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É possível editar memórias?

  • 0:01 - 0:05
    A memória é algo tão natural,
    que a consideramos quase como algo dado.
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    Todos lembramos o que
    tomamos no café da manhã
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    ou que fizemos no último fim de semana.
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    Somente quando a memória começa a falhar
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    é que percebemos o quanto ela é incrível
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    e o quanto somos definidos
    pelas nossas experiências passadas.
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    Mas memórias nem sempre são algo bom.
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    Como o poeta americano e clérigo
    John Lancaster Spalding disse uma vez:
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    "A memória pode ser tanto um paraíso
    de onde não queremos sair,
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    quanto um inferno,
    do qual não conseguimos escapar".
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    Muitos de nós vivenciamos
    capítulos de nossa vida
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    que preferiríamos que nunca
    tivessem acontecido.
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    Estima-se que cerca de 90% de nós
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    viveremos algum tipo de evento
    traumático durante a nossa vida.
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    Muitos de nós vamos sofrer por causa
    desses eventos e então, nos recuperar,
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    talvez até nos tornemos pessoas melhores
    por causa dessas experiências.
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    Mas alguns acontecimentos
    são tão extremos,
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    que até metade das pessoas que sobrevivem
    à violência sexual, por exemplo,
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    desenvolvem transtorno
    de estresse pós-traumático,
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    conhecido como TEPT,
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    uma condição de debilidade da saúde mental
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    caracterizada por sintomas
    como medo intenso, ansiedade
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    e flashbacks do evento traumático.
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    Esses sintomas têm um impacto enorme
    na qualidade de vida da pessoa
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    e são frequentemente ativados
    por situações particulares
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    ou sugestões ao redor da pessoa.
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    Respostas a esses sinais podem ter sido
    adaptativas quando aconteceram
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    pela primeira vez
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    como sentir medo e buscar por proteção
    em uma zona de guerra, por exemplo.
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    Mas com a TEPT, elas continuam
    a controlar o comportamento,
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    mesmo quando não é conveniente.
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    Um combatente de guerra que volta pra casa
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    e tenta se proteger quando ouve
    o estouro do escapamento de um carro,
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    ou não consegue sair de casa por causa
    de crises de ansiedade,
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    então, a resposta a essas memórias
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    passaram a ser o que chamamos
    de memórias mal-adaptativas.
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    Podemos dizer que a TEPT é o distúrbio
    de uma memória mal-adaptativa.
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    É melhor eu parar por aqui,
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    porque estou falando de memória
    como se fosse uma única coisa.
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    E não é.
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    Há muitos tipos de memória,
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    que dependem de diferentes
    circuitos e regiões cerebrais.
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    Como podemos ver, há duas distinções
    principais entre os tipos de memória.
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    Há memórias das quais temos consciência,
    que sabemos como sabemos
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    e que podemos narrar.
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    Isso inclui memórias de fatos e eventos.
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    Como podemos narrar essas memórias,
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    as chamamos de memórias declarativas.
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    O outro tipo de memória é
    a não declarativa.
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    Não temos acesso consciente a esse tipo
    de memória, ao seu conteúdo,
  • 2:55 - 2:58
    e não podemos colocá-las em palavras.
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    O clássico exemplo
    de memória não declarativa
  • 3:01 - 3:04
    é a capacidade motora
    de andar de bicicleta.
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    Acredito que a maioria de nós aqui
    saiba andar de bicicleta.
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    Sabemos o que fazer sobre duas rodas.
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    Mas se eu pedir que vocês escrevam
    uma lista de instruções
  • 3:14 - 3:16
    que poderiam me ensinar
    a andar de bicicleta,
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    como meu filho de quatro anos,
    quando demos uma bicicleta
  • 3:19 - 3:20
    no último aniversário dele,
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    teriam muita dificuldade para escrever.
  • 3:23 - 3:25
    Como se sentar e se equilibrar
    na bicicleta?
  • 3:25 - 3:28
    Com que rapidez é preciso pedalar
    para se manter estável?
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    E se bate uma rajada de vento,
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    quais músculos é preciso ativar
    para não ser levado pelo vento?
  • 3:36 - 3:40
    Ficaria perplexa se vocês me dessem
    a resposta para essas questões.
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    Mas se sabem andar de bicicleta,
    então vocês têm essas respostas,
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    só não sabem disso conscientemente.
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    Voltando ao TEPT,
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    outro tipo de memória não declarativa
  • 3:53 - 3:55
    é uma memória emocional.
  • 3:55 - 3:58
    Ela tem um significado
    especial na psicologia
  • 3:58 - 4:01
    e se refere à nossa habilidade
    de aprender os sinais do nosso meio
  • 4:01 - 4:04
    e seus significados
    emocionais e motivacionais.
  • 4:05 - 4:06
    O que quero dizer com isso?
  • 4:06 - 4:11
    Bem, pensemos em uma sugestão
    como o cheiro de um pão no forno,
  • 4:11 - 4:14
    ou algo mais abstrato,
    uma nota de 20 libras.
  • 4:14 - 4:17
    Como essas sugestões estão atreladas
    a coisas boas do passado,
  • 4:17 - 4:20
    gostamos e nos aproximamos delas.
  • 4:20 - 4:25
    Sugestões como o zunido de uma vespa
    despertam emoções negativas
  • 4:25 - 4:29
    e certo comportamento de negação
    em algumas pessoas.
  • 4:30 - 4:32
    Bom, detesto vespas.
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    Posso afirmar isso.
  • 4:34 - 4:37
    Mas não consigo dizer quais são
    as memórias emocionais não declarativas
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    de como reajo quando uma vespa
    se aproxima de mim.
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    Não consigo explicar o coração acelerado,
  • 4:42 - 4:46
    as mãos suando,
    a sensação crescente de pânico.
  • 4:46 - 4:48
    Posso descrevê-las,
  • 4:48 - 4:50
    mas não explicá-las.
  • 4:52 - 4:55
    O mais importante,
    da perspectiva do TEPT,
  • 4:55 - 5:00
    é que o estresse tem diferentes efeitos
    na memória declarativa e não declarativa
  • 5:00 - 5:03
    e nos circuitos cerebrais
    e regiões responsáveis por elas.
  • 5:03 - 5:07
    A memória emocional é controlada
    por uma pequena estrutura oval
  • 5:07 - 5:10
    chamada amídala, e por suas conexões.
  • 5:10 - 5:14
    A memória declarativa, sobretudo
    a lembrança de quando, onde e o que houve,
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    é controlado por uma região cerebral
    em forma de cavalo-marinho
  • 5:17 - 5:19
    chamada hipocampo.
  • 5:19 - 5:23
    Níveis extremos de estresse
    vivenciados durante o trauma
  • 5:23 - 5:26
    causam diferentes efeitos
    nessas duas estruturas.
  • 5:27 - 5:30
    Como podemos ver, se aumentarmos
    o nível de estresse de uma pessoa
  • 5:30 - 5:32
    de sem estresse para levemente estressado,
  • 5:32 - 5:33
    o hipocampo,
  • 5:33 - 5:36
    agindo para controlar a memória episódica,
  • 5:36 - 5:37
    aumenta sua atividade
  • 5:37 - 5:41
    e trabalha melhor para poder armazenar
    essa memória declarativa.
  • 5:41 - 5:45
    Mas se aumentarmos moderadamente
    de estressante, intensamente estressante
  • 5:45 - 5:49
    e então para extremamente estressante,
    como é o caso de um trauma,
  • 5:49 - 5:52
    o hipocampo, de modo eficiente, desliga.
  • 5:53 - 5:56
    Isso significa que sob altos níveis
    de hormônios de estresse
  • 5:56 - 5:58
    vivenciados durante o trauma,
  • 5:58 - 6:04
    não armazenamos detalhes específicos
    como quando, onde e o quê.
  • 6:05 - 6:09
    Enquanto o estresse faz isso ao hipocampo,
    vejamos o que ele faz com a amídala,
  • 6:09 - 6:13
    essa importante estrutura para
    a memória emocional, não declarativa.
  • 6:13 - 6:17
    Sua atividade fica cada vez mais intensa.
  • 6:18 - 6:23
    Assim, isso causa no TEPT uma memória
    emocional extremamente forte,
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    neste caso a memória do medo,
  • 6:24 - 6:27
    que não está relacionado
    a um lugar ou época específica,
  • 6:27 - 6:32
    porque o hipocampo não armazenou
    o quando, o onde e o quê.
  • 6:33 - 6:35
    Assim, essas sugestões podem
    controlar comportamentos
  • 6:35 - 6:38
    quando não são mais necessários,
  • 6:38 - 6:41
    e é assim que se tornam mal-adaptativas.
  • 6:41 - 6:47
    Se sabemos que o TEPT é causado
    por memórias mal-adaptativas,
  • 6:47 - 6:51
    será que poderíamos usar esse conhecimento
    para aprimorar resultados de tratamentos
  • 6:51 - 6:52
    para pacientes com TEPT?
  • 6:53 - 6:59
    Um novo método radical desenvolvido
    para tratar pacientes com TEPT
  • 6:59 - 7:02
    busca destruir essas memórias
    emocionais mal-adaptativas
  • 7:02 - 7:04
    que são a base do transtorno.
  • 7:04 - 7:09
    Esse método só tem sido considerado
    possível por causa das profundas mudanças
  • 7:09 - 7:12
    quanto à nossa compreensão
    da memória nos últimos anos.
  • 7:13 - 7:15
    Tradicionalmente, pensava-se
    que produzir uma memória
  • 7:15 - 7:18
    era como escrever em um caderno à caneta:
  • 7:18 - 7:22
    uma vez que a tinta seca,
    não se pode mais mudar a informação.
  • 7:22 - 7:24
    Achava-se que essas mudanças
    estruturais no cérebro
  • 7:24 - 7:27
    para sustentar o armazenamento da memória
  • 7:27 - 7:31
    eram finalizadas em cerca de seis horas,
    e depois, tornavam-se permanentes.
  • 7:31 - 7:35
    Isso é conhecido
    como teoria de consolidação.
  • 7:35 - 7:38
    Porém, pesquisas recentes sugerem
    que produzir uma memória,
  • 7:38 - 7:42
    na verdade, é mais como escrever
    em um programa de texto.
  • 7:42 - 7:45
    Primeiro, produzimos a memória e então,
    salvamos ou a armazenamos.
  • 7:45 - 7:50
    Mas em condições adequadas,
    podemos editar essa memória.
  • 7:50 - 7:54
    A teoria da reconsolidação sugere
    que essas mudanças estruturais
  • 7:54 - 7:56
    que acontecem no cérebro
    para sustentar a memória
  • 7:56 - 8:01
    podem ser desfeitas,
    inclusive em memórias antigas.
  • 8:02 - 8:06
    Mas o processo de edição
    não acontece o tempo todo
  • 8:06 - 8:11
    e somente em condições específicas
    de recuperação da memória.
  • 8:11 - 8:15
    Consideremos que recuperar a memória é
    como buscar uma memória,
  • 8:15 - 8:17
    ou, algo como, abrir um arquivo.
  • 8:18 - 8:21
    Frequentemente, estamos apenas
    buscando uma memória.
  • 8:21 - 8:24
    Abrimos o arquivo no modo somente leitura.
  • 8:24 - 8:28
    Mas em determinadas condições,
    podemos abrir o arquivo em modo de edição,
  • 8:28 - 8:31
    e então podemos alterar as informações.
  • 8:31 - 8:34
    Teoricamente, podemos apagar
    o conteúdo daquele arquivo,
  • 8:34 - 8:41
    e quando o salvamos, é aí que a memória
    guarda essas alterações.
  • 8:43 - 8:49
    A teoria da reconsolidação não só permite
    que contemos com subterfúgios da memória,
  • 8:49 - 8:52
    como quando às vezes
    esquecemos o passado,
  • 8:52 - 8:56
    mas também nos oferece uma forma de
    destruir memórias de medo mal-adaptativas
  • 8:56 - 8:58
    que causam a TEPT.
  • 8:59 - 9:01
    Precisamos fazer apenas duas coisas:
  • 9:01 - 9:06
    descobrir como desestabilizar a memória,
    abrindo o arquivo no modo de edição,
  • 9:06 - 9:09
    e achar um modo de apagar a informação.
  • 9:09 - 9:14
    Fizemos grandes progressos quanto
    à descoberta de como apagar a informação.
  • 9:14 - 9:19
    Descobriu-se recentemente que uma droga
    amplamente usada para controlar a pressão,
  • 9:19 - 9:23
    um betabloqueador chamado Propranolol,
    pode ser usada para prevenir
  • 9:23 - 9:26
    a reconsolidação de memórias
    de medo em ratos.
  • 9:27 - 9:31
    Quando o Propranolol era administrado
    com a memória em modo de edição,
  • 9:31 - 9:35
    os ratos agiam como se não tivessem
    mais medo depois de um gatilho de susto.
  • 9:35 - 9:40
    É como se nunca tivessem sentido medo
    a partir dessa sugestão.
  • 9:40 - 9:44
    E isso ocorreu com uma droga
    segura para humanos.
  • 9:44 - 9:48
    Não muito depois disso,
    mostrou-se que o Propranolol
  • 9:48 - 9:50
    poderia também destruir
    memórias de medo em humanos.
  • 9:50 - 9:55
    Mas só funciona se a memória
    estiver em modo de edição.
  • 9:56 - 9:59
    O estudo foi feito
    com voluntários saudáveis,
  • 9:59 - 10:02
    mas isso é importante porque mostra
    que as descobertas com os ratos
  • 10:02 - 10:06
    podem ser estendidas para humanos e,
    finalmente, para pessoas doentes.
  • 10:07 - 10:14
    Em humanos, podemos testar se apagar
    a memória emocional não declarativa
  • 10:14 - 10:17
    afeta a memória declarativa episódica.
  • 10:18 - 10:20
    E isso é muito interessante.
  • 10:20 - 10:24
    Embora as pessoas que tomaram Propranolol
    com a memória no modo de edição
  • 10:24 - 10:27
    não sentissem mais medo
    após uma sugestão de susto,
  • 10:27 - 10:34
    elas ainda podiam descrever a relação
    entre a sugestão e o sentimento de susto.
  • 10:35 - 10:39
    É como se soubessem que deveriam ter medo,
  • 10:39 - 10:41
    mas não tinham.
  • 10:42 - 10:45
    Isso sugere que o Propranolol
    pode agir seletivamente
  • 10:45 - 10:48
    na memória emocional não declarativa,
  • 10:48 - 10:52
    mas deixando intacta
    a memória declarativa episódica.
  • 10:52 - 10:56
    De modo significante, o Propranolol
    só pode ter algum efeito sobre a memória
  • 10:56 - 10:59
    se ela estiver no modo de edição.
  • 10:59 - 11:01
    E como deixamos uma memória instável?
  • 11:01 - 11:04
    Como a colocamos no modo de edição?
  • 11:04 - 11:06
    A equipe do meu laboratório
    tem trabalhado bastante nisso.
  • 11:06 - 11:12
    Sabemos que depende de introduzir
    informações novas, mas não muitas,
  • 11:12 - 11:14
    para serem incorporadas à memória.
  • 11:14 - 11:17
    Conhecemos as diferentes químicas
    que o cérebro usa para sinalizar
  • 11:17 - 11:19
    que uma memória deveria ser atualizada
  • 11:19 - 11:21
    e o arquivo, editado.
  • 11:21 - 11:25
    Nós trabalhamos sobretudo com ratos,
    mas outros laboratórios encontraram
  • 11:25 - 11:28
    os mesmos fatores que permitem
    editar memórias em humanos.
  • 11:28 - 11:33
    Até mesmo as mal-adaptativas,
    como as que causam TEPT.
  • 11:34 - 11:39
    Vários laboratórios de países diferentes
    iniciaram testes em pequena escala
  • 11:39 - 11:42
    de eliminação dessas memórias,
    para o tratamento de TEPT
  • 11:42 - 11:45
    e encontraram resultados promissores.
  • 11:46 - 11:49
    Esses estudos precisam
    ser repetidos em larga escala,
  • 11:49 - 11:55
    mas prometem tratamentos para TEPT,
    capazes de destruir essas memórias.
  • 11:55 - 12:01
    Talvez memórias traumáticas não precisem
    ser um inferno de onde não se pode fugir.
  • 12:03 - 12:06
    Apesar de a proposta de apagar memórias
    ser bastante promissora,
  • 12:06 - 12:11
    não quer dizer que isso seja fácil,
    ou que não seja controverso.
  • 12:11 - 12:13
    Destruir memórias é ético?
  • 12:13 - 12:15
    E quando se trata de um caso
    de testemunho ocular?
  • 12:15 - 12:18
    E se não pudermos receitar
    Propranolol a alguém,
  • 12:18 - 12:21
    porque isso iria interferir em outros
    medicamentos que ele usa?
  • 12:22 - 12:27
    Em relação à ética e ao testemunho ocular,
    eu diria que é importante nos lembramos
  • 12:27 - 12:30
    da descoberta a partir dessa pesquisa.
  • 12:30 - 12:34
    Como o Propranolol age somente
    na memória emocional não declarativa,
  • 12:34 - 12:38
    parece improvável que ele afetaria
    testemunhos oculares,
  • 12:38 - 12:40
    que são baseados
    em memórias declarativas.
  • 12:41 - 12:45
    Basicamente, esses tratamentos
    de apagamento de memória buscam
  • 12:45 - 12:47
    reduzir a memória emocional,
  • 12:47 - 12:50
    e não se livrar completamente
    da memória do trauma.
  • 12:51 - 12:54
    Isso deve fazer as respostas
    daqueles que sofrem de TEPT
  • 12:54 - 12:56
    se aproximarem das reações
    de quem passou por um trauma
  • 12:56 - 12:58
    e não desenvolveu o transtorno,
  • 12:58 - 13:02
    e não das reações de pessoas que nunca
    vivenciaram algum tipo de trauma.
  • 13:02 - 13:06
    Acredito que muitos achariam
    isso eticamente mais aceitável
  • 13:06 - 13:10
    do que um tratamento que criasse algum
    tipo de mente sem lembranças.
  • 13:11 - 13:13
    E quanto ao Propranolol?
  • 13:13 - 13:16
    Não podemos receitar Propranolol
    para todo mundo,
  • 13:16 - 13:19
    e nem todos querem tomar remédios
    para tratamento da saúde mental.
  • 13:19 - 13:23
    O jogo Tetris poderia ser algo útil aqui.
  • 13:23 - 13:24
    Isso mesmo, Tetris.
  • 13:25 - 13:27
    Trabalhando com colaboradores clínicos,
  • 13:27 - 13:31
    temos observado se intervenções
    comportamentais também podem interferir
  • 13:31 - 13:34
    na reconsolidação das memórias.
  • 13:34 - 13:36
    Como isso funcionaria?
  • 13:36 - 13:40
    Sabemos que é praticamente impossível
    fazer duas tarefas ao mesmo tempo,
  • 13:40 - 13:44
    se as duas forem processadas
    pela mesma região do cérebro.
  • 13:44 - 13:48
    Como tentar cantar junto com o rádio
    enquanto escreve um e-mail.
  • 13:48 - 13:52
    O processamento de uma tarefa
    interfere na outra.
  • 13:52 - 13:55
    O mesmo acontece
    quando buscamos uma memória,
  • 13:55 - 13:56
    especialmente em modo de edição.
  • 13:56 - 14:00
    Se pegamos um sintoma visual do TEPT,
    como os flashbacks,
  • 14:00 - 14:03
    e pedirmos a pessoas para relembrar
    a memória em modo de edição,
  • 14:03 - 14:08
    e que executem uma tarefa que exija
    atenção visual, como jogar Tetris,
  • 14:08 - 14:13
    seria possível introduzir tanta informação
    que interfira nessa memória,
  • 14:14 - 14:17
    que ela perderia
    seu significado essencial.
  • 14:18 - 14:19
    A teoria é essa.
  • 14:19 - 14:23
    E ela é comprovada por resultados
    com voluntários humanos saudáveis.
  • 14:23 - 14:27
    Nossos voluntários assistiram a filmes
    extremamente desagradáveis,
  • 14:27 - 14:31
    como uma cirurgia ocular, campanhas
    de conscientização de autoestradas,
  • 14:31 - 14:33
    "The Big Shave", do Scorcese.
  • 14:33 - 14:37
    Esses filmes traumáticos produzem
    algo parecido com os flashbacks
  • 14:37 - 14:41
    em voluntários saudáveis
    cerca de uma semana após assisti-los.
  • 14:42 - 14:45
    Descobrimos que fazer as pessoas
    recordarem essas memórias,
  • 14:45 - 14:51
    as piores cenas desses filmes terríveis,
    e jogar Tetris ao mesmo tempo,
  • 14:51 - 14:54
    reduz enormemente a frequência
    desses flashbacks.
  • 14:55 - 14:59
    Mais uma vez: a memória precisa estar
    em modo de edição para isso funcionar.
  • 15:00 - 15:04
    Desde então, minha equipe tem
    levado isso para pessoas afetadas.
  • 15:04 - 15:07
    Eles testaram em sobreviventes
    de acidentes de trânsito
  • 15:07 - 15:10
    e em mães que passaram
    por cesarianas de emergência.
  • 15:10 - 15:14
    Ambos tipos de trauma que levam
    com frequência ao TEPT.
  • 15:14 - 15:20
    Eles descobriram reduções nos sintomas
    bem promissoras nos dois casos clínicos.
  • 15:21 - 15:25
    Embora ainda haja muito para aprender
    e muitos procedimentos para aprimorar,
  • 15:25 - 15:29
    esses tratamentos de apagamento
    de memória são bastante promissores
  • 15:29 - 15:33
    para o tratamento de distúrbios
    de saúde mental como o TEPT.
  • 15:33 - 15:39
    Talvez memórias traumáticas não precisem
    ser um inferno de onde não se pode fugir.
  • 15:39 - 15:43
    Acredito que essa proposta deveria
    permitir àqueles que assim o desejam
  • 15:43 - 15:48
    virar a página de um capítulo da vida,
    que prefeririam nunca ter vivido,
  • 15:48 - 15:51
    melhorando assim a sanidade mental deles.
  • 15:51 - 15:52
    Obrigada.
  • 15:52 - 15:54
    (Aplausos)
Title:
É possível editar memórias?
Speaker:
Amy Milton
Description:

Traumas e transtorno de estresse pós-traumático alteram as conexões no nosso cérebro, principalmente da nossa memória, e podem desenterrar respostas emocionais destrutivas ao acioná-las. Seria possível eliminar esses gatilhos sem apagar essas memórias? A resposta pode estar na surpreendente pesquisa da neurologista Amy Milton sobre edição de memória, que está pronta para desativar os efeitos nocivos da lembrança de experiências dolorosas, oferecendo um caminho possível para uma melhor saúde mental.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
16:06

Portuguese, Brazilian subtitles

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