Por que as mulheres permanecem em silêncio depois de uma violência sexual
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0:01 - 0:02Neste lugar,
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0:03 - 0:07somos aproximadamente 5 mil mulheres.
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0:08 - 0:12Mil duzentas e cinquenta de nós
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0:12 - 0:16sofreram ou sofrerão,
em algum momento de sua vida, -
0:16 - 0:18uma violência sexual.
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0:19 - 0:22Uma em cada quatro.
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0:24 - 0:28Só 10% fará a denúncia.
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0:29 - 0:34Os 90% restantes se refugiam no silêncio,
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0:35 - 0:41metade porque o fato acontece
no próprio seio da família -
0:41 - 0:43ou com alguém conhecido.
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0:43 - 0:48E isso torna muito mais difícil
de viver e de contar. -
0:50 - 0:57A outra metade não fala porque teme
que não acreditarão nelas. -
0:57 - 0:59E têm razão,
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0:59 - 1:02porque não acreditamos nelas.
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1:03 - 1:07Hoje quero contar a vocês por que penso
que não acreditamos nelas. -
1:09 - 1:12Não acreditamos porque, quando uma mulher
conta o que aconteceu com ela, -
1:13 - 1:16diz coisas que não imaginamos,
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1:17 - 1:20que nos perturbam,
que não esperamos ouvir, -
1:20 - 1:22que nos surpreendem.
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1:23 - 1:27Esperamos ouvir histórias como esta:
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1:29 - 1:33"Jovem estuprada nos trilhos
do metrô de Mitre. -
1:33 - 1:36Aconteceu à meia-noite
quando voltava para casa. -
1:36 - 1:40A jovem contou que um indivíduo
a atacou pelas costas, -
1:40 - 1:43disse a ela para não gritar,
que tinha uma arma, -
1:43 - 1:45que ficasse quieta.
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1:45 - 1:47Estuprou-a e depois fugiu".
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1:50 - 1:53Quando ouvimos ou lemos
uma notícia como essa, -
1:54 - 1:57imediatamente imaginamos a cena:
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1:58 - 2:02o violador, um depravado de classe baixa;
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2:03 - 2:09a vítima, uma mulher jovem, atraente.
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2:10 - 2:13A imagem não dura
mais de 10 ou 20 segundos -
2:13 - 2:16e é escura, é plana.
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2:16 - 2:18Não tem movimentos, não tem sons;
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2:18 - 2:20é como se não tivesse pessoas.
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2:22 - 2:24Mas quando uma mulher
conta o que aconteceu com ela, -
2:24 - 2:27sua história não cabe
em 10 ou 20 segundos. -
2:29 - 2:33Este é o depoimento de uma mulher
a quem vamos chamar "Ana", -
2:34 - 2:38uma das 85 mulheres que entrevistei
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2:38 - 2:42no transcorrer de uma investigação
que fiz sobre a violência sexual. -
2:44 - 2:46Disse Ana:
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2:49 - 2:54"Fomos com as garotas do escritório
ao mesmo bar a que vamos sempre. -
2:55 - 2:59Conhecemos uns caras e me enganchei
com um cara superlegal. -
2:59 - 3:01Conversamos muito.
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3:02 - 3:05Próximo das quatro, disse
a minhas amigas que fossemos; -
3:05 - 3:07elas quiseram ficar.
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3:07 - 3:10Então o cara me perguntou onde eu morava
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3:10 - 3:12e me disse que, se eu
quisesse, ele me levava. -
3:12 - 3:14Aceitei e fomos.
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3:16 - 3:20Em um semáforo me disse
que gostava de mim e tocou minha perna. -
3:21 - 3:23Não gosto que um cara avance assim,
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3:23 - 3:26mas tinha sido amoroso toda a noite.
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3:26 - 3:29Pensei: 'Não posso ser tão paranoica,
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3:29 - 3:33digo algo a ele e não tem
nada a ver e eu o ofendo'. -
3:35 - 3:37Quando tinha que virar, continuou.
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3:37 - 3:40Pensei que tinha se enganado
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3:40 - 3:44e disse a ele: 'Você passou!',
mas senti algo ruim. -
3:45 - 3:49Agora penso, por que não
prestei atenção no que senti? -
3:52 - 3:55Quando parou o carro próximo da rodovia,
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3:55 - 3:56aí sim tive medo.
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3:58 - 4:01Mas me disse para ficar tranquila,
que ele gostava de mim, -
4:01 - 4:03que não aconteceria
nada se eu não quisesse; -
4:03 - 4:04conversava gentilmente.
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4:05 - 4:10Eu não falava nada porque tinha medo
que se aborrecesse e tudo ficasse pior. -
4:11 - 4:14Pensei que podia ter
uma arma no porta-luvas. -
4:15 - 4:18De repente se atirou
em cima de mim e quis me beijar. -
4:19 - 4:23Disse a ele: "Não!". Queria empurrá-lo,
mas ele me segurava em seus braços. -
4:24 - 4:27Quando me soltei, tentei abrir a porta,
mas estava trancada. -
4:28 - 4:33De qualquer forma,
se saísse do carro, para onde iria? -
4:34 - 4:36Disse a ele que não era do tipo de pessoa
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4:36 - 4:39que precisava fazer aquilo
para estar com uma menina; -
4:39 - 4:42que eu também gostava dele,
mas não dessa maneira. -
4:42 - 4:44Tentava acalmá-lo,
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4:45 - 4:47dizia coisas agradáveis sobre ele.
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4:47 - 4:50Falava como se fosse sua irmã mais velha.
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4:51 - 4:55De repente, tampou minha boca com uma mão
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4:55 - 4:58e com a outra desabotoou o cinto.
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4:59 - 5:04Nesse momento pensei que podia
me matar, enforcar, sabe? -
5:06 - 5:08Nunca me senti tão sozinha,
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5:08 - 5:10como sequestrada.
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5:11 - 5:14Pedi que acabasse rápido
e me levasse à minha casa". -
5:16 - 5:19O que aconteceu com vocês
ao ouvir esta história? -
5:20 - 5:25Seguramente, surgiram várias perguntas.
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5:25 - 5:31Por exemplo, por que não abriu
a janela e pediu ajuda -
5:32 - 5:37Por que não saiu do carro quando
pressentiu que algo ruim podia acontecer? -
5:37 - 5:41Como pôde pedir a ele
que a levasse para casa? -
5:43 - 5:47Agora, quando não estamos
diante de uma notícia na mídia, -
5:48 - 5:51ou diante de uma história
que uma pessoa como eu conta a vocês -
5:51 - 5:53a partir de uma cena como esta,
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5:54 - 5:57quando estamos diante
de alguém que conhecemos -
5:58 - 6:04e que nos escolheu para confiar
sua história, o que lhe aconteceu, -
6:05 - 6:08vamos ter que escutá-la.
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6:09 - 6:11E vamos ouvir coisas
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6:12 - 6:16que não entenderemos nem aceitaremos.
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6:17 - 6:23Então nos aparecerão
dúvidas, perguntas, suspeitas, -
6:24 - 6:29e isso nos fará sentir
muito mal, culpados. -
6:30 - 6:33Então, para nos defendermos desse incômodo
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6:33 - 6:35temos um recurso.
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6:36 - 6:38Aumentamos o volume
-
6:39 - 6:44para todas essas coisas
da história que esperávamos ouvir: -
6:44 - 6:48o revólver no porta-luvas,
as portas trancadas, -
6:48 - 6:50o isolamento do lugar.
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6:52 - 6:56E baixamos o volume
para todas essas coisas -
6:56 - 7:00que não esperávamos e não queremos ouvir;
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7:01 - 7:06como por exemplo, quando ela
disse que também gostava dele, -
7:06 - 7:10ou quando nos conta que falava
como se fosse sua irmã mais velha, -
7:11 - 7:13ou que pediu a ele
que a levasse para casa. -
7:15 - 7:17Para que serve isso?
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7:18 - 7:20Para acreditar nisso,
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7:21 - 7:25para poder confiar que ela
realmente foi uma vítima. -
7:28 - 7:32Eu chamo isso de vitimização das vítimas.
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7:32 - 7:37"Vitimização", porque para poder
acreditar que é inocente, -
7:37 - 7:39que é uma vítima,
-
7:39 - 7:46precisamos pensar que elas são
indefesas, paralisadas, mudas. -
7:47 - 7:51Mas há outra maneira
para nos livrarmos do desconforto, -
7:52 - 7:54e que é exatamente o inverso:
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7:55 - 8:00aumentamos o volume para as coisas
que não esperávamos ouvir, como: -
8:00 - 8:04"conversei gentilmente com ele",
"pedi que me levasse à minha casa", -
8:04 - 8:06"pedi a ele que acabasse rápido",
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8:07 - 8:10e baixamos para as coisas
que esperávamos escutar, -
8:11 - 8:15o revólver no porta-luvas, o isolamento.
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8:18 - 8:20Para que serve isso?
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8:21 - 8:25Serve para que possamos
nos agarrar nas dúvidas, -
8:26 - 8:28e nos sentirmos mais cômodos com elas.
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8:28 - 8:34Então aparecem novas
perguntas, por exemplo: -
8:36 - 8:38Quem a mandou ir a esses bares?
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8:39 - 8:43Viram como ela e suas amigas se vestem?
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8:43 - 8:45As minissaias, os decotes?
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8:46 - 8:48O que espera?
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8:49 - 8:52Perguntas que não são
certamente perguntas, -
8:52 - 8:54são mais julgamentos,
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8:55 - 8:58e julgamentos que terminam em uma frase:
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8:59 - 9:01"Ela procurou por isso".
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9:03 - 9:06A sentença seria reforçada
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9:06 - 9:09pelo fato de que ela não conta
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9:09 - 9:12que lutou para evitar a violação.
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9:12 - 9:15Então significa que não resistiu;
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9:18 - 9:21significa que consentiu.
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9:21 - 9:24Se procurou a violação e a consentiu,
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9:25 - 9:27de qual violação me falam?
-
9:28 - 9:31Chamo isso "culpabilização das vítimas".
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9:34 - 9:38Tanto os argumentos
que nos servem para culpabilizar -
9:38 - 9:40como para vitimizar,
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9:40 - 9:45temos todos eles na cabeça, muito à mão,
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9:46 - 9:49incluindo vítimas e vitimadores.
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9:50 - 9:54Tanto é assim que quando Ana veio até mim,
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9:55 - 9:58me disse que não sabia
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9:58 - 10:00se o testemunho dela me serviria,
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10:02 - 10:06porque não estava segura
se o que aconteceu com ela -
10:06 - 10:09era uma violação.
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10:10 - 10:13Ana, como a maioria de nós,
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10:13 - 10:17também acreditava que uma violação
parece mais um assalto à mão armada, -
10:17 - 10:22um processo violento que dura
quatro ou cinco minutos, -
10:22 - 10:26e não o tagarelar de um jovem agradável
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10:26 - 10:31que dura uma noite inteira
e que termina em um sequestro. -
10:34 - 10:37Quando sentiu medo de ser morta,
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10:37 - 10:40sentiu medo que ele lhe deixasse marcas
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10:40 - 10:44e teve que entregar
seu corpo para evitá-lo, -
10:44 - 10:47ali soube que a violação era outra coisa.
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10:50 - 10:54Ana nunca falou disso com ninguém.
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10:55 - 10:58Podería ter recorrido à família,
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10:59 - 11:00mas não o fez.
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11:01 - 11:03Não o fez porque teve medo.
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11:04 - 11:05Teve medo
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11:06 - 11:10de que acontecesse à pessoa
que ela escolhesse para contar -
11:10 - 11:14o mesmo que acontece com todos nós,
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11:14 - 11:17que são as dúvidas e suspeitas,
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11:18 - 11:20essas perguntas,
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11:20 - 11:23toda vez que se fala de um tema como este.
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11:23 - 11:25E se isso tivesse acontecido,
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11:25 - 11:29seria talvez pior que a própria violação.
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11:30 - 11:34Poderia falar com uma amiga, com uma irmã,
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11:35 - 11:38muito dificilmente com o parceiro,
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11:39 - 11:43o menor vislumbre de dúvida
em seu rosto ou em sua voz -
11:43 - 11:49sería devastador para ela,
e provavelmente o final da relação. -
11:51 - 11:56Ana se manteve em silêncio
porque intimamente sabe -
11:56 - 12:02que ninguém, nem todos nós,
nem sua família, nem os terapeutas, -
12:02 - 12:06muito menos a polícia ou os magistrados,
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12:06 - 12:11estão dispostos a ouvir o que Ana fez
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12:11 - 12:13nesse momento.
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12:15 - 12:18Primeira e principalmente,
Ana disse "não". -
12:20 - 12:23Quando viu que seu não era inútil,
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12:23 - 12:25conversou gentilmente;
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12:25 - 12:30tratou de não exacerbar sua violência,
de não lhe dar ideias. -
12:32 - 12:37Falou como se tudo que acontecia
naquele momento fosse normal, -
12:38 - 12:43para não despertar nele o medo
de que ela depois pudesse denunciá-lo. -
12:48 - 12:52Agora, eu me pergunto e pergunto a vocês:
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12:54 - 12:58tudo que ela fez não é resistir?
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13:01 - 13:02Não.
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13:02 - 13:05Não é para todos ou quase todos nós,
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13:06 - 13:08provavelmente porque não é para a lei.
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13:11 - 13:15Na maioria dos países,
as leis continuam pedindo -
13:15 - 13:18que a vítima, para provar sua inocência,
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13:18 - 13:23repito: a vítima,
para provar sua inocência, -
13:23 - 13:26apresente marcas no corpo
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13:26 - 13:31que atestem que ela manteve
uma luta "tenaz e constante" -
13:31 - 13:32com seu agressor.
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13:34 - 13:38Posso assegurar-lhes que a maioria
dos processos judiciais -
13:38 - 13:40não têm tantas marcas.
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13:44 - 13:46Eu ouvi muitas mulheres.
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13:48 - 13:54E não ouvi nenhuma falar de si mesma
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13:54 - 13:58como se ficasse reduzida a uma coisa,
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13:58 - 14:00submetida totalmente à vontade do outro.
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14:03 - 14:06Em vez disso, eu as ouvi surpreendidas
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14:06 - 14:10e até um pouco orgulhosas de reconhecer
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14:12 - 14:15quão lúcidas estavam nesse momento,
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14:16 - 14:19quão atentas a cada detalhe,
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14:19 - 14:22como se isso lhes permitisse
ter algum controle -
14:22 - 14:24sobre o que acontecia.
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14:27 - 14:29Então eu pensei:
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14:30 - 14:34"Claro, o que as mulheres
fazem nessas situações -
14:36 - 14:38é negociar".
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14:39 - 14:42Negociam sexo pela vida.
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14:46 - 14:50Pedem ao agressor que termine rápido,
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14:50 - 14:55para que tudo termine o mais rápido
possível e com o menor custo. -
14:56 - 14:58Se submetem
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14:59 - 15:01à penetração,
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15:02 - 15:04porque, embora não possam acreditar nisso,
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15:05 - 15:09a penetração é o que as mantém mais longe
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15:10 - 15:12de uma cena sexual ou afetiva.
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15:14 - 15:17Se submetem à penetração,
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15:17 - 15:21porque a penetração dói menos
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15:22 - 15:27que os beijos, as carícias,
as palavras suaves. -
15:30 - 15:34Agora, se continuarmos esperando
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15:35 - 15:39que as violações sejam
o que raramente são: -
15:41 - 15:44um violador depravado de classe baixa,
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15:45 - 15:48e não um jovem universitário
ou um empresário -
15:48 - 15:51que saem na sexta ou no sábado...
-
15:53 - 15:54se continuarmos esperando
-
15:54 - 15:58que as vítimas sejam mulheres
educadas, recatadas, -
15:58 - 16:01que desmaiam na cena,
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16:01 - 16:03e não mulheres autoconfiantes,
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16:06 - 16:09continuaremos incapazes de ouvir.
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16:10 - 16:15As mulheres seguirão sem poder falar.
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16:15 - 16:20E continuaremos responsáveis
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16:20 - 16:23por esse silêncio e por sua solidão.
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16:25 - 16:28(Aplausos)
- Title:
- Por que as mulheres permanecem em silêncio depois de uma violência sexual
- Speaker:
- Inés Hercovich
- Description:
-
Por que as mulheres que sofrem uma violência sexual raramente contam suas experiências? "Porque temem que não vão acreditar nelas", disse Inés Hercovich.
"Porque quando uma mulher nos conta o que passou, diz coisas que não imaginamos, que nos perturbam, que não esperamos escutar, que nos surpreendem." Nesta conversa comovente, Inés relata uma violência sexual para nos dar uma ideia mais clara de como são estas situações, e as decisões difíceis que as mulheres tomam para sobreviver.Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx
- Video Language:
- Spanish
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 16:46