David Biello: É uma grande honra e um privilégio apresentar o Dr. Georges Benjamin, diretor-executivo da Associação Americana de Saúde Pública, com uma carreira longa e distinta tanto como médico quanto profissional de saúde pública. Dê suas calorosas boas-vindas ao Dr. Georges Benjamin. Georges Benjamin: Ei, David. Como vai você? DB: Estou bem. E contigo, Dr. Benjamin? GB: Estou aqui. (Risos) DB: Aguentando firme. Bom. GB: Sim. DB: Sabemos que o tema do momento é a reabertura. Acabamos de ouvir essa possibilidade, mas, obviamente, muitos países já iniciaram a reabertura de uma forma ou de outra e acredito, a partir e hoje, que todos os 50 estados aqui dos EUA reabriram de algum modo. Como fazer isso da forma mais inteligente e segura? GB: Realmente precisamos reabrir de modo mais cuidadoso, não podemos nos esquecer das medidas de saúde pública que permitiram achatar a curva. Ações como cobrir o nariz e a boca quando tossir ou espirrar, usar máscara, lavar as mãos, manter o distanciamento social na medida do possível. Refletir sobre tudo o que fazemos, antes de irmos trabalhar de manhã, ou enquanto estamos no trabalho. Sermos cuidadosos tanto quanto temos sido nos últimos dois meses, pelos próximos três meses, porque isso ainda não acabou. DB: Certo. Existe a chance de mais ondas como Uri Aron mencionou. Então, cabe a todos nós encarar a saúde pública como uma espécie de segundo trabalho. Está correto? GB: Tenho defendido bastante que agora todos, de fato, sabem o que é saúde pública, e que deveriam sempre reconhecê-la como um segundo trabalho, se trabalha como gari, num mercado ou como motorista de ônibus, ou ainda como eu, que trabalho na saúde pública, médico ou enfermeira, todos precisam vestir o manto da saúde pública no que fazem todos os dias. DB: Somos todos profissionais da saúde pública agora, você acha que esse é o novo normal que podemos esperar assim que os países reabrirem? De que forma você espera que seja como profissional da saúde pública? GB: Se eu tivesse uma varinha mágica, veria claramente que as pessoas vão fazer muito mais pela saúde pública, em termos de lavar as mãos e refletir o que fazer quanto à proteção em locais públicos. Não muito tempo atrás, quando você estava no carro, não usava o cinto de segurança. Hoje, fazemos isso e nem questionamos. Muitos de nós não fuma, porque sabemos que nos causa mal. Muitos de nós olha para os dois lados antes de atravessar a rua. Muitos de nós conserta algo de casa evitando o risco de se ferir. Então, à medida que avançamos com este surto, espero que as pessoas prestem mais atenção ao que pode nos causar uma contaminação. Limpando e desinfetando as coisas. E mais importante, não irem trabalhar se estão doente. Espero que os empregadores deem licença médica remunerada a todos, para que possam ficar em casa. Sim, é um custo adicional, mas posso garantir que aprendemos que o custo de não fazer algo assim é de bilhões de dólares. É menos custoso quando pagamos a licença médica. DB: Sim, acho que temos inveja nos Estados Unidos de todos os países que talvez tenham um sistema de saúde mais abrangente que o nosso. Você concordaria que as máscaras são uma espécie de símbolo da adesão à ideia do "profissional de saúde pública como segundo emprego"? GB: Bem, isso é engraçado. Nossos colegas na Ásia adotaram a máscara e, culturalmente, as usam há muitos anos. E nós sempre rimos disso. Quando eu ia ao exterior, sempre zombava quando via pessoas usando máscara. Claro, quando isso começou, incentivamos o uso de máscaras a pessoas infectadas somente, ou aos profissionais da saúde, que pensávamos estarem em um ambiente de alto risco. Mas acho provável que o uso de máscara fará parte de nossa cultura. Já vimos que talvez não seja parte da nossa cultura de praia, embora deva ser por enquanto. Acho que veremos cada vez mais pessoas usando máscaras em diferentes cenários. E acredito que isso faça sentido. DB: Use a máscara para mostrar que se importa com os outros. Demonstre um espírito público de saúde. Falando da Ásia, quem tem feito isso bem? Olhando ao redor do mundo, e você tem visto isso há um tempo, dialogando com seus colegas, quem tem sido eficaz e o que podemos aprender desses bons exemplos? GB: A Coreia do Sul de muitos modos é o modelo. A China, no final das contas, saiu-se razoavelmente bem. O segredo de todos esses países, que tiveram menos morbidade e mortalidade do que temos, é que eles aplicaram muitos testes logo de início, com o rastreamento de contatos, isolamento e quarentena, que, a propósito, é o alicerce da prática de saúde pública. Fizeram desde o começo e de forma massiva. Aliás, apesar de estarem reabrindo a sociedade, começaram a identificar surtos esporádicos, então estão voltando às práticas básicas de saúde pública de teste, isolamento, rastreamento do contato e transparência ao público, pois é importante entender quantos casos existem, onde está a doença, se vão conseguir a aceitação do público. DB: Testes, isolamento e rastreamento de contato. Não é nenhum bicho de sete cabeças, para usar uma velha expressão. Por que tem sido difícil executar isso em alguns países? O que será que está nos impedindo: os registros médicos eletrônicos, algum tipo de dispositivo estranho, ou talvez apenas excesso de confiança, com base na saúde pública dos últimos 100 anos? GB: Somos muito uma sociedade das pílulas. Achamos que existe uma pílula para tudo. Se não podemos receitar uma, fazemos uma cirurgia e está tudo resolvido. A prevenção funciona. Mas não temos investido em prevenção. E de modo algum investimos em um sistema público de saúde robusto. Se observarmos o fato de que hoje nos EUA pode-se facilmente saber o que está nas prateleiras de um mercado, que a Amazon sabe tudo sobre você, mas seu médico não tem as mesmas ferramentas. Às três horas da manhã, ainda é muito difícil obter seu eletrocardiograma, prontuário médico, ou sua lista de alergias se você não puder contar ao médico o que você tem. Nós simplesmente não investimos em sistemas robustos. Uma das coisas interessantes sobre o surto é que se tem criado um movimento ao qual agora dependemos da telemedicina, que existe há vários anos, mas não usávamos muito. Agora, esse será o novo padrão. DB: Parece-me óbvio que os países com um sistema de saúde incrível, como o Taiwan, tenham se saído bem, mas mesmo os países que talvez considerem ter um sistema de saúde fraco, como Gana na África, têm reagido bem. Qual tem sido a fórmula secreta para esses países? GB: Ainda é muito cedo em alguns desses exemplos, espero que eles não tenham uma nova onda no futuro, isso ainda é uma possibilidade, mas, no final das contas, na medida em que se faz boas e sólidas práticas de saúde pública, todos os países bem-sucedidos implementaram isso. Porém, somos um país grande e complexo. E sim, nós não testamos corretamente no início. Mas não devemos repetir os erros que cometemos nos últimos três meses, porque ainda temos muitos meses pela frente. Agora que sabemos o que fizemos errado, estou incentivando a fazermos certo da próxima vez. DB: Parece inteligente. GB: E a próxima vez é amanhã. DB: Está certo. Isso já começou. Parece-me, se é que posso usar esta metáfora, que alguns desses países já tinham um tipo de anticorpos em seus sistemas, porque tiveram experiência, talvez, com o Ebola ou a primeira SARS. Contato prévio é a chave para esse tipo de crise de saúde pública? GB: Bem, esse vírus é muito diferente. Embora exista alguma evidência inicial sobre MERS e a primeira SARS, podemos ter algum tipo de proteção prévia, há alguns estudos iniciais que analisam isso, essa não é a solução. A fórmula mágica aqui é uma boa e sólida prática de saúde pública. Esse é o segredo. Não deveríamos procurar uma resposta mística, ou alguém que viria nos salvar com uma pílula especial. Trata-se de boas e sólidas práticas de saúde pública, porque, além do mais, isso tem sido ruim, mas não será a última vez. Precisamos nos preparar para as próximas. Achamos que agora está péssimo, imagine o que teria acontecido se o Ebola ou o MERS tivesse se espalhado. Veja num filme de TV. Embora seja muito ruim, ainda assim nos esquivamos de algo muito pior dessa vez. DB: A Síndrome Respiratória do Oriente Médio não é brincadeira, deveríamos agradecer por ela não se espalhar tão facilmente como a SARS-CoV. Isto é, todas estas doenças são zoonóticas, significa que foram transmitidas a partir de animais. Visivelmente, a humanidade invade a natureza de modo cada vez mais agressivo, seja pela mudança climática ou desmatamento, e muito mais. Seria esse apenas o novo normal, então devemos esperar pandemias de vez em quando? GB: Bem, elas aparecem periodicamente, essa não é a primeira pandemia, certo? Tivemos inúmeras, a gripe em 1918, 100 anos atrás, a primeira SARS foi uma infecção importante, embora não tenha sido tão lesiva. Tivemos a gripe aviária, que foi um desafio, e a gripe suína. Tivemos a Zika. Então não, temos tido vários novos surtos de doenças. Elas aparecem com frequência, e, de muitas maneiras, felizmente temos conseguido identificá-las e contê-las precocemente. Mas agora estamos em um ambiente em que as pessoas podem criar algumas dessas doenças. Isso não aconteceu, o melhor que podemos dizer é que não foi criada pelo homem. Provavelmente não vazou de um laboratório. Mas sabemos que, quando eu estava na faculdade, criar um vírus era algo bastante sofisticado. Não é esse o caso agora. Precisamos nos proteger tanto de infecções que ocorrem naturalmente como daquelas criadas por seres humanos. DB: Além disso, temos outros tipos de multiplicadores de ameaças, como a mudança climática, que torna as pandemias muito piores. GB: Eu dizia que a mudança climática foi a maior ameaça à sobrevivência humana até agora. Mas a pandemia compete com ela. Nosso grande desafio agora é que temos uma pandemia, que ainda não controlamos, e quando iniciar o período dos furacões, teremos mudanças climáticas que irão acentuar a força deles. Estamos diante de um verão desafiador. DB: E agora temos o Chris, com uma pergunta do público. Chris Anderson: Muitas perguntas, na verdade. As pessoas estão muito interessadas no que você está dizendo, Georges. A primeira pergunta é do Jim Young: "Como convencer as pessoas que não acreditam que isso seja grave?" GB: Temos realmente que continuar a dizer a verdade a essas pessoas. Uma característica dessa doença é que ela não poupa ninguém. Não reconhece partidos políticos, não distingue região... Tivemos muitas pessoas, sobretudo de comunidades rurais, que não enxergavam a pandemia, pois ainda não tinha chegado a elas, e não acreditavam que fosse real. Agora, muitas dessas comunidades estão sendo devastadas por essa doença. Não seria apropriado dizer: "Eu avisei". É melhor falar: "Vejam, agora que vocês sabem, juntem-se e nos ajudem a resolver esse problema". É algo que vai permanecer por um tempo. Caso se torne endêmico, significa que vai ocorrer o tempo todo em um nível baixo, todos terão essa experiência. CA: Obrigado. A pergunta agora é do Robert Perkowitz: "Parece que temos ignorado e sucateado a saúde pública, não estávamos preparados para esse vírus". A pergunta vai aparecer, deveria, por alguma mágica. "Quais deveriam ser nossas prioridades agora para nos prepararmos para a próxima crise de saúde pública?" GB: Precisamos garantir financiamento, recursos, treinamento e profissionais o suficiente. A propósito, nossa próxima crise de saúde pública não é daqui a 10, 20 anos. Há um retorno provável dessa gripe, que achamos possa acontecer neste outono, porque ela volta todo ano, com o prosseguimento ou um pico da COVID. Ocorrerá um crescimento da doença que se apresenta da mesma forma, e teremos que diferenciar a COVID da gripe. Porque nós temos uma vacina para a gripe, mas não temos ainda para a COVID. Esperamos obtê-la em mais ou menos um ano. Mas ainda precisa ser verificado. DB: Tome a vacina contra a gripe. CA: Sim. Aliás, David Collins fez exatamente essa pergunta. "Qual é a probabilidade de uma vacina antes da próxima onda?" GB: A vacina mais rápida desenvolvida foi contra o sarampo, e demorou quatro anos. Agora, há muitas diferenças, certo? Iniciamos uma vacina contra a SARS-1. Temos feito muitos testes em animais, e alguns ainda precoces em humanos. Como vocês sabem, recebemos um comunicado que parece ao menos funcionar em macacos rhesus, e há algumas evidências de que possa ser eficaz e seguro em um número muito pequeno de pessoas. Quando digo isso, me refiro a uma dúzia somente de pessoas. Agora os testes vão para a fase dois e três. Então, sim David, vamos torcer, é um pequeno número de pessoas. Ou elas tiveram muita sorte ou isso funciona. Não saberemos até a injetarmos em milhares de pessoas. CA: Aqui uma questão importante de um bolsista TED. "Como ensinar as pessoas a importância da saúde pública? Especialmente no contexto daqueles que não acreditam ter responsabilidade sobre o que é 'público'?" GB: Bem, lembro as pessoas que quando a saúde pública faz um ótimo trabalho, nada acontece. Claro, quando nada acontece, não damos o devido crédito. Portanto, as pessoas neste país não precisam se levantar todas as manhãs e ferver sua própria água por causa da saúde pública. O fato de você sofrer um acidente de carro, uma colisão de automóveis, e usar cinto de segurança e ter airbags, e não estar morto devido a esse acidente, é por causa da saúde pública. O fato de o ar ser saudável para respirar, a comida segura para comer, é graças à saúde pública. Suas crianças usam roupas que não inflamam porque temos roupas anti-inflamáveis. Isso é um requisito. Você não se acidenta ao descer as escadas porque sabemos como construí-las, para que as pessoas não tropecem ao subir ou descer. É uma intervenção da saúde pública. O ambiente construído, remédios, vacinas, tudo isso é proveniente de saúde pública. É por isso que ela existe, podem não acreditar que isso seja importante, mas não poderíamos viver sem ela. CA: Quem sabe um dia possamos vislumbrar um sistema de saúde nos EUA que tenha alguns incentivos voltados à saúde pública. Isso seria muito legal. David, preciso fazer algumas perguntas, se estiver tudo bem, porque estão surgindo mais. Há uma questão da Jacqueline Ashby. Pergunta importante para todos os pais. "Qual a sua recomendação ao retorno das crianças à escola?" GB: Tenho enfrentado isso, pois tenho três netos. A notícia boa é que meus netos são mais preparados do que eu e, no momento, estão tendo as lições escolares remotamente. Acho que será um desafio o retorno das crianças à escola. Na verdade, precisamos saber o quanto elas são infecciosas e como reagem quando são infectadas. Ao que parece, exceto por um número pequeno de crianças que sofrem de alguma doença rara, elas reagem muito bem a esta doença. Mas a questão central é: quantos desses germes elas vão trazer de volta para você e os avós delas. Isso será importante. Tente dizer a uma criança de oito anos para não interagir com os amiguinhos. É um enorme desafio. Aliás, dizer a um jovem de 17 anos para não interagir com os amigos será um grande desafio. Então, teremos que educar essas crianças, descobrir como intercalar os horários. A ideia de Uri para a jornada de trabalho pode ser um conceito interessante para as escolas, porque a ideia é tentar desafogar o número de crianças na sala de aula. Aliás, se as turmas forem menores, a educação será melhor. Para isso, temos que ter professores o suficiente. Poderia ser um modo de controle. CA: Certo. A última pergunta por enquanto é de Stephen Petranek. Agora uma informação sobre as máscaras. A orientação sobre o uso delas parece ter mudado. "Os americanos que vivem e trabalham nas cidades deveriam continuar a usar máscaras para se protegerem da poluição do ar que aspiram todos os dias?" GB: Pode ajudar um pouco, com certeza. Mas seria melhor pararmos de poluir deixando de queimar combustível fóssil. E todos esses absurdos que continuamos a fazer, destruindo nosso clima. Todo mundo está falando que tivemos uma redução incrível de CO2 porque não estamos usando os carros. É a melhor evidência de que as mudanças climáticas são provocadas pelo homem. Aos céticos que não acreditam na interferência humana, acabamos de ter uma demonstração mundial sobre o que as pessoas fazem para criar mudanças climáticas. Portanto, precisamos parar e mudar para uma economia verde. DB: Escutem isso. CA: Muito obrigado pela explicação, voltarei no final com mais perguntas. Obrigado por tudo. DB: Estamos em campanha por máscaras. Mas algo que tem ficado claro é que a COVID-19 não é o grande nivelador que alguns talvez esperassem que fosse. Algumas comunidades apresentam resultados piores, muito piores do que outras. Por que isso? GB: Estamos falando, sobretudo, de comunidades afro-americanas e latinas dos EUA, que parecem sofrer um impacto desproporcional ao pegarem a doença. Por causa da exposição, principalmente. Essas populações têm empregos de maior contato com o público. Motoristas de ônibus, balconistas de supermercado, trabalhando em casas de repouso, asilos, frigoríferos, granjas. Eles estão muito mais expostos à doença. Vulnerabilidade. Muitas doenças crônicas. Sabemos que em especial os afro-americanos apresentam uma grande desproporção nos casos de diabetes, doenças cardíacas, doenças pulmonares, e, por causa dessas doenças crônicas, descobrimos cedo que esse vírus é mais prejudicial às populações afetadas por elas. Esse é o grande problema aqui. É o que está causando estas diferenças e é realmente um desafio, pois muitas dessas pessoas trabalham no que chamamos de serviços essenciais, então elas precisam ir trabalhar. DB: Está certo. Então, na sua visão, qual seria a ação na saúde pública para proteger esses trabalhadores essenciais, se você tem alguma sugestão? GB: Eu certamente tenho. Começamos uma estratégia de teste baseada nos sintomas. Agora que temos testes o bastante, precisamos garantir que sejam testadas não apenas por razões clínicas, pessoas que tenham sintomas, mas comecem a priorizar aqueles que estão em contato direto com o público, os trabalhadores essenciais. Portanto, aqueles que trabalham em asilos, hospitais etc. Também os motoristas de ônibus, seguranças, balconistas de supermercado, precisam ser testados com frequência para garantir a eles e às famílias deles, toda a confiança de que não serão infectados e que não iremos infectá-los. As pessoas que trabalham em frigoríficos, por exemplo. Vimos a verdadeira tragédia nesses locais, porque as pessoas trabalham num ambiente lado a lado. Há outras coisas que precisam fazer, como criar um distanciamento social na linha de montagem, isso será importante. Mas, novamente, a ideia de Uri não é ruim para ser considerada por esta nação, para muitas dessas indústrias refletirem. DB: Temos de garantir a essas pessoas que sejam tratadas como trabalhadores essenciais sem sacrificá-las. Evidentemente, isso não está limitado apenas aos EUA. GB: Certamente, não. Estamos vendo essas disparidades não apenas nos Estados Unidos, mas em outros países também. Isso tem a ver com raça e classe, e o tipo de trabalho, ocupação que você exerce. Sinceramente, deveríamos ter pensado nisso quando vimos as primeiras ocorrências mostradas na China, que pessoas com doenças crônicas tinham muito mais riscos e tiveram piores resultados de saúde. Teríamos acelerado nossas ações imediatamente, porque isso acontece com todas as novas doenças que chegam ao país. DB: Parece que muito disso remonta a esse potencial, não é um paradoxo, a saúde pública é um trabalho de todos, precisamos adotá-la. Na sua opinião, como é uma infraestrutura robusta de saúde pública? Como seria isso? GB: Sempre que uma ameaça à saúde surge em nossa comunidade, devemos ser capazes de identificá-la rapidamente, contê-la, mitigá-la, claro, e eliminá-la, se possível. Em seguida, adotar todas as medidas de proteção novamente. Isso significa ter uma boa equipe, uma entidade governamental de saúde pública bem treinada, assim como temos para polícia, bombeiros, emergência. Então, eles precisam ser bem pagos, ter bons recursos. Alguns de nossos rastreadores de contato são feitos com papel e caneta ainda. E enviamos esses dados a planilhas do Excel. Não, precisamos do mesmo tipo de tecnologia robusta que qualquer varejista on-line utiliza, seja na Amazon etc. Tomamos decisões baseados em dados analisados de dois anos atrás. Precisamos ser capazes de tomar decisões imediatas. A propósito, em Taiwan, que você mencionou anteriormente, lembro-me, quando estive lá, de acompanhar os dados oriundos de doenças infecciosas em tempo real, a partir do sistema eletrônico de registros médicos deles. Logo, podemos fazer também, a tecnologia existe. DB: Imagine. Uau, informações de saúde em tempo real, que diferença isso faria. Você acha que a tecnologia pode nos ajudar agora, seja pela colaboração da Google-Apple ou de alguma outra forma? GB: A tecnologia pode nos ajudar, mas não vai nos substituir. Não estamos nem perto de apenas nos sentar e ter nosso avatar eletrônico para trabalhar por nós. Mas a tecnologia pode superar nosso trabalho. Pode nos dar a consciência situacional. Informação em tempo real. Ela nos permite enviar informações de um ponto A ao B, para análise de dados. Isso nos ajuda a pensar melhor, e estamos fazendo esta modelagem. Possibilitando que outras pessoas verifiquem nossos números imediatamente. Pode acelerar nossa pesquisa. Mas precisamos investir, continuamente, porque a limitação é sempre a parte cruel da tecnologia. DB: Acho que o Chris está de volta com mais perguntas. CA: Sim, acho que estamos perto do fim, mas as perguntas continuam a chegar. Há uma questão da Neelay Bhatt: "Qual o papel que você vê dos parques, trilhas e espaços abertos no auxílio a objetivos maiores de saúde pública?" GB: Espaços verdes são essenciais, a possibilidade de sair, caminhar e se exercitar, ter calçadas acessíveis para a comunidade, ciclovias arborizadas a todas as idades, É bom para a nossa saúde física e mental. Sempre digo às pessoas que é um ótimo lugar para ir quando se está irritado. CA: Certamente. Temos aqui uma pergunta anônima. Sempre que possível, não fique anônimo, porque somos todos amigáveis, independentemente do que é dito. Vamos ver, mas é uma boa questão. "Muitos estão duvidando do que os especialistas estão dizendo. O que você acha eficaz para ajudá-los a duvidarem menos e confiarem mais?" GB: Fale a verdade. Se você comete um erro, reconheça e corrija-o imediatamente. Seja consistente. Não diga coisas estúpidas. Isso acontece com frequência. Uma das coisas mais interessantes, é que já passamos por isso com a discussão da máscara. A sabedoria tradicional dizia que só usassem máscaras os infectados, ou num ambiente de cuidados com a saúde em que há alto risco de contrair a doença. Mas então dissemos: "Não, não há problema se todos usarem a máscara". Isso porque aprendemos posteriormente, e se tornou mais factível na ciência, que tínhamos uma propagação dos assintomáticos. Mas não divulgamos isso muito bem. Dissemos: "Não, mudamos de ideia, todos podem usar a máscara", após dizer às pessoas para não usarem. Nós não dedicamos tempo suficiente explicando às pessoas o porquê. Então, perdemos a confiança. Precisamos melhorar nosso trabalho. Nossos líderes precisam ter muito cuidado com o que dizem, pois são influentes. A propósito, eu cometi erros, disse na TV coisas que estavam erradas, porque eu estava errado. Com muito esforço tentei corrigir o mais rápido possível. Todos nós erramos, mas é preciso ser forte o bastante e ter personalidade para dizer quando está errado e corrigir-se. Porque, no final das contas, uma vez perdida a confiança, você perde tudo. CA: Bem, se assim posso dizer, o modo como está se comunicando agora, para mim, gera muita confiança. Eu não sei qual fórmula mágica você tem, mas é muito atrativo escutá-lo. Muito obrigado por tudo. David, você tem alguma última questão? GB: Tenho cometido muitos erros. DB: Realmente foi um imenso prazer ter você aqui conosco e obrigado por tudo. Apenas uma última pergunta, se eu puder. Você faz isso há muito tempo, o que lhe dá esperança para o futuro? GB: Deixe-me dizer algo. A única coisa que me dá esperança é quando vejo as pessoas cuidando de seus amigos e familiares. Digo, festas de aniversário de passagem com o carro. Vi isso no noticiário hoje. Pessoas telefonando para seus amigos. Tive notícias de pessoas com quem não converso há anos, e me ligaram para dizer: "Não tenho falado contigo há muito tempo. Está tudo bem?" Portanto, façam mais isso. A confiança que temos tido um no outro, o amor que temos demonstrado, é simplesmente incrível, é isso que me dá esperança. DB: A humanidade vai vencer no final. GB: Sim. DB: Muito obrigado, Dr. Benjamin, pela sua participação e por compartilhar sua sabedoria. GB: Fico feliz em estar aqui. Estejam seguros vocês e seus familiares. DB: Obrigado, você também.