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O ano em que disse que sim a tudo

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    Há uns tempos, fiz uma experiência.
  • 0:05 - 0:08
    Durante um ano, ia dizer que sim
    a tudo o que me assustasse.
  • 0:09 - 0:12
    Tudo o que me deixasse nervosa,
    me tirasse da minha zona de conforto.
  • 0:12 - 0:14
    Forcei-me a dizer que sim.
  • 0:14 - 0:18
    Se queria falar em público?
    Não, mas sim.
  • 0:18 - 0:22
    Se queria aparecer em direto na TV?
    Não, mas sim.
  • 0:22 - 0:27
    Se queria tentar representar?
    Não, não, mas sim, sim, sim.
  • 0:27 - 0:30
    E aconteceu uma coisa estranha:
  • 0:30 - 0:34
    o próprio ato de fazer aquilo
    que me assustava anulou o medo,
  • 0:34 - 0:36
    deixou de ser assustador.
  • 0:36 - 0:40
    O meu medo de falar em público
    e a minha ansiedade social foram-se.
  • 0:41 - 0:44
    É incrível o que uma palavra
    consegue fazer.
  • 0:44 - 0:47
    O "sim" mudou a minha vida.
    O "sim" mudou-me.
  • 0:47 - 0:53
    Mas houve um "sim" em particular
    que afetou a minha vida profundamente,
  • 0:53 - 0:55
    como nunca imaginei.
  • 0:55 - 0:58
    Começou com uma pergunta
    da minha filha.
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    Tenho três filhas fantásticas,
    a Harper, a Beckett e a Emerson.
  • 1:02 - 1:05
    A Emerson é uma criança
    que chama "querida" a toda a gente,
  • 1:05 - 1:07
    como se fosse uma tia de Cascais.
  • 1:07 - 1:09
    (Risos)
  • 1:09 - 1:11
    "Querida, deite-me leite no copo."
  • 1:11 - 1:13
    (Risos)
  • 1:13 - 1:16
    Uma noite, a tia de Cascais
    pediu-me para brincar com ela,
  • 1:16 - 1:19
    quando estava de saída
    e eu disse que sim.
  • 1:19 - 1:23
    E esse "sim" foi o início de uma
    nova forma de vida para a minha família.
  • 1:23 - 1:25
    Prometi que, dali em diante,
  • 1:25 - 1:28
    sempre que uma das minhas filhas
    me pedisse para brincar,
  • 1:28 - 1:30
    independentemente do que estivesse
    a fazer ou onde fosse,
  • 1:30 - 1:34
    eu diria que sim, de todas as vezes.
  • 1:34 - 1:38
    Quase. Não sou perfeita,
    mas esforcei-me ao máximo por tentar.
  • 1:38 - 1:43
    E teve um efeito mágico em mim,
    nas minhas filhas, na nossa família.
  • 1:44 - 1:46
    Mas também teve
    um efeito secundário fantástico
  • 1:46 - 1:50
    — e só há pouco tempo
    é que percebi totalmente:
  • 1:50 - 1:54
    dizer que sim a brincar
    com as minhas filhas,
  • 1:54 - 1:56
    provavelmente,
    salvou a minha carreira.
  • 1:57 - 2:00
    Eu tenho o que muitos chamariam
    um trabalho de sonho.
  • 2:00 - 2:03
    Sou escritora, imagino.
    Ganho a vida a inventar coisas.
  • 2:03 - 2:05
    Um trabalho de sonho.
  • 2:05 - 2:07
    Não.
    Sou uma titã.
  • 2:07 - 2:09
    Trabalho de sonho.
  • 2:09 - 2:11
    Eu produzo televisão.
  • 2:11 - 2:14
    Eu faço televisão, muita televisão.
  • 2:14 - 2:16
    De uma forma ou de outra,
    esta temporada,
  • 2:16 - 2:20
    sou responsável por apresentar
    70 horas de televisão ao mundo.
  • 2:20 - 2:22
    Quatro programas televisivos,
    70 horas de televisão...
  • 2:22 - 2:23
    (Aplausos)
  • 2:23 - 2:26
    ...três ou quatro séries em produção.
  • 2:26 - 2:29
    Cada série gera centenas de empregos
    que não existiam antes.
  • 2:29 - 2:31
    O orçamento
    para um episódio de televisão
  • 2:31 - 2:35
    pode andar entre os três e os seis milhões
    de dólares, digamos cinco.
  • 2:35 - 2:37
    A cada nove dias sai um episódio novo
    das quatro séries.
  • 2:37 - 2:40
    A cada nove dias,
    são 20 milhões de dólares de televisão,
  • 2:40 - 2:43
    quatro programas televisivos,
    70 horas de televisão,
  • 2:43 - 2:46
    três ou quatro séries em produção,
    16 episódios permanentes:
  • 2:46 - 2:49
    24 episódios de "Anatomia de Grey",
    21 de "Scandal",
  • 2:49 - 2:52
    15 de "Como Defender um Assassino",
    10 de "The Catch", 70 horas de TV.
  • 2:52 - 2:55
    São 350 milhões de dólares
    por temporada.
  • 2:55 - 2:59
    Nos EUA, as minhas séries
    passam às quartas à noite.
  • 2:59 - 3:03
    No resto do mundo, são emitidas
    em 256 territórios, em 67 línguas,
  • 3:03 - 3:05
    para 30 milhões de espetadores.
  • 3:05 - 3:07
    O meu cérebro é global
  • 3:07 - 3:11
    e 45 dessas 70 horas de TV são séries
    que eu não só produzi, como criei.
  • 3:11 - 3:13
    Para além disso tudo,
  • 3:13 - 3:16
    tenho de arranjar tempo,
    tempo sossegado e criativo,
  • 3:16 - 3:20
    para juntar os meus fãs à volta
    da fogueira e contar as minhas histórias.
  • 3:20 - 3:25
    Quatro programas televisivos, 70 horas
    de TV, três ou quatro séries em produção,
  • 3:25 - 3:28
    350 milhões de dólares,
    fogueiras a arder pelo mundo inteiro.
  • 3:29 - 3:31
    Sabem quem mais faz isso?
  • 3:31 - 3:34
    Ninguém, por isso,
    como disse, sou uma titã.
  • 3:34 - 3:35
    Trabalho de sonho.
  • 3:35 - 3:36
    (Aplausos)
  • 3:36 - 3:39
    Não vos digo isto para vos impressionar.
  • 3:39 - 3:43
    Digo-o porque sei o que pensam
    quando ouvem a palavra "escritora".
  • 3:43 - 3:45
    Digo-o para que todos aqueles
    que trabalham no duro,
  • 3:45 - 3:51
    quer dirijam uma empresa, um país,
    uma sala de aula, uma loja ou um lar,
  • 3:51 - 3:54
    me levem a sério
    quando falo sobre trabalho.
  • 3:54 - 3:58
    Percebem que não estou em frente
    ao computador a imaginar o dia todo.
  • 3:58 - 4:00
    Ouçam-me quando digo
  • 4:00 - 4:04
    que um trabalho de sonho
    não se trata de sonhar.
  • 4:04 - 4:09
    É só trabalho, realidade,
    sangue, suor e nada de lágrimas.
  • 4:09 - 4:13
    Eu trabalho muito e adoro.
  • 4:14 - 4:16
    Quando me esforço no trabalho,
    quando me empenho,
  • 4:16 - 4:19
    não há nada como esse sentimento.
  • 4:19 - 4:22
    Para mim, o meu trabalho
    é sempre construir uma nação do zero.
  • 4:22 - 4:25
    É comandar as tropas,
    pintar uma tela.
  • 4:25 - 4:28
    É atingir os tons agudos,
    é correr uma maratona.
  • 4:28 - 4:29
    É ser a Beyoncé.
  • 4:29 - 4:32
    São essas coisas todas ao mesmo tempo.
  • 4:33 - 4:35
    Eu adoro trabalhar.
  • 4:35 - 4:38
    É criativo, mecânico,
    cansativo e estimulante,
  • 4:38 - 4:42
    hilariante, perturbador,
    rigoroso e maternal, cruel e exigente.
  • 4:42 - 4:45
    E o que o torna tão bom é o zumbido.
  • 4:46 - 4:49
    Há uma espécie de mudança dentro
    de mim quando o trabalho é bom.
  • 4:49 - 4:52
    Sinto um zumbido na cabeça,
    que vai crescendo e crescendo.
  • 4:52 - 4:57
    Esse zumbido parece uma estrada sem fim
    e podia percorrê-la para sempre.
  • 4:57 - 5:02
    Quando tento explicar esse zumbido,
    muitos creem que estou a falar da escrita.
  • 5:03 - 5:07
    Que a minha escrita me traz alegria.
    E não me interpretem mal, porque traz.
  • 5:07 - 5:09
    Mas o zumbido...
  • 5:10 - 5:12
    Só quando comecei a fazer televisão
  • 5:12 - 5:17
    — a trabalhar, a fazer,
    a construir, a criar e a colaborar —
  • 5:17 - 5:21
    é que descobri este zunzum,
    esta adrenalina, este zumbido.
  • 5:22 - 5:24
    O zumbido é mais do que escrever.
  • 5:24 - 5:27
    O zumbido é ação e atividade.
    O zumbido é uma droga.
  • 5:27 - 5:30
    O zumbido é música.
    O zumbido é ar e luz.
  • 5:30 - 5:33
    O zumbido é o murmúrio de Deus
    ao meu ouvido.
  • 5:34 - 5:39
    E quando se tem um zumbido assim,
    é inevitável tentar alcançar a excelência.
  • 5:39 - 5:44
    Esse sentimento — tentar alcançar
    a excelência, custe o que custar —
  • 5:44 - 5:46
    chama-se "zumbido".
  • 5:46 - 5:50
    Ou talvez se chame
    "trabalhador compulsivo".
  • 5:50 - 5:51
    (Risos)
  • 5:52 - 5:54
    Talvez se chame "genialidade".
  • 5:54 - 5:56
    Talvez se chame "ego".
  • 5:57 - 5:59
    Talvez seja só medo de falhar.
  • 6:00 - 6:01
    Não sei.
  • 6:01 - 6:07
    Só sei que não fui feita para falhar
    e que adoro o zumbido.
  • 6:08 - 6:10
    Só sei que quero dizer-vos
    que sou uma titã
  • 6:10 - 6:13
    e sei que não quero questioná-lo.
  • 6:13 - 6:15
    Mas eis a questão:
  • 6:15 - 6:17
    quanto mais sucesso tenho,
  • 6:17 - 6:21
    quantos mais episódios, séries,
    mais barreiras eu quebro,
  • 6:21 - 6:23
    mais trabalho há para fazer,
  • 6:23 - 6:26
    mais responsabilidades tenho,
    mais olhos postos em mim,
  • 6:26 - 6:29
    mais a história me observa,
    maiores são as expectativas.
  • 6:29 - 6:31
    Quanto mais me esforço
    por ser bem-sucedida,
  • 6:31 - 6:33
    mais preciso de trabalhar.
  • 6:34 - 6:37
    E o que disse eu sobre o trabalho?
    Adoro trabalhar, certo?
  • 6:38 - 6:41
    A nação que estou a construir,
    a maratona, as tropas, a tela,
  • 6:41 - 6:44
    o zumbido, o zumbido, o zumbido.
  • 6:44 - 6:46
    Eu gosto desse zumbido.
    Adoro esse zumbido.
  • 6:46 - 6:49
    Preciso desse zumbido.
    Sou esse zumbido.
  • 6:50 - 6:52
    Serei alguma coisa mais
    do que esse zumbido?
  • 6:53 - 6:55
    E, então, o zumbido parou.
  • 6:56 - 7:00
    Exausta, cansada, fatigada, esgotada.
  • 7:00 - 7:02
    O zumbido parou.
  • 7:03 - 7:06
    As minhas três filhas
    estão habituadas ao facto
  • 7:06 - 7:08
    de a mãe delas
    ser uma trabalhadora titã solteira.
  • 7:09 - 7:10
    A Harper diz às pessoas:
  • 7:10 - 7:13
    "A minha mãe não vai poder ir,
    mas pode falar com a minha ama."
  • 7:13 - 7:17
    E a Emerson diz: "Querida,
    quero ir para a Shondalândia."
  • 7:17 - 7:18
    (Risos)
  • 7:18 - 7:21
    São filhas de uma titã.
    São pequenas titãs.
  • 7:22 - 7:25
    Tinham 12 anos, 3 anos e 1 ano
    quando o zumbido parou.
  • 7:26 - 7:29
    O ruído do motor parou.
    Deixei de gostar de trabalhar.
  • 7:29 - 7:32
    Não conseguia reiniciar o motor.
    O zumbido não voltava.
  • 7:32 - 7:35
    O meu zumbido estava avariado.
  • 7:35 - 7:39
    Fazia as mesmas coisas de sempre,
    o mesmo trabalho de titã.
  • 7:39 - 7:42
    Trabalhava 15 horas por dia,
    o fim de semana todo,
  • 7:42 - 7:43
    sem arrependimentos nem rendições.
  • 7:43 - 7:45
    Um titã nunca dorme, nunca desiste.
  • 7:45 - 7:48
    Corações cheios, olhos límpidos,
    o que seja.
  • 7:48 - 7:50
    Mas não havia zumbido.
  • 7:51 - 7:53
    Dentro de mim reinava o silêncio.
  • 7:54 - 7:56
    Quatro programas televisivos,
    70 horas de TV,
  • 7:56 - 7:58
    três ou quatro séries em produção.
  • 7:58 - 8:02
    Quatro programas televisivos,
    70 horas de TV, três séries em produção...
  • 8:03 - 8:05
    Eu era a titã perfeita.
  • 8:05 - 8:08
    Era uma titã daquelas
    que se apresentam às mães.
  • 8:09 - 8:12
    As cores eram todas as mesmas
    e eu já não me divertia.
  • 8:13 - 8:14
    Era a minha vida.
  • 8:15 - 8:16
    Não fazia outra coisa.
  • 8:16 - 8:19
    Eu era o zumbido e o zumbido era eu.
  • 8:20 - 8:22
    O que fazer quando aquilo que fazemos,
  • 8:22 - 8:25
    o trabalho que amamos,
    começa a saber a poeira?
  • 8:26 - 8:28
    Sei que está alguém aí a pensar:
  • 8:28 - 8:30
    "Poupa-me, escritora titã idiota."
  • 8:30 - 8:32
    (Risos)
  • 8:32 - 8:34
    Mas vocês sabem.
  • 8:34 - 8:37
    Se criam, se trabalham,
    se gostam do que fazem
  • 8:37 - 8:41
    — dar aulas, trabalhar num banco,
    ser mãe, ser pintor, ser o Bill Gates —
  • 8:41 - 8:45
    se simplesmente gostam de outra pessoa
    e sentem o zumbido,
  • 8:45 - 8:46
    se conhecem o zumbido,
  • 8:46 - 8:50
    se sabem o que é o zumbido,
    se já estiveram no zumbido,
  • 8:50 - 8:54
    quando ele para, quem são vocês?
  • 8:55 - 8:56
    O que são?
  • 8:57 - 9:00
    O que sou eu? Ainda sou uma titã?
  • 9:01 - 9:06
    Se a melodia no meu coração deixa
    de tocar, posso sobreviver no silêncio?
  • 9:08 - 9:11
    Então, a minha tiazinha de Cascais
    faz-me uma pergunta.
  • 9:12 - 9:16
    Estou a dirigir-me para a porta,
    estou atrasada e ela diz:
  • 9:16 - 9:18
    "Mamã, vamos brincar?"
  • 9:19 - 9:22
    Estou prestes a dizer que não,
    quando me apercebo de duas coisas.
  • 9:22 - 9:25
    Primeira: tenho de dizer que sim a tudo.
  • 9:25 - 9:29
    Segunda: a minha tia de Cascais
    não me chamou "querida".
  • 9:30 - 9:32
    Já não chama "querida" a ninguém.
  • 9:33 - 9:36
    Quando é que isso aconteceu?
    Estou a falhar.
  • 9:36 - 9:40
    Sou uma titã a chorar a perda do meu
    zumbido e ela está a mudar a olhos vistos.
  • 9:40 - 9:44
    Então, ela diz:
    "Mamã, vamos brincar?"
  • 9:44 - 9:46
    E eu digo que sim.
  • 9:46 - 9:49
    Não é nada de especial.
  • 9:49 - 9:53
    Brincamos, as irmãs juntam-se a nós
    e rimo-nos muito.
  • 9:53 - 9:56
    Eu faço uma leitura teatral
    do livro "Everyone Poops".
  • 9:56 - 9:58
    Nada de anormal.
  • 9:58 - 9:59
    (Risos)
  • 9:59 - 10:04
    Contudo, é extraordinário,
    porque no meu pânico e na minha dor,
  • 10:04 - 10:06
    na privação do meu zumbido,
  • 10:06 - 10:08
    não tenho nada a fazer
    a não ser prestar atenção.
  • 10:09 - 10:12
    Concentro-me. Sossego.
  • 10:12 - 10:15
    A nação que estou a construir,
    a maratona, as tropas, a tela,
  • 10:15 - 10:18
    as notas agudas não existem.
  • 10:18 - 10:20
    Só existem dedos pegajosos,
  • 10:20 - 10:24
    beijos melados,
    vozes pequeninas e lápis de cera,
  • 10:24 - 10:26
    e aquela música sobre "deixar ir"
  • 10:26 - 10:28
    daquela miúda do Frozen
    — O Reino do Gelo.
  • 10:28 - 10:30
    (Risos)
  • 10:30 - 10:33
    É só paz e simplicidade.
  • 10:34 - 10:38
    Para mim, o ar é tão raro neste sítio,
    que mal consigo respirar.
  • 10:38 - 10:41
    Mal consigo acreditar
    que estou a respirar.
  • 10:41 - 10:44
    Brincar é o oposto de trabalhar.
  • 10:45 - 10:46
    E estou feliz.
  • 10:47 - 10:48
    Há algo em mim que se solta.
  • 10:48 - 10:53
    Abre-se uma porta na minha cabeça
    e entra um fluxo de energia.
  • 10:53 - 10:57
    Não é instantâneo, mas acontece.
  • 10:57 - 10:59
    Eu sinto-o.
  • 10:59 - 11:00
    O zumbido regressa.
  • 11:01 - 11:03
    Não totalmente, mal se ouve.
  • 11:03 - 11:06
    É fraquinho e tenho de estar
    muito quieta para o ouvir, mas está lá.
  • 11:06 - 11:09
    Não "o" zumbido, mas "um" zumbido.
  • 11:10 - 11:13
    E agora sinto que sei um segredo mágico.
  • 11:14 - 11:19
    Não nos entusiasmemos.
    É só amor, nada mais.
  • 11:20 - 11:23
    Não é magia, não é segredo. É só amor.
  • 11:24 - 11:26
    Algo de que nos esquecemos.
  • 11:27 - 11:30
    O zumbido do trabalho, o zumbido do titã,
  • 11:30 - 11:32
    é apenas um substituto.
  • 11:32 - 11:36
    Se tenho de vos perguntar quem sou,
    se tenho de vos dizer quem sou,
  • 11:36 - 11:39
    se me descrevo em termos de séries,
  • 11:39 - 11:43
    horas de televisão
    e da máquina global que é o meu cérebro,
  • 11:43 - 11:46
    esqueci-me do que é o verdadeiro zumbido.
  • 11:47 - 11:51
    O zumbido não é poder
    nem é apenas trabalho.
  • 11:51 - 11:53
    É felicidade.
  • 11:53 - 11:55
    O verdadeiro zumbido é amor.
  • 11:55 - 11:59
    O zumbido é a eletricidade
    que advém da excitação da vida.
  • 11:59 - 12:02
    O verdadeiro zumbido é confiança e paz.
  • 12:02 - 12:04
    O verdadeiro zumbido ignora
    o olhar da história,
  • 12:04 - 12:07
    as responsabilidades,
    as expectativas e a pressão.
  • 12:07 - 12:10
    O verdadeiro zumbido é único e original.
  • 12:10 - 12:15
    O verdadeiro zumbido é o murmúrio de Deus,
    mas talvez Deus estivesse errado.
  • 12:15 - 12:18
    Qual dos deuses me estava
    a dizer que eu era uma titã?
  • 12:19 - 12:20
    É só amor.
  • 12:21 - 12:24
    Precisamos todos
    de um pouco mais de amor,
  • 12:24 - 12:25
    de muito mais amor.
  • 12:26 - 12:29
    Sempre que a minha filha
    me pedir para brincar,
  • 12:29 - 12:31
    eu vou dizer que sim.
  • 12:31 - 12:33
    Estabeleci essa regra
    por um único motivo:
  • 12:33 - 12:37
    para me libertar da culpa
    associada ao trabalho compulsivo.
  • 12:37 - 12:40
    É uma lei, por isso,
    não tenho alternativa.
  • 12:40 - 12:43
    Não tenho alternativa,
    se quero sentir o zumbido.
  • 12:44 - 12:49
    Oxalá fosse assim tão fácil,
    mas não sou boa a brincar.
  • 12:49 - 12:51
    Não me agrada.
  • 12:52 - 12:57
    Não tenho tanto interesse nisso
    como tenho em trabalhar.
  • 12:57 - 13:01
    É incrivelmente humilhante
    encarar a verdade.
  • 13:01 - 13:02
    Não gosto de brincar.
  • 13:02 - 13:05
    Trabalho a toda a hora,
    porque gosto de trabalhar.
  • 13:05 - 13:09
    Gosto mais de trabalhar
    do que de estar em casa.
  • 13:10 - 13:14
    É incrivelmente difícil
    encarar esse facto.
  • 13:15 - 13:21
    Que tipo de pessoa gosta mais
    de trabalhar do que estar em casa?
  • 13:22 - 13:23
    Eu.
  • 13:24 - 13:27
    Convenhamos, eu digo que sou uma titã.
  • 13:27 - 13:29
    Tenho problemas.
  • 13:29 - 13:30
    (Risos)
  • 13:30 - 13:33
    E um desses problemas
    não é ser demasiado relaxada.
  • 13:33 - 13:35
    (Risos)
  • 13:35 - 13:39
    Corremos à volta do jardim,
    para cima e para baixo.
  • 13:40 - 13:42
    Fazemos festas de danças de 30 segundos.
  • 13:42 - 13:45
    Cantamos músicas. Jogamos à bola.
  • 13:45 - 13:47
    Faço bolhinhas de sabão
    e elas rebentam-nas.
  • 13:47 - 13:53
    Sinto-me tensa, delirante
    e confusa a maior parte do tempo.
  • 13:53 - 13:55
    Estou sempre a pensar no telemóvel.
  • 13:56 - 13:58
    Mas não faz mal.
  • 13:58 - 14:03
    As minhas pequeninas ensinam-me a viver
    e o zumbido do universo preenche-me.
  • 14:03 - 14:06
    Brinco mais e mais
    até começar a perguntar-me
  • 14:06 - 14:09
    porque parámos de brincar.
  • 14:09 - 14:11
    Vocês também o podem fazer,
  • 14:11 - 14:15
    dizer que sim sempre que
    a vossa filha vos pede para brincar.
  • 14:16 - 14:19
    Estão a pensar que sou uma estúpida
    com sapatos de diamante?
  • 14:19 - 14:21
    Têm razão, mas podem fazê-lo na mesma.
  • 14:21 - 14:23
    Têm tempo.
  • 14:23 - 14:27
    Sabem porquê? Porque não são
    a Rihanna nem um Marreta.
  • 14:27 - 14:29
    Os vossos filhos não vos acham
    assim tão interessantes.
  • 14:29 - 14:31
    (Risos)
  • 14:31 - 14:32
    Só precisam de 15 minutos.
  • 14:32 - 14:37
    As minhas filhas mais novas só querem
    brincar comigo durante cerca de 15 minutos
  • 14:37 - 14:39
    até descobrirem
    que querem fazer outra coisa.
  • 14:40 - 14:43
    São uns 15 minutos incríveis,
    mas são 15 minutos.
  • 14:43 - 14:47
    Se não for uma joaninha ou um doce,
    sou invisível passados 15 minutos.
  • 14:47 - 14:48
    (Risos)
  • 14:48 - 14:53
    E se conseguir fazer com que a minha filha
    de 13 anos fale comigo durante 15 minutos,
  • 14:53 - 14:54
    sou a Mãe do Ano.
  • 14:54 - 14:56
    (Risos)
  • 14:56 - 14:58
    Só precisam de 15 minutos.
  • 14:58 - 15:03
    Eu consigo despender 15 minutos
    de tempo ininterrupto no meu pior dia.
  • 15:03 - 15:05
    Ininterrupto é a chave.
  • 15:05 - 15:08
    Sem telemóvel, sem roupa
    para lavar, sem nada.
  • 15:08 - 15:10
    Têm uma vida agitada.
  • 15:10 - 15:14
    Têm de os obrigar a tomar banho,
    mas podem despender 15 minutos.
  • 15:14 - 15:17
    As minhas filhas são a minha felicidade,
    o meu mundo.
  • 15:17 - 15:19
    Mas os vossos filhos não têm de ser
  • 15:19 - 15:23
    o combustível que alimenta o zumbido,
    o sítio onde a vida nos sabe melhor.
  • 15:23 - 15:26
    Não se trata de brincarem
    com os vossos filhos,
  • 15:26 - 15:29
    mas de felicidade, de brincar, no geral.
  • 15:30 - 15:34
    Deem a vocês mesmos os 15 minutos.
    Descubram o que vos faz sentir bem.
  • 15:34 - 15:38
    Descubram-no e brinquem nesse cenário.
  • 15:39 - 15:43
    Não sou perfeita nisto.
    Falho tantas vezes como prospero,
  • 15:43 - 15:46
    ao visitar amigos, ao ler livros,
    ao olhar para o teto.
  • 15:47 - 15:50
    "Vamos brincar?" começa
    a tornar-se um código para me mimar
  • 15:50 - 15:54
    de formas que deixara de parte
    quando fiz a minha primeira série,
  • 15:54 - 15:57
    quando me tornei uma aspirante a titã,
  • 15:57 - 16:00
    quando comecei a competir
    comigo mesma de formas impensáveis.
  • 16:01 - 16:05
    Quinze minutos? Qual é o mal
    de dar a mim mesma atenção plena
  • 16:05 - 16:06
    durante 15 minutos?
  • 16:07 - 16:09
    Ao que parece, nenhum.
  • 16:09 - 16:13
    O próprio ato de não trabalhar
    possibilitou que o zumbido voltasse,
  • 16:13 - 16:17
    como se o motor do zumbido só pudesse
    reabastecer enquanto estivesse ausente.
  • 16:18 - 16:20
    O trabalho não funciona sem brincadeira.
  • 16:21 - 16:24
    Demora um bocadinho,
    mas, uns meses depois,
  • 16:25 - 16:26
    as comportas abrem,
  • 16:26 - 16:30
    há uma torrente
    e dou por mim no meu escritório,
  • 16:30 - 16:34
    com uma melodia desconhecida, cheia
    de onda dentro de mim e à minha volta,
  • 16:34 - 16:37
    que me inspira novas ideias.
  • 16:37 - 16:40
    A estrada do zumbido está à minha frente
    e posso percorrê-la sem fim.
  • 16:40 - 16:42
    Adoro trabalhar outra vez.
  • 16:42 - 16:46
    Agora, gosto daquele zumbido,
    mas não o adoro.
  • 16:46 - 16:47
    Não preciso dele.
  • 16:47 - 16:50
    Não sou esse zumbido.
    Esse zumbido não sou eu.
  • 16:50 - 16:52
    Deixou de ser.
  • 16:52 - 16:56
    Sou bolhinhas de sabão,
    dedos pegajosos e jantares com os amigos.
  • 16:56 - 16:57
    Sou esse zumbido.
  • 16:57 - 17:00
    O zumbido da vida.
    O zumbido do amor.
  • 17:00 - 17:04
    O zumbido do trabalho ainda faz
    parte de mim, mas já não é tudo.
  • 17:05 - 17:07
    Estou muito grata.
  • 17:07 - 17:09
    E estou-me nas tintas para ser uma titã,
  • 17:09 - 17:13
    porque nunca vi um titã
    a jogar ao Bom Barqueiro.
  • 17:14 - 17:18
    Eu disse que sim a menos trabalho e mais
    brincadeira e ainda controlo o meu mundo.
  • 17:18 - 17:21
    O meu cérebro ainda é global,
    a minha fogueira ainda arde.
  • 17:22 - 17:26
    Quanto mais brinco, mais feliz me sinto
    e mais felizes as minhas filhas ficam.
  • 17:26 - 17:29
    Quanto mais brinco,
    mais me sinto uma boa mãe.
  • 17:29 - 17:32
    Quanto mais brinco, mais liberto a mente.
  • 17:32 - 17:34
    Quanto mais brinco, melhor trabalho.
  • 17:34 - 17:36
    Quanto mais brinco,
    mais sinto o zumbido,
  • 17:36 - 17:39
    a nação que estou a construir,
    a maratona, as tropas, a tela,
  • 17:39 - 17:41
    as notas agudas,
    o zumbido, o zumbido,
  • 17:41 - 17:44
    o outro zumbido,
    o verdadeiro zumbido.
  • 17:44 - 17:45
    O zumbido da vida.
  • 17:45 - 17:50
    Quanto mais sinto esse zumbido,
    mais esta estranha, trémula, desprotegida,
  • 17:50 - 17:55
    estranha e nova pessoa
    que não é uma titã se sente igual a mim.
  • 17:55 - 17:58
    Quanto mais sinto esse zumbido,
    mais sei quem sou.
  • 17:59 - 18:02
    Sou escritora, invento coisas, imagino.
  • 18:02 - 18:05
    Essa parte do trabalho
    é que é viver o sonho.
  • 18:05 - 18:07
    É o sonho do trabalho.
  • 18:08 - 18:11
    Porque um trabalho de sonho
    deve ser um pouco sonhador.
  • 18:12 - 18:15
    Eu disse que sim a menos trabalho
    e mais brincadeira.
  • 18:16 - 18:18
    Os titãs não precisam de se candidatar.
  • 18:18 - 18:19
    Vamos brincar?
  • 18:20 - 18:21
    Obrigada.
  • 18:21 - 18:24
    (Aplausos)
Title:
O ano em que disse que sim a tudo
Speaker:
Shonda Rhimes
Description:

Shonda Rhimes, a titã por trás de "Anatomia de Grey", "Scandal" e "Como Defender um Assassino", é responsável por 70 horas de televisão por temporada e adora trabalhar. "Quando me esforço no trabalho, quando me empenho, não há nada como esse sentimento", diz ela. Ela tem um nome para este sentimento: o zumbido. O zumbido é uma droga, o zumbido é música, o zumbido é o murmúrio de Deus ao ouvido dela. Mas o que acontece quando ele para? Será ela algo mais do que o zumbido? Nesta palestra comovente, junte-se a Rhimes numa viagem pelo seu "ano do sim" e descubra como ela recuperou o seu zumbido.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
18:44

Portuguese subtitles

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