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O caminho do "não" para o "sim"

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    Bem, o tema da negociação difícil
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    lembra-me uma das minhas histórias favoritas
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    do Médio Oriente
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    de um homem que deixou 17 camelos para os seus três filhos.
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    E para o primeiro filho, ele deixou metade dos camelos;
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    para o segundo filho, deixou um terço dos camelos;
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    e para o filho mais novo, deixou um nono dos camelos.
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    Bem, os três filhos entraram em negociações.
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    17 não divide por 2.
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    Não divide por 3.
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    Não divide por 9.
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    As relações entre irmãos começaram a azedar.
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    Finalmente, em desespero,
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    foram consultar uma velha sábia.
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    A velha sábia pensou sobre o problema durante um longo período de tempo
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    e finalmente voltou e disse,
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    "Bem, não sei se vos consigo ajudar,
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    mas pelo menos, se quiserem, posso dar-vos o meu camelo."
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    Logo, eles ficaram com 18 camelos.
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    O primeiro filho levou a sua metade - metade de 18 é 9
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    O segundo filho levou o seu terço - um terço de 18 é 6
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    O filho mais novo levou a sua nona parte -
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    um nono de 18 é 2.
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    Ao todo, 17.
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    Sobrou-lhes um camelo.
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    Deram o camelo de volta à velha sábia.
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    (Risos)
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    Agora pensem nesta história por um momento,
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    eu acho que se assemelha
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    a muitas das negociações difíceis nas quais nos envolvemos.
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    Começam com 17 camelos - sem solução.
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    De alguma maneira, o que precisamos de fazer
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    é afastar dessas situações, como a velha sábia fez,
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    ver a situação com outros olhos
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    e arranjar o 18º camelo.
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    Agora arranjar esse 18º camelo nos conflitos mundais
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    tem sido a paixão da minha vida.
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    Basicamente, eu vejo a Humanidade um pouco como aqueles 3 irmãos;
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    somos todos uma família
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    Sabemos que cientificamente,
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    graças à revolução nas comunicações,
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    todas as tribos do planeta, todas as 15.000 tribos,
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    estão em contacto umas com as outras.
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    E é uma grande reunião de família.
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    E ainda assim, como em muitas reuniões familiares,
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    não é só paz e luz.
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    Existe muito conflito.
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    E a questão é,
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    como é que lidamos com as nossas diferenças?
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    Como é que lidamos com as nossas diferenças mais profundas,
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    tendo em conta que a humanidade é propensa ao conflito
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    e o génio humano
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    a desenvolver armas de destruição maciça?
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    Essa é a questão.
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    Como passei grande parte das últimas três décadas
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    - quase quatro -
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    a viajar pelo mundo,
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    a tentar trabalhar, a envolver-me nos conflitos
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    desde a Jugoslávia ao Médio Oriente
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    à Chechénia e à Venezuela,
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    alguns dos conflitos mais difíceis à face da terra,
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    eu tenho colocado essa questão a mim próprio.
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    E acho que encontrei, de alguma maneira,
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    o segredo para a paz.
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    E o segredo é surpreendentemente simples.
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    Não é fácil, mas é simples.
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    Nem sequer é algo de novo.
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    Pode ser umas das nossas heranças mais antigas.
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    O segredo para a paz somos nós.
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    Somos nós que agimos
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    como a comunidade envolvente
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    à volta de qualquer conflito,
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    que pode desempenhar um papel construtivo.
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    Deixem-me contar-vos uma história, um exemplo.
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    Há cerca de 20 anos atrás eu estava na África do Sul
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    a trabalhar com as partes de um conflito,
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    e tinha um mês extra,
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    então passei algum tempo a viver
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    com vários grupos de "San Bushmen".
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    Tinha curiosidade sobre eles e de que maneira é que resolviam os conflitos.
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    Porque, apesar de tudo, desde que há memória,
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    eles são caçadores e recolectores
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    a viver praticamente como os seus antepassados viviam
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    durante talvez 99 por cento da história da humanidade.
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    E todos os homens têm setas envenenadas que usam para caçar -
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    completamente fatais.
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    Então como é que eles lidam com as suas diferenças?
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    Bem, o que eu aprendi
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    foi que sempre que os ânimos se exaltam naquelas comunidades,
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    alguem esconde todas as setas venenosas nos arbustos,
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    e depois toda a gente se senta numa roda como esta,
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    e sentam-se, e falam, e falam.
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    Pode durar dois dias, três dias, quatro dias,
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    mas eles não descansam
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    enquanto não encontram a solução,
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    ou melhor, a reconciliação.
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    E se os ânimos ainda estiverem exaltados,
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    então eles enviam alguém para visitar parentes
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    como maneira de acalmarem.
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    Bem, esse sistema
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    é, acho eu, provavelmente o sistema que nos manteve vivos até hoje,
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    dadas as nossas tendências humanas.
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    A esse sistema, chamo-lhe "terceiro lado".
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    Porque se pensarem,
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    normalmente quando pensamos em conflito, quando o descrevemos,
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    há sempre dois lados.
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    São Árabes versus Israelitas, trabalho versus gestão
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    maridos versus mulheres, republicanos versus democratas,
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    mas aquilo que nem sempre vemos
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    é que há sempre um terceiro lado.
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    E o terceiro lado do conflito somos nós,
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    é a comunidade circundante,
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    são os amigos, os aliados,
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    os membros das famílias, os vizinhos.
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    E nós podemos ter um papel incrivelmente construtivo.
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    Talvez a maneira mais fundamental
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    no qual o terceiro lado pode ajudar
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    seja relembrar as partes do que realmente está em risco.
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    Pela saúde das crianças, pela saúde da família,
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    pela saúde da comunidade, pela saúde do futuro,
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    vamos parar de lutar por um momento e começar a falar.
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    Porque, a questão é,
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    quando estamos envolvidos em conflitos,
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    é muito fácil perder a perspectiva.
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    É muito fácil reagir.
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    Seres humanos: somos máquinas de reacção.
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    E como diz o ditado:
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    "Quando zangado, vais fazer o melhor discurso
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    do qual te vais arrepender".
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    E assim o terceiro lado lembra-nos disso.
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    O terceiro lado ajuda-nos a ir à varanda,
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    que é uma metáfora para um lugar de perspectiva,
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    onde podemos manter os olhos no prémio.
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    Deixem-me contar-vos uma pequena história da minha própria experiência em negociação.
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    Há alguns anos, eu estava envolvido como um facilitador
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    nalgumas conversações bastante duras
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    entre os líderes da Rússia
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    e os líderes da Chechénia.
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    Estava uma guerra a decorrer, como sabem.
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    E reunímo-nos em Haia,
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    no Palácio da Paz,
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    na mesma sala onde o tribunal dos crimes de guerra Jugoslavos
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    estava a ter lugar.
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    E as conversações tiveram um começo agitado
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    quando o vice-presidente da Chechénia
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    começou por apontar para os russos e disse,
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    "Vocês deviam ficar aí mesmo nesses lugares,
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    porque vão ser julgados por crimes de guerra."
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    E então continuou, e depois virou-se para mim e disse:
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    "Tu és Americano.
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    Olha para o que é que vocês Americanos estão a fazer em Porto Rico."
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    E a minha mente começou a acelerar, "Porto Rico? O que é que eu sei sobre Porto Rico?"
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    Comecei a reagir,
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    mas então tentei lembrar-me de ir à varanda.
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    E aí quando ele parou,
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    e toda a gente olhava para mim à espera da minha resposta,
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    da perspectiva da varanda, fui capaz de agradecer-lhe as suas chamadas de atenção
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    e disse: "Agradeço a sua crítica ao meu país,
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    e entendo-a como um sinal de que estamos entre amigos
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    e podemos falar candidamente entre nós.
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    E o que estamos aqui para fazer não é falar sobre Porto Rico ou sobre o passado.
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    Estamos aqui para ver se conseguimos encontrar uma maneira
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    de parar com o sofrimento e o derramamento de sangue na Chechénia."
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    As conversações voltaram ao seu trilho.
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    Esse é o papel do terceiro lado,
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    é ajudar as partes a ir para a varanda.
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    Agora deixem-me levar-vos por um momento
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    àquilo que é amplamente considerado como o conflito mais difícil do mundo,
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    ou o conflito mais impossível,
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    é o Médio Oriente.
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    A questão é: onde está o terceiro lado?
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    Como é que podemos ir para a varanda?
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    Eu não tenho a pretensão ter uma resposta
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    para o conflito do Médio Oriente,
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    mas acho que tenho um primeiro passo,
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    literalmente um primeiro passo,
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    algo que qualquer um de nós podia fazer como pessoas no terceiro lado.
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    Deixem-me só fazer-vos uma pergunta antes.
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    Quantos de vocês
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    nos últimos anos
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    alguma vez se encontrou preocupado com o Médio Oriente
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    e perguntou o que é que alguém podia fazer?
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    Só por curiosidade, quantos de vocês?
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    Ok, a maioria de nós.
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    E mesmo assim, está tão longe.
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    Porque é que prestamos tanta atenção a este conflito?
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    Será pelo número de mortes?
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    Há centenas de vezes mais pessoas que morrem
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    num conflito em África do que no Médio Oriente.
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    Não, é por causa da história,
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    porque nos sentimos pessoalmente envolvidos
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    nessa história.
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    Quer sejamos Cristãos, Muçulmanos ou Judeus,
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    religiosos ou não-religiosos,
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    sentimos que temos um envolvimento pessoal.
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    As histórias interessam. Como antropólogo, sei disso.
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    As histórias são o que usamos para transmitir conhecimento.
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    Elas dão sentido às nossas vidas.
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    É o que contamos aqui no TED, contamos histórias.
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    Histórias são a chave.
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    E por isso a minha questão é,
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    sim, vamos tentar resolver as políticas
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    lá no Médio Oriente,
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    mas vamos também dar uma vista de olhos na história.
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    Vamos tentar chegar à raíz do problema.
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    Vamos ver se podemos aplicar o terceiro lado nela.
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    O que é que isso quererá dizer? Qual é a história lá?
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    Como antropólogos, sabemos
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    que todas as culturas têm uma história.
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    Qual é a história do Médio Oriente?
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    Numa frase, é:
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    Há 4000 anos, um homem e a sua família
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    caminharam através do Médio Oriente,
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    e o mundo nunca mais foi o mesmo.
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    Esse homem, claro,
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    foi Abraão.
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    Ele defendeu a unidade,
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    a unidade da família.
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    Ele é o pai de todos nós.
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    Mas essa não é só pelo que defendeu, mas qual era a sua mensagem.
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    A sua mensagem básica era a unidade também,
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    a interligação de tudo isso e a unidade de tudo isso.
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    E o seu valor mais básico era o respeito,
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    era a simpatia para com estranhos.
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    Era por isso que ele era conhecido, pela sua hospitalidade.
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    Então nesse sentido
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    ele é um terceiro lado simbólico
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    do Médio Oriente.
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    É ele que nos relembra
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    que somos todos parte de um todo maior.
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    Mas como é que vocês -
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    pensem um bocado.
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    Hoje enfrentamos o pesadelo do terrorismo.
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    O que é o terrorismo?
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    O terrorismo é basicamente pegar num desconhecido inocente
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    e tratá-lo como inimigo a quem se mata
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    para criar medo.
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    Qual é o oposto do terrorismo?
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    É pegar num desconhecido inocente
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    e tratá-lo como um amigo
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    a quem se dá as boas vindas a sua casa
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    para semear e criar compreensão,
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    ou respeito, ou amor.
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    Então e se
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    levarem a história de Abraão,
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    que é a história do terceiro lado,
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    então e se isso pudesse ser
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    - porque Abraão significa hospitalidade -
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    e se isso pudesse ser um antídoto para o terrorismo?
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    E se isso pudesse ser uma vacina
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    contra a intolerância religiosa?
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    Como é que vocês poderiam dar vida a essa história?
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    Não é suficiente contar uma história
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    - isso tem poder -
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    mas as pessoas precisam de experimentar a história.
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    Precisam de poder viver a história. Como é que podem fazê-lo?
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    E esse foi o meu pensamento em como fazê-lo.
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    E é isso que vem como primeiro passo.
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    Porque a maneira simples de o fazer
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    é ir dar uma volta.
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    Vão dar uma volta pelos passos de Abraão.
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    Refaçam os passos de Abraão.
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    Porque caminhar tem um verdadeiro poder.
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    Sabem, como antropólogo, caminhar foi o que nos fez humanos.
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    É engraçado, quando caminham,
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    caminham lado a lado
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    na mesma direcção comum.
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    Agora, se eu fosse ter com vocês face a face
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    e chegasse assim perto de vocês,
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    vocês iriam sentir-se ameaçados.
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    Mas se eu caminhar ombro com ombro
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    mesmo tocando no ombro,
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    não há problema.
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    Quem combate enquanto caminha?
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    É por isso que as negociações normalmente, quando as coisas ficam sérias,
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    as pessoas vão dar umas voltas pela floresta.
  • 10:52 - 10:54
    Então ocorreu-me a ideia
  • 10:54 - 10:56
    do quão inspirador
  • 10:56 - 10:58
    um caminho, uma direcção
  • 10:58 - 11:01
    - pensem na rota de seda, pensem no trilho Apalachiano -
  • 11:01 - 11:03
    que seguisse os passos
  • 11:03 - 11:05
    de Abraão.
  • 11:05 - 11:07
    Houve pessoas que disseram: "É uma loucura. Não podes.
  • 11:07 - 11:10
    Não podes refazer os passos de Abraão. É demasiado perigoso.
  • 11:10 - 11:12
    Tens de passar todas estas fronteiras.
  • 11:12 - 11:14
    Vai por 10 países diferentes no Médio Oriente,
  • 11:14 - 11:16
    porque os une a todos."
  • 11:16 - 11:18
    Então nós estudámos a ideia em Harvard.
  • 11:18 - 11:20
    Fizemos as devidas diligências.
  • 11:20 - 11:22
    E então há alguns anos, alguns de nós,
  • 11:22 - 11:24
    à volta de 25 de nós de uns 10 países diferentes,
  • 11:24 - 11:26
    decidimos ver se podíamos refazer os passos de Abraão,
  • 11:26 - 11:29
    indo desde a sua cidade natal de Urfa
  • 11:29 - 11:32
    no sul da Turquia, a norte da Mesopotânea.
  • 11:32 - 11:35
    Depois apanhámos um autocarro e andámos a pé
  • 11:35 - 11:37
    e fomos para Harran,
  • 11:37 - 11:40
    onde, na Bíblia, ele começa a sua jornada.
  • 11:40 - 11:42
    Então passámos a fronteira para a Síria, fomos a Aleppo,
  • 11:42 - 11:44
    cujo nome vem de Abraão.
  • 11:44 - 11:46
    Fomos a Damasco,
  • 11:46 - 11:48
    que tem uma longa história associada a Abraão.
  • 11:48 - 11:51
    Viemos então para o norte da Jordânia,
  • 11:51 - 11:53
    para Jerusalém,
  • 11:53 - 11:56
    que tem tudo sobre Abraão, a Belém,
  • 11:56 - 11:58
    e finalmente ao sítio onde ele está sepultado
  • 11:58 - 12:00
    em Hebron.
  • 12:00 - 12:02
    Portanto, fomos literalmente desde o berço ao túmulo.
  • 12:02 - 12:05
    Mostrámos que era possível. Foi uma jornada magnífica.
  • 12:05 - 12:07
    Deixem-me fazer-vos uma pergunta:
  • 12:07 - 12:09
    Quantos de vocês já teve a experiência
  • 12:09 - 12:11
    de estar num bairro desconhecido,
  • 12:11 - 12:13
    ou numa terra desconhecida,
  • 12:13 - 12:16
    e um desconhecido, um perfeito desconhecido,
  • 12:16 - 12:19
    se aproxima e mostra a sua simpatia,
  • 12:19 - 12:21
    talvez convidando-vos para a sua casa, oferecer-vos uma bebida,
  • 12:21 - 12:23
    dá-vos um café, ou uma refeição?
  • 12:23 - 12:25
    Quantos de vocês alguma vez teve essa experiência?
  • 12:25 - 12:27
    Essa é a essência
  • 12:27 - 12:29
    do caminho de Abraão.
  • 12:29 - 12:31
    É isso que vocês descobrem, é que vão a por estas aldeias no Médio Oriente
  • 12:31 - 12:33
    onde esperam hostilidades,
  • 12:33 - 12:35
    e encontram uma magnífica hospitalidade,
  • 12:35 - 12:37
    toda associada a Abraão.
  • 12:37 - 12:39
    "Em nome de Abraão,
  • 12:39 - 12:41
    deixem-me oferecer-vos alguma comida."
  • 12:41 - 12:43
    Então o que descobrimos
  • 12:43 - 12:46
    foi que Abraão não é só uma figura dos livros para aquela gente,
  • 12:46 - 12:49
    ele está vivo, ele é uma presença viva.
  • 12:49 - 12:51
    E para resumir,
  • 12:51 - 12:53
    de há dois anos para cá
  • 12:53 - 12:55
    milhares de pessoas
  • 12:55 - 12:57
    começaram a caminhar partes do caminho de Abraão
  • 12:57 - 12:59
    no Médio Oriente,
  • 12:59 - 13:02
    aproveitando a hospitalidade das pessoas que lá se encontram.
  • 13:02 - 13:04
    Começaram a caminhar
  • 13:04 - 13:06
    em Israel e na Palestina,
  • 13:06 - 13:08
    na Jordânia, na Turquia, na Síria.
  • 13:08 - 13:10
    É uma experiência magnífica.
  • 13:10 - 13:12
    Homens, mulheres, jovens, idosos...
  • 13:12 - 13:15
    mais mulheres que homens, por acaso, muito interessante.
  • 13:15 - 13:17
    Para aqueles que não podem andar,
  • 13:17 - 13:19
    que não podem lá ir de momento,
  • 13:19 - 13:21
    as pessoas começaram a organizar caminhadas
  • 13:21 - 13:23
    nas suas cidades, nas suas próprias comunidades.
  • 13:23 - 13:25
    Em Cincinnati, por exemplo, organizou-se uma caminhada
  • 13:25 - 13:27
    desde uma igreja, passando por uma mesquita, até uma sinagoga
  • 13:27 - 13:29
    e todos tiveram uma refeição Abraâmica juntos.
  • 13:29 - 13:31
    Foi o dia do caminho da Abraão.
  • 13:31 - 13:33
    Em S. Paulo, Brasil, começou a ser um evento anual
  • 13:33 - 13:35
    para milhares de pessoas, correrem
  • 13:35 - 13:37
    num caminho virtual de Abraão,
  • 13:37 - 13:39
    unindo as diferentes comunidades.
  • 13:39 - 13:42
    Os média adoraram isso, veneraram, mesmo.
  • 13:42 - 13:44
    Deram-lhe muita atenção
  • 13:44 - 13:46
    porque era visual,
  • 13:46 - 13:48
    e espalha a ideia,
  • 13:48 - 13:50
    esta ideia Abraâmica de hospitalidade
  • 13:50 - 13:52
    de simpatia para com estranhos.
  • 13:52 - 13:54
    E apenas há umas semanas
  • 13:54 - 13:56
    houve uma história sobre isso na Rádio Pública Nacional.
  • 13:56 - 13:58
    No último mês,
  • 13:58 - 14:00
    houve uma peça no Guardian,
  • 14:00 - 14:03
    no Manchester Guardian, sobre isso...
  • 14:03 - 14:06
    Duas páginas completas.
  • 14:06 - 14:09
    E eles citaram um aldeão
  • 14:09 - 14:12
    que disse: "Esta caminhada contacta-nos com o mundo."
  • 14:12 - 14:15
    Ele disse que foi como uma luz que chegou às suas vidas.
  • 14:15 - 14:17
    Que trouxe esperança.
  • 14:17 - 14:19
    E este é o propósito de tudo isto.
  • 14:19 - 14:22
    Mas não é só sobre psicologia,
  • 14:22 - 14:24
    é sobre economia,
  • 14:24 - 14:26
    porque assim que as pessoas caminham, elas gastam dinheiro.
  • 14:26 - 14:29
    E uma mulher, Um Ahmad,
  • 14:29 - 14:32
    é uma mulher que vive no caminho no Norte da Jordânia.
  • 14:32 - 14:34
    Ela é desesperadamente pobre.
  • 14:34 - 14:37
    É parcialmente cega, o marido não pode trabalhar,
  • 14:37 - 14:40
    tem 7 filhos.
  • 14:40 - 14:42
    Mas o que ela pode fazer, é cozinhar.
  • 14:42 - 14:45
    Então ela começou a cozinhar para alguns grupos de caminheiros
  • 14:45 - 14:48
    que vêm pela aldeia, e comem uma refeição na sua casa.
  • 14:48 - 14:50
    Sentam-se no chão.
  • 14:50 - 14:52
    Ela não tem sequer uma toalha.
  • 14:52 - 14:54
    Faz uma comida deliciosa
  • 14:54 - 14:57
    que é fresca, das ervas da terra circundante.
  • 14:57 - 14:59
    E então cada vez mais caminheiros vieram.
  • 14:59 - 15:01
    Ultimamente ela começou a gerar dinheiro
  • 15:01 - 15:03
    para sustentar a família.
  • 15:03 - 15:06
    E então contou à nossa equipa, ela disse:
  • 15:06 - 15:09
    "Vocês fizeram-me visível
  • 15:09 - 15:11
    numa aldeia onde as pessoas antes eram envergonhadas
  • 15:11 - 15:13
    de olhar para mim."
  • 15:13 - 15:16
    Este é o potencial do caminho de Abraão.
  • 15:16 - 15:18
    Há literalmente centenas desse tipo de comunidades
  • 15:18 - 15:21
    por todo o Médio Oriente, pelo caminho.
  • 15:22 - 15:25
    O potencial é basicamente o de mudar o jogo.
  • 15:25 - 15:27
    E para mudar o jogo, temos de mudar a estrutura,
  • 15:27 - 15:29
    a maneira como vemos as coisas...
  • 15:29 - 15:31
    para mudar a estrutura
  • 15:31 - 15:34
    de hostilidade para hospitalidade,
  • 15:34 - 15:37
    de terrorismo para turismo.
  • 15:37 - 15:39
    E nesse sentido, o caminho de Abraão
  • 15:39 - 15:41
    veio alterar as regras do jogo.
  • 15:41 - 15:43
    Deixem-me mostrar-vos uma coisa.
  • 15:43 - 15:45
    Tenho aqui uma bolota
  • 15:45 - 15:47
    que apanhei enquanto andava pelo caminho
  • 15:47 - 15:49
    no início deste ano.
  • 15:49 - 15:51
    A bolota é associada ao carvalho, claro...
  • 15:51 - 15:53
    cresce e transforma-se num carvalho,
  • 15:53 - 15:55
    que é associado a Abraão.
  • 15:55 - 15:57
    O caminho agora é como uma bolota;
  • 15:57 - 15:59
    ainda está numa fase prematura.
  • 15:59 - 16:01
    Como será o carvalho?
  • 16:01 - 16:03
    Penso na minha infância,
  • 16:03 - 16:05
    uma boa parte da qual passei, depois de nascer aqui em Chicago,
  • 16:05 - 16:07
    passei-a na Europa.
  • 16:07 - 16:09
    Se vocês tivessem estado
  • 16:09 - 16:11
    nas ruínas, por exemplo, de Londres
  • 16:11 - 16:14
    em 1945, ou Berlim,
  • 16:14 - 16:16
    e tivessem dito:
  • 16:16 - 16:18
    "Daqui a 60 anos,
  • 16:18 - 16:20
    isto vai ser uma parte do planeta pacífica e próspera",
  • 16:20 - 16:22
    as pessoas pensariam
  • 16:22 - 16:24
    que vocês estariam certificadamente loucos.
  • 16:24 - 16:28
    Mas eles fizeram-no graças a uma identidade comum - a Europa -
  • 16:28 - 16:30
    e a uma economia comum.
  • 16:30 - 16:33
    Então a minha pergunta é: se é possível fazê-lo na Europa,
  • 16:33 - 16:35
    porque não no Médio Oriente?
  • 16:35 - 16:37
    Porque não, graças a uma identidade comum
  • 16:37 - 16:39
    - que é a história de Abraão -
  • 16:39 - 16:41
    e graças a uma economia comum
  • 16:41 - 16:44
    que seria baseada em grande parte no turismo?
  • 16:45 - 16:47
    Deixem-me concluir
  • 16:47 - 16:50
    dizendo que nos últimos 35 anos,
  • 16:50 - 16:52
    como eu trabalhei
  • 16:52 - 16:54
    em alguns dos mais perigosos, difíceis e irascíveis
  • 16:54 - 16:56
    conflitos por todo o mundo,
  • 16:56 - 16:59
    ainda estou para ver um conflito
  • 16:59 - 17:02
    que eu sinta que não pode ser transformado.
  • 17:02 - 17:04
    Não é fácil, claro,
  • 17:04 - 17:06
    mas é possível.
  • 17:06 - 17:08
    Foi feito na África do Sul.
  • 17:08 - 17:10
    Foi feito na Irlanda do Norte.
  • 17:10 - 17:12
    Pode ser feito em qualquer lado.
  • 17:12 - 17:14
    Apenas depende de nós.
  • 17:14 - 17:17
    Depende de tomarmos o terceiro lado.
  • 17:17 - 17:19
    Por isso convido-vos
  • 17:19 - 17:21
    a considerarem pegar no terceiro lado,
  • 17:21 - 17:23
    mesmo sendo um passo muito pequeno.
  • 17:23 - 17:25
    Vamos fazer uma pausa daqui a pouco.
  • 17:25 - 17:27
    Dirijam-se a alguém
  • 17:27 - 17:30
    que seja duma cultura diferente, de um país diferente,
  • 17:30 - 17:32
    duma etnia diferente, alguma diferença,
  • 17:32 - 17:35
    e comecem uma conversa com essa pessoa; ouçam-na.
  • 17:35 - 17:37
    Essa é uma acção do terceiro lado.
  • 17:37 - 17:39
    Isso é caminhar o caminho de Abraão.
  • 17:39 - 17:41
    Depois duma conferência TED,
  • 17:41 - 17:43
    porque não uma caminhada TED?
  • 17:43 - 17:45
    Permitam-me deixar-vos
  • 17:45 - 17:47
    três coisas.
  • 17:47 - 17:50
    Uma é, o segredo da paz
  • 17:50 - 17:53
    é o terceiro lado.
  • 17:53 - 17:55
    O terceiro lado somos nós,
  • 17:55 - 17:57
    cada um de nós,
  • 17:57 - 17:59
    com um único passo,
  • 17:59 - 18:02
    pode pegar o mundo, pode trazer o mundo,
  • 18:02 - 18:05
    um passo mais perto da paz.
  • 18:05 - 18:07
    Há um antigo ditado Africano que diz:
  • 18:07 - 18:09
    "Quando as teias de aranha se unem,
  • 18:09 - 18:12
    podem deter até o leão."
  • 18:12 - 18:14
    Se formos capazes de nos unir
  • 18:14 - 18:16
    as nossas teias da paz do terceiro lado,
  • 18:16 - 18:19
    podemos até deter o leão da guerra.
  • 18:19 - 18:21
    Muito obrigado.
  • 18:21 - 18:23
    (Aplausos)
Title:
O caminho do "não" para o "sim"
Speaker:
William Ury
Description:

William Ury, autor de "Getting to Yes," oferece uma solução elegante, simples (mas não tão fácil) de chegar a entendimento mesmo nas situações mais difíceis - desde o conflito familiar a, por exemplo, o Médio Oriente.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
18:24
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for The walk from "no" to "yes"
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for The walk from "no" to "yes"
David Rocha added a translation

Portuguese subtitles

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