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标题:
Estamos a interromper a curiosa vida sexual dos peixes?
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描述:
O oceano alberga uma peculiar parte da vida sexual marinha, talvez mais estranha (e curiosa) do que imaginamos. Mas, o comportamento humano está a interromper estes atos reprodutivos atrevidos? Mergulhem fundo com a bióloga Marah J. Hardt para descobrir o que está exatamente a acontecer no fundo do mar — e porque é que a nossa prosperidade depende da vida sexual saudável das criaturas marinhas.
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演讲者:
Marah J. Hardt
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Agora mesmo,
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sob um mar azul cintilante,
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milhões de peixes estão a fazer sexo.
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E a maneira como o fazem
e as estratégias que usam
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não são nada como o que vemos em terra.
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Observem o peixe-papagaio.
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Nesta espécie,
todos os peixes nascem fêmeas,
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Mais tarde na vida
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a fêmea poderá mudar para macho,
e terá este aspeto.
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Mas não é simplesmente
uma mudança espetacular de roupa.
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O corpo pode reabsorver os ovários
e, no seu lugar, crescem os testículos.
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Apenas nalgumas semanas,
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ela passará de produzir ovos
para produzir esperma.
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e no oceano também é muito comum.
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Na verdade, aposto que quase todos aqui
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já provaram um prato de marisco
em qualquer altura,
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preparado com um indivíduo
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que começou a vida com um sexo
e mudou para outro.
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Vejo algumas cabeças a acenar,
a dizer que sim.
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Mas nem todos os peixes que mudam de sexo
começam como fêmeas.
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Os peixes-palhaços que conhecemos
do "À procura de Nemo"?
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Todos eles nasceram machos.
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quando a mãe do Nemo morreu,
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o Marlin, o pai do Nemo,
teria mudado para Marlene
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(Risos)
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e Nemo talvez acasalasse com o pai,
depois de este ter passado a mãe.
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(Risos)
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Podem ver...
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(Risos)
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Sim.
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Podem ver porque é que a Pixar
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tomou algumas liberdades
com o enredo, certo?
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(Risos)
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Então, a troca de sexo no oceano
pode acontecer nas duas direções
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e, às vezes, até vai alternando,
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e isso é só uma
das muitas estratégias incríveis
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que os animais do oceano usam
para se reproduzirem.
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Acreditem em mim quando eu digo
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que é uma das menos surpreendentes.
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O sexo no mar é fascinante
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e também muito importante,
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não só para as biólogas marinhas
fanáticas como eu
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que são obcecadas por compreenderem
estes romances salgados.
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Isso é importante para todos nós.
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Hoje, dependemos da pesca selvagem
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para ajudar a alimentar
mais de dois mil milhões de pessoas
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Precisamos de milhões de ostras e corais
para construir os recifes gigantes
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que protegem as costas da subida
do nível do mar e das tempestades.
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Dependemos de medicamentos que são
encontrados em animais marinhos
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para combater o cancro e outras doenças.
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Muitos de nós recorrem
à diversidade e beleza dos oceanos
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para recreação, para relaxamento
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e para a nossa herança cultural.
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Para continuarmos
a beneficiar da abundância
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que a vida oceânica nos fornece,
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o peixe, o coral e o camarão de hoje
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precisam de produzir
o peixe, o coral e o camarão de amanhã.
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Para isso, precisam
de praticar muito sexo.
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E até há pouco tempo,
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nós não sabíamos
como esse sexo acontecia no mar.
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É muito complicado de estudar.
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Mas graças à nova ciência e tecnologia,
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sabemos hoje muito mais
do que sabíamos há uns anos,
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e essas novas descobertas
estão a mostrar duas coisas.
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Primeiro, o sexo no mar é muito bom.
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Segundo, as nossas ações estão a causar
estragos na vida sexual de todos,
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Eu sei, é difícil de acreditar.
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Por isso, vou revelar alguns detalhes
de como os animais fazem nas profundezas,
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como talvez estejamos a interromper
esses romances íntimos
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e o que podemos fazer para mudar isso.
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Lembram-se daqueles peixes
que mudam de sexo?
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Em muitos lugares do mundo,
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temos as regras de pesca que estabelecem
o tamanho mínimo para a captura.
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Os pescadores não podem capturar
peixes pequenos.
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Isso possibilita que os peixes cresçam
e se reproduzam antes de serem capturados
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Assim, os pescadores procuram
os peixes maiores.
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Mas com os peixes-papagaio, por exemplo,
ou qualquer outro que mude de sexo,
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visar os peixes grandes significa
que estão a eliminar todos os machos.
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Isso dificulta que os peixes fêmeas
encontrem um parceiro
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ou força-as a mudar de sexo mais cedo
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enquanto ainda são pequenas.
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Estas duas coisas podem resultar
em poucos peixes bebés no futuro.
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Para cuidarmos adequadamente
dessas espécies,
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temos de saber se eles mudam de sexo,
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Só assim podemos criar regras
que apoiem essas estratégias sexuais,
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como estabelecer um tamanho máximo limite
para além do tamanho mínimo.
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O problema não é que não consigamos
pensar em soluções que protejam o sexo.
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O problema é saber qual a solução
a aplicar a cada espécie,
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porque até os animais que conhecemos bem
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nos surpreendem
quando se trata da vida sexual.
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Observem a lagosta do Maine.
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Não parecem muito românticas
nem muito perversas
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(Risos)
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Durante a época de reprodução
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as lagostas fêmeas querem acasalar
com o macho maior e mais malvado,
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mas estes tipos são mesmo agressivos,
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e atacam quaisquer lagostas
que se aproximem, macho ou fêmea.
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Entretanto, a melhor época
para ela acasalar com o macho
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quando perde a carapaça.
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Então ela precisa de se aproximar dele
no seu estado mais vulnerável.
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O que é uma rapariga deve fazer?
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Borrifá-lo na cara dele
repetidamente com urina.
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(Risos)
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Debaixo do mar, a urina
é uma poção de amor muito poderosa.
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Convenientemente, a bexiga das lagostas
ficam por baixo do cérebro,
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e elas têm dois bicos controladores
por baixo dos pedúnculos oculares
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com os quais podem ejetar
a urina para a frente.
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Então, a fêmea aproxima-se
da toca do macho
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e, enquanto ele a ataca,
ela solta um jato de urina
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Uns dias desta dose diária
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é o suficiente para o aroma dela
ter um efeito transformador.
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O macho passa de agressivo
a um amante gentil.
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No fim da semana,
ele convida-a para a sua toca.
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Depois disso, o sexo é fácil.
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Então, como estamos a interromper
este tipo de cortejo perverso?
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Bom, a urina da fêmea
tem um sinal químico fundamental
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que funciona porque
pode passar pela água do mar
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e as lagostas têm um recetor de cheiro
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que deteta e recebe a mensagem.
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A alteração climática está
a tornar os oceanos mais ácidos.
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É o resultado de demasiado
dióxido de carbono na água do mar,
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Esta mudança química pode
baralhar essa mensagem,
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ou pode danificar os recetores
de cheiro da lagosta.
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A poluição da terra
pode ter impactos semelhantes.
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Imaginem apenas a consequência
para a fêmea
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se a sua poção do amor falhar.
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Esses são os impactos subtis
mas significantes que causamos
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na vida amorosa destas vidas marinhas.
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E esta é uma espécie que conhecemos bem:
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lagostas que vivem perto
das margens , em águas baixas.
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Se mergulharmos mais fundo,
o sexo ficará ainda mais estranho.
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Os Lophiiformes vivem
a 900 metros abaixo da superfície
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em águas escuras como breu,
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Os machos nascem sem a capacidade
de se alimentarem sozinhos.
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Para sobreviverem, precisam
de encontrar uma fêmea rapidamente.
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No entanto, a fêmea,
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que é dez vezes maior que o macho
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liberta uma feromona muito forte
que atrai os parceiros.
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Então o pequeno macho nada
entre as águas negras
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a farejar o caminho até à fêmea.
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dá-lhe uma mordidela de amor.
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Aqui as coisas ficam realmente
estranhas.
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Aquela mordidela de amor
provoca uma reação química
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em que o maxilar dele
começa a desintegrar-se.
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A cara dele derrete-se na carne dela
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e os corpos dos dois começam a fundir-se.
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Os sistemas circulatórios deles
entrelaçam-se
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e todos os órgãos internos dele
começam a dissolver-se,
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com exceção dos testículos.
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(Risos)
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Os testículos dele amadurecem
e começam a produzir esperma.
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No final, ele torna-se numa fábrica
de esperma permanentemente ligada
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e sujeita à vontade da fêmea.
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(Risos)
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É um sistema muito eficaz,
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mas não é o tipo
de estratégia de acasalamento
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que vemos numa quinta, pois não?
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Mas se não soubermos
que estes tipos de estratégias existem
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não conheceremos os impactos que
talvez tenhamos, mesmo no mar profundo.
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descobrimos uma nova espécie
de polvo do mar profundo
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em que a fêmea deposita os ovos
sobre esponjas coladas em pedras
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que estão a cerca de 4 km de profundidade.
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Essas pedras contêm minerais
raros da terra,
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e neste momento há empresas
a construir escavadoras
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capazes de explorar o fundo do mar
das profundezas por estas pedras.
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Mas as escavadoras
vão raspar todas as esponjas
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e todos os ovos com elas.
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Sabemos mas, em muitos casos,
não sabemos,
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que estamos a impedir um sexo bem
sucedido e a reprodução no fundo do mar.
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namorar e acasalar já é difícil
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sem estar ninguém a interromper
o tempo todo, certo?
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Ou seja, nós sabemos isso.
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Então hoje, enquanto eu espero
que vocês saiam daqui
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com excelentes dados
sobre sexo entre peixes,
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(Risos)
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também vos peço que se lembrem disto:
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estamos mais intimamente ligados
com os oceanos do que damos conta,
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Este nível de intimidade
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requer um novo tipo
de relação com o oceano
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que reconheça e respeite
a enorme diversidade da vida
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Não podemos continuar
a pensar no oceano
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apenas como uma coisa que existe ali,
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porque todos os dias dependemos
dele para a nossa segurança alimentar
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ou para a nossa saúde e bem-estar,
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e para qualquer outro alento que tivermos.
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Mas isso é uma relação recíproca
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e os oceanos só podem continuar
a abastecer-nos
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se, em troca, salvaguardarmos
essa fundamental força de vida no mar:
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o sexo e a reprodução.
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Então, como qualquer relação,
temos de adotar algumas mudanças
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para que esta relação funcione.
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Na próxima vez em que pensarem
comer marisco,
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procurem os de pesca sustentável
ou de cultura,
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de pesca local e na base
da cadeia alimentar.
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Por exemplo, animais como as ostras,
as amêijoas, os mexilhões,
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pequenos peixes como a cavalinha.
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Todos eles se reproduzem como loucos,
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e com uma boa gestão, podem
aguentar um pouco da pressão da pesca.
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Nós também podemos pensar
no que usamos para lavar o corpo,
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para limpar as nossas casas
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e cuidar dos nossos relvados.
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Todos esses produtos químicos
acabam por ir parar ao mar
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e prejudicam a química natural
do oceano.
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A indústria também precisa
de fazer a sua parte
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com uma abordagem preventiva,
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protegendo a atividade sexual
onde sabemos que ela existe
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e evitando danos nos casos
que ainda não conhecemos bem,
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E nas comunidades em que vivemos,
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nos lugares em que trabalhamos
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e no país em que votamos,
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nós precisamos de agir corajosamente
quanto à alteração climática e já.
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(Audiência): Sim!
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(Aplausos)
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Obrigada.
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(Aplausos)