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A arma secreta contra pandemias

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    David Biello:
    Agora, é minha honra e privilégio
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    apresentar o Dr. Georges Benjamin,
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    o dirigente executivo
    da Associação de Saúde Pública Americana,
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    com uma longa e distinta carreira,
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    tanto como médico,
    como profissional de saúde pública.
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    Por favor, dêem as boas-vindas
    ao Dr. Georges Benjamin.
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    Georges Benjamin: Olá, David, como está?
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    DB: Estou bem, e o Dr. Benjamin?
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    GB: Estou aqui.
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    DB: Está a aguentar-se. Boa.
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    GB: Vou-me aguentando.
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    DB: Sabemos que o tema
    do momento é a reabertura, diria eu.
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    Acabámos de ouvir essa possibilidade,
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    mas claro, muitos países já reabriram,
    de uma forma ou doutra,
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    e acredito que, a partir de hoje,
  • 0:50 - 0:55
    todos os 50 estados nos EUA
    já reabriram, de uma forma ou doutra.
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    Como fazemos isso de maneira inteligente,
    de maneira segura?
  • 1:02 - 1:07
    GB: Sim, precisamos mesmo de reabrir
    com precaução e segurança,
  • 1:07 - 1:13
    e isso significa que não podemos esquecer
    as medidas de saúde pública
  • 1:13 - 1:16
    que foram responsáveis
    por achatarmos a curva.
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    Falo de coisas como
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    tapar o nariz e a boca
    quando tossimos ou espirramos,
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    usar máscara, lavar as mãos,
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    distanciarmo-nos dos outros
    fisicamente, tanto quanto possível.
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    Pensarmos em tudo o que fazemos,
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    antes de irmos trabalhar, de manhã,
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    quando estamos no trabalho.
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    E sermos cuidadosos
    como muitos de nós têm sido
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    nos últimos dois meses,
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    ao longo dos próximos três meses,
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    porque esta coisa ainda não acabou.
  • 1:46 - 1:47
    DB: Certo.
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    Há a possibilidade de novas vagas,
    como o Uri Alon mencionou.
  • 1:53 - 1:57
    Parece que é uma incumbência para todos
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    aceitarmos que a saúde pública
    é uma espécie de segundo trabalho.
  • 2:01 - 2:02
    Certo?
  • 2:03 - 2:06
    GB: Sabe, tenho vindo a defender
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    que, agora que toda a gente
    sabe o que é a saúde pública,
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    toda a gente devia ver a saúde pública
    como a sua segunda profissão,
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    quer esteja a recolher o lixo
    ou a trabalhar na mercearia,
  • 2:18 - 2:20
    ou se for um motorista,
  • 2:20 - 2:23
    ou se, como eu, estiver
    a trabalhar na saúde pública,
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    um médico ou um enfermeiro,
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    todos temos de usar a capa
    da saúde pública
  • 2:28 - 2:31
    em tudo o que fazemos diariamente.
  • 2:33 - 2:34
    DB: O que é que acha?
  • 2:34 - 2:37
    Agora todos somos
    profissionais de saúde.
  • 2:37 - 2:41
    Qual acha que será o novo normal
    que podemos esperar,
  • 2:41 - 2:44
    assim que os países reabrirem?
  • 2:44 - 2:47
    Como é que vai ser,
  • 2:47 - 2:50
    ou como é que espera que seja,
    como profissional de saúde pública?
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    GB: Se pudesse usar uma varinha mágica,
  • 2:54 - 2:57
    afirmaria com toda a certeza
  • 2:57 - 3:00
    que as pessoas vão fazer muito mais
    pela saúde pública,
  • 3:00 - 3:02
    tais como lavar as mãos
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    e pensar no que fazem para manter
    a segurança quando saem em público.
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    Sabe, não foi há muito tempo
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    que comprávamos um carro
    e não púnhamos o cinto.
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    Hoje fazêmo-lo,
    e nem pensamos nisso.
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    A maioria de nós não fuma,
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    porque sabemos que é mau para a saúde.
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    A maioria de nós olha para os dois lados
    antes de atravessar a rua.
  • 3:25 - 3:28
    A maioria de nós
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    faz arranjos em casa para evitar perigos.
  • 3:31 - 3:34
    Por isso, à medida que avançamos,
  • 3:34 - 3:36
    espero que as pessoas
    prestem muito mais atenção
  • 3:37 - 3:40
    às coisas que podem fazer
    com que apanhemos infecções.
  • 3:40 - 3:44
    Por isso, limpar as coisas,
    desinfectar as coisas.
  • 3:45 - 3:49
    Sobretudo, não ir trabalhar
    se estivermos doentes.
  • 3:49 - 3:53
    Espero que os empregadores
    cubram os custos das baixas médicas,
  • 3:53 - 3:55
    para que todos possam ficar em casa.
  • 3:55 - 3:57
    Sim, é um custo adicional,
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    mas agora já descobrimos
  • 4:00 - 4:03
    que o custo de não o fazermos
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    são milhares e milhares
    de milhões de dólares.
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    As baixas médicas remuneradas
    até saem baratas se considerarmos isso.
  • 4:10 - 4:13
    DB: Sim, acho que aqui nos EUA
    estamos com inveja
  • 4:13 - 4:16
    de todos os países que talvez tenham
  • 4:16 - 4:20
    um sistema de saúde
    mais abrangente que o nosso.
  • 4:20 - 4:23
    Concordaria que as máscaras
    são uma espécie de símbolo
  • 4:24 - 4:30
    da adopção desta mentalidade
    de "saúde pública como segunda profissão?"
  • 4:30 - 4:32
    GB: Bem, é engraçado.
  • 4:32 - 4:36
    Os nossos colegas da Ásia
    já usavam máscara,
  • 4:37 - 4:40
    usavam máscaras como forma de cultura
    há muitos, muitos anos.
  • 4:41 - 4:44
    E nós sempre gozámos
    um pouco com isso.
  • 4:44 - 4:46
    Quando eu ia ao estrangeiro,
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    achava sempre ridículo
    quando via pessoas a usar máscaras.
  • 4:50 - 4:51
    E claro, quando isto começou,
  • 4:52 - 4:55
    promovemos o uso de máscaras
    apenas para os infectados
  • 4:55 - 4:57
    e claro, para os trabalhadores de saúde,
  • 4:57 - 4:59
    que achámos que estavam
    num contexto de risco.
  • 4:59 - 5:02
    Mas acho que usar máscaras
  • 5:02 - 5:05
    vai passar a fazer parte da nossa cultura.
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    Já vimos que provavelmente
    não fará parte da nossa cultura de praia,
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    apesar de neste momento dever ser.
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    Mas acho mesmo que vamos ver
    cada vez mais pessoas a usar máscara
  • 5:14 - 5:16
    numa série de cenários.
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    E acho que faz sentido.
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    DB: Sim, usamos máscara para mostrar
    que nos preocupamos com os outros.
  • 5:23 - 5:26
    E que temos este espírito
    de saúde pública.
  • 5:26 - 5:28
    Por falar na Ásia,
  • 5:28 - 5:31
    quem é que se portou bem?
  • 5:31 - 5:34
    Olhando para todo o mundo,
    já anda nisto há algum tempo
  • 5:34 - 5:36
    e tem comunicado com os seus colegas,
  • 5:36 - 5:37
    quem é que se portou bem
  • 5:37 - 5:40
    e o que é que podemos aprender
    com esses bons exemplos?
  • 5:41 - 5:44
    GB: De muitas formas,
    a Coreia do Sul é o exemplo a seguir.
  • 5:44 - 5:47
    E já agora, na verdade,
  • 5:47 - 5:49
    a China acabou por se sair bastante bem.
  • 5:50 - 5:51
    Mas o segredo de todos esses países
  • 5:52 - 5:55
    que têm uma taxa de mortalidade
    inferior à nossa,
  • 5:55 - 5:59
    é que fizeram muitos testes muito cedo,
  • 5:59 - 6:03
    fizeram rastreio de contacto
    e isolamento e quarentena,
  • 6:03 - 6:07
    o que, já agora, é a base
    da prática da saúde pública.
  • 6:07 - 6:09
    Fizeram-no cedo, fizeram-no intensamente,
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    e, a propósito, apesar
    de estarem a reabrir a sociedade,
  • 6:13 - 6:17
    e como começaram a ter
    alguns surtos esporádicos,
  • 6:17 - 6:20
    regressam a estas práticas básicas
    de saúde pública:
  • 6:20 - 6:24
    testes, isolamento, rastreio de contacto
  • 6:25 - 6:29
    e transparência para o público
    sempre que podem,
  • 6:29 - 6:33
    porque é importante que o público
    compreenda quantos casos há,
  • 6:33 - 6:35
    onde está a doença,
  • 6:35 - 6:39
    para ganharmos a cooperação do público.
  • 6:39 - 6:43
    DB: Portanto, testes,
    rastreio de contacto e isolamento.
  • 6:43 - 6:47
    Não me parece astrofísica,
    para usar uma imagem gasta.
  • 6:48 - 6:52
    Porque é que tem sido difícil
    a sua implementação nalguns países?
  • 6:52 - 6:54
    O que é que nos está a impedir?
  • 6:54 - 6:56
    Serão os registos médicos electrónicos,
  • 6:56 - 6:58
    será máquinas sofisticadas,
  • 6:58 - 7:01
    ou talvez seja apenas ultra-confiança,
  • 7:01 - 7:05
    baseada nos sucessos
    da saúde pública dos últimos 100 anos?
  • 7:06 - 7:09
    GB: Nós somos uma sociedade
    de comprimidos.
  • 7:09 - 7:12
    Achamos que há um comprimido para tudo.
  • 7:12 - 7:14
    Se não houver um comprimido,
  • 7:14 - 7:17
    podemos fazer uma cirurgia
    e resolver o problema.
  • 7:17 - 7:19
    A prevenção funciona.
  • 7:19 - 7:23
    E nós investimos muito pouco na prevenção.
  • 7:23 - 7:25
    Nós investimos muito pouco
  • 7:25 - 7:28
    num sistema de saúde pública
    robusto e forte.
  • 7:28 - 7:32
    Se atentarmos no facto
    de que hoje, nos EUA,
  • 7:32 - 7:37
    podemos saber facilmente
  • 7:37 - 7:39
    o que é que sai da prateleira
    de uma mercearia,
  • 7:39 - 7:43
    a Amazon sabe tudo o que há
    para saber sobre nós,
  • 7:43 - 7:47
    mas o nosso médico
    não tem as mesmas ferramentas.
  • 7:47 - 7:49
    Às três da manhã,
  • 7:49 - 7:52
    ainda é muito difícil
    obter um electrocardiograma,
  • 7:52 - 7:55
    ou o nosso histórico médico,
    ou a lista das nossas alergias
  • 7:55 - 7:58
    se não pudermos dizer ao nosso médico
    o que é que temos.
  • 7:58 - 8:01
    Simplesmente não investimos
    em sistemas robustos.
  • 8:01 - 8:03
    Uma das coisas mais interessantes
    desta pandemia
  • 8:04 - 8:05
    é que criou um contexto
  • 8:05 - 8:09
    em que estamos dependentes
    da telemedicina,
  • 8:09 - 8:11
    que já existe há anos,
  • 8:11 - 8:13
    mas não nos interessava muito.
  • 8:13 - 8:16
    Mas agora, provavelmente,
    será o novo normal.
  • 8:16 - 8:17
    DB: Mas também parece...
  • 8:17 - 8:23
    Obviamente, esses países
    com sistemas de saúde robustos,
  • 8:23 - 8:26
    como Taiwan, saíram-se bem,
  • 8:26 - 8:29
    mas parece que até países
    que podíamos considerar
  • 8:29 - 8:33
    que não têm um sistema de saúde robusto,
    como o Gana, em África,
  • 8:34 - 8:35
    também se saíram bem.
  • 8:35 - 8:39
    Qual é que tem sido
    o ingrediente secreto
  • 8:39 - 8:41
    para estes países?
  • 8:41 - 8:44
    GB: Anda passou pouco tempo
    desde que alguns estão expostos
  • 8:44 - 8:49
    e esperemos que não venham
    a ter uma onda tardia,
  • 8:49 - 8:51
    o que ainda é uma possibilidade,
  • 8:51 - 8:52
    mas, no fim de contas,
  • 8:52 - 8:57
    acho que, desde que tenham implementado
    práticas de saúde pública sólidas,
  • 8:57 - 9:00
    todos os países que se saíram bem
  • 9:00 - 9:01
    implementaram-nas.
  • 9:01 - 9:04
    Mas nós somos um país enorme,
    um país complexo.
  • 9:04 - 9:08
    E sim, falhámos nos testes
    logo de início.
  • 9:08 - 9:13
    Mas não devemos repetir
    os nossos erros dos últimos três meses,
  • 9:13 - 9:15
    porque ainda temos
    muitos meses pela frente.
  • 9:15 - 9:17
    Agora sabemos o que fizemos de errado,
  • 9:17 - 9:20
    e o meu incentivo é fazermos
    a coisa certa da próxima vez.
  • 9:20 - 9:22
    DB: Isso parece sensato.
  • 9:22 - 9:24
    GB: E a próxima vez é amanhã.
  • 9:24 - 9:25
    DB: Certo.
  • 9:25 - 9:27
    Já começou.
  • 9:27 - 9:28
    Quer dizer, parece-me,
  • 9:28 - 9:30
    se puder usar a metáfora,
  • 9:30 - 9:31
    que alguns destes países
  • 9:31 - 9:34
    já tinham os anticorpos no sistema deles
  • 9:34 - 9:38
    porque tinham experiência talvez
    com o Ébola e o primeiro SARS.
  • 9:39 - 9:42
    Será esta exposição prévia, importante
  • 9:42 - 9:45
    para este tipo de crises de saúde pública?
  • 9:45 - 9:47
    GB: Bom, este é um vírus muito diferente.
  • 9:47 - 9:50
    E embora possa haver alguns indícios
  • 9:50 - 9:54
    que a MERS e a SARS 1
  • 9:54 - 9:57
    nos possam ter dado
    alguma protecção inicial,
  • 9:57 - 10:00
    e há estudos iniciais
    a debruçarem-se sobre isso,
  • 10:00 - 10:02
    essa não é a solução.
  • 10:02 - 10:06
    Aqui, o ingrediente secreto
    são as sólidas práticas de saúde pública.
  • 10:06 - 10:08
    Esse é o ingrediente secreto.
  • 10:08 - 10:12
    Não devemos procurar outras coisas,
    um misticismo qualquer,
  • 10:12 - 10:15
    ou alguém para nos vir salvar
    com um comprimido especial.
  • 10:15 - 10:18
    Tudo isto resume-se
    a práticas de saúde pública sólidas
  • 10:18 - 10:20
    porque, já agora,
  • 10:20 - 10:22
    esta foi bastante má,
  • 10:23 - 10:25
    mas não é a última.
  • 10:25 - 10:27
    Temos de nos preparar
    para a próxima mesmo muito má.
  • 10:27 - 10:29
    Nós achamos que esta foi má,
  • 10:29 - 10:32
    imaginemos o que aconteceria
    se o Ébola se transmitisse pelo ar,
  • 10:32 - 10:36
    ou a MERS se transmitisse pelo ar.
  • 10:36 - 10:38
    Escolham um filme da TV.
  • 10:39 - 10:41
    Embora esta tenha sido má,
  • 10:41 - 10:45
    desta vez, ainda escapámos
    a uma mesmo, mesmo má.
  • 10:45 - 10:49
    DB: Sim, a MERS não é brincadeira nenhuma,
  • 10:49 - 10:52
    e devíamos estar gratos
    por não se espalhar mais facilmente,
  • 10:52 - 10:53
    como a SARS-Covid.
  • 10:53 - 10:55
    Mas isto é...
  • 10:55 - 10:57
    Todas estas doenças são zoonóticas,
  • 10:57 - 11:00
    ou seja, apareceram
    de animais que há por aí.
  • 11:01 - 11:04
    Obviamente, a humanidade parece
    estar a intrometer-se na natureza
  • 11:04 - 11:07
    de forma cada vez mais urgente,
  • 11:07 - 11:11
    quer através da alteração climática,
    quer pelas florestas, o que seja.
  • 11:11 - 11:14
    Este é o novo normal,
  • 11:14 - 11:18
    ou seja, devemos esperar
    pandemias de vez em quando?
  • 11:19 - 11:21
    GB: Bem, elas aparecem periodicamente.
  • 11:21 - 11:24
    Esta não é a primeira pandemia, certo?
  • 11:24 - 11:26
    Já tivemos muitas.
  • 11:26 - 11:30
    Há 100 anos, a gripe pneumónica de 1918,
  • 11:31 - 11:35
    a SARS foi uma infecção significativa,
  • 11:35 - 11:38
    embora não tenha chegado
    a este ponto, a SARS 1.
  • 11:38 - 11:40
    E tivemos a gripe das aves,
  • 11:40 - 11:42
    que foi um desafio,
  • 11:42 - 11:44
    e a gripe suína.
  • 11:44 - 11:45
    Tivemos o Zika.
  • 11:45 - 11:49
    Por isso não, temos tido muitos
    surtos de novas doenças.
  • 11:49 - 11:52
    Estas doenças emergentes
    ocorrem com frequência,
  • 11:53 - 11:55
    e de muitas formas,
  • 11:55 - 11:56
    temos tido a sorte
  • 11:56 - 12:00
    de ter conseguido identificá-las cedo
  • 12:00 - 12:02
    e de as conter.
  • 12:02 - 12:04
    Mas, agora, estamos num contexto
  • 12:04 - 12:07
    em que as pessoas
    podem criar uma destas coisas.
  • 12:07 - 12:11
    Esta não, pelo que sabemos,
    não foi criada por humanos.
  • 12:11 - 12:14
    Provavelmente, não veio
    duma fuga dum laboratório.
  • 12:14 - 12:18
    Mas sabemos que,
    quando eu andava na escola,
  • 12:19 - 12:22
    para criar um vírus
    era preciso ser-se muito sofisticado.
  • 12:22 - 12:24
    Hoje, isso não é o caso.
  • 12:24 - 12:28
    E temos de nos proteger tanto
    das infecções que ocorrem naturalmente
  • 12:28 - 12:32
    como daquelas criadas por seres humanos.
  • 12:33 - 12:36
    DB: Para além disso, temos outros
    multiplicadores de ameaças,
  • 12:36 - 12:38
    como a alteração climática,
  • 12:38 - 12:41
    que fazem com que pandemias destas
    sejam ainda piores.
  • 12:42 - 12:46
    GB: Eu disse que a alteração climática
    era a maior ameaça à sobrevivência
  • 12:46 - 12:47
    antes desta pandemia.
  • 12:47 - 12:49
    Mas isto está ao mesmo nível.
  • 12:49 - 12:50
    Mas deixe-me dizer
  • 12:50 - 12:52
    que o grande problema que temos hoje
  • 12:52 - 12:56
    é que temos esta pandemia,
  • 12:56 - 12:58
    que ainda não contivemos,
  • 12:58 - 13:01
    enquanto estamos
    a entrar na estação dos furacões,
  • 13:01 - 13:03
    e temos a alteração climática,
  • 13:03 - 13:07
    que potencia a ferocidade
    dos furacões que temos tido.
  • 13:08 - 13:12
    Por isso, vamos ter um verão interessante.
  • 13:15 - 13:18
    DB: E aqui está o Chris
    com uma pergunta da nossa audiência.
  • 13:19 - 13:21
    Chris Anderson: Muitas perguntas!
  • 13:21 - 13:25
    As pessoas têm muito interesse
    no que estás a dizer, Georges.
  • 13:25 - 13:27
    Vamos lá, aqui vai a primeira
    de Jim Young:
  • 13:28 - 13:32
    "Como lidamos com as pessoas
    que não acreditam que isto é grave?"
  • 13:33 - 13:40
    GB: Só temos de continuar
    a comunicar a verdade a todos.
  • 13:41 - 13:43
    Uma das coisas acerca
    desta doença em particular
  • 13:43 - 13:45
    é que não poupa ninguém.
  • 13:45 - 13:48
    Não reconhece partidos políticos,
  • 13:48 - 13:51
    não reconhece geografia,
  • 13:51 - 13:54
    e tivemos muita gente,
    especialmente em comunidades rurais,
  • 13:54 - 13:57
    que não estavam a entender,
    porque ainda não tinha lá chegado
  • 13:57 - 13:59
    e não acreditavam que era real.
  • 13:59 - 14:04
    Agora, muitas dessas comunidades
    estão a ser desfeitas por esta doença.
  • 14:04 - 14:06
    Por isso, temos simplesmente de...
  • 14:07 - 14:10
    É assim, não é apropriado dizer:
    "Eu bem avisei."
  • 14:10 - 14:13
    É apropriado dizer:
    "Vejam, agora que estão a ver como é,
  • 14:13 - 14:17
    "bem-vindos a bordo e ajudem-nos
    a resolver estes problemas."
  • 14:17 - 14:20
    Mas isto é algo que vai estar por aí
    durante algum tempo.
  • 14:20 - 14:22
    E se se tornar endémico,
  • 14:22 - 14:28
    ou seja, se continuar a ocorrer
    mesmo a um nível menor,
  • 14:28 - 14:31
    toda a gente vai ter esta experiência.
  • 14:32 - 14:33
    CA: Obrigado.
  • 14:33 - 14:36
    Aqui está uma pergunta
    de Robert Perkowitz.
  • 14:38 - 14:41
    "Parece que temos ignorado
    e dedicado poucos fundos à saúde pública,
  • 14:41 - 14:45
    "e estávamos mal preparados
    para este vírus."
  • 14:45 - 14:47
    Vejam se a pergunta vai aparecer ali,
  • 14:47 - 14:49
    acho que vai, por magia.
  • 14:49 - 14:51
    "Quais deviam ser as prioridades agora
  • 14:52 - 14:55
    "para nos prepararmos para a próxima
    crise de saúde pública?"
  • 14:56 - 15:00
    GB: Bem, agora temos de nos certificar
    que temos os fundos,
  • 15:00 - 15:03
    os recursos, a formação
    e a contratação sobre a mesa.
  • 15:04 - 15:06
    E já agora, a nossa próxima crise
    de saúde pública
  • 15:06 - 15:10
    não é daqui a 10 anos,
    não é daqui a 20 anos,
  • 15:10 - 15:14
    é a potencial co-ocorrência da gripe,
  • 15:14 - 15:17
    que sabemos que vai acontecer
    no próximo outono,
  • 15:17 - 15:19
    porque vem todos os anos,
  • 15:19 - 15:24
    com a continuação da COVID,
    ou com um pico da COVID.
  • 15:24 - 15:27
    E vamos ter um processo de doença
  • 15:27 - 15:29
    que aparenta ser mais ou menos o mesmo,
  • 15:30 - 15:34
    e vamos ter de diferenciar
    a COVID da gripe.
  • 15:35 - 15:38
    Nós já temos uma vacina para a gripe,
  • 15:39 - 15:41
    mas ainda não temos para a COVID.
  • 15:41 - 15:43
    Esperamos ter uma daqui
    a mais ou menos um ano.
  • 15:43 - 15:46
    Mas isso ainda está para ser visto.
  • 15:47 - 15:49
    DB: Tomem a injecção para a gripe.
  • 15:49 - 15:50
    CA: Sim.
  • 15:50 - 15:54
    Na verdade, o David Collins
    perguntou exactamente isso.
  • 15:54 - 15:59
    "Qual é a probabilidade de uma vacina
    antes da próxima vaga?"
  • 16:01 - 16:05
    GB: A vacina que desenvolvemos
    mais rapidamente foi para o sarampo,
  • 16:05 - 16:07
    e levou quatro anos.
  • 16:07 - 16:11
    Agora, há muitas coisas diferentes, não é?
  • 16:11 - 16:14
    Começámos com uma vacina
    para a SARS 1.
  • 16:14 - 16:16
    Fizemos muitos testes em animais,
  • 16:16 - 16:19
    e alguns testes iniciais em humanos.
  • 16:19 - 16:21
    Como sabem, acabámos de receber a notícia
  • 16:21 - 16:26
    de que, pelo menos, parece funcionar
    em macacos, no macaco-rhesus,
  • 16:26 - 16:31
    e há alguns indícios de que, talvez
    possa ser eficaz e segura
  • 16:31 - 16:33
    num número de pessoas muito reduzido.
  • 16:33 - 16:35
    Quando digo um número muito reduzido,
  • 16:35 - 16:37
    é uma meia dúzia de pessoas.
  • 16:37 - 16:40
    Por isso agora tem de passar
    para os testes da fase 2 e fase 3.
  • 16:40 - 16:44
    O David levantou as duas mãos,
  • 16:44 - 16:47
    Sim, sim, é um número de pessoas
    muito pequeno.
  • 16:47 - 16:50
    O que nos diz é que
    ou essas pessoas tiveram muita sorte,
  • 16:50 - 16:52
    ou funciona mesmo.
  • 16:52 - 16:56
    E só vamos saber quando a pusermos
    nos braços de milhares de pessoas.
  • 16:57 - 17:01
    CA: Aqui vai uma pergunta importante
    dum membro do TED.
  • 17:01 - 17:04
    "Como ensinamos às pessoas
    o que significa a saúde pública?
  • 17:04 - 17:06
    "Especialmente em contextos
  • 17:06 - 17:09
    "de quem não acredita ser responsável
    perante 'o público'?"
  • 17:10 - 17:13
    GB: Eu recordo às pessoas,
  • 17:13 - 17:15
    que, quando a saúde pública
    faz o seu melhor trabalho,
  • 17:15 - 17:17
    nada acontece.
  • 17:17 - 17:20
    E claro, quando nada acontece,
    não lhe reconhecemos mérito.
  • 17:20 - 17:22
    Por isso, a razão para todos neste país
  • 17:22 - 17:26
    não terem de se levantar
    e ir ferver a própria água
  • 17:26 - 17:28
    é por causa da saúde pública.
  • 17:28 - 17:32
    A razão por que,
    se tivermos um acidente de carro,
  • 17:32 - 17:34
    por exemplo, um choque de automóveis,
  • 17:34 - 17:38
    e temos cintos de segurança,
    temos "airbags",
  • 17:38 - 17:42
    e não morremos nesse choque de automóveis
  • 17:42 - 17:43
    é por causa da saúde pública.
  • 17:43 - 17:46
    A razão por que o ar
    é seguro para respirar,
  • 17:46 - 17:48
    a comida é boa para comer,
  • 17:48 - 17:50
    é devido à saúde pública.
  • 17:50 - 17:54
    A razão por que as crianças
    não vestem roupa que se incendeie
  • 17:54 - 17:57
    é porque temos roupa ignífuga.
  • 17:57 - 17:59
    E isso é obrigatório.
  • 17:59 - 18:02
    A razão para não tropeçarmos
    ao descer escadas
  • 18:02 - 18:06
    é porque vimos como é
    que se constroem escadas
  • 18:07 - 18:10
    de forma a que as pessoas
    não tropecem ao subir e descer.
  • 18:10 - 18:12
    Essa é uma intervenção de saúde pública.
  • 18:12 - 18:13
    Logo, o que nos rodeia,
  • 18:13 - 18:16
    os medicamentos, essas coisas,
  • 18:16 - 18:18
    vacinas, tudo é saúde pública,
  • 18:18 - 18:22
    e é por isso que temos saúde pública,
  • 18:22 - 18:26
    e talvez alguém não acredite
    que é importante,
  • 18:26 - 18:28
    mas não podíamos viver sem ela.
  • 18:30 - 18:35
    CA: Talvez um dia possamos todos,
    nos EUA, ambicionar um sistema de saúde
  • 18:35 - 18:39
    com incentivos que conduzam
    à saúde pública.
  • 18:39 - 18:41
    Seria mesmo bom.
  • 18:41 - 18:44
    David, tenho de continuar
    com algumas destas perguntas, se possível,
  • 18:44 - 18:46
    porque não param de chover.
  • 18:46 - 18:48
    Aqui está uma da Jacqueline Ashby.
  • 18:49 - 18:51
    Uma pergunta importante
    para todos os pais.
  • 18:51 - 18:54
    "Quais são as recomendações
    para o regresso das crianças à escola?"
  • 18:54 - 18:58
    GB: Sim, tenho tido dúvidas
    a esse respeito, tenho três netos.
  • 18:58 - 19:03
    Felizmente, os meus netos são
    mais competentes nas tecnologias que eu,
  • 19:03 - 19:07
    e agora estão a ter aulas à distância.
  • 19:08 - 19:09
    Acho que vai ser um problema
  • 19:09 - 19:12
    pensar em mandar as crianças
    para a escola.
  • 19:12 - 19:17
    Temos de saber quão infecciosas
    é que as crianças são
  • 19:18 - 19:21
    e se ficam bem quando são infectadas.
  • 19:21 - 19:23
    Agora mesmo, parece que.
  • 19:23 - 19:28
    excepto para um número muito pequeno
    de crianças que têm uma doença rara,
  • 19:28 - 19:30
    elas toleram bastante bem esta doença.
  • 19:30 - 19:33
    Mas a questão central é:
  • 19:33 - 19:38
    quantos germes é que estas crianças
    vão trazer para casa
  • 19:38 - 19:41
    para a avó e para o avô.
  • 19:41 - 19:42
    Isso será importante.
  • 19:42 - 19:45
    E tentar dizer a uma criança de oito anos
  • 19:45 - 19:47
    para não interagir com os amigos
  • 19:47 - 19:49
    é um enorme problema.
  • 19:49 - 19:52
    Aliás, tentar dizer a um jovem de 17 anos
    para não interagir com os amigos
  • 19:53 - 19:54
    vai ser um enorme problema.
  • 19:55 - 19:57
    Logo, temos de educar
    devidamente estas crianças,
  • 19:57 - 20:00
    temos de entender como equilibrar
    os horários delas.
  • 20:00 - 20:03
    A ideia do Uri para os trabalhadores
  • 20:03 - 20:07
    pode ser um conceito interessante
    para as escolas,
  • 20:07 - 20:11
    porque a ideia é tentar reduzir
    o número de crianças na sala de aula.
  • 20:11 - 20:15
    E se tivermos turmas mais pequenas,
    temos um ensino melhor, de qualquer forma.
  • 20:15 - 20:18
    Mas então, temos de ter
    professores suficientes.
  • 20:18 - 20:20
    Poderíamos então limitar os números.
  • 20:21 - 20:24
    CA: Certo, última pergunta agora
    de Steven Petranek.
  • 20:24 - 20:27
    Máscaras. Conselhos sobre máscaras.
  • 20:27 - 20:28
    Bolas, desliguei isto, vamos lá.
  • 20:29 - 20:31
    Os conselhos sobre máscaras
    parecem ter mudado.
  • 20:31 - 20:34
    "Será que os americanos
    que vivem e trabalham em cidades
  • 20:34 - 20:35
    "devem usar máscaras
  • 20:35 - 20:38
    "para ajudar a reduzir
    as partículas de poluição no ar
  • 20:38 - 20:40
    "que respiram todos os dias?"
  • 20:40 - 20:43
    GB: Pode ajudar alguma coisa, com certeza.
  • 20:43 - 20:46
    Mas devo dizer o que preferia
    que deixássemos de fazer:
  • 20:46 - 20:48
    queimar combustíveis fósseis.
  • 20:48 - 20:51
    E todas aquelas coisas terríveis
    que fazemos
  • 20:51 - 20:54
    e que destroem o nosso clima.
  • 20:54 - 20:56
    Toda a gente está a falar
  • 20:56 - 21:02
    sobre o facto de que tivemos
    uma redução extraordinária do CO2
  • 21:02 - 21:04
    porque não temos andado de carro.
  • 21:05 - 21:07
    Tenho de dizer que esta é a melhor prova
  • 21:07 - 21:10
    de que somos nós os responsáveis
    pela alteração climática.
  • 21:10 - 21:12
    Todos os cépticos das mudanças climáticas
  • 21:12 - 21:15
    que acham que elas
    não se devem aos seres humanos,
  • 21:15 - 21:19
    acabámos de ter uma demonstração mundial
  • 21:19 - 21:22
    do que as pessoas fazem
    para criar as alterações climáticas.
  • 21:22 - 21:24
    Por isso, o que temos de fazer
  • 21:24 - 21:27
    é parar e mudar
    para uma economia verde.
  • 21:29 - 21:31
    CA: Muito obrigado.
  • 21:31 - 21:34
    Vou intervir no fim
    com talvez mais uma ou duas.
  • 21:34 - 21:36
    Muito obrigado.
  • 21:36 - 21:39
    DB: Então, estamos a fazer campanha
    pelas máscaras.
  • 21:39 - 21:42
    Mas também, uma das coisas
  • 21:42 - 21:45
    que se tornou clara
    a partir de tudo isto
  • 21:45 - 21:50
    é que a COVID-19 não nos torna iguais,
    como muitos tiveram esperança.
  • 21:50 - 21:54
    Algumas comunidades
    estão a sofrer consequências muito piores
  • 21:54 - 21:57
    significativamente piores, que outras.
  • 21:57 - 21:59
    A que é que se deve isso?
  • 22:00 - 22:02
    GB: Estamos a falar sobretudo
  • 22:02 - 22:04
    das comunidades
    afro-americanas e latinas
  • 22:04 - 22:10
    que parecem ter sido afectadas
    desproporcionalmente, quando infectadas.
  • 22:10 - 22:13
    Isso deve-se principalmente à exposição,
  • 22:13 - 22:16
    Essas populações têm trabalhos
    com maior contacto cara a cara.
  • 22:16 - 22:19
    Ou seja, os motoristas,
  • 22:19 - 22:21
    os empregados de mercearia,
  • 22:21 - 22:24
    os trabalhadores permanente
    de instalações de cuidados de saúde,
  • 22:24 - 22:25
    nos lares de acolhimento,
  • 22:26 - 22:28
    em matadouros, na avicultura.
  • 22:28 - 22:31
    É por isso que estão
    mais expostos à doença.
  • 22:31 - 22:33
    Muita susceptibilidade.
  • 22:34 - 22:35
    Muitas doenças crónicas.
  • 22:35 - 22:38
    Sabemos que
    os afro-americanos, em particular,
  • 22:38 - 22:43
    têm uma quantidade desproporcionada
    de diabetes, de problemas cardíacos,
  • 22:43 - 22:44
    de problemas pulmonares,
  • 22:44 - 22:48
    e devido a estes problemas crónicos,
  • 22:48 - 22:51
    descobrimos bastante cedo que o vírus
  • 22:52 - 22:56
    é mais prejudicial às populações
    que têm estas doenças.
  • 22:56 - 22:58
    Esse é o grande problema aqui.
  • 22:58 - 23:01
    É isso que está a causar
    essas diferenças
  • 23:01 - 23:04
    e é um verdadeiro problema
  • 23:04 - 23:06
    porque, de muitas formas,
  • 23:06 - 23:08
    essas são muitas das pessoas
  • 23:08 - 23:11
    que considerámos que eram
    trabalhadores essenciais
  • 23:11 - 23:13
    e que têm de ir trabalhar.
  • 23:13 - 23:14
    DB: Exactamente.
  • 23:15 - 23:17
    Qual é, na sua opinião,
    a intervenção de saúde pública
  • 23:17 - 23:21
    que pode proteger
    esses trabalhadores essenciais,
  • 23:21 - 23:23
    se é que tem alguma ideia nessa área?
  • 23:24 - 23:25
    GB: Com certeza que tenho.
  • 23:25 - 23:30
    Começámos com uma estratégia
    de testes baseada em sintomas.
  • 23:30 - 23:33
    E agora que temos testes suficientes,
  • 23:33 - 23:37
    temos de garantir que as pessoas
    não são testadas só por razões clínicas,
  • 23:37 - 23:39
    não são só as pessoas que têm sintomas.
  • 23:39 - 23:42
    Temos de dar prioridade às pessoas
    que trabalham cara a cara,
  • 23:42 - 23:44
    aos trabalhadores essenciais.
  • 23:44 - 23:48
    Por isso, as pessoas que trabalham
    em lares, hospitais, etc.
  • 23:48 - 23:51
    e também os motoristas, os seguranças,
  • 23:51 - 23:52
    os empregados de mercearia.
  • 23:52 - 23:54
    Eles têm de ser testados,
  • 23:54 - 23:56
    e têm de ser testados periodicamente
  • 23:56 - 23:59
    para os manter em segurança,
    a eles e às suas famílias
  • 23:59 - 24:01
    e dar confiança a toda a gente
  • 24:01 - 24:02
    de que não vão ficar infectados
  • 24:02 - 24:05
    e de que não os vamos infectar.
  • 24:05 - 24:08
    Quem trabalha em matadouros,
    por exemplo.
  • 24:08 - 24:10
    Já vimos a verdadeira tragédia
  • 24:10 - 24:11
    do que se passa nos matadouros,
  • 24:12 - 24:15
    porque é um contexto em que
    os trabalhadores estão ombro a ombro.
  • 24:15 - 24:18
    Há mais coisas que é preciso fazer
  • 24:18 - 24:21
    para percebermos como manter
    a distância social na linha de montagem,
  • 24:21 - 24:23
    isso é importante.
  • 24:23 - 24:25
    Mas novamente, a ideia do Uri não é má
  • 24:25 - 24:27
    e o país deve considerá-la,
  • 24:27 - 24:29
    assim como muitas destas indústrias.
  • 24:30 - 24:33
    DB: Sim, temos de nos certificar
    de que estes trabalhadores
  • 24:33 - 24:38
    são tratados como essenciais,
    e não como trabalhadores de retaguarda.
  • 24:38 - 24:42
    E claro, isto não se resume aos EUA.
  • 24:43 - 24:44
    GB: Oh, certamente.
  • 24:44 - 24:47
    Vemos estas disparidades não só nos EUA,
  • 24:47 - 24:49
    mas noutros países também.
  • 24:49 - 24:53
    E têm muito a ver
    com a raça e a classe
  • 24:53 - 24:55
    e o tipo de trabalho que se tem,
  • 24:55 - 24:58
    as ocupações que se têm.
  • 24:58 - 25:00
    E francamente,
  • 25:00 - 25:05
    devíamos ter pensado nisso
    quando vimos as primeiras informações
  • 25:05 - 25:07
    que mostraram isso na China,
  • 25:07 - 25:11
    ou seja, que pessoas com doenças crónicas
    estavam em maior risco
  • 25:11 - 25:13
    e tinham piores resultados na saúde.
  • 25:13 - 25:16
    Devíamos ter sido
    muito mais rápidos na acção,
  • 25:16 - 25:18
    porque, olhem o que aconteceu
    com cada doença nova
  • 25:18 - 25:20
    que chegou ao país.
  • 25:21 - 25:27
    DB: Parece que tudo isto vai ao encontro
  • 25:27 - 25:29
    — não é um paradoxo —
  • 25:29 - 25:31
    a saúde pública é o trabalho de todos,
  • 25:31 - 25:33
    e temos de a adotar.
  • 25:33 - 25:35
    Na sua perspectiva,
  • 25:35 - 25:38
    como será uma infraestrutura
    de saúde pública robusta?
  • 25:38 - 25:41
    Com que se parecerá?
  • 25:42 - 25:44
    GB ; Bem, sempre que nos chega
    uma nova ameaça da saúde,
  • 25:44 - 25:47
    temos de conseguir
    identificá-la rapidamente,
  • 25:47 - 25:49
    contê-la,
  • 25:49 - 25:54
    e, se pudermos, mitigá-la,
    e eliminá-la se possível,
  • 25:54 - 25:56
    e impor todas as medidas de protecção
  • 25:56 - 25:57
    que já tivemos antes.
  • 25:57 - 26:01
    Isso implica ter funcionários suficientes,
  • 26:01 - 26:05
    um órgão de saúde pública
    governamental competente,
  • 26:05 - 26:08
    tal como temos para a polícia,
    para os bombeiros, para os correios.
  • 26:08 - 26:12
    Implica que sejam bem pagos,
  • 26:12 - 26:15
    implica que têm de ter
    os recursos necessários.
  • 26:15 - 26:18
    Ainda temos despistadores de contactos
  • 26:18 - 26:21
    que usam canetas e blocos
  • 26:22 - 26:25
    e enviam coisas
    para uma folha de cálculo do Excel.
  • 26:25 - 26:28
    Não, nós precisamos do mesmo tipo
    de tecnologia robusta
  • 26:28 - 26:33
    que os trabalhadores de qualquer
    rede de retalho "online" usam,
  • 26:33 - 26:36
    quer seja a Amazon, etc.
  • 26:36 - 26:40
    Ainda andamos a ver informações
    com dois anos de atraso
  • 26:40 - 26:42
    para tomar decisões que dependem delas.
  • 26:42 - 26:44
    Precisamos de poder
    tomar decisões imediatas.
  • 26:44 - 26:48
    A propósito, falando de Taiwan
    — referido há pouco —
  • 26:48 - 26:49
    lembro-me de estar em Taiwan
  • 26:49 - 26:54
    a assistir às informações a chegarem,
    em tempo real, sobre doenças infecciosas,
  • 26:54 - 26:56
    num sistema de históricos médicos
    electrónico que eles têm.
  • 26:57 - 27:00
    Nós podemos fazer o mesmo,
    a tecnologia existe.
  • 27:00 - 27:02
    DB: Quem diria.
  • 27:02 - 27:04
    Uau! Informações de saúde em tempo real,
  • 27:04 - 27:07
    que diferença que isso faria.
  • 27:08 - 27:11
    Acha que a tecnologia
    nos pode ajudar aqui,
  • 27:11 - 27:15
    quer seja uma colaboração
    entre a Google e a Apple, o que seja?
  • 27:16 - 27:18
    GB: A tecnologia pode ajudar-nos,
  • 27:18 - 27:20
    mas não nos vai substituir.
  • 27:20 - 27:23
    Não estamos nem perto do momento
    em que possamos relaxar
  • 27:23 - 27:28
    e deixar o nosso avatar electrónico
    trabalhar por nós.
  • 27:28 - 27:30
    Mas a tecnologia pode superar-nos.
  • 27:30 - 27:33
    Pode-nos dar uma consciência da situação.
  • 27:33 - 27:36
    Pode-nos dar informações em tempo real.
  • 27:36 - 27:39
    Permite-nos enviar informações
    do ponto A para o ponto B
  • 27:39 - 27:41
    para análise dos dados.
  • 27:41 - 27:44
    Permite-nos pensar duas vezes.
  • 27:44 - 27:46
    enquanto fazemos um modelo,
  • 27:46 - 27:50
    os outros podem logo verificar os números.
  • 27:50 - 27:53
    Portanto, pode acelerar a investigação.
  • 27:53 - 27:56
    Mas temos de investir nisso,
  • 27:56 - 27:58
    e temos de continuar,
  • 27:58 - 28:03
    porque a parte má da tecnologia
    é ficar rapidamente obsoleta.
  • 28:04 - 28:07
    DB: E parece que o Chris
    está de volta com mais perguntas.
  • 28:08 - 28:10
    CA: Sim, parece que estamos
    próximos do fim,
  • 28:10 - 28:12
    mas as perguntas continuam a chegar.
  • 28:12 - 28:15
    Aqui está uma do Neelay Bhatt.
  • 28:15 - 28:20
    "Que papel terão os parques,
    caminhos e espaços amplos
  • 28:20 - 28:23
    "nos objectivos gerais
    da saúde pública?"
  • 28:24 - 28:29
    GB: Bem, os espaços verdes
    são absolutamente essenciais,
  • 28:29 - 28:33
    e podermos sair
    para andar e fazer exercício,
  • 28:33 - 28:36
    ter passeios, para termos
    comunidades para peões,
  • 28:36 - 28:40
    ciclovias, e parques para utilização
    de todas as idades.
  • 28:40 - 28:44
    É bom para a nossa saúde mental,
    é bom para a nossa saúde física.
  • 28:44 - 28:46
    E digo sempre a toda a gente
  • 28:46 - 28:50
    que é um lugar magnífico para irmos
    quando alguém nos mói o juízo.
  • 28:52 - 28:53
    CA: É mesmo.
  • 28:53 - 28:56
    Temos aqui uma pergunta anónima.
  • 28:56 - 28:59
    Quando possível, não fiquem anónimos,
  • 28:59 - 29:02
    porque aqui somos todos amigos,
    no fim de contas.
  • 29:02 - 29:04
    Provavelmente, é alguém... Enfim.
  • 29:05 - 29:07
    Vamos ver, mas é uma boa pergunta.
  • 29:07 - 29:11
    "Muitos estão desconfiados
    do que os peritos têm vindo a dizer.
  • 29:11 - 29:14
    "Há alguma técnica eficaz
    para ajudar alguém muito desconfiado
  • 29:14 - 29:17
    "a ser menos desconfiado
    e mais confiante?"
  • 29:17 - 29:18
    GB: Dizer a verdade.
  • 29:19 - 29:24
    Se fizerem um erro, reconheçam-no
    e corrijam-no logo.
  • 29:25 - 29:26
    Sejam consistentes.
  • 29:30 - 29:33
    Não digam coisas estúpidas.
  • 29:34 - 29:37
    Isso acontece demasiadas vezes.
  • 29:37 - 29:39
    Aliás, umas das coisas interessantes,
  • 29:39 - 29:42
    já falámos disso na discussão
    das máscaras.
  • 29:43 - 29:46
    A sabedoria tradicional dizia que
    as únicas pessoas que deviam usar máscara
  • 29:46 - 29:48
    eram as que estavam infectadas
  • 29:48 - 29:50
    ou que estavam num hospital
  • 29:50 - 29:53
    onde haveria um alto risco
    de apanharem a doença.
  • 29:53 - 29:55
    E depois dissemos que não,
  • 29:55 - 29:58
    que era melhor todos usarem máscaras.
  • 29:58 - 30:00
    Isso porque finalmente entendemos
  • 30:00 - 30:03
    — e tornou-se muito mais credível —
  • 30:03 - 30:08
    que, segundo a ciência,
    havia contágio assintomático.
  • 30:08 - 30:10
    Mas não o comunicámos como deve ser.
  • 30:10 - 30:12
    Dissémos: "Oh, não, não,
    mudámos de ideias,
  • 30:12 - 30:14
    "todos podem usar máscaras",
  • 30:14 - 30:16
    depois de dizermos para não as usarem.
  • 30:16 - 30:19
    Depois não dedicámos tempo suficiente
    a explicar às pessoas porquê.
  • 30:19 - 30:21
    Logo, perdemos a confiança.
  • 30:21 - 30:23
    Precisamos de fazer melhor.
  • 30:23 - 30:27
    E depois, os nossos líderes,
  • 30:27 - 30:30
    quando têm um microfone à frente,
    têm de ter cuidado com o que dizem.
  • 30:31 - 30:33
    Já agora, eu já cometi erros,
  • 30:33 - 30:37
    Disse coisas na televisão
    que estavam erradas,
  • 30:37 - 30:40
    porque eu estava errado.
  • 30:40 - 30:41
    E esforcei-me muito
    para corrigir esses erros
  • 30:41 - 30:43
    o mais rápido possível.
  • 30:43 - 30:44
    Todos nós fazemos isso,
  • 30:44 - 30:47
    mas temos de ser suficientemente fortes
  • 30:47 - 30:50
    e ter uma personalidade forte
    para dizermos quando estamos errados
  • 30:50 - 30:52
    e depois corrigi-lo.
  • 30:52 - 30:55
    Porque, no fim de contas,
    assim que perdemos a confiança,
  • 30:55 - 30:57
    perdemos tudo.
  • 30:59 - 31:00
    CA: Bem, se me permite,
  • 31:00 - 31:03
    a forma como está
    a comunicar connosco agora,
  • 31:03 - 31:06
    para mim é uma forma de comunicação
  • 31:06 - 31:08
    que gera confiança.
  • 31:09 - 31:11
    Não sei que ingrediente secreto
    é que temos aqui,
  • 31:11 - 31:15
    mas é muito motivador ouvi-lo falar.
  • 31:15 - 31:17
    Muito obrigado por isso.
  • 31:17 - 31:19
    David, tens mais algumas sugestões?
  • 31:20 - 31:22
    GB: Cometi muitos erros.
  • 31:22 - 31:25
    DB: Sim, não, mas foi mesmo
    um enorme prazer
  • 31:25 - 31:27
    tê-lo connosco,
    agradecemos-te por isso.
  • 31:27 - 31:29
    Apenas uma última pergunta, se puder.
  • 31:30 - 31:33
    Já faz isto há algum tempo,
  • 31:33 - 31:36
    o que é que lhe dá esperança
    para continuar?
  • 31:38 - 31:40
    GB: Vou dizer uma coisa.
  • 31:40 - 31:42
    Aquilo que me dá esperança
  • 31:42 - 31:45
    é ver as pessoas cuidar
    dos seus amigos e familiares.
  • 31:45 - 31:48
    Por exemplo, festas de aniversário
    em "drive-in".
  • 31:49 - 31:51
    Vi isso hoje nas notícias.
  • 31:51 - 31:53
    Pessoas que telefonam aos seus amigos.
  • 31:53 - 31:56
    Fui contactado por pessoas
    com quem não falava há anos,
  • 31:56 - 31:58
    que me ligaram só para dizer:
  • 31:58 - 32:00
    "Não falamos há imenso tempo.
    Está tudo bem?"
  • 32:00 - 32:02
    Por isso, continuem a fazer isso.
  • 32:02 - 32:04
    E a confiança
    que temos tido uns nos outros,
  • 32:04 - 32:07
    e o amor que temos mostrado,
    tem sido incrível.
  • 32:07 - 32:08
    Isso dá-me esperança.
  • 32:09 - 32:11
    DB: No fim, a humanidade vence.
  • 32:11 - 32:13
    GB: Sim.
  • 32:13 - 32:16
    DB: Bem, muito obrigado, Dr. Benjamin,
  • 32:16 - 32:19
    por se juntar a nós
    e partilhar os seus conhecimentos.
  • 32:20 - 32:21
    GB: Grato por estar aqui.
  • 32:21 - 32:23
    CA: Obrigado.
  • 32:23 - 32:24
    GB: Fiquem bem.
  • 32:24 - 32:26
    E as vossas famílias também.
  • 32:26 - 32:28
    DB: Obrigado e igualmente.
Title:
A arma secreta contra pandemias
Speaker:
Georges C. Benjamin, David Biello, Chris Anderson
Description:

A pandemia do coronavírus não será a última crise a testar os sistemas de saúde pública mundiais, diz-nos o médico e dirigente de políticas de saúde Georges C. Benjamin. Ele explica-nos o que é necessário para sairmos desta pandemia e evitarmos as pandemias futuras — que passa por termos um órgão de saúde governamental robusto, com tecnologia de topo e uma equipa competente — e explica como é que os cidadãos, empresas e líderes políticos podem fazer a parte deles para pôr a saúde pública em primeiro lugar.
(Esta conversa virtual, apresentada por David Biello, divulgador científico, e Chris Anderson, o chefe do TED, foi gravada a 20 de Maio de 2020.)

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
32:41

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