O vosso país está em risco de tornar-se uma ditadura? Eis como saber
-
0:02 - 0:03Há algumas semanas,
-
0:03 - 0:08alguém disse num "tweet" durante
as eleições intermédias nos EUA -
0:08 - 0:11que o Dia de Eleições devia ser feriado.
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0:11 - 0:12E eu respondi ao "tweet", dizendo:
-
0:12 - 0:15"Bem, está convidado a vir
até ao meu país e votar. -
0:15 - 0:18"Tem toda a semana de folga para
deixar os militares fazerem a contagem." -
0:19 - 0:20Eu venho do Togo, já agora.
-
0:20 - 0:24É um país lindo
localizado na África Ocidental. -
0:24 - 0:27Existem alguns factos giros,
interessantes sobre o meu país. -
0:27 - 0:31O Togo é governado pela mesma família
há 51 anos, -
0:31 - 0:34tornando-nos na autocracia
mais antiga de África. -
0:34 - 0:35É um recorde.
-
0:35 - 0:37Temos um segundo recorde mais fixe:
-
0:37 - 0:41já fomos classificados três vezes
como o país mais infeliz do mundo. -
0:41 - 0:43Estão todos convidados.
-
0:43 - 0:44(Risos)
-
0:44 - 0:46Para que saibam,
-
0:46 - 0:49não é muito agradável
viver sob uma autocracia. -
0:49 - 0:52Mas o mais interessante é que,
durante o meu activismo, -
0:52 - 0:55tenho conhecido, muitas pessoas
de diferentes países, -
0:55 - 0:58e quando lhes conto algo sobre o Togo,
a reacção é sempre: -
0:58 - 1:02"Como é que vocês deixam a mesma gente
aterrorizar-vos durante 51 anos?" -
1:02 - 1:05"Vocês, os togoleses,
devem ser muito pacientes." -
1:05 - 1:08É a forma diplomática
de dizerem "estúpidos". -
1:08 - 1:09(Risos)
-
1:09 - 1:12E quando se vive num país livre,
-
1:12 - 1:16há a tendência de assumir
que aqueles que são oprimidos -
1:16 - 1:19toleram a opressão
ou estão confortáveis com ela, -
1:19 - 1:24e a democracia é descrita
como uma forma de governo progressista -
1:24 - 1:28em tal medida que essas pessoas
que não vivem em países democráticos -
1:28 - 1:32são vistas como pessoas que não são
intelectualmente ou mesmo moralmente -
1:32 - 1:34tão avançadas como as outras.
-
1:34 - 1:36Mas não é esse o caso.
-
1:36 - 1:38A razão por que as pessoas o percepcionam
-
1:38 - 1:42tem a ver com a forma como são cobertas
as histórias sobre as ditaduras. -
1:42 - 1:43No decurso do meu activismo,
-
1:43 - 1:48tive de ser entrevistada
por muitas publicações -
1:48 - 1:51que geralmente começavam sempre por:
"O que é que te fez começar?" -
1:51 - 1:53"O que te inspirou?"
-
1:53 - 1:56E respondo: "Não fui inspirada.
Fui despoletada." -
1:57 - 2:00E continuam:
"Bem, o que te despoletou?" -
2:00 - 2:04E falo do meu pai que foi preso
quando eu tinha 13 anos, e torturado. -
2:04 - 2:07Toda essa história...
Não quero entrar agora em detalhes, -
2:07 - 2:09porque vocês adormecem.
-
2:09 - 2:12Mas o importante, no final,
o que interessa mais é: -
2:12 - 2:13Como foi ele torturado?
-
2:13 - 2:16Por quantos dias?
Quantas pessoas morreram? -
2:16 - 2:20Estão interessados nos abusos,
nas mortes, -
2:20 - 2:25porque acreditam que
ganharão atenção e simpatia. -
2:25 - 2:28Mas, na realidade, isso serve
os propósitos do ditador. -
2:28 - 2:31Ajuda-os a publicitar a sua crueldade.
-
2:31 - 2:36Em 2011, ajudei a fundar um movimento
a que chamo "Abaixo o Faure", -
2:36 - 2:38porque Faure é o primeiro nome
do nosso presidente. -
2:38 - 2:41O Togo é um país francófono, já agora,
-
2:41 - 2:44mas eu escolhi o inglês porque também
tive os meus problemas com França. -
2:44 - 2:45Mas então...
-
2:45 - 2:48(Risos)
-
2:48 - 2:51Mas então, quando comecei
"Abaixo o Faure", -
2:51 - 2:53fiz um vídeo onde apareci a dizer:
-
2:53 - 2:57"Faure Gnassingbé, dou-te 60 dias
para renunciares à presidência, -
2:57 - 2:58"porque, se não o fizeres,
-
2:59 - 3:02"nós os jovens do Togo
vamos organizar-nos e deitar-te abaixo, -
3:02 - 3:05"porque tu mataste
mais de 500 dos nossos cidadãos -
3:05 - 3:07"para subires ao poder
quando o teu pai morreu. -
3:07 - 3:08"Não te escolhemos.
-
3:08 - 3:11"És um impostor,
e nós vamos afastar-te." -
3:11 - 3:13Mas eu era a única cara
conhecida do movimento. -
3:13 - 3:15Porquê? Porque fui a estúpida.
-
3:15 - 3:17(Risos)
-
3:17 - 3:19E as repercussões seguiram-se.
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3:19 - 3:22A minha família começou a receber ameaças.
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3:22 - 3:24Os meus irmãos chamaram-me uma manhã.
-
3:24 - 3:25Disseram: "Sabes?
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3:26 - 3:28"Quando vierem matar-te,
não queremos morrer contigo, -
3:28 - 3:30"por isso sai de casa."
-
3:30 - 3:32Por isso, saí de casa.
-
3:32 - 3:35E estou tão zangada com eles,
que não nos falamos há cinco anos. -
3:35 - 3:38Enfim, adiante...
-
3:38 - 3:44Nos últimos nove anos,
tenho trabalhado com países -
3:44 - 3:47para criar consciência sobre o Togo,
-
3:47 - 3:49para ajudar as pessoas do Togo
a ultrapassar os seus medos -
3:49 - 3:52para que também possam
vir a dizer que querem mudança. -
3:52 - 3:56Já fui perseguida de formas
-
3:56 - 3:57que não posso revelar,
-
3:57 - 3:59recebi ameaças, muitos abusos,
-
4:00 - 4:01psicologicamente.
-
4:01 - 4:03Mas não gosto de falar neles,
-
4:03 - 4:07porque sei que o meu trabalho
como activista é mobilizar, -
4:07 - 4:08é organizar,
-
4:08 - 4:13é ajudar cada cidadão togolês
a compreender que, como cidadãos, -
4:14 - 4:15nós temos o poder,
-
4:15 - 4:16somos o chefe e nós decidimos.
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4:17 - 4:21E o castigo que os ditadores
têm usado para nos intimidar -
4:21 - 4:25não deve impedir-nos
de chegar onde queremos. -
4:25 - 4:31É por isso que disse ser muito importante
contar as histórias dos activistas -
4:31 - 4:34duma forma que ajude a mobilizar pessoas,
-
4:34 - 4:37não de uma forma que ajude
a parar a sua acção -
4:37 - 4:42e as force mesmo a mais subjugação
ao sistema opressor. -
4:43 - 4:45Durante estes anos
em que fui activista, -
4:45 - 4:48há dias em que queria desistir
porque não aguentava mais. -
4:48 - 4:50Mas então, o que me fez continuar?
-
4:50 - 4:52A única coisa que me fez continuar:
-
4:52 - 4:54Lembro-me da história do meu avô,
-
4:54 - 4:59e como ele costumava caminhar
750 km da sua aldeia até à cidade, -
4:59 - 5:01apenas para se manifestar
pela independência. -
5:02 - 5:04Depois lembro-me
do sacrifício do meu pai -
5:04 - 5:06que foi torturado tantas vezes
-
5:06 - 5:10por ousar protestar contra o regime.
-
5:10 - 5:12Nos anos 70, eles costumavam
escrever panfletos -
5:12 - 5:15para criar consciência sobre a ditadura,
-
5:15 - 5:18e como não podiam custear fazer cópias
-
5:18 - 5:21reproduziam cada panfleto 500 vezes
-
5:21 - 5:23e distribuíam-nos.
-
5:23 - 5:26Chegou ao ponto de os militares
reconhecerem as caligrafias, -
5:26 - 5:29por isso, logo que tropeçavam num,
iam buscá-los. -
5:29 - 5:33Mas olho para isso e penso
que hoje tenho um blogue. -
5:33 - 5:36Não tenho de copiar
a mesma coisa 500 vezes. -
5:36 - 5:39Escrevo no blogue
e milhares de pessoas lêem. -
5:39 - 5:42Já agora, no Togo, gostam
de chamar-me a menina do WhatsApp, -
5:42 - 5:44porque estou sempre no WhatsApp
a atacar o governo. -
5:44 - 5:46(Risos)
-
5:46 - 5:47É tão mais fácil.
-
5:47 - 5:50Quando estou zangada com o governo,
escrevo uma mensagem furiosa, -
5:50 - 5:53mando-a e milhares
de pessoas partilham-na. -
5:53 - 5:57Raramente estou assim serena.
Estou sempre zangada, já agora. -
5:57 - 6:00(Risos)
-
6:00 - 6:04(Aplausos)
-
6:08 - 6:13Estava a falar da necessidade
de mostrar as nossas histórias, -
6:13 - 6:16porque quando penso
nos sacrifícios que foram feitos por nós, -
6:16 - 6:18isso ajuda-me a continuar.
-
6:18 - 6:20Uma das primeiras acções
do nosso movimento "Abaixo o Faure" -
6:21 - 6:24foi criar uma petição,
pedindo aos cidadãos que assinassem -
6:24 - 6:28para podermos exigir novas eleições,
como a Constituição permite. -
6:28 - 6:30As pessoas tinham medo de pôr o nome
-
6:30 - 6:32porque diziam que não queriam problemas.
-
6:33 - 6:35Mesmo na diáspora, as pessoas tinham medo.
-
6:35 - 6:37Diziam: "Temos lá família."
-
6:37 - 6:39Mas houve uma mulher
que estava na casa dos 60. -
6:39 - 6:43Quando ouviu falar disto,
pegou na petição, -
6:43 - 6:45e foi para casa.
-
6:45 - 6:48Sozinha recolheu
mais de 1000 assinaturas. -
6:48 - 6:51Isso inspirou-me muito e pensei:
-
6:51 - 6:55Se uma sexagenária sem
nada a ganhar com este regime -
6:55 - 6:57pode fazer isto por nós, os novos,
-
6:57 - 6:59então porque devo desistir?
-
6:59 - 7:03São as histórias de resistência,
as histórias de desafio, -
7:03 - 7:05as histórias de resiliência,
-
7:05 - 7:07que inspiram as pessoas a envolver-se,
-
7:07 - 7:10não as histórias de abusos,
de mortes e de dor, -
7:10 - 7:14porque como humanos,
é natural que tenhamos medo. -
7:14 - 7:18Gostaria de partilhar convosco
algumas características das ditaduras -
7:18 - 7:20para que possam avaliar o vosso país
-
7:20 - 7:24e verificar se estão também
em risco de se juntarem a nós. -
7:24 - 7:26(Risos)
-
7:26 - 7:29(Aplausos)
-
7:31 - 7:34Primeiro facto a verificar:
concentração de poder. -
7:34 - 7:37No vosso país, o poder está concentrado
nas mãos de alguns, numa elite? -
7:37 - 7:40Pode ser uma elite política,
uma elite ideológica. -
7:40 - 7:41E têm um homem forte,
-
7:41 - 7:45porque temos sempre um tipo
que é apresentado como o Messias -
7:45 - 7:47que vai salvar-nos do mundo.
-
7:47 - 7:50O segundo ponto é a propaganda.
-
7:50 - 7:52Os ditadores alimentam-se de propaganda.
-
7:52 - 7:54Eles gostam de dar a impressão
que são os salvadores, -
7:54 - 7:57e que, sem eles, o país cairia na ruína.
-
7:57 - 8:00Estão sempre a lutar
com alguma força estrangeira, sabem? -
8:00 - 8:02Os cristãos, os judeus, os muçulmanos,
-
8:02 - 8:04"Os padres vudu estão a caminho".
-
8:04 - 8:07"Quando chegarem os comunistas,
vamos ficar todos falidos". -
8:07 - 8:08Este tipo de coisas.
-
8:08 - 8:11E particularmente o nosso presidente
luta contra piratas. -
8:12 - 8:13(Risos)
-
8:13 - 8:14Falo muito a sério.
-
8:14 - 8:18No ano passado, comprou um barco
de $13 milhões para combater piratas, -
8:18 - 8:20e 60% do nosso povo passa fome.
-
8:20 - 8:23Estão sempre a proteger-nos
de alguma força estrangeira. -
8:23 - 8:26E isso leva-nos ao terceiro ponto:
a militarização. -
8:26 - 8:29Os ditadores sobrevivem a instigar medo,
-
8:29 - 8:32e usam os militares
para suprimir vozes dissidentes, -
8:32 - 8:34mesmo que tentem dar a impressão
-
8:34 - 8:36de que os militares
estão a proteger a nação. -
8:36 - 8:38Suprimem instituições e destroem-nas
-
8:38 - 8:41para que não possam ser responsabilizados.
-
8:41 - 8:44Então, vocês têm um país
altamente militarizado? -
8:44 - 8:47E isto leva-nos ao ponto quatro,
o que chamo crueldade humana. -
8:47 - 8:49Sabem, quando falamos de animais,
-
8:50 - 8:52dizemos crueldade animal
quando os animais são abusados, -
8:52 - 8:55porque não há qualquer tabela
reconhecida pela ONU -
8:55 - 8:58chamada Carta dos Direitos dos Animais.
-
8:58 - 9:01Ponto 1: todos os animais são criados iguais.
Não há nada disso. -
9:01 - 9:04Quando os animais são abusados,
chamamos a isso crueldade animal. -
9:04 - 9:08Mas quando acontece com humanos,
dizemos abusos dos direitos humanos, -
9:08 - 9:10porque assumimos que
todos os humanos têm direitos. -
9:10 - 9:14Mas alguns de nós estão a lutar
pelo direito a ter direitos. -
9:14 - 9:18Nessa situação, não falo sobre
abuso ou violação de direitos humanos. -
9:18 - 9:22Quando se vive num país
e se tem um problema com o presidente -
9:22 - 9:25e a pior coisa que pode acontecer
é ser banido da presidência, -
9:25 - 9:26está-se com sorte.
-
9:26 - 9:29Se vierem ao meu país e tiverem
um problema com o presidente, -
9:29 - 9:32vocês fogem, desaparecem;
desaparecem do universo. -
9:32 - 9:34porque ainda vos podem
encontrar na Turquia. -
9:34 - 9:37As pessoas como eu
não podem mais viver no Togo. -
9:37 - 9:38As pessoas como eu,
-
9:38 - 9:41não podem viver no mesmo local
por mais de um mês, -
9:41 - 9:43pois não queremos ser encontrados.
-
9:43 - 9:44O modo como abusam das pessoas,
-
9:44 - 9:48o tipo de crueldade que ocorre
com toda a impunidade numa ditadura -
9:48 - 9:50está para além da imaginação humana.
-
9:50 - 9:53As histórias que alguns
dos activistas que foram mortos -
9:53 - 9:56— os seus corpos lançados ao mar,
-
9:56 - 9:57que foram torturados,
-
9:57 - 10:00ao ponto de perderem
a audição ou a visão — -
10:00 - 10:02essas histórias assombram-me.
-
10:02 - 10:04E às vezes, como uma activista,
-
10:04 - 10:07estou menos preocupada com morrer
do que como vai acontecer. -
10:07 - 10:10Às vezes, sento-me
e imagino todos os cenários. -
10:10 - 10:13O que irão fazer?
Vão cortar-me as orelhas primeiro? -
10:13 - 10:16Ou vão cortar-me a língua porque
estou sempre a insultá-los? -
10:16 - 10:18Parece cruel, mas é a realidade.
-
10:18 - 10:21Vivemos num mundo muito cruel.
-
10:21 - 10:23Os ditadores são monstros cruéis,
-
10:23 - 10:26e eu não estou a dizer isto
para ser agradável. -
10:27 - 10:30Sim, esta é a característica final.
-
10:31 - 10:32A lista continua,
-
10:32 - 10:35mas esse é o ponto final que
quero partilhar sobre as autocracias, -
10:35 - 10:38para que olhem para o vosso país
e vejam se há lá riscos. -
10:38 - 10:42É importante que reconheçam
as vantagens da liberdade que hoje têm, -
10:42 - 10:45porque algumas pessoas têm de dar
a sua vida para que a tenham. -
10:45 - 10:47Então, não a tomem por garantida.
-
10:47 - 10:50Mas ao mesmo tempo,
também precisam de saber -
10:50 - 10:54que nenhum país está realmente
destinado a ser oprimido, -
10:54 - 10:55e ao mesmo tempo,
-
10:55 - 11:00nenhum país ou povo estão
imunes à opressão e ditadura. -
11:00 - 11:01Obrigada.
-
11:01 - 11:04(Aplausos)
- Title:
- O vosso país está em risco de tornar-se uma ditadura? Eis como saber
- Speaker:
- Farida Nabourema
- Description:
-
Farida Nabourema tem dedicado a sua vida a combater o regime militar no Togo, a autocracia mais antiga de Africa. Ela aprendeu duas verdades ao longo do caminho: nenhum país está destinado à opressão — e nenhum país está imune à ditadura. Mas como pode alguém saber se está em risco antes de acontecer? Numa comovente palestra, Nabourema partilha os quatro sinais essenciais de uma ditadura, juntamente com o segredo para a resistência daqueles que vivem num sistema opressor.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 11:18
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