Como transformar um problema em uma oportunidade viável e fantástica | Chris Richmond 'Nzi | TEDxGenova

Em uma palestra sobre integração e coexistência frutífera, Chris Richmond compartilha suas reflexões sobre sua startup e seu aplicativo: MyGrants. Esse aplicativo permite mapear as competências dos migrantes que se mudam para a Itália, desenvolve seus talentos através do microaprendizado, e corresponde seus perfis profissionais com as necessidades das companhias e do mercado de trabalho, em geral; porque, se você olhar na direção certa, você pode alcançar "mais com menos".

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

Eu nasci em Grand-Bassam,
na Costa do Marfim.

Mas, para ser honesto,

eu não consigo me lembrar
da aparência da África.

Pela simples razão de que,
quando eu era criança,

eu fui pego e levado pra outro lugar.

Crescer entre os Estados Unidos e a Europa
não significa viver num ambiente saudável.

Meu pai biológico era africano,

com aquela mentalidade africana da época.

Ele era o chefe, de acordo consigo mesmo,

e nós, as crianças, somente
tínhamos que seguir suas regras.

Simplesmente assim.

Eu sabia que era bom o bastante
pra fazer algo notável mais tarde na vida,

mas naquele momento,
eu não tinha permissão

para seguir a paixão
que eu tinha por várias coisas,

especialmente esportes
e ciência da computação.

Meu desejo era viver num ambiente

onde todos os indivíduos poderiam aspirar
e alcançar seus sonhos livremente,

de acordo com suas habilidades
e perseverança.

Foi por isso que eu pensei

que deixar a casa de meus pais
e mudar para outro lugar

seria a única maneira de realmente
alcançar melhores perspectivas de vida.

Naquele dia singular em que eu deixei
a casa de meus pais,

senti que o meu tempo na prisão
finalmente havia acabado,

e minha vida como um homem livre
estava para começar.

Viver sem recursos econômicos

me forçou a desenvolver a habilidade
de fazer mais com menos,

e eu aprendi a transformar
adversidade em oportunidade.

Eu estava quebrado.

Mas, apesar dos desafios, eu trabalhei
duro para entrar na universidade.

Escolhi direito internacional e diplomacia

sem uma ideia clara
de como o caminho acadêmico

se tornaria útil mais tarde,
na minha carreira profissional.

Na universidade, eu me apaixonei
por macroeconomia e geopolítica.

Então, após a minha graduação,

eu me inscrevi para trabalhar
num dos maiores bancos de todos os tempos,

e no mais interessante
continente do mundo:

a União Europeia.

Em 2010,

comecei a trabalhar para uma agência
privada da União Europeia.

E meu trabalho era
o de monitoramento de vários fatores

para antecipar através
de coleta e análise de dados

a movimentação potencial de indivíduos

deixando seu país de origem

em direção às fronteiras externas
da União Europeia.

No mesmo ano, 2010, nós tivemos
a assim chamada Primavera Árabe.

E, desde então,

a imigração tornou-se
a grande tendência de nosso tempo.

Desde então,

o debate foca-se muito

na distinção entre os refugiados
e os imigrantes econômicos,

desprezando que, globalmente,

os imigrantes representam
aproximadamente 3% da população mundial,

mas produzem mais
do que 9% do PIB global.

O debate não enxerga que a imigração

não somente é inevitável,
mas é também necessária.

A contribuição de imigrantes pode
ser vista em cada aspecto de nossa vida.

Nós a vemos na religião, na política,
nos negócios, nas artes, na educação.

Mesmo nas áreas de atletismo
e de entretenimento.

Não há nenhuma parte de nossas nações

que não foi tocada e moldada
por nosso contexto imigrante.

E nós devemos reconhecer

que a energia que os imigrantes
trazem às comunidades anfitriãs

é uma razão chave pela qual
a economia americana

tem sido a maior máquina
de prosperidade e inovação na história.

Sem a oportunidade
para que seus pais biológicos

saíssem de seu país de origem
e construíssem melhores condições de vida,

em um país que mereciam chamar de "lar",

Steve Jobs nunca teria sido capaz
de nos entregar o iPhone

como nós o conhecemos hoje.

Sem a oportunidade
de deixarem seus países de origem

e construir melhores perspectivas de vida
em um país que mereciam chamar de "lar",

Sergey Brin e Sundar Pichai
nunca teriam sido capazes

de nos entregar o Google
como o conhecemos hoje.

Eu sei, alguns de vocês me dirão

que histórias de imigrantes
podem ser positivas e negativas.

E isso é verdade.

Mas nós não podemos
fingir entender a imigração

sem ouvir todas elas.

Aqueles que deixam sua zona de conforto
em uma jornada rumo ao desconhecido

são necessariamente equipados

com energia, criatividade, determinação

e simplesmente coragem.

Mas com muita frequência,
desconfia-se deles

por causa do país do qual chegam
nas comunidades anfitriãs.

E é possível sentir isso.

Há esse sentimento anti-imigrante

que está se espalhando
por todos os lugares do mundo.

Então, o mundo, e não apenas a Europa,

deve melhorar urgentemente as ferramentas
de gestão da imigração internacional.

A imigração bem gerenciada,
no terceiro milênio,

é construída sob evidências
e dados confiáveis.

Mas, com muita frequência,
os dados são vistos

como o negócio abstrato
de peritos técnicos,

agindo nos bastidores.

Porém, dados são mais do que números.

Eles são essenciais para desafiar
problemas, desenhar respostas

e monitorar a implementação
de políticas de imigração.

Dessa maneira,

os dados nos permitem gerir para alcançar
melhores resultados de imigração,

reconhecimento de habilidades,

para preencher a escassez de mercado
de trabalho de forma direcionada,

acelerar o sistema de asilo
e aumentar o fluxo de remessa líquida.

Grandes benefícios se acumulam
para os países de origem e destino,

quando a imigração é bem gerenciada.

A má gestão da imigração, por outro lado,

coloca os imigrantes em risco

e pavimenta o caminho
para este sentimento anti-imigrante,

que está se espalhando por todo lugar,
especialmente na Europa.

Na Europa, a imigração divide comunidades,

enquanto que o lema da União Europeia

é de "unidade na diversidade".

De acordo com dados,

para alcançar maior competitividade,

a União Europeia precisa
de todos os seus talentos.

E, adivinhem?

Os imigrantes representam um potencial
também para a criação de novos empregos.

Mais de 7% dos autônomos da União Europeia

nasceram fora de seu país de residência,

o que dá mais de 2 milhões de pessoas.

Destes, 47% nasceram
fora da União Europeia.

É hora de acordar, pessoal.

É hora de assumirmos
nossa responsabilidade

e darmos uma resposta
a 258 milhões de pessoas

que estima-se estarem residindo
fora de seus países de origem.

É hora de tornar a imigração
em uma enorme oportunidade,

não somente aos imigrantes,
mas sobretudo às comunidades anfitriãs.

Todos vocês vão me perguntar:
"Sim, legal, então como nós faremos isso?"

Minha resposta é simples: quatro passos.

Primeiro, realizar uma triagem preliminar
de habilidades, experiências e aspirações

de todos os imigrantes,
especialmente dos recém-chegados.

Segundo, treinar todos os imigrantes
com um bom equilíbrio

entre uma abordagem teórica
baseada em informação e conhecimento,

e uma abordagem prática,
baseada na experiência direta.

Terceiro, analisar dados coletados
para facilitar a correspondência

entre a maioria
das habilidades identificadas

e a colocação de carreira
disponível no mercado.

Quarto, facilitar o acesso
a imigrantes merecedores

com ferramentas fundamentais que precisam
para alcançar independência econômica.

Então, esta noite eu compartilharei
a parte mais extraordinária da minha vida.

Em 2017, eu tive o privilégio
de me tornar fundador do MyGrants.

MyGrants é o primeiro aplicativo
baseado no microaprendizado,

especialmente desenvolvido
para fornecer apoio a imigrantes

através de uma série de testes
de temáticas modernas.

O teste fornece aos imigrantes toda
a informação e o treinamento necessários

para construir conhecimento, novas
habilidades, e credibilidade renovada.

Para avaliar a experiência,

nós presumimos que os "trainees"
começam sem conhecimento prévio.

Através do MyGrants, eles podem
aprender conceitos simples, como:

quantas estrelas existem
na bandeira europeia?

Oito, doze ou quinze?

Coisas que eles precisam saber, como:

qual é o primeiro passo
do sistema de asilo?

E coisas que podem ser
interessantes, como:

quantas incubadores de empresas
estão funcionando na África?

Os trainees leem a questão,

e escolhem a opção de resposta
que pensam ser a correta.

Eles recebem um único ponto
para cada resposta correta.

E, mesmo se a resposta
selecionada estiver errada,

o aplicativo fornece um feedback formativo
para guiar uma autorreflexão.

A avaliação da experiência é fundamental

para identificar habilidades

que os imigrantes podem ter adquirido,
formal ou informalmente,

durante sua vida até então.

O programa de treinamento,
sempre baseado no microaprendizado,

usa o poder da tecnologia

tornando o aprendizado vitalício acessível
de graça para todos os imigrantes.

O treino adaptativo nos deu a oportunidade
de personalizar o programa de treinamento

de acordo com seus pontos
fortes e fracos e áreas de interesse.

Os trainees podem escolher
dentre três destinos principais:

perfil mediano, vaga de emprego,
e empreendedorismo.

A tentativa e repetição do teste moderno,

os pontos coletados,
a porcentagem de respostas corretas,

e o tempo médio
de finalização de cada módulo

estão entre as evidências mais usadas

para gerar o relatório mensal
de performance de cada um dos trainees.

Mineração de dados e aprendizado
de máquina nos deram a oportunidade

de rastrear se e quando
os trainees alcançaram

níveis de maestria de iniciantes,
competentes, proficientes ou experts

em um tópico ou mais.

O valor ímpar do My Grants

é a enorme base de dados
de competências e habilidades

de mais de 44 mil imigrantes,

onde tais habilidades
são fortalecidas e validadas

conforme necessidades ocupacionais
locais, regionais e nacionais.

Através de uma base de dados,
o MyGrants está oferecendo

um processo de contratação novo e simples
para negócios inteligentes.

As companhias têm a oportunidade

de escolher em tempo real
ou de rastrear o desempenho

para programar a contratação
dos imigrantes mais adequados, talentosos,

de acordo com o cargo que elas necessitam.

Em 2018, nós combinamos
mais de 920 talentos

a companhias privadas
que procuravam indivíduos

com as habilidades certas que elas
precisavam para crescer e inovar.

Mas percebemos que até 90% dos talentos
com um contrato de trabalho em suas mãos

não apareceram
no primeiro dia de trabalho.

Vocês sabem por quê?

Restrições econômicas.

Tratando-se de crédito, a maioria
dos imigrantes é deixada de lado.

Eles não se qualificam para crédito
porque não têm um histórico de crédito.

Mas para construir esse histórico,
você precisa obter algum crédito.

Então, a questão aqui é simples.

Como os imigrantes podem expressar
seu potencial econômico total

sem ter qualquer acesso
a recursos econômicos?

Então, o próximo desafio do MyGrants
será o acesso ao crédito.

Sigam o raciocínio.

Se o crédito é ligado
à reputação e à credibilidade,

nós precisamos dar a oportunidade
a todos os imigrantes

para construir e medir sua reputação
e credibilidade através de evidências.

Então, ao invés de levar em consideração

o histórico econômico e financeiro,

nós consideraremos o potencial
de crédito para cada candidato

e também fatores como a qualidade
do treinamento online,

a proficiência na educação
econômica e financeira,

e o futuro posicionamento de carreira.

Nós acreditamos
que ajudar futuros clientes

a serem bem-sucedidos com economia
e financeiramente independentes

é bom para os imigrantes,
bom para os negócios,

e bom para a sociedade, no geral.

Mas vários desafios

que imigrantes, e o MyGrants,
estão tentando encarar e superar

são os mesmos desafios

que vocês, cidadãos europeus,
deveriam levar em consideração.

Tomemos o reconhecimento
de habilidades como exemplo real.

Vocês já se perguntaram

por que 40% das companhias europeias,
incluindo a MyGrants,

têm dificuldades em encontrar
as pessoas certas

com habilidades certas
para que possam crescer e inovar?

A resposta é simples:
a falta de habilidades básicas.

Por volta de um quarto de adultos europeus
têm dificuldades com leitura e escrita,

e muitos mais têm
habilidades digitais precárias.

E se vocês pensam que exclusão financeira
é um problema apenas de imigrantes,

estão completamente enganados.

Há uma estimativa de 2 bilhões de adultos
em idade ativa, globalmente,

que não têm acesso a serviços financeiros

oferecidos por instituições
financeiras formais.

Na Europa, 47% dos adultos
não têm conta bancária

e muitos mais não têm economias.

Então, a exclusão financeira aumenta
o risco de exclusão social e pobreza

sem qualquer distinção.

Eu sei que alguns de vocês
gostariam que eu continuasse,

mas não é necessário.

O que talvez seja necessário
é que todas as partes envolvidas,

em especial os imigrantes
e as comunidades anfitriãs,

assumam sua parte da responsabilidade
o mais rápido possível,

também porque nós temos
nossa janela de oportunidade agora

de realizarmos algo extraordinário.

Obrigado.

(Aplausos)