Como é que o cancro se espalha pelo corpo? — Ivan Seah Yu Jun

Vejam a lição completa: http://ed.ted.com/lessons/how-does-cancer-spread-through-the-body-ivan-seah-yu-jun

O cancro começa habitualmente com um tumor numa área específica do corpo. Mas, se o tumor não for extirpado, o cancro pode espalhar-se aos órgãos vizinhos, assim como a locais muito longe da origem, como o cérebro. Como é que o cancro avança para essas novas áreas e porque é que alguns órgãos são mais propensos a serem infetados do que outros? Ivan Seah Yu Jun explica as três vias comuns da metástase.

Lição de Ivan Seah Yu Jun, animação de Andrew Foerster.

O princípio de um cancro começa
habitualmente por um tumor solitário

numa área específica do corpo.

Se o tumor não for extraído,

o cancro pode espalhar-se
aos órgãos vizinhos,

assim como a locais muito distantes
da origem, como o cérebro.

Então, como é que o cancro avança
para novas áreas,

e porque é que alguns órgãos
são mais propensos

a serem infetados do que outros?

O processo da propagação do cancro
pelo corpo é conhecido por metástase.

Começa quando as células do cancro
de um tumor inicial

invadem o tecido vizinho normal.

À medida que as células proliferam,

espalham-se através de uma
das três vias comuns da metástase:

propagação transcelómica,
linfática ou hematógena.

Na propagação transcelómica,
as células malignas invadem as superfícies

que cobrem as cavidades do corpo.

Estas superfícies
são conhecidas por peritoneu

e servem de paredes para segmentar
a cavidade corporal.

As células malignas
no cancro do ovário, por exemplo,

espalham-se pelo peritoneu,
que liga o ovário ao fígado,

resultando numa metástase
na superfície do fígado.

A seguir, as células cancerosas
invadem os vasos sanguíneos

quando entram na propagação hematógena.

Como há vasos sanguíneos
por quase todo o corpo,

as células malignas utilizam-nos

para atingir
partes mais distantes do corpo.

Por fim, a propagação linfática ocorre

quando o cancro invade
os nódulos linfáticos,

e viaja para outras partes do corpo,
através do sistema linfático.

Como este sistema drena
muitas partes do corpo,

também proporciona
uma enorme rede para o cancro.

Além disso, os vasos linfáticos escoam
para a circulação sanguínea,

permitindo que as células malignas
utilizem a propagação hematógena.

Uma vez chegadas a um novo local,
as células voltam a proliferar,

e formam pequenos tumores
conhecidos por micrometástases.

Estes pequenos tumores aumentam depois
para verdadeiros tumores,

e completam o processo metastático.

Sabe-se que cancros diferentes
têm locais específicos de metástases.

Por exemplo, o cancro da próstata
habitualmente metastatiza nos ossos,

enquanto o cancro do cólon
metastatiza no fígado.

Têm sido propostas diversas teorias
para explicar o padrão de migração

das células malignas.

Há duas teorias conflituosas,
especialmente interessantes.

Stephen Paget, um cirurgião inglês,

apareceu com a teoria de metástases
da "semente e do solo".

A teoria da semente e do solo afirma que
as células cancerígenas morrem facilmente

num microambiente errado,

daí que só se metastatizem num local
com características semelhantes.

Porém, James Ewing, o primeiro professor
de patologia da Universidade Cornell,

contestou a teoria da semente e do solo,

e propôs que o local da metástase
é determinado pelo local

dos canais vasculares e linfáticos
que drenam o tumor primário.

Os doentes com tumores primários

que são drenados por vasos
que levam aos pulmões

acabam por desenvolver
metástases nos pulmões.

Atualmente, sabemos que ambas as teorias
contêm verdades valiosas.

Mas a história completa das metástases
é muito mais complicada

do que qualquer destas duas teorias.

Fatores como as propriedades
das células cancerosas,

e a eficácia do sistema imunitário
na eliminação das células cancerosas,

também desempenham um papel
na determinação do êxito das metástases.

Infelizmente, ainda hoje
se mantêm sem resposta

muitas questões sobre as metástases.

A compreensão do mecanismo exato
é fundamental

para encontrar a cura
para cancros em fase avançada.

O estudo dos fatores
genéticos e ambientais,

que contribuem
para o êxito das metástases,

pode indicar formas
de impedir esse processo.

A guerra contra o cancro
é uma luta permanente,

e os cientistas esforçam-se

por desenvolver novos métodos
contra as metástases.

De interesse recente é a imunoterapia,

uma modalidade que envolve reforçar
o poder do sistema imunitário

para destruir as células migratórias.

Isso pode ser feito de diversas maneiras,

como treinar as células imunitárias

para reconhecerem as células cancerosas,
através de vacinas.

O crescimento e a atividade
das células imunitárias

também pode ser estimulado injetando
interleucinas fabricadas pelo homem,

químicos que normalmente são segregados
pelas células imunitárias do corpo.

Estes dois tratamentos
são apenas a ponta do icebergue.

Com os esforços conjuntos de investigação
de governos, empresas e cientistas,

talvez o processo das metástases
seja interrompido de vez.