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Famílias descosturadas | Julieta Grinbalt | TEDxRíodelaPlataED

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    Há uns dias recebi um e-mail do meu pai,
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    que não vejo há muito tempo.
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    Meu coração acelerou.
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    Decidi deixar de ver meu velho
    há bastante tempo,
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    porque me dei conta de que, depois
    de milhares de segundas oportunidades,
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    não conseguia resgatar nada da relação.
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    Era alguém que não me fazia bem.
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    O e-mail me convidava
    para nos reunirmos por seu aniversário
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    e, sutilmente, culpava-me
    por ser uma péssima filha.
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    Bem, não tão sutilmente assim.
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    Apesar de saber que de modo algum
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    me tornava uma pessoa má por não vê-lo,
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    sentia muita, muita culpa.
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    Então, encontrei com um amigo
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    para descarregar um pouco dessas emoções
    pelas quais estava passando.
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    Depois de me ouvir,
    ele me olhou muito calmo,
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    e me disse: "Juli, não somos Jesus".
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    Isso ficou ecoando na minha cabeça.
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    Claro, não?
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    Somente alguém como Jesus
    poderia perdoar qualquer pessoa,
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    independente do que tenha feito.
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    Mas o que realmente
    me chamou atenção nessa conversa
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    foi que, em nenhum momento,
    ele me disse algo como:
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    "Mas Juli, se ele é seu pai,
    como você não quer vê-lo?"
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    Como eu vinha escutando
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    da maioria das pessoas
    com que eu falava sobre isso.
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    Porque...
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    a quem chamamos de pai?
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    Quem realmente deveria ganhar este título?
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    Ou, desculpem a expressão,
    como se faz para conquistá-lo?
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    Fui me dando conta de como se assume
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    que a família é
    exclusivamente a biológica.
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    Inclusive, quando se tem
    outras formas de família,
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    a biológica tem privilégio.
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    Sempre aparece, querendo
    ou não querendo, como a melhor,
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    a natural, a que fica bem.
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    De onde saiu esta ideia de que temos
    que gostar de nossos pais,
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    apenas porque são nossos pais?
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    Não seria melhor gostar deles
    pelo vínculo que temos com eles,
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    porque cuidam de nós,
    porque nos fazem bem?
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    Pra mim foi bastante difícil entender
    que não existe algo como uma escola
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    que ensine aos pais um jeito
    de amar seus filhos sem machucá-los.
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    Foi difícil entender que a família
    era uma construção,
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    porque ia contra o discurso
    que eu havia escutado por toda a vida,
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    algo que haviam me dito que era natural.
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    Eu gosto de pensar na família
    como uma camiseta,
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    uma roupa bem costurada,
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    tão bem feita que nem
    se notam as costuras.
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    Mas, o que acontece?
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    Se não se sente confortável,
    se não se sente bem,
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    ou se há alguém que está fazendo
    com que você não se sinta bem,
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    dizem que é isso que temos mesmo.
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    Quando as coisas começam
    a não funcionar em uma família,
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    especialmente quando vem
    aquela dor aguda, de repente,
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    a costura começa a incomodar,
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    faz-se presente,
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    arranha, pinica, às vezes machuca.
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    Comigo, a costura começou a incomodar
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    quando estar em casa
    se tornou algo terrível,
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    algo que me fazia sofrer e chorar muito,
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    mas eu tinha que ficar,
    custe o que custar,
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    era o que eu tinha.
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    Vocês não imaginam
    como fiquei quando escutei
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    que o que eu estava sofrendo
    era uma violência.
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    Foi então que decidi virar do avesso
    essa camiseta de que estou falando.
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    E vi as costuras.
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    Aquelas que todos nós temos,
    que são construídas
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    e que vamos costurando
    a medida em que crescemos
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    e com os vínculos que geramos;
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    às vezes bons, em outros casos ruins.
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    Quando temos uma família
    que em algumas situações nos faz mal,
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    clara e efetivamente mal,
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    nos custa muito entender
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    que não estamos presos
    a esse tecido para sempre
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    e que podemos, sim, criar outros vínculos.
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    Comecei a descosturar o que me vendiam
    como "aquilo que você tem"
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    e busquei outros laços familiares.
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    Eu me permiti conhecer outras famílias
    e outras formas de criação,
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    outros por trás das cenas.
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    Fui encontrando lugares que me deram
    esses laços que eu tanto buscava,
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    que construí e fiz meus:
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    no colégio, amigos e amigas de minha mãe,
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    famílias de amigos meus, enfim.
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    Quanto ao e-mail do meu pai, não respondi.
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    De fato, até hoje, não voltei a vê-lo.
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    Mas essa é a minha experiência.
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    O que cada um vive ao longo de sua vida
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    vai formando sua maneira de ver o mundo.
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    Não temos por que ficarmos quietos
    e não fazermos nada
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    se não estamos bem.
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    Isso também pode abrir a porta
    para que nos perguntemos coisas novas,
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    e para descosturar discursos.
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    Muito obrigada.
Title:
Famílias descosturadas | Julieta Grinbalt | TEDxRíodelaPlataED
Description:

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais, visite http://ted.com/tedx   

Caso esteja vivendo ou tenha presenciado situações de violência dentro de sua família, ligue para o 137 (Argentina) ou para o número de assistência de seu país.

Julieta tem 19 anos, formou-se no colégio no ano passado e estuda psicologia na universidade. Se interessa pelo que pensam e sentem as pessoas, gosta de se envolver, escutar e ajudar. Durante sua experiência nos Clubes TED-Ed refletiu sobre os vínculos familiares que a rodeavam.

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Video Language:
Spanish
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
06:21

Portuguese, Brazilian subtitles

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