
    só detetamos, só codificamos
    e só armazenamos no cérebro,
  • 5:07 - 5:10
    pedaços de toda a experiência
    à nossa frente
  • 5:11 - 5:13
    que ficam guardados
    em diferentes partes do cérebro.
  • 5:13 - 5:17
    Quando é importante que nos lembremos
  • 5:17 - 5:19
    aquilo que observámos,
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    temos uma imagem incompleta,
    parcial,
  • 5:26 - 5:28
    e o que é que acontece?
  • 5:28 - 5:33
    Sem darmos por isso, sem pedirmos
    nenhum tipo de processamento motivador,
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    o cérebro preenche as informações
    que não estavam lá,
  • 5:39 - 5:41
    que não tinham sido guardadas,
  • 5:41 - 5:45
    através da dedução, da especulação,
    de fontes de informações
  • 5:45 - 5:49
    que nos apareceram depois
    de termos observado o ocorrido.
  • 5:50 - 5:55
    Mas isto acontece sem termos consciência
    de que não nos lembramos do que aconteceu.
  • 5:55 - 5:58
    Chama-se a isto as memórias reconstruídas.
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    Está sempre a acontecer-nos
    em todos os aspetos da nossa vida.
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    Recordem os terríveis
    acontecimentos do 11 de setembro.
  • 6:08 - 6:12
    Pensem quando receberam
    as primeiras informações dessa catástrofe,
  • 6:13 - 6:16
    como se sentiram e, mais importante ainda,
  • 6:17 - 6:20
    quando foi a primeira vez que viram
    a segunda torre a implodir
  • 6:25 - 6:28
    depois de a primeira torre ter desabado?
  • 6:28 - 6:32
    Se forem como a maioria
    dos norte-americanos, eu inclusive,
  • 6:32 - 6:34
    temos uma memória muito nítida
  • 6:34 - 6:37
    de termos visto desabar a primeira torre
  • 6:37 - 6:39
    e de termos visto
    a segunda torre a implodir,
  • 6:39 - 6:42
    depois de o outro avião
    ter colidido com ela,
  • 6:42 - 6:44
    uma ou duas horas depois.
  • 6:45 - 6:48
    Recordo perfeitamente onde estava,
    eu estava em LAX,
  • 6:48 - 6:50
    no terminal dos satélites
    das American Airlines,
  • 6:50 - 6:53
    à espera de apanhar um avião
    para ir para San Diego.
  • 6:53 - 6:56
    Claro que o tráfego aéreo foi suspenso.
  • 6:56 - 6:59
    Portanto, não tinha nada que fazer
    senão observar a televisão
  • 6:59 - 7:02
    com todos aqueles noticiários
    repetidos continuamente
  • 7:03 - 7:06
    sobre os terríveis acontecimentos
  • 7:06 - 7:10
    e sei que vi a segunda torre
  • 7:12 - 7:15
    cair uma ou duas horas depois da primeira.
  • 7:15 - 7:19
    Toda a investigação que temos
    indica que muitos dos americanos também,
  • 7:19 - 7:22
    exceto algumas pessoas, que vivem
    em certos locais de Nova Iorque
  • 7:22 - 7:24
    E sabem uma coisa?
  • 7:25 - 7:28
    É uma memória totalmente falsa.
  • 7:28 - 7:31
    Não podia ser uma coisa
    que tivéssemos visto.
  • 7:31 - 7:34
    Não houve nenhuma sequência
    filmada nos "media"
  • 7:34 - 7:40
    do colapso da segunda torre
    senão 24 horas após o ocorrido.
  • 7:42 - 7:46
    Na verdade, nós sabemos
    intelectual e cognitivamente
  • 7:46 - 7:49
    que isso ocorreu muito pouco tempo depois.
  • 7:49 - 7:54
    Nós sabíamos e vimos o primeiro,
    vimos o segundo,
  • 7:54 - 7:58
    mas só o vimos um dia depois do primeiro.
  • 7:58 - 8:02
    Mas o cérebro, sem darmos por isso,
    juntou-os aos dois
  • 8:02 - 8:06
    e julgamos que os vimos
    muito mais perto um do outro.
  • 8:07 - 8:11
    É uma memória reconstruída,
    não é uma memória rigorosa.
  • 8:11 - 8:15
    Por mais viva que pareça,
    por maior que seja a nossa certeza,
  • 8:15 - 8:18
    foram estas duas considerações,
    entre outras coisas
  • 8:18 - 8:22
    — a memória reconstruída, o facto
    da falibilidade do testemunho visual —
  • 8:22 - 8:28
    que fizeram parte da iniciativa
    de um grupo de advogados de recurso
  • 8:28 - 8:32
    liderados por uma advogada notável,
    chamada Ellen Eggers,
  • 8:33 - 8:36
    a reunir a experiência e informações deles
  • 8:36 - 8:39
    para fazerem uma petição
    ao supremo tribunal
  • 8:39 - 8:42
    para a repetição do julgamento
    de Francisco Carrillo.
  • 8:43 - 8:47
    Contrataram-me, na qualidade
    de neurofisiologista forense
  • 8:48 - 8:52
    porque eu era especialista
    na identificação da memória visual
  • 8:52 - 8:55
    o que, obviamente,
    fazia sentido neste caso,
  • 8:55 - 8:58
    mas também porque eu
    também era especialista
  • 8:58 - 9:02
    e testemunhei quanto à natureza
    da visão humana noturna.
  • 9:03 - 9:06
    O que é que isso tem a ver com isto?
  • 9:07 - 9:11
    Quando lemos os materiais
    do processo de Carrillo,
  • 9:12 - 9:15
    uma das coisas que, subitamente,
    me chamou a atenção
  • 9:15 - 9:19
    foi que os investigadores
    disseram que a iluminação era boa
  • 9:19 - 9:22
    no local do crime, durante o tiroteio.
  • 9:22 - 9:25
    Todos os adolescentes
    que testemunharam no julgamento
  • 9:26 - 9:28
    disseram que se via perfeitamente bem.
  • 9:29 - 9:33
    Mas isto ocorreu em meados de janeiro
    no hemisfério norte,
  • 9:33 - 9:36
    às sete da noite.
  • 9:38 - 9:41
    Portanto, quando fiz os cálculos,
  • 9:41 - 9:44
    naquele local na Terra,
    na altura do incidente do tiroteio,
  • 9:45 - 9:50
    já passava muito do crepúsculo
    e não havia luar naquela noite.
  • 9:50 - 9:53
    Portanto, toda a luz naquela área,
    tanto do sol como da lua,
  • 9:53 - 9:55
    é o que vemos aqui no ecrã.
  • 9:56 - 10:00
    A única iluminação naquela área
    tinha de vir de fontes artificiais.
  • 10:01 - 10:05
    Foi aí que fui para a rua
    e fiz a reconstrução da cena
  • 10:05 - 10:08
    com fotómetros, com diversas
    medidas de iluminação
  • 10:08 - 10:11
    e diversas outras medidas
    de perceção da cor
  • 10:12 - 10:15
    juntamente com câmaras especiais
    e filmagem em alta velocidade;
  • 10:15 - 10:20
    tirei todas as medidas e registei-as,
    e depois tirei fotografias.
  • 10:20 - 10:23
    Era este o aspeto da cena
    na altura do tiroteio,
  • 10:23 - 10:25
    vista da posição dos adolescentes,
  • 10:25 - 10:28
    que viram o carro a passar e a disparar.
  • 10:28 - 10:31
    Isto é olhando diretamente
    do outro lado da rua.
  • 10:31 - 10:35
    Lembrem-se que os agentes de investigação
    disseram que a iluminação era boa;
  • 10:35 - 10:38
    os adolescentes disseram
    que se via perfeitamente bem.
  • 10:39 - 10:42
    Isto é olhando diretamente
    do outro lado da rua onde eles estavam.
  • 10:44 - 10:49
    Isto é olhando para leste
    onde o veículo dos tiros acelerou.
  • 10:51 - 10:56
    E isto é a iluminação diretamente
    por detrás do pai e dos adolescentes.
  • 10:57 - 11:00
    Como vemos, é muito fraca.
  • 11:01 - 11:05
    Ninguém chamaria a isto
    bem iluminado, uma boa iluminação.
  • 11:05 - 11:08
    Por mais bonitas que sejam estas fotos
  • 11:08 - 11:12
    tirei-as porque eu sabia
    que tinha de testemunhar no tribunal
  • 11:12 - 11:15
    porque uma imagem vale mais
    do que mil palavras,
  • 11:15 - 11:19
    quando tentamos comunicar números,
    conceitos abstratos como a lux,
  • 11:19 - 11:22
    a medida internacional da iluminação,
  • 11:22 - 11:26
    a cor Ishihara e as provas
    que medem a perceção.
  • 11:26 - 11:29
    Quando as apresentamos a pessoas
    que não estão muito familiarizadas
  • 11:29 - 11:32
    com estes aspetos da ciência
  • 11:32 - 11:34
    tornam-se salamandras ao sol do meio-dia.
  • 11:34 - 11:37
    É como falar da tangente do ângulo visual,
  • 11:37 - 11:40
    ficam de olhos arregalados.
  • 11:41 - 11:44
    Um bom especialista forense
    também tem de ser um bom educador,
  • 11:44 - 11:48
    um bom comunicador e é por isso
    que eu tiro fotografias
  • 11:48 - 11:50
    para mostrar não só onde estão
    as fontes de iluminação
  • 11:50 - 11:53
    e aquilo a que chamamos
    a dispersão, a distribuição
  • 11:53 - 11:56
    mas também porque é mais fácil
    para provar os factos,
  • 11:56 - 11:58
    compreender as circunstâncias.
  • 11:59 - 12:03
    Estas são algumas das fotos
    que usei quando testemunhei.
  • 12:03 - 12:06
    Mas o mais importante para mim
    para os cientistas, são as leituras,
  • 12:06 - 12:10
    as leituras do fotómetro,
    que eu posso converter
  • 12:10 - 12:15
    em previsões da capacidade visual
    do olho humano,
  • 12:16 - 12:18
    nestas circunstâncias.
  • 12:18 - 12:20
    A partir das minhas leituras
  • 12:20 - 12:24
    que registei no local, com as mesmas
    condições solares e lunares,
  • 12:24 - 12:27
    na mesma altura, etc., etc.,
  • 12:27 - 12:30
    pude prever que não podia haver
    uma perceção da cor fiável
  • 12:30 - 12:33
    que é fundamental para
    o reconhecimento de um rosto.
  • 12:33 - 12:35
    Seria apenas uma visão escotópica
  • 12:35 - 12:37
    ou seja, haveria apenas
    uma resolução muito baixa
  • 12:37 - 12:40
    a que chamamos "deteção de bordas".
  • 12:40 - 12:44
    Além disso, como os olhos estariam
    totalmente dilatados sob esta luz,
  • 12:44 - 12:46
    a profundidade do campo,
  • 12:46 - 12:49
    a distância a que podemos focar
    e ver pormenores
  • 12:49 - 12:52
    seria muito inferior a 45 cm de distância.
  • 12:54 - 12:57
    Testemunhei isso no tribunal
  • 12:57 - 12:59
    e, embora o juiz estivesse
    com toda a atenção,
  • 12:59 - 13:04
    foi uma audição muito prolongada
    para esta petição para um novo julgamento.
  • 13:04 - 13:08
    Em consequência, reparei
    pelo canto do olho,
  • 13:09 - 13:14
    e pensei que o juiz talvez precisasse
    de um pouco mais de empurrão
  • 13:14 - 13:16
    do que apenas mais números.
  • 13:17 - 13:19
    Aí, tornei-me um pouco mais atrevido,
  • 13:20 - 13:23
    virei-me e perguntei ao juiz:
  • 13:23 - 13:28
    "Meritíssimo, penso que devia lá ir
    e ver a cena pelos seus olhos".
  • 13:28 - 13:33
    Posso ter usado um tom
    que fosse mais um desafio do que um pedido
  • 13:34 - 13:40
    mas, apesar disso, para mérito
    e coragem desse homem, ele disse:
  • 13:40 - 13:45
    "Vou mesmo", um pouco chocante
    para a jurisprudência norte-americana.
  • 13:46 - 13:48
    Na verdade, encontrámos
    as mesmas condições idênticas,
  • 13:48 - 13:50
    reconstruímos de novo toda a cena,
  • 13:50 - 13:54
    ele saiu à rua com toda
    uma brigada de agentes da polícia
  • 13:54 - 13:57
    para o proteger naquela comunidade.
  • 13:57 - 13:59
    (Risos)
  • 14:01 - 14:08
    Pusemo-lo na rua, tão perto
    do veículo dos tiros
  • 14:08 - 14:10
    como estavam os adolescentes.
  • 14:10 - 14:13
    Ele estava a uns metros da curva,
  • 14:13 - 14:15
    a meio da rua.
  • 14:15 - 14:18
    Pusemos um carro a passar,
  • 14:18 - 14:22
    um carro idêntico ao descrito
    pelos adolescentes.
  • 14:23 - 14:25
    Tinha um condutor e um passageiro.
  • 14:25 - 14:29
    Depois de o carro passar pelo juiz,
  • 14:29 - 14:32
    o passageiro estendeu a mão,
  • 14:32 - 14:35
    apontou-o para trás, para o juiz,
  • 14:35 - 14:38
    enquanto o carro continuava a andar,
    tal como os adolescentes tinham descrito.
  • 14:39 - 14:42
    Claro que não usámos
    uma arma real naquela mão,
  • 14:42 - 14:47
    pensámos que o departamento
    da polícia iria questionar a necessidade
  • 14:47 - 14:52
    desse tipo de realismo.
  • 14:53 - 14:58
    Pusemos um objeto preto naquela mão
    que era parecido com a arma descrita.
  • 14:58 - 15:00
    Ele apontou, bang!
    Foi isso o que o juiz viu.
  • 15:01 - 15:05
    Este é o carro a 9 m do juiz.
  • 15:08 - 15:11
    Há um braço esticado
    do lado do passageiro
  • 15:11 - 15:15
    a apontar para trás,
    a 9 m de distância.
  • 15:15 - 15:17
    Alguns adolescentes tinham dito
  • 15:17 - 15:20
    que o carro estava à distância de 5 m
    quando se deu o tiroteio.
  • 15:20 - 15:22
    Aqui está a 5 metros.
  • 15:25 - 15:27
    Nesta altura, fiquei um pouco preocupado.
  • 15:28 - 15:32
    Este juiz é uma pessoa com quem
    não queremos jogar o "poker".
  • 15:32 - 15:35
    Era completamente estoico.
  • 15:35 - 15:37
    Não mexia uma pálpebra.
  • 15:37 - 15:40
    Não consegui ver o mais leve
    movimento da cabeça dele,
  • 15:40 - 15:43
    não fazia a mínima ideia
    de como ele estava a reagir.
  • 15:44 - 15:47
    Depois de ele assistir
    a esta reconstituição
  • 15:47 - 15:48
    virou-se para mim e disse:
  • 15:48 - 15:51
    "Há mais alguma coisa
    que me queira mostrar?"
  • 15:51 - 15:56
    Eu disse: "Meritíssimo" — e não sei
    se foi por estar encorajado
  • 15:56 - 16:00
    com as medidas científicas
    que tinha na algibeira
  • 16:00 - 16:02
    e com a consciência
    de que eram rigorosas,
  • 16:02 - 16:05
    ou se foi apenas por estupidez
  • 16:05 - 16:07
    — que foi o que os advogados
    de defesa pensaram —
  • 16:07 - 16:09
    quando me ouviram dizer:
  • 16:10 - 16:12
    "Sim, meritíssimo, quero
    que se mantenha aqui,
  • 16:12 - 16:15
    "quero que o carro dê a volta outra vez
  • 16:16 - 16:22
    "e quero que ele se aproxime
    e pare mesmo à sua frente,
  • 16:22 - 16:25
    "a 90 ou 120 cm de distância
  • 16:25 - 16:29
    "quero que o passageiro estique a mão
    com um objeto preto e aponte para si
  • 16:29 - 16:32
    "e olhe para ele, durante tanto
    tempo quanto queira".
  • 16:35 - 16:37
    E foi isto o que ele viu.
  • 16:37 - 16:39
    (Risos)
  • 16:40 - 16:43
    Hão de reparar que,
    no meu relatório dos testes,
  • 16:43 - 16:46
    toda a iluminação dominante
    provém do lado norte,
  • 16:46 - 16:50
    o que significa que a cara do atirador
    teria ficado tapada,
  • 16:50 - 16:51
    ficaria em contraluz.
  • 16:51 - 16:57
    Além disso, o tejadilho do carro
    provoca uma sombra dentro do carro,
  • 16:58 - 17:00
    o que ainda torna tudo mais escuro.
  • 17:01 - 17:05
    Isto a 90 cm ou 120 cm de distância.
  • 17:06 - 17:08
    Porque é que eu corri este risco?
  • 17:08 - 17:11
    Eu sabia que a profundidade do campo
    era de 45 cm ou menos.
  • 17:12 - 17:16
    90 cm ou 120 cm podia ser
    como um campo de futebol.
  • 17:19 - 17:22
    Foi isto que ele viu, voltámos para trás,
  • 17:23 - 17:26
    houve mais uns dias de provas
    que foram ouvidas.
  • 17:26 - 17:29
    No final, ele proferiu a sentença
  • 17:29 - 17:31
    de que ia aceitar a petição
    para um novo julgamento,
  • 17:32 - 17:35
    e, além disso, libertou Carrillo,
  • 17:35 - 17:38
    para ele poder ajudar
    ma preparação da sua defesa,
  • 17:38 - 17:41
    se a acusação decidisse insistir,
  • 17:45 - 17:46
    coisa que não fizeram.
  • 17:47 - 17:49
    Ele é hoje um homem livre.
  • 17:49 - 17:52
    (Aplausos)
  • 17:56 - 18:00
    Este é ele a abraçar
    a avó da sua mulher.
  • 18:01 - 18:04
    A namorada estava grávida
    quando ele fora julgado
  • 18:05 - 18:08
    e tinha tido um rapazinho.
  • 18:08 - 18:11
    Ele e o filho andam agora
    os dois a estudar,
  • 18:11 - 18:13
    na Universidade da Califórnia,
    em Long Beach,
  • 18:13 - 18:16
    (Aplausos)
  • 18:19 - 18:25
    O que é importante neste exemplo
    que devem recordar?
  • 18:27 - 18:31
    Primeiro que tudo, há uma longa história
    de antipatia entre a ciência e a lei
  • 18:31 - 18:34
    na jurisprudência norte-americana.
  • 18:34 - 18:37
    Eu podia contar histórias
    horríveis de ignorância,
  • 18:38 - 18:42
    durante décadas de experiência
    enquanto especialista forense,
  • 18:42 - 18:46
    de tentar introduzir a ciência
    nas salas dos tribunais,
  • 18:46 - 18:50
    de testemunhar, sempre em luta
    com um adversário.
  • 18:51 - 18:55
    Uma sugestão é que todos nós
    nos sintamos mais em harmonia
  • 18:55 - 18:59
    com a necessidade, por intermédio
    das políticas, dos procedimentos,
  • 19:00 - 19:03
    de introduzir mais ciência
    nas salas dos tribunais.
  • 19:03 - 19:06
    Penso que um grande passo
    para isso é uma maior exigência,
  • 19:07 - 19:10
    com todo o devido respeito
    pelas escolas de Direito,
  • 19:10 - 19:14
    de ciência, tecnologia,
    engenharia, matemática,
  • 19:14 - 19:18
    para quem quer dedicar-se à lei,
    porque serão eles os juízes.
  • 19:20 - 19:23
    Pensem em como selecionamos
    os juízes, neste país.
  • 19:23 - 19:25
    É muito diferente da maior parte
    de outras culturas.
  • 19:27 - 19:31
    Outra coisa que quero sugerir
    é o cuidado que todos temos de ter
  • 19:31 - 19:33
    — estou sempre a lembrar-me a mim mesmo —
  • 19:33 - 19:38
    em relação ao rigor das nossas memórias,
    que consideramos verdades,
  • 19:39 - 19:41
    em que acreditamos.
  • 19:42 - 19:49
    Há décadas de investigação,
    muitos exemplos de casos como este,
  • 19:49 - 19:53
    em que os indivíduos acreditam plenamente.
  • 19:53 - 19:57
    Nenhum daqueles adolescentes
    que o identificaram
  • 19:57 - 20:00
    pensaram que estavam a escolher
    a pessoa errada,
  • 20:00 - 20:02
    nenhum deles pensava
    que não podia ver a cara da pessoa.
  • 20:03 - 20:06
    Todos temos de ter muito cuidado.
  • 20:06 - 20:08
    Vocês acabaram de ver um filme maravilhoso
  • 20:09 - 20:13
    sobre todos os tipos
    de complexidade da memória.
  • 20:14 - 20:18
    É um conjunto enorme, confuso
  • 20:18 - 20:22
    e difícil de fixar os processos
    e princípios que estão envolvidos.
  • 20:23 - 20:27
    Todas as nossas memórias
    são memórias reconstruídas.
  • 20:27 - 20:29
    São o produto das nossas
    experiências anteriores
  • 20:29 - 20:32
    e de tudo o que aconteceu posteriormente.
  • 20:32 - 20:37
    São dinâmicas, são maleáveis,
    são voláteis,
  • 20:37 - 20:41
    e, em resultado, todos temos
    que nos lembrar de ter cuidado.
  • 20:42 - 20:47
    O rigor das nossas memórias
    não se medem por serem muito vivas
  • 20:49 - 20:52
    nem pela certeza que temos
    de que estamos corretos.
  • 20:53 - 20:57
    Eu tenho a certeza que vi a segunda torre
    a cair uma hora depois,
  • 20:59 - 21:02
    mas sei que isso não pode ter acontecido.
  • 21:04 - 21:05
    Obrigado.
  • 21:05 - 21:08
    (Aplausos)
Title:
A neurociência forense pode significar a vida ou a morte | Dr. Scott Fraser | TEDxUSC
Description:

O Dr. Scott Fraser analisa um tiroteio de rua em que os testemunhos estavam incorretos como em muitos outros casos semelhantes. Considera os problemas de memória e analisa como a qualidade da luz no local de um crime pode ser investigada cientificamente.

Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
21:15

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