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E quando nos tornamos todos super-heróis? | Francisco Marques Teixeira | TEDxPorto

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    Quantos de vocês aqui presentes
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    quando eram pequeninos, tinham um sonho?
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    O sonho de poder voar,
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    o sonho de poder teletransportarem-se
    para um sítio remoto.
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    O sonho de poderem controlar a luz
    ou até um carro, com a própria mente.
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    Ou o sonho de poderem ler
    as mentes das outras pessoas.
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    Eu era um desses miúdos.
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    Era um "caixa-de-óculos"
    mas cheio de sonhos.
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    Eu tinha o sonho
    de ter poderes específicos
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    de poder ter capacidades
    extrassensoriais.
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    E, como qualquer miúdo, tinha um herói.
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    O meu herói era um super-herói
    chamado Professor Xavier.
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    O Professor Xavier sofria
    de esclerose múltipla e era tetraplégico.
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    Não conseguia mexer o corpo
    da cintura para cima.
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    Mas, contudo, tinha a grande capacidade
    de ler as mentes das pessoas.
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    Para além dessa capacidade,
    tinha uma missão.
  • 1:01 - 1:05
    Tinha a missão de criar uma escola
    para pessoas iguais a ele
  • 1:05 - 1:08
    onde pudesse juntá-las e ensiná-las
    a controlar esses poderes.
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    Como qualquer miúdo, tive que crescer
    e largar estes amigos imaginários
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    e seguir uma vida, dita normal.
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    Tirei o curso de Psicologia,
    formei-me em neurociências,
  • 1:18 - 1:20
    e fui trabalhar para um laboratório.
  • 1:20 - 1:23
    Não é que chego a este laboratório
    e encontro uma máquina
  • 1:23 - 1:26
    igualzinha à máquina
    que o Professor Xavier tinha?
  • 1:26 - 1:27
    Essa máquina tinha a capacidade
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    de amplificar as ondas
    cerebrais das pessoas
  • 1:31 - 1:35
    para o Professor Xavier poder encontrar
    mais pessoas iguais a ele
  • 1:35 - 1:38
    e poder trazê-las para a sua escola.
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    Neste laboratório aprendi coisas incríveis
    sobre a mente humana.
  • 1:42 - 1:45
    Palavras muito complexas,
    como neuropsicofisiologia,
  • 1:45 - 1:49
    neurociências, neurofarmacologia,
    neuroanatomia,
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    mas nenhum neuropoder.
  • 1:51 - 1:55
    Nada que eu aprendi lá
    me estava a dar a capacidade
  • 1:55 - 1:58
    de eu utilizar a tecnologia
    para dar poderes às pessoas
  • 1:58 - 2:00
    que mais necessitavam.
  • 2:00 - 2:02
    Então, saí do laboratório,
  • 2:02 - 2:06
    e com o meu grande amigo Horácio
    criei o projeto Mu[Arts].
  • 2:06 - 2:09
    Mu é uma onda cerebral
    que só é produzida
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    quando uma pessoa cria
    uma ligação empática com outra pessoa.
  • 2:12 - 2:14
    Eu estou aqui a falar convosco
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    e estou a criar uma ressonância emocional
    do que eu estou a sentir em vocês.
  • 2:17 - 2:20
    Vocês estão a criar
    e a produzir a onda Mu
  • 2:20 - 2:23
    e eu também estou a criar
    e a produzir a onda Mu.
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    Não será isto o início da telepatia?
  • 2:26 - 2:32
    Com esta tecnologia, isso já é possível.
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    Com esta tecnologia, nós já conseguimos
    medir as intenções das pessoas.
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    E com esta tecnologia,
    é quando a magia começa.
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    (Vídeo)
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    Para a esquerda, está bem?
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    Para a esquerda.
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    Para a esquerda.
  • 3:39 - 3:40
    Calma, calma, calma.
  • 3:51 - 3:54
    (Aplausos)
  • 3:54 - 3:55
    Obrigado.
  • 3:58 - 4:00
    Para conseguirmos saber
    o Horácio estava a pensar
  • 4:00 - 4:01
    em tempo real
  • 4:01 - 4:03
    temos de desvendar os enigmas do cérebro.
  • 4:03 - 4:05
    Para isso, passamos por três fases.
  • 4:05 - 4:09
    A primeira é avaliar
    o que é que o Horácio está a pensar.
  • 4:09 - 4:13
    Utilizamos uma técnica chamada
    eletroencefalograma quantitativo
  • 4:13 - 4:16
    que nos diz quando é que o Horácio
    está a pensar "esquerda".
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    Não é pensamento de esquerda
    ou pensamento de direita.
  • 4:19 - 4:22
    É pensar: "Quero mover o carrinho
    para a esquerda
  • 4:22 - 4:24
    "ou mover o carrinho para a direita".
  • 4:24 - 4:25
    Sempre que isso acontece,
  • 4:25 - 4:28
    a zona motora esquerda fica mais ativa
  • 4:28 - 4:29
    — e nós conseguimos saber isso —
  • 4:29 - 4:31
    quando quer mover
    o carrinho para a direita,
  • 4:31 - 4:34
    a zona motora direita fica mais ativa.
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    O segundo passo é que temos
    de treinar o Horácio.
  • 4:38 - 4:40
    Para o treinar, usamos uma técnica
    chamada "neurofeedback"
  • 4:40 - 4:43
    em que o Horácio recebe
    um reforço positivo
  • 4:43 - 4:47
    sempre que consegue isolar
    o pensamento de esquerda.
  • 4:47 - 4:48
    O que é que isto quer dizer?
  • 4:48 - 4:52
    Sempre que conseguimos identificar
    uma assinatura eletrofisiológica
  • 4:52 - 4:55
    e um padrão daquele pensamento.
  • 4:55 - 4:57
    Assim, sempre que o Horácio
    o consegue isolar
  • 4:57 - 5:00
    há umas bolas e um som que param
  • 5:00 - 5:04
    e ele sabe que conseguiu fechar
    e isolar esse pensamento.
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    Por fim, na terceira fase,
    temos de ligar o Horácio
  • 5:07 - 5:10
    a um aparelho que nós queremos
    que o Horácio controle.
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    Neste caso, foi um carrinho,
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    podia ter sido um "drone"
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    podia ter sido uma casa inteligente,
    a que nós chamamos domótica,
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    até podia ter sido
    o próprio avatar do Horácio.
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    Para mim, a grande missão desta tecnologia
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    é mudar o paradigma da relação
    do ser humano com o mundo.
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    O ser humano já não precisa mais
    de um mediador
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    para comunicar as suas intenções.
  • 5:33 - 5:35
    Já não precisa mais de um corpo,
    nem de um instrumento
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    para mostrar às pessoas
    os seus desejos mais íntimos.
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    Entramos numa era em que nós
    já somos seres biónicos,
  • 5:44 - 5:46
    já somos homem e máquina
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    e crescemos em simbiose com estas máquinas
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    num crescimento contínuo
    e troca de informação.
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    Entramos numa era
    a que eu chamo trans-humanismo.
  • 5:54 - 5:58
    Já conseguimos transcender
    as nossas capacidades e melhorá-las.
  • 5:58 - 6:02
    Já que, culturalmente e biologicamente,
    evoluímos bastante,
  • 6:02 - 6:05
    o próximo passo agora
    é aliarmo-nos à tecnologia
  • 6:05 - 6:08
    para evoluirmos cada vez mais
    e ainda melhor.
  • 6:08 - 6:11
    Agora imaginem isto aplicado à arte.
  • 6:13 - 6:14
    (Vídeo)
  • 6:22 - 6:24
    [Estava um farrapo
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    [quando cheguei
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    [ao "neurofeedback"
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    [um farrapo é um pano amarfanhado
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    [usado para limpar o pó
  • 6:31 - 6:33
    [e depois atirar para o lixo
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    [Estava assim um farrapo
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    [Sair dessa condição de vítima.
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    [Queria entender se era possível
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    [controlar
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    [controlar aqui o uso da palavra
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    [ou fora daqui
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    [que questiona com o instrumento
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    [que explica ainda
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    [que muito fique por explicar.
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    [Em mim
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    [do que julgo ser a maior parte de mim
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    [habitam emoções como a raiva
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    [o desejo]
  • 7:13 - 7:16
    Não é o objetivo máximo de um artista
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    comunicar às pessoas a sua identidade?
  • 7:19 - 7:22
    Neste caso, Tiago Salazar,
    um escritor de viagens interiores,
  • 7:23 - 7:26
    já não precisou mais de usar a mão,
    a caneta ou o lápis
  • 7:26 - 7:28
    para transmitir as suas intenções.
  • 7:28 - 7:30
    Ele transformou-se num escritor do futuro.
  • 7:30 - 7:32
    Como é que nós fizemos isto?
  • 7:32 - 7:35
    Mais uma vez, gravamos
    as assinaturas eletrofisiológicas
  • 7:35 - 7:38
    de cada frase que o Tiago
    queria escrever ou dizer
  • 7:38 - 7:42
    e ele bastava pensar nessas frases
    que elas eram projetadas no cubo.
  • 7:44 - 7:48
    Felizmente, esta tecnologia
    já existe ao alcance de qualquer pessoa.
  • 7:48 - 7:52
    Cada um de vós pode comprar
    estas interfaces cérebro-computador
  • 7:52 - 7:53
    e utilizar em sua casa.
  • 7:53 - 7:55
    Dá para controlar a temperatura da casa,
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    a luz ou até para jogar
    um jogo de computador.
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    Já existem clínicas de otimização
    de "performance"
  • 8:01 - 8:05
    onde se fazem treinos de melhoria
    cognitiva de determinadas qualidades.
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    Este foi o meu primeiro caso
  • 8:07 - 8:10
    o meu primeiro paciente de "neurofeedback"
    — Bruno Valentim —
  • 8:10 - 8:14
    que, tal como o Professor Xavier,
    sofria de esclerose múltipla.
  • 8:14 - 8:18
    E foi o primeiro tetraplégico
    a conseguir com treino de "neurofeedback"
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    os mínimos olímpicos para conseguir
    entrar nas Olimpíadas.
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    Ele era um desportista
    de tiro de 60 metros
  • 8:23 - 8:27
    e, ao fazer um treino
    em que baixava o ritmo cerebral
  • 8:27 - 8:30
    conseguia atingir
    com mais eficácia o tiro.
  • 8:31 - 8:34
    Imaginem esta tecnologia,
    como eu já vos mostrei,
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    aplicada à arte, mas em vez de ser
    uma "performance"
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    aplicada na moda,
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    em que "designers" de moda
    podem desenvolver roupa mórfica
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    que muda de cor ou de morfologia
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    consoante a emoção das pessoas
    que estão a usar a roupa.
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    Ou imaginem esta tecnologia
    numa nova área emergente
  • 8:50 - 8:52
    chamada "neuromarketing" interativo
  • 8:52 - 8:55
    em que a ativação de marca
    ou a relação das pessoas com o produto
  • 8:55 - 8:58
    é potenciada por esta tecnologia
  • 8:58 - 9:01
    porque nós conseguimos ver
    como é que a pessoa está a reagir
  • 9:01 - 9:04
    ao interagir com esse mesmo produto.
  • 9:05 - 9:09
    Eu queria terminar este TED e esta "talk"
    com uma mensagem.
  • 9:09 - 9:11
    A tecnologia é nossa aliada.
  • 9:11 - 9:14
    A tecnologia é nossa amiga.
  • 9:14 - 9:16
    Tal como o Stephen Hawking
  • 9:16 - 9:19
    — mais um exemplo
    duma pessoa tetraplégica
  • 9:19 - 9:21
    e que foi das primeiras pessoas
    da Humanidade a utilizar
  • 9:21 - 9:26
    uma interface cérebro-computador
    para poder comunicar com o meio exterior —
  • 9:26 - 9:29
    disse há dois dias numa entrevista
    sobre o seu projeto espacial,
  • 9:29 - 9:32
    juntamente com o diretor do Facebook:
  • 9:32 - 9:35
    "Nós só nos podemos transcender
    e transcender os nossos limites
  • 9:35 - 9:38
    "através das nossas mentes
    e das nossas máquinas".
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    E assim, através desta tecnologia,
    cada um de nós, no futuro,
  • 9:42 - 9:45
    pode vir a ser um super-herói.
  • 9:45 - 9:46
    Muito obrigado.
  • 9:46 - 9:49
    (Aplausos)
Title:
E quando nos tornamos todos super-heróis? | Francisco Marques Teixeira | TEDxPorto
Description:

Poucos quebra-cabeças são tão densos como o cérebro. Num estonteante mundo de pesquisa sobre cognição associada à tecnologia, Francisco Marques Teixeira explica de que forma o trans-humanismo pode tornar-nos a todos em super-heróis.
Francisco Marques Teixeira é apaixonado por neurotecnologia e tecnologias aplicadas à saúde e ao autoconhecimento e tenta compreender a forma como as novas tecnologias podem alterar o nosso cérebro e como a nossa mente se adaptará a este novo tipo de existência digital. É diretor clínico do departamento de Neurofeedback no Instituto de Neurociências e cofundador da MuArts, empresa especializada em "design" de conceito e prototipagem de tecnologia criativa e inovação em neurotecnologia.

Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em /http://ted.com/tedx

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Video Language:
Portuguese
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
09:57

Portuguese subtitles

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