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As crianças consideram doadores de esperma como parte de sua família?

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    O que é um pai ou uma mãe?
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    O que é um pai ou uma mãe?
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    Não é uma pergunta fácil.
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    Hoje há a adoção,
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    famílias de segundo casamento,
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    mães de aluguel.
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    Muitos pais e mães
    enfrentam questões difíceis
  • 0:19 - 0:21
    e decisões difíceis.
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    Será que devemos falar com nossos filhos
    sobre doação de esperma?
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    Se sim, quando?
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    Que palavras devemos usar?
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    Doadores de esperma normalmente
    são chamados de "pais biológicos",
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    mas deveríamos usar a palavra "pai"?
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    Como filósofa e cientista social,
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    tenho estudado essas questões
    sobre o conceito de paternidade.
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    Porém, hoje, falarei sobre o que aprendi
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    conversando com pais e crianças.
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    Mostrarei a vocês que eles sabem
    o que é mais importante em uma família,
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    mesmo que suas famílias
    sejam um pouco diferentes.
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    Irei apresentar a vocês maneiras criativas
    de lidar com questões difíceis.
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    Mas irei apresentar, também,
    as incertezas dos pais.
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    Entrevistamos casais
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    que receberam tratamento de fertilidade
    no Hospital da Universidade de Ghent,
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    utilizando esperma de um doador.
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    Nesta linha do tempo de tratamento,
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    vocês podem observar dois pontos
    nos quais realizamos entrevistas.
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    Incluímos casais heterossexuais
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    nos quais o homem, por alguma razão,
    não tinha um esperma de qualidade
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    e casais de lésbicas que, obviamente,
    precisam de um doador.
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    Também incluímos crianças.
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    Eu queria saber como essas crianças
    definem paternidade e família.
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    E foi isso que eu lhes perguntei,
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    mas não dessa forma.
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    Em vez disso, desenhei uma macieira.
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    Assim, fui capaz de fazer perguntas
    filosóficas e abstratas
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    sem fazê-las saírem correndo.
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    Como podem ver, a macieira está vazia,
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    e isso ilustra meu método de pesquisa.
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    Ao criar técnicas como essa,
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    sou capaz de trazer significado
    e conteúdo mínimo para a entrevista,
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    pois quero escutar isso vindo delas.
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    Perguntei a elas:
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    "Como sua família se pareceria
    caso ela fosse uma macieira?"
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    E elas podiam pegar uma maçã de papel
    para cada um que, em sua visão,
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    fosse um membro da família,
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    escrever um nome no papel
    e pendurar onde quisessem.
  • 2:47 - 2:49
    E eu faria perguntas.
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    A maioria começou
    com um dos pais ou com um irmão.
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    Uma começou com "Boxer",
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    o falecido cão de seus avós.
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    Neste ponto, nenhuma criança
    mencionou o doador.
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    Então, perguntei a elas
    sobre a história de seu nascimento.
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    Eu disse: "Antes de você nascer,
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    era apenas sua mãe e pai,
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    ou mãe e mamãe.
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    Pode me dizer como você
    se tornou parte da família?"
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    E elas explicaram.
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    Uma disse:
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    "Meus pais não tinham sementes boas,
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    mas existem homens bondosos
    que têm sementes extras.
  • 3:31 - 3:33
    Eles as trazem para o hospital,
  • 3:33 - 3:35
    e as colocam em um grande pote de vidro.
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    Minha mamãe foi lá
    e pegou duas sementes do pote,
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    uma para mim e outra para minha irmã.
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    Ela colocou as sementes em sua barriga,
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    de alguma forma,
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    a barriga dela cresceu bastante,
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    e lá estava eu".
  • 3:53 - 3:54
    Hmm.
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    Somente quando eles começaram
    a falar sobre o doador,
  • 4:00 - 4:03
    fiz perguntas sobre ele,
    usando suas próprias palavras.
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    Eu disse:
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    "Se essa maçã fosse
    o homem bondoso das sementes,
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    o que você faria com ela?"
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    Um garoto estava pensando em voz alta,
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    segurando a maçã,
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    e disse:
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    "Não vou colocar esta com as outras.
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    Ele não faz parte da minha família.
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    Mas não vou colocá-lo no chão.
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    Ali é muito frio e duro.
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    Acho que ele deveria estar no tronco,
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    pois ele permitiu
    que minha família existisse.
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    Se ele não tivesse feito isso,
    seria muito triste,
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    porque minha família não existiria,
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    e eu não estaria aqui".
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    Portanto, os pais criaram
    contos de família,
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    contos para suas crianças.
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    Um casal explicou sua inseminação
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    levando seus filhos a uma fazenda
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    para assistir um veterinário
    inseminar vacas.
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    E por que não?
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    É o modo deles de explicar;
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    seu jeito próprio de contar
    as histórias de família.
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    O jeito próprio.
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    Outro casal fez livros,
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    um livro para cada filho.
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    Eram verdadeiras obras de arte
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    contendo seus pensamentos
    e sensações ao longo do tratamento.
  • 5:22 - 5:25
    Tinham até os bilhetes
    de estacionamento do hospital.
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    É o jeito próprio:
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    achar maneiras, palavras e imagens
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    para contar para seu filho
    a história de sua família.
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    E essas histórias eram bem diferentes,
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    mas todas tinham algo em comum:
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    eram contos sobre querer uma criança
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    e a aventura para conseguir uma.
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    Eram sobre quão especial
    e amada era sua criança.
  • 5:55 - 6:00
    E as pesquisas mostram
    que essas crianças estão bem.
  • 6:00 - 6:02
    Elas não têm mais problemas
    que as outras crianças.
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    Contudo, atráves dos contos, esses pais
    também queriam justificar suas decisões.
  • 6:10 - 6:13
    Esperavam que suas crianças
    entendessem as suas razões
  • 6:13 - 6:15
    de terem criado a família dessa maneira.
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    Existia uma apreensão
    que as crianças não aceitassem
  • 6:20 - 6:22
    e rejeitassem o pai não biológico.
  • 6:23 - 6:25
    E esse medo é compreensível,
  • 6:25 - 6:30
    pois vivemos em uma sociedade
    muito heteronormativa e genetizada;
  • 6:30 - 6:32
    um mundo que ainda acredita
  • 6:32 - 6:36
    que uma família verdadeira
    é formada por uma mãe, um pai,
  • 6:36 - 6:39
    e que eles são interligados
    por genes aos seus filhos.
  • 6:40 - 6:41
    Bem.
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    Quero falar sobre um adolescente.
  • 6:45 - 6:48
    Ele é filho de um doador,
    mas não foi parte do estudo.
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    Um dia, ele brigou com seu pai, e gritou:
  • 6:53 - 6:55
    "Você está mandando em mim?
  • 6:55 - 6:57
    Você nem é meu pai!"
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    Isso é exatamente o que os pais
    em nosso estudo temiam.
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    O garoto logo se arrependeu,
    e eles se reconciliaram.
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    Mas o mais interessante
    foi a reação de seu pai.
  • 7:12 - 7:13
    Ele disse:
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    "Essa explosão não tem nada a ver
    com a falta de ligação genética.
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    Tem a ver com a puberdade:
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    ser difícil.
  • 7:24 - 7:26
    É o que eles fazem nesta idade.
  • 7:27 - 7:28
    Vai passar".
  • 7:29 - 7:31
    O que esse homem nos mostra
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    é que, quando algo dá errado,
  • 7:35 - 7:36
    não devemos imediatamente pensar
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    que é pelo fato de a família
    ser um pouco diferente.
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    Essas coisas acontecem
    em todas as famílias.
  • 7:44 - 7:46
    E de vez em quando,
  • 7:46 - 7:48
    todos os pais devem pensar:
  • 7:48 - 7:50
    "Eu sou um pai bom o suficiente?"
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    Esses pais, também.
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    Eles, acima de tudo, queriam
    o melhor para seu filho.
  • 7:58 - 8:00
    Mas eles também pensavam:
  • 8:00 - 8:02
    "Eu sou um pai de verdade?"
  • 8:02 - 8:06
    E suas incertezas estavam presentes
    antes mesmo de se tornarem pais.
  • 8:06 - 8:08
    No início do tratamento,
  • 8:08 - 8:09
    na primeira visita ao conselheiro,
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    eles prestaram bastante atenção,
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    pois queriam fazer tudo corretamente.
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    Mesmo após dez anos,
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    ainda se lembram
    dos conselhos que receberam.
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    Então, quando se lembram do conselheiro
  • 8:29 - 8:31
    e dos conselhos recebidos,
  • 8:31 - 8:32
    conversamos sobre isso.
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    E vimos um casal de lésbicas que disse:
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    "Quando nosso filho perguntar:
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    'Eu tenho um pai?',
  • 8:41 - 8:44
    diremos: 'Não, você não tem'.
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    E não diremos nada mais,
    a não ser que ele pergunte,
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    pois talvez ele não esteja preparado.
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    O conselheiro alertou".
  • 8:53 - 8:55
    Bem.
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    Eu não sei; isso é um tanto diferente
  • 8:57 - 9:00
    de como respondemos
    às perguntas das crianças.
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    Como: "O leite é feito em uma fábrica?"
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    Vamos dizer: "Não, ele vem das vacas",
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    e falaremos sobre o fazendeiro,
    e como o leite chega no mercado.
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    Não diremos:
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    "Não, o leite não é feito em uma fábrica".
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    Então, algo estranho aconteceu aqui,
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    e é claro que as crianças notaram.
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    Um garoto disse:
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    "Fiz várias perguntas aos meus pais,
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    mas eles agiram de forma estranha.
  • 9:33 - 9:37
    Então, eu tenho uma amiga na escola
    que foi feita da mesma maneira que eu.
  • 9:37 - 9:40
    Quando eu tenho uma pergunta
    eu apenas pergunto a ela".
  • 9:42 - 9:43
    Rapaz inteligente.
  • 9:44 - 9:45
    Problema resolvido.
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    Mas seus pais não notaram,
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    e, certamente, não era
    o que eles tinham em mente,
  • 9:51 - 9:53
    nem o que o conselheiro tinha em mente,
  • 9:53 - 9:59
    quando diziam o quão importante é estar
    em uma família aberta a conversas.
  • 10:00 - 10:03
    E esse é o grande problema com conselhos.
  • 10:03 - 10:06
    Quando oferecemos pílulas,
    coletamos evidências primeiro.
  • 10:07 - 10:08
    Fazemos testes
  • 10:08 - 10:09
    e estudos complementares.
  • 10:09 - 10:13
    Queremos saber os efeitos da pílula,
  • 10:13 - 10:16
    e como ela afeta a vida das pessoas.
  • 10:16 - 10:17
    E os conselhos?
  • 10:19 - 10:21
    Isso não é suficiente para um conselho,
  • 10:21 - 10:25
    ou para os profissionais darem
    um conselho teoricamente confiável
  • 10:25 - 10:27
    ou bem-intencionado.
  • 10:27 - 10:31
    Deveria ser um conselho
    baseado em uma evidência,
  • 10:31 - 10:35
    evidência de que ele realmente
    melhore a vida dos pacientes.
  • 10:36 - 10:41
    Então a filósofa dentro de mim
    gostaria de oferecer-lhes um paradoxo.
  • 10:42 - 10:46
    Eu os aconselho a parar
    de seguir conselhos.
  • 10:48 - 10:49
    Eu sei...
  • 10:50 - 10:53
    (Aplausos)
  • 10:55 - 10:57
    Não vou parar por aqui,
    com o que deu de errado.
  • 10:57 - 11:01
    Eu não estaria fazendo justiça ao carinho
    que encontramos nessas famílias.
  • 11:03 - 11:06
    Lembram-se dos livros
    e da viagem até a fazenda?
  • 11:06 - 11:10
    Quando pais fazem coisas
    que dão certo para eles,
  • 11:10 - 11:11
    eles fazem coisas brilhantes.
  • 11:12 - 11:16
    Quero que vocês se lembrem,
    como membros de famílias,
  • 11:16 - 11:19
    não importa o formato ou forma,
  • 11:19 - 11:24
    que as famílias precisam
    de relações afetuosas.
  • 11:25 - 11:29
    E não precisamos ser
    profissionais para criá-las.
  • 11:30 - 11:32
    A maioria de nós consegue,
  • 11:33 - 11:35
    apesar de ser trabalhoso,
  • 11:35 - 11:38
    e, de tempos em tempos,
    alguns conselhos ajudariam.
  • 11:39 - 11:40
    Neste caso,
  • 11:41 - 11:43
    lembrem-se de três coisas.
  • 11:44 - 11:47
    Trabalhe com conselhos
    que funcionem com sua família.
  • 11:48 - 11:54
    Lembre-se, você é o especialista,
    pois você convive com sua família.
  • 11:55 - 11:56
    E finalmente,
  • 11:56 - 12:00
    acredite em suas habilidades
    e sua criatividade,
  • 12:01 - 12:05
    pois você consegue
    fazer isso por conta própria.
  • 12:05 - 12:07
    Obrigada.
  • 12:07 - 12:09
    (Aplausos)
Title:
As crianças consideram doadores de esperma como parte de sua família?
Speaker:
Verlee Provoost
Description:

Como definimos um pai, uma mãe, ou uma família? A bioeticista, Veerle Provoost, explora essas questões no contexto de famílias não tradicionais, que foram reunidas por adoção, segundos casamentos, mães de aluguel e doadores de esperma. Nesta palestra, ela compartilha relatos de pais e crianças que criaram suas próprias histórias.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
12:26

Portuguese, Brazilian subtitles

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