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Nos Bastidores da Revolução Egípcia

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    Isto é a revolução 2.0.
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    Ninguém foi o herói. Ninguém foi o herói.
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    Porque toda a gente foi herói.
  • 0:11 - 0:13
    Toda a gente fez qualquer coisa.
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    Todos nós usamos a Wikipédia.
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    Se pensarem no conceito da Wikipédia
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    em que toda a gente
    colabora para o conteúdo.
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    No fim das contas,
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    construíram a maior enciclopédia do mundo.
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    A partir de uma ideia que parecia loucura,
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    temos a maior enciclopédia do mundo.
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    Na revolução egípcia,
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    a revolução 2.0,
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    toda a gente contribuiu com qualquer coisa,
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    pequena ou grande,
    todos contribuíram com algo
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    para nos trazer uma das histórias
    mais inspiradoras
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    da história da humanidade
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    no que toca a revoluções.
  • 0:49 - 0:51
    Foi realmente inspirador
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    ver todos aqueles egípcios
    a mudarem completamente.
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    Se analisarem a situação,
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    o Egipto, durante 30 anos,
    esteve em declínio
  • 0:59 - 1:02
    estava a resvalar.
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    Tudo corria mal.
  • 1:04 - 1:06
    Tudo estava errado.
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    Só estávamos em primeiro lugar
    no que toca à pobreza,
  • 1:10 - 1:12
    à corrupção,
  • 1:12 - 1:14
    à ausência de liberdade de expressão,
  • 1:14 - 1:16
    à ausência de activismo político.
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    Foram esses os feitos
  • 1:18 - 1:20
    do nosso excelente regime.
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    Apesar disso, nada acontecia.
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    Não porque as pessoas estivessem felizes
  • 1:26 - 1:28
    ou não estivessem frustradas.
  • 1:28 - 1:31
    Na verdade, as pessoas estavam
    extremamente frustradas.
  • 1:31 - 1:33
    Mas a razão pela qual
    toda a gente mantinha o silêncio
  • 1:33 - 1:37
    é o que eu chamo de
    barreira psicológica do medo.
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    Toda a gente estava assustada.
    Bem, nem toda a gente.
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    Na verdade, houve egípcios corajosos,
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    a quem eu tenho de agradecer
    por serem tão corajosos,
  • 1:45 - 1:48
    que iam a protestos com
    centenas de pessoas,
  • 1:48 - 1:50
    a serem espancados e presos.
  • 1:51 - 1:54
    Mas na verdade,
    a maioria estava assustada.
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    Na verdade, ninguém queria
    arranjar problemas.
  • 1:58 - 2:01
    Um ditador não pode viver sem força.
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    Eles querem que as pessoas vivam com medo.
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    E essa barreira psicológica do medo
  • 2:07 - 2:09
    funcionou durante muitos anos,
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    e de repente aparece a Internet,
  • 2:11 - 2:14
    a tecnologia, os BlackBerry, os SMS.
  • 2:15 - 2:17
    Tudo isto nos ajuda a interligar-nos.
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    Plataformas como o YouTube,
    o Twitter, o Facebook
  • 2:21 - 2:23
    ajudaram-nos muito,
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    porque basicamente deram-nos
    a impressão de que
  • 2:25 - 2:28
    "Uau, não estou sozinho.
    Há muitas pessoas que estão frustradas."
  • 2:28 - 2:31
    Há muitas pessoas que estão frustradas.
  • 2:31 - 2:33
    Há muitas pessoas
    que partilham o mesmo sonho.
  • 2:33 - 2:36
    Há muitas pessoas que se preocupam
    com a liberdade deles.
  • 2:36 - 2:39
    Eles provavelmente
    têm a melhor vida do mundo.
  • 2:39 - 2:42
    Eles vivem felizes.
    Vivem nas suas grandes vivendas.
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    São felizes; não têm problemas.
  • 2:43 - 2:47
    Mas eles também sentem a dor dos egípcios.
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    Muitos de nós não somos realmente felizes
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    quando vemos o vídeo
    de um homem egípcio a comer do lixo
  • 2:54 - 2:56
    enquanto outros roubam
  • 2:56 - 2:58
    milhares de milhões de libras egípcias
  • 2:58 - 3:00
    da riqueza do país.
  • 3:00 - 3:02
    A Internet tem tido um grande papel,
  • 3:02 - 3:05
    ao ajudar estas pessoas
    a dizer em voz alta o que pensam,
  • 3:05 - 3:08
    a colaborar, a começar a pensar juntos.
  • 3:08 - 3:10
    Foi uma campanha educativa.
  • 3:10 - 3:15
    Khaleed Saeed foi morto
    em Junho de 2010.
  • 3:15 - 3:18
    Ainda me lembro da fotografia.
  • 3:18 - 3:21
    Ainda me lembro de todos
    os detalhes daquela fotografia.
  • 3:21 - 3:23
    A fotografia é horrível.
  • 3:24 - 3:27
    Ele foi torturado,
    torturado brutalmente até à morte.
  • 3:27 - 3:30
    Mas qual foi a resposta do regime?
  • 3:30 - 3:33
    Que ele se tinha engasgado com haxixe.
  • 3:33 - 3:35
    Foi essa a resposta deles.
  • 3:35 - 3:37
    "Ele é um criminoso.
  • 3:37 - 3:40
    Alguém que fugiu
    de todas estas coisas más."
  • 3:40 - 3:42
    Mas isso não convenceu as pessoas.
  • 3:42 - 3:43
    As pessoas não acreditaram nisso.
  • 3:43 - 3:46
    Por causa da Internet,
    a verdade prevaleceu
  • 3:46 - 3:48
    e toda a gente soube a verdade.
  • 3:48 - 3:51
    E toda a gente começou a pensar
    "este homem podia ser meu irmão."
  • 3:51 - 3:53
    Ele era um homem de classe média.
  • 3:53 - 3:56
    A fotografia dele
    foi recordada por todos nós.
  • 3:57 - 3:58
    Criou-se uma página.
  • 3:58 - 4:01
    Um administrador anónimo
  • 4:01 - 4:03
    começou a convidar pessoas
    para se juntarem à página,
  • 4:03 - 4:05
    e não havia plano nenhum.
  • 4:05 - 4:07
    "O que é que vamos fazer?"
    "Não sei."
  • 4:07 - 4:10
    Em poucos dias,
    dezenas de milhares de pessoas,
  • 4:10 - 4:12
    egípcios zangados
  • 4:12 - 4:15
    que estavam a dizer
    ao ministro dos assuntos internos,
  • 4:16 - 4:17
    "Basta!
  • 4:17 - 4:20
    Apanhem os que mataram este homem
  • 4:20 - 4:23
    e levem-nos a tribunal."
  • 4:23 - 4:25
    Mas, claro, eles não ouvem.
  • 4:25 - 4:27
    Foi uma história extraordinária,
  • 4:27 - 4:30
    a forma como toda a gente começou
    a ter este sentimento de posse.
  • 4:30 - 4:32
    Toda a gente era dona daquela página.
  • 4:32 - 4:34
    As pessoas começaram
    a contribuir com ideias.
  • 4:34 - 4:36
    Na verdade, uma das ideias mais ridículas
  • 4:36 - 4:38
    foi: olha, vamos fazer
    um protesto de silêncio.
  • 4:39 - 4:41
    Vamos pôr as pessoas na rua,
  • 4:41 - 4:44
    viradas para o mar,
    as costas viradas para a rua,
  • 4:44 - 4:48
    vestidas de preto, de pé,
    em silêncio, por uma hora,
  • 4:48 - 4:50
    sem fazer nada, e depois
    simplesmente ir embora,
  • 4:50 - 4:52
    ir para casa.
  • 4:52 - 4:55
    Para algumas pessoas, isso era como
    "Uau, de pé em silêncio.
  • 4:55 - 4:57
    Da próxima vez vai ser mandar vibrações."
  • 4:57 - 4:59
    Algumas pessoas gozaram com a ideia.
  • 4:59 - 5:02
    Mas na verdade,
    quando as pessoas saíram à rua.
  • 5:02 - 5:04
    a primeira vez foram
    milhares de pessoas em Alexandria.
  • 5:06 - 5:09
    Foi espantoso. Foi extraordinário.
  • 5:09 - 5:11
    Porque juntou pessoas do mundo virtual,
  • 5:11 - 5:13
    e congregou-as no mundo real,
  • 5:13 - 5:15
    partilhando o mesmo sonho,
  • 5:15 - 5:18
    a mesma frustração, a mesma raiva,
  • 5:18 - 5:20
    o mesmo desejo de liberdade.
  • 5:20 - 5:21
    E eles estavam a fazer isto.
  • 5:21 - 5:24
    Mas o regime aprendeu
    alguma coisa? Nem por isso.
  • 5:24 - 5:26
    Eles estavam até a atacá-los.
  • 5:26 - 5:27
    Estavam a espancá-los
  • 5:27 - 5:30
    apesar de aquelas pessoas serem pacíficas,
  • 5:30 - 5:32
    elas nem estavam a protestar.
  • 5:32 - 5:34
    As coisas foram-se desenvolvendo
  • 5:34 - 5:37
    até à revolução na Tunísia.
  • 5:37 - 5:41
    Esta página era, mais uma vez,
    gerida pelo povo.
  • 5:41 - 5:46
    O trabalho do administrador anónimo
    era recolher ideias,
  • 5:46 - 5:49
    ajudar as pessoas a votarem nelas
  • 5:49 - 5:51
    e dizer-lhes o que o povo estava a fazer.
  • 5:51 - 5:53
    As pessoas tiraram fotografias;
  • 5:53 - 5:56
    as pessoas estavam a denunciar violações
    dos Direitos Humanos no Egipto;
  • 5:56 - 5:58
    as pessoas estavam a sugerir ideias,
  • 5:58 - 6:00
    estavam até a votar em ideias,
  • 6:00 - 6:03
    e depois estavam a executar essas ideias;
    estavam a criar vídeos.
  • 6:03 - 6:05
    Tudo foi feito pelo povo, para o povo,
  • 6:05 - 6:07
    e esse é o poder da Internet.
  • 6:07 - 6:08
    Não havia nenhum líder.
  • 6:08 - 6:11
    O líder era toda a gente naquela página.
  • 6:11 - 6:14
    A experiência tunisina,
    como o Amir estava a dizer,
  • 6:14 - 6:16
    inspirou-nos a todos, mostrou-nos
    que havia um caminho.
  • 6:16 - 6:18
    Sim, podemos. Nós somos capazes.
  • 6:18 - 6:21
    Temos os mesmos problemas,
    podemos simplesmente ir para a rua.
  • 6:21 - 6:24
    E quando eu vi a rua no dia 25,
  • 6:24 - 6:26
    voltei para casa e disse,
  • 6:26 - 6:28
    "O Egipto, depois do dia 25,
  • 6:28 - 6:30
    nunca mais vai ser
    o Egipto de antes do dia 25.
  • 6:30 - 6:32
    A revolução está a acontecer.
  • 6:32 - 6:34
    Isto não é o fim,
  • 6:34 - 6:36
    isto é o princípio do fim."
  • 6:37 - 6:41
    Eu fui detido na noite do dia 27.
  • 6:41 - 6:44
    Graças a Deus,
    eu anunciei os locais e tudo.
  • 6:44 - 6:46
    Mas eles detiveram-me.
  • 6:47 - 6:50
    Não vou falar da minha experiência,
    porque isto não é sobre mim.
  • 6:50 - 6:52
    Fiquei detido durante 12 dias,
  • 6:52 - 6:55
    algemado e de olhos vendados.
  • 6:55 - 6:57
    Não ouvi nada. Não sabia de nada.
  • 6:57 - 7:00
    Não me foi permitido falar com ninguém.
  • 7:00 - 7:01
    E depois saí.
  • 7:01 - 7:04
    No dia seguinte estava em Tahir.
  • 7:04 - 7:07
    Honestamente, a dimensão da mudança
    que eu vi nesta praça era tal
  • 7:07 - 7:09
    que pensei que tinham sido 12 anos.
  • 7:09 - 7:12
    Nunca me passara pela cabeça
  • 7:12 - 7:15
    ver este Egípcio,
    este Egípcio extraordinário.
  • 7:16 - 7:18
    O medo já não é medo.
  • 7:18 - 7:20
    Na verdade, é força, é poder.
  • 7:20 - 7:22
    As pessoas sentiam-se fortes.
  • 7:22 - 7:24
    Foi espantoso como toda a gente
    se sentiu com tanto poder
  • 7:24 - 7:26
    e agora exigem os seus direitos.
  • 7:26 - 7:28
    Completamente o oposto.
  • 7:28 - 7:30
    O extremismo tornou-se tolerância.
  • 7:30 - 7:33
    Quem é que podia imaginar,
    antes do dia 25,
  • 7:33 - 7:36
    que centenas de milhares
    de cristãos iam rezar
  • 7:36 - 7:39
    e dezenas de milhares de muçulmanos
    os iam proteger,
  • 7:39 - 7:41
    e depois centenas de milhares
    de muçulmanos iam rezar
  • 7:41 - 7:44
    e dezenas de milhares
    de Cristãos os iam proteger.
  • 7:44 - 7:45
    Isto é espantoso!
  • 7:45 - 7:49
    Todos os estereótipos
    que o regime nos tentava impor
  • 7:49 - 7:52
    através da sua propaganda,
    ou dos principais meios de comunicação,
  • 7:52 - 7:55
    provaram estar errados.
  • 7:55 - 7:59
    Esta revolução mostrou-nos
    quão detestável esse regime era
  • 7:59 - 8:01
    e quão formidável e extraordinário
  • 8:01 - 8:04
    é o homem egípcio, a mulher egípcia,
  • 8:04 - 8:07
    quão simples e espantosas
    estas pessoas são,
  • 8:07 - 8:09
    quando têm um sonho.
  • 8:09 - 8:11
    Quando eu vi isto,
  • 8:11 - 8:14
    voltei e escrevi no Facebook.
  • 8:14 - 8:16
    E essa foi uma convicção pessoal,
  • 8:16 - 8:18
    independentemente do que se está a passar,
  • 8:18 - 8:20
    independentemente dos detalhes.
  • 8:20 - 8:22
    Eu disse: "Nós vamos ganhar.
  • 8:22 - 8:25
    Vamos ganhar porque
    não entendemos a política.
  • 8:25 - 8:28
    Vamos ganhar porque não jogamos
    os jogos sujos deles.
  • 8:28 - 8:31
    Vamos ganhar porque não temos uma agenda.
  • 8:31 - 8:35
    Vamos ganhar porque as lágrimas
    que correm dos nossos olhos
  • 8:35 - 8:37
    na verdade vêm dos nossos corações.
  • 8:37 - 8:40
    Vamos ganhar porque temos sonhos.
  • 8:40 - 8:44
    Vamos ganhar porque estamos dispostos
    a defender os nossos sonhos."
  • 8:45 - 8:47
    E foi isso mesmo que aconteceu. Ganhámos.
  • 8:47 - 8:50
    E não é por causa de mais nada,
  • 8:50 - 8:52
    a não ser termos acreditado no nosso sonho.
  • 8:52 - 8:54
    A vitória aqui não são os pormenores
  • 8:54 - 8:57
    do que se está a passar
    na esfera política.
  • 8:57 - 9:01
    A vitória é a vitória da dignidade
    de cada um dos egípcios.
  • 9:01 - 9:04
    No outro dia, houve um taxista
    que me disse:
  • 9:05 - 9:07
    "Oiça, eu respiro liberdade.
  • 9:07 - 9:12
    Eu sinto que tenho a dignidade
    que andou perdida durante tantos anos."
  • 9:12 - 9:13
    Para mim, isso é ganhar,
  • 9:13 - 9:15
    independentemente dos pormenores.
  • 9:15 - 9:18
    Aquilo com que vos deixo
    é uma expressão em que acredito,
  • 9:18 - 9:21
    e que os egípcios provaram ser verdade:
  • 9:21 - 9:23
    "O poder das pessoas
  • 9:23 - 9:26
    é muito mais forte
    do que as pessoas no poder".
  • 9:26 - 9:27
    Muito obrigado.
  • 9:27 - 9:30
    (Aplausos)
Title:
Nos Bastidores da Revolução Egípcia
Speaker:
Wael Ghonim
Description:

Wael Ghonim é um executivo da Google que ajudou a despoletar a revolução democrática egípcia... com uma página do Facebook em memória de uma vítima da violência do regime. Na TEDxCairo ele fala dos bastidores da história dos últimos dois meses, quando os cidadãos egípcios mostraram que "o poder do povo é mais forte do que as pessoas no poder."

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
09:47
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Inside the Egyptian revolution
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Inside the Egyptian revolution
Inês Pereira added a translation

Portuguese subtitles

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