Apoio à crise para o mundo, através de apenas uma mensagem de texto

E se pudéssemos ajudar as pessoas em crise a qualquer momento, em qualquer lugar, com uma simples mensagem de texto? Essa é a ideia por trás do Crisis Text Line, um serviço gratuito 24 horas que conecta pessoas necessitadas a conselheiros voluntários treinados em crises, "estranhos ajudando estranhos em todo o mundo, como uma gigantesca máquina global de amor", afirma a cofundadora e CEO Nancy Lublin. Saiba mais sobre seus grandes planos de expansão para quatro novos idiomas, fornecendo a um terço do mundo suporte crucial e que salva vidas. (Esse plano ambicioso faz parte do Audacious Project, a iniciativa do TED de inspirar e financiar mudanças globais.)

"Tenho 14 anos e quero ir para casa."

"Meu nome é Beth, pode contar comigo,

me diga mais."

"Eu já fugi antes, mas nunca
me envolvi com algo assim.

Acho que puseram drogas na minha bebida."

"Parece que você não se sente segura.

A maneira mais rápida de obter ajuda
é você ligar para a emergência."

"Só rindo, Beth.
Se me ouvirem, vão me matar.

Estão prestes a mandar outro homem
pra fazer sexo comigo, por favor, rápido."

"Certo, você parece estar em perigo.

Posso ligar para a emergência
e enviar ajuda.

Você está sendo muito corajosa."

"Obrigada, Beth.

Diga à polícia para ter cuidado,
esses homens estão armados."

Posso compartilhar essa história,

porque foi amplamente divulgada
em agências de notícias de todo o país.

Ligamos para a emergência.

A polícia resgatou essa garota,
mais outras duas

e prendeu três homens,

tudo no Motel 6 em San Jose.

Meu nome é Nancy "Beth" Lublin.

Sou cofundadora e diretora executiva
da "Crisis Text Line",

serviço gratuito 24 horas,
7 dias por semana,

que ajuda pessoas por mensagem
de texto e Messenger,

com problemas de saúde mental
e comportamental.

Quando entro na plataforma
como conselheira de crise,

uso o pseudônimo "Beth".

Eu fui a conselheira de crise
que participou daquela conversa.

A Crisis Text Line é isso.

São estranhos ajudando estranhos
em seus momentos mais sombrios

a permanecerem vivos,
sentirem-se menos sozinhos

e lembrá-los de como são fortes.

A Crisis Text Line foi lançada
discretamente em agosto de 2013

em Chicago e em El Paso, e em quatro meses

estávamos em todos os 274 códigos
de área dos Estados Unidos,

porque as pessoas usaram o serviço,

tiveram uma ótima experiência
e compartilharam com os amigos;

isso é crescimento orgânico.

E em seis anos e meio, já processamos
cerca de 150 milhões de mensagens.

Os usuários de nosso serviço gratuito,
24 horas por dia, 7 dias por semana,

tendem a ser jovens,

porque são mensagens de texto.

Deles, 45% têm menos de 17 anos.

Também são pobres, racialmente diversos.

E 17% se identificam como hispânicos
e 44% são LGBTQ.

Os cinco principais problemas
que vemos são de relacionamentos,

depressão, ansiedade, autolesão

e, em aproximadamente
uma em cada quatro conversas,

pensamentos suicidas.

Todos que nos escrevem estão infelizes,

no entanto, normalmente
temos cerca de 86% de satisfação

com nossos voluntários.

O que nos torna tão bons?

A tecnologia, os dados e as pessoas.

Então, a tecnologia.

Não é um aplicativo.

Não é algo que você precise baixar.

É grátis,

não há pesquisa de satisfação complicada,
então é realmente fácil de usar.

É só enviar uma mensagem.

Usamos aprendizado de máquina
para ordenar a fila

com base na gravidade.

Como um pronto-socorro
que atende um ferimento à bala

antes da criança que torceu o tornozelo.

Trabalhamos da mesma maneira,
pegamos os casos de alto risco primeiro.

Uma pessoa que engoliu
um frasco de comprimidos

viria antes de outra.

É ciência de dados para salvar vidas.

Mas são humanos que fazem
o aconselhamento.

Treinamos mais de 28 mil
conselheiros voluntários para crises,

que se inscrevem on-line,
têm os antecedentes verificados

e fazem um treinamento de 30 horas.

Se eles passam;

nem todo mundo passa,
há uma taxa de aprovação de apenas 33%;

podem salvar vidas do sofá deles.

É uma nova "atividade" de voluntariado,
como o Uber ou Lyft.

Temos pessoal em período integral
com mestrado em algum campo relevante.

Eles são supervisores,

observam todas as conversas
e intervêm, se necessário.

Graças a esta tecnologia e dados,
e ao nosso modelo de trabalho voluntário,

conseguimos alcançar
inúmeras pessoas que estão sofrendo.

Pessoas sem acesso a outros recursos,

como o adolescente gay que não pode
compartilhar com seus pais,

porque continuam lhe dizendo
pra rezar pra deixar de ser gay.

Ou a garota que não consegue
dormir às duas da manhã,

porque está ansiosa com as provas finais

e não quer decepcionar
as pessoas que a amam.

Então eles nos escrevem e nós os amamos.

Nós os apoiamos e os lembramos
o quão fortes eles são.

Trabalhamos juntos num plano
para mantê-los seguros.

E dizemos a eles que se foi bom
compartilhar conosco;

68% das pessoas dizem que falaram conosco
como nunca fizeram com outro humano;

então, se é bom compartilhar conosco,

talvez encontrem apenas mais uma pessoa
na vida deles amanhã para compartilhar.

E depois da nossa conversa,

eles colocam esse plano
de segurança em prática.

E talvez consigam dormir.

Ou façam um diário.

Ou escutem a música de BTS ou Lizzo,
escrevam uma carta para a irmã,

para o chefe ou para si mesmos,
para ler em 12 meses.

Eles se sentem seguros.

Às vezes, a pessoa tem a ideia,
o plano, os meios e a oportunidade

para machucar a si mesma ou outra pessoa,
e não temos como impedir.

Como um homem no Texas,
há cinco anos na véspera de Natal,

que nos disse que só sentia prazer
quando infligia dor,

que queria matar mulheres
e o faria naquela mesma noite.

Nessas situações de risco iminente,
ligamos para a emergência.

E ainda bem que esse número existe,
porque naquele incidente no Texas,

como relatado nos noticiários,
eles enviaram a polícia para a casa dele,

o encontraram com um arsenal
de armas carregadas

e na posse de um pé humano.

Resgates ativos são menos de 1%
das nossas conversas.

Mas ainda assim, são cerca de 26 por dia.

Seis desses por semana são por homicídio.

Normalmente atiradores em escolas.

Realizamos mais de 32 mil resgates ativos.

Nossos próprios dados e estudos externos

mostram que somos muito bons
em salvar e mudar vidas.

Usamos os dados para possibilitar
a alteração de sistemas.

Então, por exemplo,

descobrimos que a melhor maneira
e linguagem para avaliar riscos

em torno da ideação suicida

não é usar as palavras:
"Está pensando em cometer suicídio?"

Em vez disso, é usar palavras como:
"Está pensando em morte ou em morrer?"

Ou: "Você está pensando em se matar?"

E agora compartilhamos essa linguagem
com os jornalistas, para adotarem isso.

Mesma coisa com ativistas.

Aconselhamos a Associação Nacional
de Números de Emergência,

a "Associação 911",

sobre práticas recomendadas
para socorristas de suicidas.

E trabalhamos
com a Administração de Veteranos

para identificar ideação
e intenção suicidas neles.

O sofrimento não é uma experiência
apenas dos norte-americanos.

É uma experiência humana,
então, estamos crescendo.

Até agora, expandimos um país de cada vez:

Irlanda, Reino Unido, Canadá;
esse último em francês e inglês.

Poderíamos continuar crescendo,
um país de cada vez.

Mas levaria décadas

para atingir apenas um terço
das pessoas no mundo.

E isso não é aceitável.

Desde o início da COVID no início de março

vimos um aumento de 40% em nosso volume.

De nossas conversas, 78% incluem palavras
como "assustado", "com medo", "pânico".

As pessoas estão apreensivas com a COVID,
nervosas com os sintomas

e preocupadas com a família
nas linhas de frente.

Também estamos vendo o impacto
das próprias quarentenas.

As pessoas não têm seguido a rotina delas,

talvez estejam em quarentena
com pessoas abusivas.

Vimos um aumento de 48% no abuso sexual

e de 74% na violência doméstica.

Um dos maiores impactos que vimos
do vírus e do confinamento

é o estresse financeiro.

Mais pessoas nos procuram
com medo de falência,

temores de falta de moradia
e outras ruínas financeiras.

E neste momento, 32% de nossos voluntários

se identificam com rendas domésticas
abaixo de US$ 20 mil anuais.

Isso é superior à nossa típica
renda baixa de 19%.

Então, precisamos crescer, rapidamente.

Há meses planejávamos
anunciar que expandiríamos:

cinco idiomas nos próximos cinco anos,

cobrindo 32% do planeta.

E então, a COVID aconteceu.

As coisas mudaram.

E agora cinco anos parecem um luxo.

Então hoje

estamos nos comprometendo
a fazê-lo na metade do tempo.

Cinco idiomas em dois anos e meio.

Vamos ativar o espanhol, o inglês,
o português e o francês em qualquer lugar.

E o quinto idioma? Árabe.

Levaremos nosso serviço
para países e populações

que têm serviços de saúde mental limitados

e quase nenhuma informação
sobre o que está havendo.

Isso inclui populações
de imigrantes, com celulares.

E os jovens, que frequentemente
não são computados em estudos,

mas eles têm celulares.

Transferimos para o idioma,
o que facilita a tecnologia,

porque, além de mensagens de texto,
vamos usar o WhatsApp e o Messenger.

E a expansão global nos ajuda
com atendimento no meio da noite,

porque teremos cobertura de fuso horário.

Então pense sobre isso:

serão estranhos ajudando
estranhos em todo o mundo.

Como uma máquina de amor global gigante.

E o fato da comunidade TED
ter apoiado nosso sonho audacioso

é profundamente significativo,

para mim e para todos da nossa equipe.

E o melhor jeito de mostrar nossa gratidão

é contando que estamos
prontos e empolgados.

E nós vamos usar esse apoio

para impactar milhões de vidas
em todo o mundo.

São tempos difíceis.

É confuso e deprimente,

e, às vezes, nos sentimos sozinhos,
especialmente no isolamento.

Mas não importa a idade,

qual seja a sua situação
ou onde você mora,

estaremos ao seu alcance, no seu bolso.

Nas últimas semanas, pensei muito
naquela garota sendo traficada

com quem eu me conectei.

E espero que ela esteja num lugar seguro.

Eu não sei como está a quarentena dela

ou com quem ela está,
mas espero que esteja segura.

E eu não sei como ela obteve
o nosso número no ano passado,

ou até como teve acesso
a um telefone para nos contatar.

Eu nunca perguntei a ela.

Porque isso não importava.

O que importava era que ela
pôde entrar em contato conosco

e que conseguimos ajuda rapidamente.

E esse é o objetivo,

tornar mais fácil
para as pessoas obterem ajuda

ao invés de se esquivarem dela.

Que em momentos de dificuldade,
de perigo, de distância física,

ninguém nunca esteja sozinho.

Graças ao Crisis Text Line,
nenhum de nós nunca está sozinho.

[Apoie esta iniciativa
no AudaciousProject.org]