O que os nossos "designs" revelam sobre nós | Sebastian Deterding | TEDxHogeschoolUtrecht
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0:01 - 0:03Olá a todos.
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0:04 - 0:07Vou começar por fazer
uma pergunta muito simples. -
0:07 - 0:09É a seguinte:
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0:09 - 0:13Quem quer criar um produto
que seja cativante e envolvente -
0:13 - 0:15como, por exemplo,
o Facebook ou o Twitter? -
0:15 - 0:17Quem quiser, levante a mão.
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0:18 - 0:20Uma coisa tão cativante
e envolvente como o Twitter. -
0:20 - 0:22Mantenham as mãos no ar.
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0:23 - 0:25Quem mantém a mão no ar,
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0:25 - 0:27continue com a mão no ar
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0:27 - 0:30se sente que gasta mais tempo
do que devia -
0:30 - 0:33em "sites" como o Facebook ou o Twitter,
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0:33 - 0:35um tempo que seria mais bem gasto
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0:35 - 0:39com amigos ou com os cônjuges
ou a fazer coisas de que gostam. -
0:40 - 0:42Ok. Os que ainda têm a mão no ar,
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0:42 - 0:44conversem depois do intervalo.
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0:44 - 0:46(Risos)
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0:46 - 0:48Porque é que eu estou
a fazer esta pergunta? -
0:48 - 0:53Estou a fazê-la, porque hoje
fala-se de persuasão moral, -
0:53 - 0:57do que é moral e imoral em tentar
alterar os comportamentos das pessoas -
0:57 - 0:59usando a tecnologia
e usando o "design". -
0:59 - 1:01Não sei do que é que estão à espera
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1:01 - 1:03mas, quando me pus a pensar
neste problema, -
1:03 - 1:07depressa percebi que não consigo
dar-vos respostas. -
1:07 - 1:10Não vos consigo dizer
o que é moral ou imoral, -
1:10 - 1:13porque vivemos numa sociedade pluralista.
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1:13 - 1:17Os meus valores podem ser
radicalmente diferentes dos vossos, -
1:17 - 1:21o que significa que aquilo que considero
moral ou imoral, com base neles, -
1:21 - 1:24não será necessariamente aquilo
que vocês considerarão moral ou imoral. -
1:24 - 1:27Mas também percebi
que há uma coisa que vos posso dar: -
1:28 - 1:30aquilo que este sujeito
aqui atrás, deu ao mundo... -
1:30 - 1:31Sócrates.
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1:31 - 1:33Ou seja, perguntas.
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1:33 - 1:35O que eu posso fazer
e gostaria de fazer convosco -
1:35 - 1:38é dar-vos, tal como
aquela pergunta inicial, -
1:38 - 1:42um conjunto de perguntas
para vocês imaginarem, -
1:42 - 1:46camada a camada,
como quem descasca uma cebola, -
1:46 - 1:51chegarem ao âmago daquilo que acreditam
ser persuasão moral ou imoral. -
1:51 - 1:54Vou fazer isso com alguns exemplos,
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1:54 - 1:58como disse, alguns exemplos
de tecnologias -
1:58 - 2:03em que as pessoas usaram elementos
para levarem as pessoas a fazer coisas. -
2:04 - 2:07Este é o primeiro exemplo
que nos leva à primeira pergunta. -
2:07 - 2:09É um dos meus exemplos preferidos
de ludificação. -
2:09 - 2:11O "Health Month" de Buster Benson.
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2:11 - 2:15É uma aplicação simples
em que nós estabelecemos normas de saúde -
2:15 - 2:16para um mês.
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2:16 - 2:19Normas como, "quero fazer exercício
seis vezes por semana". -
2:19 - 2:21Ou "não quero beber álcool".
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2:21 - 2:24Todas as manhãs, recebemos um "email"
que nos pergunta: -
2:24 - 2:26"Cumpriste as tuas normas, ou não?"
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2:26 - 2:28Respondemos sim ou não,
às várias perguntas. -
2:28 - 2:31Depois, na plataforma,
vemos como nos comportámos. -
2:31 - 2:34Podemos ganhar pontos e emblemas por isso.
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2:34 - 2:36Essas informações são partilhadas
com os nossos amigos -
2:36 - 2:39e, se não cumprimos uma norma,
perdemos um ponto de saúde, -
2:39 - 2:42mas os amigos podem participar
e curar-nos. -
2:42 - 2:45Um belo exemplo, e creio
que a maioria concordará comigo -
2:45 - 2:48que tem o ar de ser
uma persuasão ética, não é? -
2:49 - 2:51Tem o ar de uma coisa
que será bom fazer. -
2:51 - 2:53Este é outro exemplo.
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2:53 - 2:56Muito parecido, quanto ao tipo
de pensamento por detrás dele, -
2:56 - 2:58mas um exemplo muito diferente
— Lockers. -
2:58 - 3:01É uma plataforma social
em que as pessoas criam um perfil. -
3:01 - 3:05Nesse perfil, o principal é colocar
imagens de produtos, -
3:05 - 3:07imagens de produtos de que gostamos.
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3:07 - 3:09Interligamos os perfis com os dos amigos.
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3:09 - 3:12Sempre que eu clicar
num desses produtos na vossa página, -
3:12 - 3:14vocês recebem pontos.
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3:14 - 3:17Sempre que vocês clicarem
num produto da minha página, -
3:17 - 3:18eu recebo pontos.
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3:18 - 3:21Se comprarem qualquer coisa,
eu recebo montes de pontos. -
3:21 - 3:23Depois, podemos trocar esses pontos
-
3:24 - 3:26em percentagens desses produtos.
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3:27 - 3:28Não sei o que vocês pensam,
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3:28 - 3:31mas, pessoalmente,
sinto que o Health Month -
3:31 - 3:34é uma coisa que me parece
muito benévola -
3:34 - 3:37uma boa peça, uma peça moral
de tecnologia, -
3:37 - 3:41enquanto há qualquer coisa no Locker
que me faz sentir um pouco enjoado. -
3:42 - 3:45Ao pensar porque é que
isso me faz sentir enjoado, -
3:45 - 3:47neste caso, e não no outro,
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3:47 - 3:49obtive uma resposta muito simples.
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3:49 - 3:51É a intenção por detrás disso.
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3:51 - 3:55Num caso, a intenção é: "Este 'site'
quer que eu seja mais saudável, -
3:55 - 3:58"e o outro 'site'
quer que eu compre mais". -
3:58 - 4:01Portanto, a princípio, há uma pergunta
muito simples, muito óbvia, -
4:01 - 4:02que eu vos queria fazer:
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4:02 - 4:05Quais são as nossas intenções
quando concebemos qualquer coisa? -
4:05 - 4:08Obviamente, as intenções não são tudo,
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4:09 - 4:12por isso, eis outro exemplo
de uma destas aplicações. -
4:12 - 4:15Neste momento, há uns quantos
destes painéis de instrumentos Eco, -
4:15 - 4:17painéis de instrumentos de automóveis,
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4:17 - 4:20que nos motivam a obtermos
o melhor rendimento de combustível. -
4:20 - 4:22Este é o MyLeaf da Nissan,
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4:22 - 4:26em que o nosso comportamento de condutor
é comparado com o comportamento -
4:26 - 4:27de outras pessoas.
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4:27 - 4:30Competimos com quem conduz
com o melhor rendimento de combustível -
4:30 - 4:33Estas coisas são muito eficazes,
mas são tão eficazes, -
4:33 - 4:36que motivam as pessoas
a ter uma condução pouco segura, -
4:36 - 4:38como não parar num sinal vermelho,
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4:38 - 4:41porque, dessa forma, terão que desligar
e voltar a ligar o motor, -
4:41 - 4:44e isso consumirá algum combustível.
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4:45 - 4:49Apesar de ser uma aplicação
com muito boas intenções, -
4:49 - 4:52obviamente tinha um efeito lateral.
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4:52 - 4:54Este é outro exemplo
para um desses efeitos laterais. -
4:54 - 4:59Commendable: um "site" que permite
que os pais deem emblemas aos filhos -
4:59 - 5:02por fazerem as coisas
que os pais querem que os filhos façam, -
5:02 - 5:03como atar os sapatos.
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5:03 - 5:05A princípio, isto soa bem,
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5:05 - 5:08muito benévolo, cheio de boas intenções.
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5:08 - 5:12Mas acontece que, se investigarmos
o quadro mental das pessoas, -
5:12 - 5:13preocupadas com os resultados,
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5:13 - 5:16preocupadas com o reconhecimento público,
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5:16 - 5:19preocupadas com este tipo
de prémios de reconhecimento -
5:19 - 5:21não será propriamente grande ajuda
-
5:21 - 5:23para o bem-estar psicológico
a longo-prazo. -
5:23 - 5:26É melhor preocuparmo-nos
em aprender qualquer coisa. -
5:26 - 5:28É melhor quando nos preocupamos connosco
-
5:28 - 5:31do que como nos apresentamos
diante de outras pessoas. -
5:31 - 5:35Este tipo de instrumento de motivação
que é usado, -
5:35 - 5:38por si só, tem um efeito lateral
a longo-prazo, -
5:38 - 5:40porque, sempre que utilizamos
uma tecnologia, -
5:40 - 5:43que usa qualquer coisa
como reconhecimento ou estatuto público, -
5:43 - 5:46estamos possivelmente
a interiorizar isso -
5:46 - 5:49como uma coisa boa e normal
com que nos preocuparmos. -
5:49 - 5:52Dessa forma, poderá ter
um efeito prejudicial -
5:52 - 5:56no bem-estar psicológico a longo-prazo
de nós mesmos, enquanto cultura. -
5:56 - 5:58Assim, há uma segunda pergunta,
muito óbvia. -
5:58 - 6:01Quais são os efeitos do que fazemos,
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6:01 - 6:05os efeitos que vamos sentindo,
com o dispositivo, como menos combustível, -
6:05 - 6:08assim como os efeitos
das ferramentas que estamos a usar -
6:08 - 6:10para levar as pessoas a fazer coisas?
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6:10 - 6:11Reconhecimento público?
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6:11 - 6:14É só isso... um efeito de intenções?
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6:14 - 6:17Há algumas tecnologias
que, obviamente, combinam as duas coisas. -
6:17 - 6:20Os bons efeitos a longo-prazo
e a curto-prazo -
6:20 - 6:25e uma intenção positiva,
como o "Freedom" de Fred Stutzman, -
6:25 - 6:27em que o objetivo da aplicação é...
-
6:27 - 6:31Habitualmente, somos tão bombardeados
com pedidos constantes de outras pessoas -
6:31 - 6:32com este dispositivo,
-
6:32 - 6:35que fechamos a ligação à Internet
no nosso PC -
6:35 - 6:37durante um certo tempo pré-definido,
-
6:37 - 6:39para conseguirmos trabalhar um pouco.
-
6:40 - 6:43Penso que a maioria concordará
que é uma coisa com boas intenções -
6:43 - 6:45e também tem boas consequências.
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6:45 - 6:47Nas palavras de Michel Foucault,
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6:47 - 6:49é uma "tecnologia do ego".
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6:49 - 6:52É uma tecnologia que dá poder ao indivíduo
-
6:52 - 6:54para determinar o curso da sua vida,
-
6:54 - 6:55para se modelar.
-
6:56 - 6:59Mas o problema,
conforme Foucault faz notar, -
6:59 - 7:01é que toda a tecnologia do ego
-
7:01 - 7:05tem uma tecnologia de domínio
no seu lado negativo. -
7:05 - 7:09Como vemos hoje,
nas modernas democracias liberais, -
7:09 - 7:14a sociedade, o estado, não só nos permite
determinarmo-nos a nós mesmos, -
7:14 - 7:15a modelarmo-nos,
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7:15 - 7:17como assim o exige.
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7:17 - 7:19Exige que nos otimizemos,
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7:19 - 7:21que nos controlemos,
-
7:21 - 7:24que estejamos sempre
a autogerirmo-nos, -
7:24 - 7:28porque é a única forma
de uma sociedade liberal funcionar. -
7:28 - 7:29De certa forma,
-
7:29 - 7:32o tipo de dispositivos
como o "Freedom" de Fred Stutzman, -
7:32 - 7:36ou o "Health Month" de Buster Benson,
são tecnologias de domínio, -
7:36 - 7:38porque querem que nós sejamos
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7:38 - 7:41(Voz de robô) mais adaptados,
mais felizes, mais produtivos, -
7:41 - 7:44mais confortáveis, que não bebamos demais,
-
7:44 - 7:48que façamos exercício no ginásio
três vezes por semana, -
7:48 - 7:52que nos demos melhor com os nossos
sócios ou empregados da altura. -
7:52 - 7:54À vontade.
Comendo bem. -
7:54 - 7:57Sem jantares de micro-ondas
e saturados de gorduras. -
7:57 - 8:02Um condutor paciente,
melhor condutor, um carro mais seguro. -
8:02 - 8:05que durma bem, sem pesadelos.
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8:06 - 8:11SD: Estas tecnologias querem
que nós continuemos no jogo -
8:11 - 8:13que a sociedade concebeu para nós.
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8:13 - 8:16Querem que nos encaixemos
cada vez melhor. -
8:16 - 8:19Querem que nós nos otimizemos
para nos encaixarmos. -
8:19 - 8:22Não estou a dizer que é
propriamente uma coisa má. -
8:23 - 8:27Mas penso que este exemplo
aponta-nos uma perceção geral -
8:27 - 8:31que é: qualquer que seja a tecnologia
ou "design" para que olhemos, -
8:31 - 8:35mesmo uma coisa que consideramos
bem-intencionada, -
8:36 - 8:39e tão boa nos seus efeitos
como o "Freedom" de Stutzman, -
8:39 - 8:42tem sempre incorporados
determinados valores. -
8:42 - 8:44Podemos pôr em causa esses valores.
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8:44 - 8:45Podemos perguntar:
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8:45 - 8:49Será uma coisa boa que estejamos sempre
a otimizarmo-nos, -
8:49 - 8:51para nos encaixarmos melhor
nesta sociedade? -
8:51 - 8:53Ou, para vos dar outro exemplo,
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8:53 - 8:56aquele que apresentei inicialmente:
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8:56 - 8:58Que tal um pedaço
de tecnologia persuasiva -
8:58 - 9:02que convença as muçulmanas
a usar os seus véus? -
9:02 - 9:04Será uma tecnologia boa ou má
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9:04 - 9:07nas suas intenções ou nos seus efeitos?
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9:07 - 9:11Basicamente, isso depende
do tipo de valores que tivermos -
9:11 - 9:14para fazer este tipo de julgamento.
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9:14 - 9:15Então, uma terceira pergunta:
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9:15 - 9:17Que valores pensamos que usamos?
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9:17 - 9:19E, por falar de valores,
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9:19 - 9:22reparei que, na análise
da persuasão moral "online" -
9:22 - 9:24e quando falo com pessoas,
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9:24 - 9:27mais frequentemente do que não,
há um preconceito estranho. -
9:28 - 9:30Esse preconceito é que perguntamos:
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9:31 - 9:34Isto ou aquilo "ainda" é ético?
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9:34 - 9:36"Ainda" é aceitável?
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9:37 - 9:39Perguntamos coisas como:
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9:39 - 9:41"Ainda" é aceitável
aquele formulário Oxfam de doação -
9:41 - 9:44em que, por defeito, se estabelece
uma doação mensal, -
9:44 - 9:46e as pessoas,
talvez sem terem essa intenção, -
9:46 - 9:50são encorajadas ou empurradas
para fazer uma doação regular -
9:50 - 9:52em vez de uma doação única,
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9:52 - 9:55isso "ainda" é aceitável, "ainda" é ético?
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9:55 - 9:57Andamos a pescar em águas turvas.
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9:57 - 9:59Com efeito, esta pergunta,
" 'Ainda' é ético?" -
9:59 - 10:01é apenas uma das formas
de olhar para a ética. -
10:01 - 10:06Porque, se olharmos para o início
da ética na cultura ocidental, -
10:06 - 10:10vemos uma ideia muito diferente
do que a ética também pode ser. -
10:10 - 10:14Para Aristóteles, por exemplo,
não se tratava da pergunta -
10:14 - 10:16"Isto ainda é bom, ou é mau?"
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10:16 - 10:20A ética tratava da questão
de como viver bem a vida. -
10:20 - 10:22Ele colocou isso na palavra "arête",
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10:22 - 10:25que nós traduzimos do latim por "virtude",
-
10:25 - 10:27mas que, na realidade,
significa "excelência". -
10:27 - 10:33Significa viver com o potencial total
de um ser humano. -
10:33 - 10:35Penso que esta é uma ideia
-
10:35 - 10:39que Paul Richard Buchanan transmitiu
brilhantemente num ensaio recente, -
10:39 - 10:41em que disse:
"Os produtos são argumentos vivos -
10:41 - 10:43"sobre como devemos viver a nossa vida".
-
10:43 - 10:46Os nossos "designs" não são éticos
nem deixam de o ser, -
10:46 - 10:50lá por usarem meios de persuasão
éticos ou pouco éticos. -
10:51 - 10:52Têm um componente moral
-
10:52 - 10:57no tipo de visão
e na aspiração de uma vida boa -
10:57 - 10:58que nos apresentam.
-
10:58 - 11:01Se olharmos para o ambiente
concebido, à nossa volta, -
11:01 - 11:04com este tipo de lentes
e perguntarmos: -
11:04 - 11:06"Qual é a visão de uma vida boa
-
11:06 - 11:09"que os nossos produtos, o nosso 'design'
nos apresentam?" -
11:09 - 11:11sentiremos calafrios,
-
11:11 - 11:13por causa de quão pouco
esperamos uns dos outros, -
11:13 - 11:17de quão pouco esperamos
da nossa vida -
11:17 - 11:19e de como parece uma vida boa.
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11:20 - 11:23Há uma quarta pergunta
com que vos queria deixar: -
11:23 - 11:28Que visão de uma vida boa
transmitem os nossos "designs"? -
11:28 - 11:30Por falar de "design",
-
11:30 - 11:34hão de reparar que já alarguei a discussão
-
11:34 - 11:39porque já não é só de tecnologia
persuasiva que estamos a falar -
11:39 - 11:43é de qualquer peça de "design"
que pomos no mundo. -
11:43 - 11:44Não sei se vocês sabem,
-
11:44 - 11:48o grande investigador e comunicador
Paul Watzlawick que, nos anos 60, -
11:48 - 11:50afirmou que não podemos
deixar de comunicar. -
11:50 - 11:53Mesmo que optemos por estar calados,
que escolhamos o silêncio, -
11:53 - 11:56comunicamos qualquer coisa
ao escolhermos estar calados. -
11:56 - 11:59Do mesmo modo
que não podemos não comunicar, -
11:59 - 12:00não podemos deixar de persuadir,
-
12:00 - 12:03façamos o que façamos
ou nos abstenhamos de fazer, -
12:03 - 12:07tudo o que pusermos no mundo,
cada peça de "design", -
12:07 - 12:09tem um componente persuasivo.
-
12:09 - 12:11Tenta afetar as pessoas.
-
12:11 - 12:14Coloca uma certa visão de uma vida boa
em frente de nós. -
12:15 - 12:20É o que diz Peter-Paul Verbeek,
o filósofo holandês da tecnologia: -
12:20 - 12:24"Quer nós, os "designers"
tencionemos ou não, -
12:24 - 12:26"materializamos a moral".
-
12:26 - 12:29Tornamos determinadas coisas
mais difíceis e mais fáceis de fazer. -
12:29 - 12:31Organizamos a existência das pessoas.
-
12:31 - 12:33Colocamos uma determinada visão
-
12:33 - 12:36do que é bom ou mau ou normal ou habitual
-
12:36 - 12:38em frente das pessoas,
-
12:38 - 12:40com tudo o que pomos
cá fora no mundo. -
12:40 - 12:43Mesmo uma coisa tão inócua
como um conjunto de cadeiras escolares -
12:43 - 12:46como o conjunto de cadeiras
em que estão sentados -
12:46 - 12:48e eu estou sentado à vossa frente,
-
12:48 - 12:50é uma tecnologia persuasiva,
-
12:50 - 12:55porque apresenta e materializa
uma certa visão de uma vida boa. -
12:55 - 12:58Uma vida boa em que ensinar,
aprender e escutar -
12:58 - 13:01significa uma pessoa a ensinar
e as outras a escutar; -
13:01 - 13:05significa que a aprendizagem
se faz sentados, -
13:05 - 13:07significa que aprendemos por nós mesmos,
-
13:07 - 13:09significa que não devemos
alterar estas regras, -
13:09 - 13:12porque as cadeiras estão presas ao chão.
-
13:13 - 13:16E mesmo uma coisa tão inócua
com uma cadeira de "design" simples -
13:16 - 13:17como esta de Arne Jacobsen,
-
13:17 - 13:19é uma tecnologia persuasiva,
-
13:19 - 13:22porque, de novo, comunica
uma ideia de uma vida boa, -
13:23 - 13:28uma vida boa que nós,
enquanto "designers", aceitamos, dizendo: -
13:28 - 13:32"Numa vida boa, os bens são produzidos
de forma sustentável ou insustentável -
13:32 - 13:33"como esta cadeira.
-
13:33 - 13:36"Os trabalhadores são tratados
tão bem ou tão mal -
13:36 - 13:38"como foram tratados
os que construíram esta cadeira". -
13:38 - 13:41Uma vida boa é uma vida
em que o "design" é importante -
13:41 - 13:43porque alguém despendeu
tempo e dinheiro, -
13:43 - 13:45por este tipo de cadeira
bem concebida, -
13:45 - 13:47em que a tradição é importante;
-
13:47 - 13:50porque é um clássico tradicional
e alguém se preocupou com isso; -
13:50 - 13:53e em que há qualquer coisa
como um consumo conspícuo, -
13:53 - 13:56em que é correto e normal
gastar uma soma extravagante de dinheiro -
13:56 - 13:58nesta cadeira,
-
13:58 - 14:01para indicar às outras pessoas
qual é o nosso estatuto social. -
14:02 - 14:05São estes tipos de camadas,
os tipos de perguntas -
14:06 - 14:07que eu queria fazer-vos hoje:
-
14:07 - 14:10Quais são as intenções
que vocês transportam -
14:10 - 14:12quando estão a conceber qualquer coisa?
-
14:12 - 14:15Quais são os efeitos, intencionais ou não,
que estão a ter? -
14:15 - 14:18Quais são os valores
que utilizam para os avaliar? -
14:18 - 14:22Quais são as virtudes, as aspirações
que estão a exprimir nisso? -
14:23 - 14:24Como é que isso se aplica,
-
14:25 - 14:27não apenas à tecnologia persuasiva,
-
14:27 - 14:29mas a tudo o que concebem?
-
14:29 - 14:31Ficamos por aí?
-
14:31 - 14:33Penso que não.
-
14:33 - 14:37Penso que todas essas coisas
acabam por refletir -
14:37 - 14:39o âmago de tudo isto
-
14:39 - 14:42e isto não é mais do que a própria vida.
-
14:42 - 14:45Se a pergunta sobre
o que é uma vida boa -
14:45 - 14:47reflete tudo aquilo que concebemos,
-
14:47 - 14:50porque é que não suspendemos o "design"
e nos interrogamos: -
14:50 - 14:52"Como é que isso se aplica na nossa vida?"
-
14:52 - 14:54"Porque é que o candeeiro, ou a casa
-
14:54 - 14:57"devem ser um objeto de arte
e a nossa vida não?" -
14:57 - 14:58como Michel Foucault disse.
-
14:58 - 15:02Só para vos dar um exemplo
prático de Buster Benson, -
15:02 - 15:04que referi no início.
-
15:04 - 15:07Este é Buster a montar
uma máquina de flexões -
15:07 - 15:09no gabinete da sua nova "startup"
Habit Labs, -
15:09 - 15:13onde estão a tentar criar
outras aplicações como o "Health Month" -
15:13 - 15:14para as pessoas.
-
15:14 - 15:16Porque é que ele está
a construir uma coisa destas? -
15:16 - 15:18Este é o conjunto de axiomas
-
15:18 - 15:23que a Habit Labs,
a "startup" de Buster, adotou -
15:23 - 15:26sobre como queriam trabalhar
juntos, enquanto equipa, -
15:26 - 15:28quando estivessem a criar
estas aplicações. -
15:28 - 15:30Um conjunto de princípios morais
que estabeleceram -
15:30 - 15:32para trabalharem em conjunto.
-
15:32 - 15:33Um deles é:
-
15:33 - 15:36"Cuidamos da nossa saúde
e gerimos o nosso cansaço". -
15:36 - 15:41Porque, em última análise,
como poderemos interrogar-nos -
15:41 - 15:45e como poderemos encontrar resposta
sobre qual a visão de uma vida boa -
15:45 - 15:48queremos transmitir e criar
com os nossos "designs" -
15:48 - 15:50sem fazer esta pergunta:
-
15:50 - 15:54"Que visão de uma vida boa
queremos viver?" -
15:54 - 15:55E com isso,
-
15:56 - 15:57Obrigado.
-
15:57 - 16:00(Aplausos)
- Title:
- O que os nossos "designs" revelam sobre nós | Sebastian Deterding | TEDxHogeschoolUtrecht
- Description:
-
O que diz a nossa cadeira sobre qual é o nosso valor? O "designer" Sebastian Deterding mostra como os nossos conceitos de moral e a boa vida se reflete no "design" dos objetos à nossa volta.
Esta palestra foi feita num evento TEDx, usando o formato das Conferências TED, mas organizado de forma independente por uma comunidade local. Saiba mais em: http://ted.com/tedx
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 16:02