A revolução da educação e nosso futuro global | David Baker | TEDxFullbright

Nunca antes na sociedade humana tantos indivíduos dedicaram tamanha quantidade de tempo, energia e recursos para ter acesso à educação. A revolução da educação é irrefreável, mas será que podemos entender sua dinâmica e encarar o desafio de utilizá-la como uma força de transformação global positiva?

Dr. David P. Baker é professor de Educação e Sociologia na Pennsylvania State University. Sua pesquisa é orientada para a compreensão do impacto da educação nos indivíduos e nas sociedades, em comparações internacionais sobre a organização escolar, os resultados acadêmicos alcançados e a política educacional.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

Gostaria de falar hoje
sobre um assunto muito comum,

educação, escolaridade,

desde a pré-escola até a universidade,

toda a formação de um adulto.

Adoramos falar
sobre educação o tempo todo,

mas preferimos falar
disso de forma negativa.

Chamo isso de mitos negativos.

Vou contar uma história como exemplo.

Meu pai tem 89 anos.

Por sinal, quando minha família se reuniu,
um pouco antes de eu dar esta palestra,

ele ouviu conversas sobre o evento do TED,

por fim olhou para mim e disse:

"Quem é esse tal de Ted,
e por que você precisa conversar com ele?"

(Risos)

Bem, ele pode vir aqui e agora

e recitar vários poemas ótimos,
do começo ao fim,

do Robert Frost e outros.

Pergunto-me quem aqui consegue fazer isso?

Meu filho, de 19 anos, calouro
na Universidade Estadual da Pensilvânia,

não conseguiria, ainda que sua vida
dependesse disso.

E então paramos e dizemos:
"Sim, a educação piorou.

Os bons velhos tempos é o que queremos".

Existe uma palestra do TED muito famosa,
talvez a mais famosa, do Senhor Fulano,

que argumenta que a educação
destrói a criatividade.

Que ela destrói a inteligência.

E que está decepcionado o mundo.

Nada poderia estar mais errado.

Isso não faz sentido.

Gostamos desses mitos negativos

porque a educação passou a ter
um grande poder na nossa vida.

É difícil lidar com isso.

É uma partida decisiva
que temos que jogar.

Acabei de ler um livro chamado
"The Schooled Society"

em que tento imaginar,

e convido você a fazer o mesmo,

o que aconteceria com o mundo
quando todos fossem escolarizados?

Está acontecendo o que podemos
chamar de revolução da educação.

Ao redor do mundo, as pessoas estão
recebendo cada vez mais educação.

Pessoas que não tinham acesso
a escolas e universidades agora têm.

Quão mais escura a cor
dos países no mapa atrás de mim,

maiores são os índices
de escolarização da população.

Isso causou um grande efeito
em apenas um século.

Seus avós ou, se vocês são jovens,
os pais dos seus avós

viveram em um mundo,
no qual o cidadão médio era iletrado.

Isso mudou em apenas 50 anos.

Não é apenas a educação básica.

Agora um a cada cinco jovens no mundo

recebe algum tipo de educação superior.

O que isso fez com o mundo?

Reuni uma equipe de cientistas sociais,

cientistas cognitivos, neurocientistas,

e começamos a partir de questões
muito simples, mas necessárias.

Penso que a melhor ciência nasce
a partir de grandes questões.

Então nós perguntamos:

"O que a escolarização
faz de fato com as pessoas?

E quando muitas pessoas são escolarizadas,

o que isso muda no mundo?"

Utilizamos todos os tipos de métodos.

Não trabalhamos com bebês,
esta é só uma imagem fofa,

trabalhamos com os caras de tênis ali.

Pedimos para resolverem problemas
de matemática e interpretação de texto,

e outras pessoas estão fazendo esse tipo
de trabalho, que é maravilhoso.

Ensinar alguém a ler,

ensinar para alguém
um pouco de matemática,

incentivá-los a ir para a escola,

faz que se tornem letrados,

e claro, lhes dão algum conhecimento,

mas também altera estruturas neurológicas.

Altera habilidades cognitivas
de maneiras antes não conhecidas.

E não apenas uma vez, nos primeiros anos,

continua alterando por muito tempo depois.

Vou dar um exemplo de um resultado
engraçado dessa pesquisa.

Pesquisas são um saco, certo?

Não mostre isso ao meu patrocinador.

Mostro isso por ser no topo do mundo.

Nos Andes, no Peru.

Fomos lá porque hoje
é muito difícil encontrar pessoas

que não foram escolarizadas.

Mas ainda existem lugares

onde podemos encontrar pessoas
com pouca escolaridade,

ou com nenhuma,

e outras com um pouco mais.

Levamos nossa equipe
para lá e testamos as pessoas.

E descobrimos

que mesmo o pouco tempo de escolarização

ajudou as pessoas a pensarem
de formas diferentes.

Elas passaram a raciocinar
de modo mais abstrato.

Tornaram-se aptas a direcionar
a sua capacidade cognitiva

para resolver novos problemas.

Elas podem contar.

Não apenas contar,
elas têm noção dos números.

Somos tão escolarizados que não percebemos
quão forte é esse efeito.

É muito significativo.

Esses são os filhos dessas pessoas.

A revolução da educação chegou lá.

Essa é a primeira geração
de crianças do povo Quéchua

a passar pelo processo de escolarização.

Quando cheguei lá, eles correram
até o professor e disseram:

"O Papai Noel entrou na nossa sala".

(Risos)

Imaginem qual foi o assunto
dos meus alunos universitários após isso.

Também fomos para África.

Para Gana, no norte de Acra.

Mesmo tipo de pessoas.

Mas lá perguntamos qual era o efeito
do desenvolvimento cognitivo.

Focamos o que as pessoas pensavam
sobre a tragédia do HIV.

Observamos pessoas
com e sem escolarização.

Entrevistamos um homem sem escolarização.

Ele era iletrado.

Ele passava por esse tipo
de material o tempo todo.

O ocidente gastou
bilhões e bilhões de dólares

para descobrir esses fatos simples.

Perguntamos a ele, como aos demais,
sobre as causas do HIV.

Perguntamos: "Você pode pegar HIV
por transfusão de sangue?"

Ele ergueu a cabeça e disse:
"Sim, mas não se usar preservativo".

(Risos)

É cômico e trágico.

Esse homem não tem habilidades

para formar uma ideia
lógica sobre a doença.

Escolarização, educação básica,
salvou milhões de vidas

no mundo inteiro.

Precisamos começar a entender isso,

tanto de forma política como científica.

A educação é a maior vacina social

contra todo tipo de doença, como:

o aumento da obesidade infantil no mundo,

a epidemia de fumantes na Ásia,

as elevadas taxas de natalidade
no hemisfério sul,

que ainda são altas e problemáticas,

manter a vida das crianças.

E a chave principal é:

se as mães tivessem um pouco de estudo...

Isso também faz parte da educação básica.

Você pode se perguntar:

"O que acontece quando as pessoas
são mais escolarizadas?

Deixa eu terminar de contar a história
sobre meu pai e meu filho.

Meu filho, como já disse, não consegue
recitar um grande poema, certo?

Mas meu filho, desde criança, na escola,

foi incentivado a ser um poeta.

Ele já escreveu poemas,

não eram muito bons, mas escreveu,

e ele analisou poemas,

e foi incentivado a reescrever
grandes poemas.

Meu pai jamais pensaria nisso.

Estamos fazendo uma educação diferente,

incentivamos crianças a se tornarem
matemáticos, cientistas.

Isso acontece no mundo inteiro.

Isso empodera as pessoas
em grande escala.

Isso não só amplia
suas habilidades cognitivas,

mas as motivam a pensar,
a ousarem a pensar, se preferirem.

O que isso faz com o mundo?

Existem muitos efeitos interessantes.

Vou compartilhar alguns.

Quando desenvolvemos habilidades
e ampliamos o empoderamento,

o que acontece?

Um dos efeitos mais importantes, eu acho,

no caso do público da Fullbright,

é que muda a política mundial:

a Primavera Árabe, o Euromaidan.

O que está acontecendo lá?

Pessoas escolarizadas
estão liderando mudanças.

Elas têm habilidades,

e ainda mais,

elas têm a disposição
e a coragem para pensar

sobre como uma nação seria,
se ela pudesse mudar,

ironicamente, uma boa ironia.

Governos totalitários no mundo

nos últimos 30 ou 40 anos

trouxeram duas coisas do ocidente:

o arsenal bélico,
infelizmente, e a educação.

Mas trouxeram educação
pela metade das razões.

Trouxeram a educação
porque acreditaram que ela traria

uma sociedade mais qualificada.

Mas, como um Cavalo de Tróia,

ela também trouxe
uma população empoderada.

Na raiz de todos esses conflitos mundiais

está a revolução da educação.

Ela tornou a política muito líquida.

Tivemos algumas discussões
sobre a democracia líquida.

E também transforma a religião.

Muitas pessoas pensavam
que com o avanço da escolarização

a religião seria extinta.

Não.

Os Estados Unidos são
uma das sociedades mais escolarizadas,

e também uma das mais religiosas do mundo.

Mas escolarização também muda a religião.

Muda de um Deus tirano,

para, vejamos, um Morgan Freeman.

Se não gostam do Morgan Freeman como Deus,

escolham outro para vocês.

(Risos)

Mas isso também impulsiona
os movimentos religiosos.

Pessoas escolarizadas têm
habilidades organizacionais,

o que também contribui para um mundo
que respeita a diversidade religiosa,

e abre espaço para novas religiões.

Vou contar a vocês outro mito,
um bom exemplo do meu avô.

Eu estava na pós-graduação
na Universidade Johns Hopkins,

e fui visitar meu avô, que já faleceu,

na época estava com seus 80 anos,

e ele me disse:

"Dave, quero construir um muro de pedra".

Meu avô teve apenas
uns seis anos de escolarização,

e se tornou um homem bem-sucedido.

Então eu disse: "Certo, vou te ajudar".

Nós saímos.

Dentro de dois minutos, ficou evidente

que eu não entendia nada

sobre a construção de um muro.

Meu avô deu uma risada cínica.

Enquanto ria, olhou para mim, e disse:

"Dave, há quanto tempo
você frequenta a escola?'

(Risos)

Eu abaixei a cabeça, fiz umas contas:

"Bom, vôvô, uns 20 anos".

(Risos)

Ele olhou para mim e fez uma declaração

que, desde então,
carrego para toda a vida:

"Mas o que consegue fazer
com toda essa educação?"

Gostamos muito de pensar
sobre quem vai se tornar marceneiro,

ou se os PhDs podem se tornar
um dia taxistas impacientes.

Essa era a ideia naquela época.

Mas meu avô, que descanse em paz,

estava errado.

O que aconteceu, em vez disso, foi

que o mundo mudou comigo,

o mundo mudou por causa
de mim e de toda minha pluralidade.

A economia mudou.

Costumamos pensar que a economia muda

devido à tecnologia ou oferta de capital.

Mas ela muda também com as habilidades

e o nível de escolarização
dos trabalhadores em atividade.

Empresas mudam a forma de lucrar.

Toda sorte de coisas acontecem

porque há pessoas escolarizadas no mundo.

Continuamos fazendo previsões e previsões

que acontecerá uma crise educacional,

e que o mundo vai cair aos pedaços.

Mas não vai.

Não significa que não há dor.

Não significa que não haverá
ganhadores e perdedores.

Mas nos mostra quão dramática é
a força transformadora da educação.

Certo. Então qual será nosso futuro
e como pensar sobre ele?

Penso que é muito importante começar
a deixar esses mitos negativos de lado.

Gostamos tanto deles
porque a educação é muito poderosa,

e é muito difícil lidarmos com isso.

Temos que lidar com isso.

Temos que escolarizar nossas crianças.

Esse é a única forma
de investimento em nossas crianças.

Então usamos esses mitos negativos
como um tipo de alívio,

mas eles mascaram
o que realmente está acontecendo,

não apenas para nós,

mas para os legisladores.

E isso é muito ruim.

Precisamos começar a entender
o que a educação realmente faz,

como ela muda o mundo.

De forma geral, penso que já mudou
o mundo de maneiras muito positivas.

Mas precisamos aproveitar
isso para avançar mais.

Todo tipo de palestras do TED
que vocês podem imaginar,

todas os temas, todas as plateias,

são sustentadas por um mundo escolarizado.

Essa é o ponto de partida.

Então espero que continuemos a ousar
a pensar sobre o futuro da educação.

E da próxima vez que ouvirem
dramas sobre a educação,

ou sobre a degradação na educação,

talvez se lembrem de mim.

Talvez, até digam: "Não, não, não.

Vamos pensar nisso de outra forma".

Obrigado.

(Aplausos)