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E se a gentrificação curasse comunidades em vez de as desalojar?

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    Eu cresci numa família
    de cientistas sociais,
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    mas eu era uma criança estranha
    que desenhava.
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    (Risos)
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    Passei dos esboços dos modelos
    no catálogo da Sears da minha mãe
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    para um quarto tão cheio
    dos meus projetos artísticos
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    que era praticamente
    a minha galeria de arte pessoal.
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    Eu vivia para criar.
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    Acho que ninguém da minha família
    ficou surpreendido quando fui arquiteta.
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    Mas para ser sincera,
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    a base real da arquiteta
    em que me tornei
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    não nasceu na galeria de arte
    do meu quarto,
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    mas sim das conversas familiares
    à mesa de jantar.
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    Havia histórias da vida
    e das ligações entre as pessoas,
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    do impacto da migração urbana
    de uma aldeia na Zâmbia
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    até às complexas necessidades sanitárias
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    dos sem-abrigo nas ruas de São Francisco.
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    Eu percebia se vocês se virassem
    para o vizinho do lado e perguntassem:
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    "O que é que isso tem
    a ver com a arquitetura?"
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    Bom, todas estas histórias
    envolviam espaço,
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    e como esse espaço satisfazia ou não
    as necessidades.
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    A questão é que partilhamos
    as nossas relações mais profundas
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    num espaço físico.
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    E as nossas histórias acontecem
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    mesmo nesta era maluca
    de SMS e de "tweets",
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    nesse espaço físico.
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    Infelizmente, a arquitetura
    não teve grande êxito
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    a contar todas as histórias
    de forma igualitária.
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    Vemos sobretudo a construção
    de monumentos como o Gherkin
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    ou mesmo a Torre Trump,
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    (Risos)
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    que contam a história dos que têm
    mas não a dos que não têm.
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    Durante a minha carreira,
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    eu resisti ativamente à prática
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    da construção de monumentos
    homenageando certas pessoas
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    — geralmente homens brancos e ricos —
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    assim como à prática da destruição
    das histórias de outras —
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    geralmente pessoas de cor
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    de comunidades
    de baixos rendimentos.
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    Tentei criar uma prática
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    baseada na exaltação das histórias
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    daqueles que, na maioria
    das vezes, foram silenciados.
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    Este trabalho
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    tem sido uma missão
    para a justiça do espaço.
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    (Aplausos)
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    A justiça do espaço
    significa que entendemos
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    que a justiça tem uma geografia
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    e que a distribuição equitativa
    dos recursos, dos serviços e do acesso
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    é um direito humano essencial.
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    Então, como é a justiça do espaço?
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    Eu gostaria de contar uma história.
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    Durante anos,
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    eu tenho trabalhado no bairro
    historicamente afro-americano
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    de Bayview Hunters Point,
    em São Francisco,
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    num terreno onde outrora
    havia uma central elétrica.
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    Nos anos 90,
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    um grupo comunitário de mulheres
    que moravam no bairro social
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    no morro por cima dessa central
  • 2:55 - 2:57
    lutaram para que ela fosse fechada.
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    E ganharam.
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    A empresa concessionária
    acabou por demoli-la,
  • 3:01 - 3:03
    fez a limpeza do terreno
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    e pavimentou a maior parte
    do local com asfalto
  • 3:05 - 3:07
    para o terreno descontaminado
    não desaparecer.
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    Parece uma história de sucesso, não é?
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    Nem por isso.
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    Por causa de vários problemas,
    como títulos de propriedade,
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    contratos de arrendamento, etc.,
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    o local não podia ser urbanizado
    durante, pelo menos, 5 a 10 anos.
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    Isto significava que aquela comunidade
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    que tinha morado
    perto da central durante décadas
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    tinha agora 12 hectares
    de asfalto ali ao lado.
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    Para vos dar uma melhor ideia,
  • 3:38 - 3:41
    12 hectares são 12 campos
    de futebol europeu.
  • 3:41 - 3:44
    Mas a empresa concessionária
    não queria ser o mau da fita.
  • 3:44 - 3:47
    Reconhecendo a dívida que tinha
    para com a comunidade,
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    pediu propostas a "designers"
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    para usos temporários para o local,
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    com a intenção de o transformar
    num benefício para a comunidade
  • 3:54 - 3:55
    em vez de um flagelo.
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    Eu faço parte da equipa diversificada
    de "designers" que responderam,
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    e nos últimos quatro anos,
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    temos colaborado com aquelas mães
    e outros moradores,
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    assim como com organizações locais
    e a empresa concessionária.
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    Temos experimentado
    todos os tipos de eventos,
  • 4:10 - 4:13
    tentando abordar os problemas
    de justiça do espaço.
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    Desde "workshops" de
    formação profissional
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    até a um circo anual,
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    incluindo um novo e belo caminho
    na linha da costa.
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    Nos quatro anos das nossas operações,
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    apareceram mais de 12 000 pessoas
    que colaboraram neste local
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    e esperamos que tenham transformado
    as relações com ele.
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    Mas ultimamente,
  • 4:34 - 4:38
    começo a perceber
    que os eventos não bastam.
  • 4:39 - 4:40
    Há uns meses,
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    houve uma reunião comunitária
    nesse bairro.
  • 4:42 - 4:45
    A empresa concessionária finalmente
    quis ter uma conversa concreta
  • 4:46 - 4:48
    sobre a urbanização
    a longo prazo.
  • 4:48 - 4:51
    Essa reunião foi um desastre.
  • 4:53 - 4:55
    Houve muita gritaria e raiva.
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    As pessoas perguntaram:
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    "Se vocês vão vender o terreno
    a urbanizadores,
  • 4:58 - 5:01
    "eles não vão fazer condomínios
    de luxo como os outros?"
  • 5:01 - 5:03
    "O que é que a Câmara tem feito?"
  • 5:03 - 5:06
    "Porque é que não há mais empregos
    e mais serviços neste bairro?"
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    Não é que os nossos eventos
    não lhes tenham dado alegria.
  • 5:12 - 5:15
    É que, apesar de tudo,
    ainda ali havia muito sofrimento.
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    Sofrimento por uma história
    de injustiça ambiental
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    que favorecera a multiplicação
    de fábricas industriais naquele bairro,
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    condenando os moradores
    a viver junto do lixo tóxico
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    e, literalmente, de trampa.
  • 5:27 - 5:29
    Ainda há ressentimento
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    porque aquele bairro continua a ter
    um dos rendimentos per capita mais baixos,
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    as maiores taxas de desemprego
    e de encarceramento
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    numa cidade de gigantes tecnológicos
    como o Twitter, a Airbnb e a Uber.
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    Essas companhias de tecnologia — hum —
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    só contribuíram para a gentrificação
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    que está rapidamente
    a redefinir o bairro,
  • 5:50 - 5:52
    tanto na identidade
    quanto na população.
  • 5:53 - 5:57
    Agora, vou parar e falar um pouco
    sobre a gentrificação.
  • 5:59 - 6:02
    Suspeito que, para muitos de nós,
    seja uma palavra meio suja.
  • 6:03 - 6:05
    É sinónimo de desalojamento
  • 6:05 - 6:07
    dos moradores pobres dos seus bairros
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    pelos recém-chegados mais ricos.
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    Se vocês já foram desalojados alguma vez,
  • 6:12 - 6:15
    sabem quanto custa
    perder o local da nossa história.
  • 6:16 - 6:19
    E, se nunca passaram por isso,
  • 6:19 - 6:22
    eu vou pedir que tentem
    imaginar-se nessa situação.
  • 6:23 - 6:27
    Pensem como seria descobrir
    que o vosso local preferido,
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    um local onde iam sempre passear
    com amigos e pessoas queridas,
  • 6:31 - 6:33
    tinha desaparecido.
  • 6:34 - 6:35
    Depois chegavam a casa
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    e encontravam uma carta do senhorio,
  • 6:37 - 6:39
    a dizer que o aluguer tinha duplicado.
  • 6:40 - 6:42
    A opção de ficar
  • 6:42 - 6:44
    não está nas vossas mãos.
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    Vocês já não pertencem à vossa casa.
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    E sabem que os sentimentos
    que estão a sentir nesse momento
  • 6:53 - 6:54
    seriam os mesmos
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    quer a pessoa que vos prejudicou
    o pretendesse fazer ou não.
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    A urbanizadora Majora Carter
    disse-me um dia:
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    "Os pobres não odeiam a gentrificação.
  • 7:06 - 7:09
    "Elas só odeiam não poder
    ficar o tempo suficiente
  • 7:09 - 7:11
    "para aproveitarem os seus benefícios."
  • 7:12 - 7:14
    Porque é que consideramos inevitável
  • 7:14 - 7:18
    o apagamento cultural
    e o desalojamento económico?
  • 7:19 - 7:21
    Podemos abordar o desenvolvimento
  • 7:21 - 7:23
    reconhecendo as injustiças passadas,
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    valorizando não só as novas histórias
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    como também as antigas.
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    Comprometendo-nos a criar a possibilidade
  • 7:32 - 7:34
    de as pessoas ficarem nas suas casas,
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    ficarem nas suas comunidades,
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    ficarem onde se sentem completas.
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    Mas para mudarmos para esta abordagem,
  • 7:43 - 7:45
    é preciso examinar as injustiças passadas,
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    tal como o sofrimento e o luto
    que as permeiam.
  • 7:48 - 7:51
    Assim que comecei
    a refletir no meu trabalho,
  • 7:51 - 7:55
    percebi que o sofrimento e o luto
    têm sido temas recorrentes.
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    Eu ouvi isso no projeto
    de Bayview Hunters Point
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    quando um homem chamado Daryl disse:
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    "Nós sempre fomos postos
    de lado como uma ilha,
  • 8:02 - 8:04
    "uma terra de ninguém."
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    Também ouvi isso em Houston,
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    quando trabalhei num projeto
    com jornaleiros.
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    Juan contou-me histórias dos muitos
    roubos do seu salário
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    no canto onde ficava todos os dias
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    para ganhar a vida e sustentar a família
  • 8:17 - 8:18
    e perguntou-me:
  • 8:18 - 8:22
    "Porque é que ninguém consegue
    ver a santidade deste local?"
  • 8:23 - 8:26
    Vocês também já viram o sofrimento.
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    Das campanhas pela remoção das estátuas
    em Charlottesville e Nova Orleães,
  • 8:32 - 8:34
    até às cidades que perderam
    o seu vigor industrial
  • 8:34 - 8:36
    e agora estão a morrer,
  • 8:36 - 8:38
    como Lorain, Ohio e Bolton, em Inglaterra.
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    Frequentemente, temos pressa
    de recuperar esses locais,
  • 8:43 - 8:46
    pensando que podemos aliviar
    o sofrimento deles.
  • 8:46 - 8:49
    Porém, no nosso desejo
    desenfreado de fazer o bem,
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    de ultrapassar todos os nossos erros
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    para criar locais que
    nutram possibilidades,
  • 8:55 - 8:58
    mantemos geralmente
    uma ignorância ingénua,
  • 8:59 - 9:04
    duma paisagem cheia de uma longa fila
    de promessas desfeitas
  • 9:04 - 9:06
    e de sonhos destruídos.
  • 9:07 - 9:10
    Estamos a construir sobre ruínas.
  • 9:11 - 9:14
    É de admirar que as fundações
    não aguentem?
  • 9:15 - 9:18
    Manter espaço para o sofrimento e o luto
  • 9:18 - 9:20
    nunca fez parte das minhas
    funções de arquiteta
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    — afinal de contas, não é conveniente,
  • 9:22 - 9:24
    nem tem grande beleza,
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    mesmo que os meus clientes
    me pedissem isso.
  • 9:28 - 9:31
    Mas já vi o que acontece
    quando há espaço para a dor.
  • 9:32 - 9:34
    Pode ser transformador.
  • 9:35 - 9:36
    Voltemos à nossa história.
  • 9:36 - 9:39
    Quando começámos
    a trabalhar no bairro,
  • 9:39 - 9:41
    uma das primeiras coisas que fizemos
  • 9:41 - 9:45
    foi entrevistar as ativistas que tinham
    liderado a luta pelo fecho da central.
  • 9:45 - 9:49
    Ouvimos e sentimos permanentemente
    uma sensação de perda iminente.
  • 9:49 - 9:52
    O bairro já estava a mudar,
    mesmo naquela época.
  • 9:52 - 9:55
    As pessoas já estavam a ir embora
    ou morriam de velhice,
  • 9:55 - 9:58
    e com aquelas partidas,
    as histórias estavam a perder-se.
  • 9:58 - 10:00
    Para aquelas ativistas,
  • 10:00 - 10:03
    ninguém jamais conheceria
    as coisas incríveis
  • 10:03 - 10:05
    que tinham acontecido
    naquela comunidade
  • 10:05 - 10:07
    porque, para toda a gente de fora,
  • 10:07 - 10:09
    aquilo era um gueto.
  • 10:09 - 10:11
    No pior dos casos, um local violento;
  • 10:11 - 10:15
    no melhor dos casos,
    um quadro em branco.
  • 10:15 - 10:17
    Nenhuma dessas coisas
    era verdade, claro.
  • 10:17 - 10:21
    Então os meus colegas e eu entrámos
    em contacto com a StoryCorps.
  • 10:21 - 10:24
    Com o apoio deles, e o apoio
    da empresa concessionária,
  • 10:24 - 10:27
    criámos uma cabine de escuta no local.
  • 10:27 - 10:28
    Convidámos os moradores
  • 10:28 - 10:31
    para lá irem gravar as suas histórias,
    para a posteridade.
  • 10:32 - 10:34
    Depois de uns dias de gravação,
  • 10:34 - 10:36
    fizemos uma festa de audição
  • 10:37 - 10:38
    e ouvimos excertos,
  • 10:38 - 10:41
    de forma parecida com o que se passa
    na rádio todas as sextas-feiras.
  • 10:42 - 10:43
    Aquela festa
  • 10:43 - 10:46
    foi uma das reuniões comunitárias
    mais incríveis
  • 10:46 - 10:48
    em que já participei.
  • 10:48 - 10:51
    Em parte, porque não
    falávamos só de coisas felizes,
  • 10:51 - 10:53
    mas também do sofrimento.
  • 10:54 - 10:56
    Lembro-me bem de duas histórias
  • 10:56 - 10:58
    AJ contou como foi
    crescer naquele bairro.
  • 10:58 - 11:01
    Havia sempre uma criança
    com quem brincar.
  • 11:01 - 11:03
    Mas também falou com tristeza
  • 11:03 - 11:06
    da primeira vez que foi abordado
    e interrogado por um polícia,
  • 11:06 - 11:08
    quando tinha 11 anos.
  • 11:09 - 11:12
    GL também falou dos miúdos
  • 11:12 - 11:15
    e dos altos e baixos da sua experiência
    de vida naquele bairro,
  • 11:15 - 11:17
    mas também falou orgulhosamente
  • 11:17 - 11:20
    de algumas das organizações
    que ali nasceram
  • 11:20 - 11:22
    para oferecerem apoio e autonomia.
  • 11:23 - 11:25
    Ele gostava de ver mais coisas dessas.
  • 11:25 - 11:29
    Ao manter um espaço
    para exprimir o sofrimento e o luto,
  • 11:29 - 11:32
    conseguimos arranjar ideias
    para um local,
  • 11:32 - 11:37
    ideias incríveis que foram as sementes
    do que fizemos nos quatro anos seguintes.
  • 11:37 - 11:40
    Porquê então uma reunião
    tão radicalmente diferente?
  • 11:40 - 11:41
    Bom,
  • 11:42 - 11:44
    o sofrimento e o luto
    tecidos nesses espaços
  • 11:44 - 11:46
    não nasceram de um dia para o outro.
  • 11:47 - 11:49
    A cura também demora.
  • 11:50 - 11:54
    Afinal, quem acha que só precisamos
    de ir à terapia uma vez para ficar bem?
  • 11:54 - 11:56
    (Risos)
  • 11:56 - 11:57
    Alguém?
  • 11:58 - 12:00
    Achei que não.
  • 12:00 - 12:02
    Em retrospetiva,
  • 12:02 - 12:05
    eu queria que tivéssemos tido
    mais audições no passado,
  • 12:05 - 12:07
    não só eventos bem-humorados.
  • 12:08 - 12:10
    O meu trabalho levou-me pelo mundo fora,
  • 12:11 - 12:15
    mas ainda não encontrei um lugar
    onde não houvesse sofrimento,
  • 12:15 - 12:18
    e o potencial para a cura
    estivesse ausente.
  • 12:18 - 12:21
    Por isso, embora tenha passado
    a minha carreira
  • 12:21 - 12:23
    a melhorar as minhas aptidões
    de arquiteta,
  • 12:23 - 12:25
    percebi que também sou uma curandeira.
  • 12:26 - 12:29
    Suponho que agora seria a altura
    desta palestra em que eu vos diria
  • 12:29 - 12:31
    os cinco passos para a cura,
  • 12:31 - 12:33
    mas eu não tenho a solução,
    por enquanto.
  • 12:34 - 12:35
    É ó uma via.
  • 12:36 - 12:39
    Dito isto, há umas coisas
    que aprendi pelo caminho.
  • 12:40 - 12:41
    Primeiro,
  • 12:41 - 12:44
    não podemos criar cidades para todos
  • 12:44 - 12:47
    a não ser que estejamos
    dispostos a ouvi-los.
  • 12:48 - 12:51
    Não só o que esperam
    que seja feito no futuro
  • 12:51 - 12:53
    mas também o que se perdeu
    ou não foi cumprido.
  • 12:55 - 12:56
    Segundo,
  • 12:56 - 12:59
    curar não é só para "aquela gente".
  • 13:00 - 13:02
    Nós, enquanto privilegiados,
  • 13:02 - 13:05
    precisamos de refletir
    sobre a nossa culpa,
  • 13:06 - 13:08
    o desconforto e a cumplicidade.
  • 13:10 - 13:13
    Como disse Anne Marks,
    a líder de uma ONG,
  • 13:13 - 13:15
    "Quem está ferido, fere os outros;
  • 13:15 - 13:17
    "quem está curado, cura os outros."
  • 13:18 - 13:20
    E terceiro,
  • 13:21 - 13:23
    curar não é eliminar o sofrimento.
  • 13:24 - 13:27
    Muitas vezes temos a tendência
    de fazer tábua rasa do sofrimento,
  • 13:27 - 13:30
    tal como o asfalto no terreno
    de Bayview Hunters Point.
  • 13:31 - 13:33
    Mas não é assim que funciona.
  • 13:33 - 13:35
    Curar é reconhecer o sofrimento
  • 13:35 - 13:38
    e fazer as pazes com ele.
  • 13:39 - 13:41
    Uma das minhas frases preferidas diz:
  • 13:41 - 13:45
    "Curar renova a nossa fé
    na construção do caráter."
  • 13:46 - 13:48
    Eu estou aqui como
    uma arquiteta-curandeira
  • 13:48 - 13:51
    porque estou preparada
    para ver em que me posso tornar,
  • 13:51 - 13:54
    em que a minha comunidade
    e os meus colegas se podem tornar,
  • 13:54 - 13:57
    e em que este país e, francamente,
    este mundo se pode tornar.
  • 13:57 - 14:00
    Eu não estava destinada a fazer
    este percurso sozinha.
  • 14:01 - 14:06
    Acredito que muitos de vocês se sentem
    infelizes com o estado atual das coisas.
  • 14:07 - 14:10
    Acreditem que pode ser diferente.
  • 14:11 - 14:15
    Eu acredito que todos vocês são
    muito mais resistentes do que imaginam.
  • 14:16 - 14:20
    Mas requer coragem dar o primeiro passo.
  • 14:20 - 14:23
    A coragem de enfrentarmos
    o sofrimento uns dos outros,
  • 14:24 - 14:27
    de estarmos dispostos
    a mantermo-nos na sua presença
  • 14:27 - 14:29
    mesmo quando se torna desconfortável.
  • 14:30 - 14:34
    Imaginem só a mudança
    que podíamos fazer juntos
  • 14:35 - 14:37
    se todos nós nos empenhássemos nisso.
  • 14:37 - 14:39
    Obrigada.
  • 14:39 - 14:42
    (Aplausos)
Title:
E se a gentrificação curasse comunidades em vez de as desalojar?
Speaker:
Liz Ogbu
Description:

Liz Ogbu é arquiteta que trabalha na área da justiça do espaço: a noção que a justiça tem uma geografia e que a distribuição igualitária de serviços e recursos é um direito humano. Em São Francisco, ela questiona a história já familiar da gentrificação: a ideia de que os pobres serão expulsos pelo desenvolvimentismo e pelo progresso. Pergunta porque é que pressupomos que o desaparecimento cultural e o desalojamento económico são inevitáveis, e apela aos urbanizadores, arquitetos e políticos para "se comprometerem em criar a possibilidade de as pessoas se manterem nas suas casas e nas suas comunidades, para se manterem onde se sentem completas."

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
15:01

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