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Por que a curiosidade é a chave para a ciência e a medicina | Kevin Jones | TEDxSaltLakeCity

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    Ciência.
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    A palavra em si para muitos de vocês
    evoca lembranças infelizes de tédio
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    na aula de biologia ou física
    do ensino médio.
  • 0:18 - 0:21
    Mas deixem-me assegurar a vocês
    de que o que fizeram lá
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    tinha muito pouco a ver com a ciência.
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    Aquilo era, na verdade,
    o "quê" da ciência.
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    Era a história sobre
    o que outros haviam descoberto.
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    O que mais me interessa como cientista
  • 0:32 - 0:34
    é o "como" da ciência,
  • 0:34 - 0:38
    pois ciência é conhecimento em processo.
  • 0:38 - 0:42
    Fazemos uma observação,
    supomos uma explicação para ela,
  • 0:42 - 0:44
    e depois fazemos uma previsão
    a qual poderemos testar
  • 0:44 - 0:46
    com uma experiência ou outra observação.
  • 0:46 - 0:47
    Alguns exemplos.
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    Primeiramente, as pessoas notaram
    que a Terra estava abaixo, o céu acima,
  • 0:51 - 0:55
    e tanto o Sol quanto a Lua
    pareciam girar em torno deles.
  • 0:56 - 0:57
    A suposta explicação
  • 0:57 - 1:00
    era a de que a Terra devia ser
    o centro do Universo.
  • 1:01 - 1:04
    A previsão: tudo deve girar
    em torno da Terra.
  • 1:05 - 1:07
    Isso foi testado pela primeira vez
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    quando Galileu teve às mãos
    um dos primeiros telescópios,
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    e, enquanto observava o céu noturno,
  • 1:12 - 1:16
    ele encontrou um planeta, Júpiter,
  • 1:16 - 1:20
    com quatro luas que o circundavam.
  • 1:23 - 1:28
    Ele então usou essas luas
    para seguir o caminho de Júpiter
  • 1:28 - 1:31
    e descobriu que o planeta
    não girava ao redor da Terra,
  • 1:31 - 1:33
    mas ao redor do Sol.
  • 1:36 - 1:38
    Assim, o teste de previsão fracassou.
  • 1:39 - 1:43
    E isso levou à rejeição da teoria
    de que a Terra era o centro do Universo.
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    Outro exemplo: Isaac Newton percebeu
    que as coisas caem na Terra.
  • 1:48 - 1:51
    A suposta explicação era a gravidade,
  • 1:51 - 1:55
    a previsão era a de que tudo
    deve cair na Terra.
  • 1:55 - 1:58
    Mas é claro que nem tudo cai na Terra.
  • 2:00 - 2:02
    Então, nós rejeitamos a gravidade?
  • 2:02 - 2:03
    Não!
  • 2:03 - 2:07
    Revisamos a teoria e dissemos:
    a gravidade atrai as coisas para a Terra
  • 2:07 - 2:11
    a menos que haja uma força
    oposta na outra direção.
  • 2:12 - 2:15
    Isso nos conduziu a um novo aprendizado.
  • 2:15 - 2:18
    Começamos a prestar mais atenção
    no pássaro e em suas asas,
  • 2:18 - 2:23
    e pensem em todas as descobertas
    que voaram dessa linha de raciocínio.
  • 2:24 - 2:29
    Assim, os fracassos dos testes,
    as exceções, e os valores atípicos
  • 2:29 - 2:32
    nos ensinam o que não sabemos,
  • 2:32 - 2:35
    e nos conduzem a algo novo.
  • 2:35 - 2:38
    É assim que a ciência avança e aprende.
  • 2:39 - 2:41
    Às vezes, na mídia,
    e ainda mais raramente,
  • 2:41 - 2:44
    mas, às vezes, até os cientistas dirão
  • 2:44 - 2:47
    que uma coisa ou outra foi
    cientificamente comprovada.
  • 2:47 - 2:52
    Mas eu espero que entendam
    que a ciência nunca prova nada
  • 2:52 - 2:54
    definitivamente para sempre.
  • 2:55 - 3:00
    Espera-se que a ciência permaneça
    curiosa o suficiente para buscar
  • 3:00 - 3:03
    e humilde o suficiente para reconhecer
    quando tivermos encontrado
  • 3:03 - 3:05
    o próximo valor atípico,
  • 3:05 - 3:07
    a próxima exceção,
  • 3:07 - 3:09
    que, como as luas de Júpiter,
  • 3:09 - 3:12
    nos ensinem o que realmente não sabemos.
  • 3:12 - 3:15
    Vamos mudar um pouco de direção.
  • 3:15 - 3:17
    O caduceu, ou símbolo da medicina,
  • 3:17 - 3:19
    tem significados diferentes
    para pessoas diferentes,
  • 3:19 - 3:22
    mas boa parte do nosso
    discurso público sobre medicina
  • 3:22 - 3:24
    a transforma num problema de engenharia.
  • 3:24 - 3:26
    Temos os corredores do Congresso,
  • 3:26 - 3:29
    e as salas de reuniões
    das companhias de seguros
  • 3:29 - 3:31
    que tentam descobrir como pagar por isso.
  • 3:31 - 3:33
    Os eticistas e epidemiologistas
  • 3:33 - 3:35
    tentam descobrir como distribuir
    melhor a medicina,
  • 3:35 - 3:38
    os hospitais e médicos
    são absolutamente obcecados
  • 3:38 - 3:40
    com seus protocolos e checklists,
  • 3:40 - 3:43
    tentando descobrir como administrar
    o medicamento de forma segura.
  • 3:43 - 3:46
    Todas são coisas boas.
  • 3:46 - 3:49
    No entanto, eles também assumem,
  • 3:49 - 3:51
    em algum nível,
  • 3:51 - 3:53
    que o livro da medicina está concluído.
  • 3:55 - 3:58
    Começamos a medir a qualidade
    dos nossos serviços à saúde
  • 3:58 - 4:00
    pela rapidez com que podemos acessá-los.
  • 4:00 - 4:02
    Não me surpreende que neste clima,
  • 4:02 - 4:05
    muitas das nossas instituições
    de prestação de serviços à saúde
  • 4:05 - 4:08
    comecem a se parecer
    com uma oficina mecânica.
  • 4:08 - 4:09
    (Risos)
  • 4:10 - 4:14
    O único problema é que quando
    me formei na faculdade de medicina,
  • 4:14 - 4:16
    não recebi uma daquelas bugigangas
  • 4:16 - 4:19
    que seu mecânico tem
    para conectar ao carro
  • 4:19 - 4:21
    e descobrir o que está errado com ele,
  • 4:21 - 4:23
    porque o livro de medicina
  • 4:23 - 4:25
    não está concluído.
  • 4:25 - 4:27
    Medicina é ciência.
  • 4:28 - 4:30
    A medicina é o conhecimento em processo.
  • 4:31 - 4:33
    Fazemos uma observação,
  • 4:33 - 4:35
    supomos uma explicação dela,
  • 4:35 - 4:38
    e então fazemos uma previsão
    que podemos testar.
  • 4:38 - 4:42
    A base de teste da maioria das previsões
    em medicina é populações.
  • 4:43 - 4:46
    E podem se lembrar daqueles
    dias tediosos na aula de biologia
  • 4:46 - 4:50
    que as populações tendem a se distribuir
    em torno de uma média,
  • 4:50 - 4:52
    como uma curva gaussiana ou normal.
  • 4:52 - 4:54
    Portanto, em medicina,
  • 4:54 - 4:58
    depois de fazermos uma previsão
    de uma suposta explicação,
  • 4:58 - 5:00
    nós a testamos numa população.
  • 5:01 - 5:02
    Isso significa
  • 5:02 - 5:06
    que o que sabemos em medicina,
    nosso conhecimento e experiência,
  • 5:06 - 5:08
    vêm de populações,
  • 5:08 - 5:13
    mas estende-se apenas
    até o próximo valor atípico,
  • 5:13 - 5:14
    a próxima exceção,
  • 5:14 - 5:19
    que, como as luas de Júpiter,
    nos ensinarão o que realmente não sabemos.
  • 5:20 - 5:23
    Sou um cirurgião que cuida
    de pacientes com sarcoma.
  • 5:23 - 5:26
    Sarcoma é uma forma muito rara de câncer.
  • 5:26 - 5:29
    É o câncer do tecido e dos ossos.
  • 5:29 - 5:33
    E eu diria que cada um
    dos meus pacientes é um valor atípico,
  • 5:33 - 5:34
    é uma exceção.
  • 5:36 - 5:39
    Não há nenhuma cirurgia que eu tenha
    executado num paciente com sarcoma,
  • 5:39 - 5:43
    que já tenha sido guiada por um
    ensaio clínico randomizado controlado,
  • 5:43 - 5:47
    considerado o melhor tipo de evidência
    baseada em população na medicina.
  • 5:48 - 5:50
    Falam sobre "pensar fora da caixa",
  • 5:50 - 5:53
    mas nem sequer temos
    uma "caixa para o sarcoma".
  • 5:54 - 5:57
    O que temos ao mergulharmos na incerteza,
  • 5:57 - 6:01
    desconhecimentos, exceções e valores
    atípicos que nos cercam no sarcoma
  • 6:01 - 6:06
    é o fácil acesso ao que acredito ser
    os dois valores mais importantes
  • 6:06 - 6:07
    para qualquer ciência:
  • 6:07 - 6:09
    humildade e curiosidade.
  • 6:11 - 6:13
    Pois se sou humilde e curioso,
  • 6:13 - 6:15
    quando um paciente me pergunta algo
  • 6:15 - 6:17
    e não sei a resposta,
  • 6:18 - 6:19
    vou perguntar a um colega
  • 6:19 - 6:22
    que pode ter um caso similar
    com outro paciente com sarcoma.
  • 6:22 - 6:24
    Podemos até estabelecer
    colaborações internacionais.
  • 6:24 - 6:28
    Esses pacientes começarão a conversar
    entre eles em salas de bate-papo
  • 6:28 - 6:29
    e grupos de apoio.
  • 6:29 - 6:33
    É através desse tipo de comunicação
    humilde e curiosa
  • 6:33 - 6:37
    que começamos a tentar
    e a aprender coisas novas.
  • 6:38 - 6:42
    Como exemplo, este é um paciente meu
    que teve câncer próximo ao joelho.
  • 6:42 - 6:46
    Por causa da comunicação humilde e curiosa
    em colaborações internacionais,
  • 6:46 - 6:51
    soubemos que podemos reorientar
    o tornozelo para servir como joelho
  • 6:51 - 6:53
    quando tivermos que remover
    o joelho com câncer.
  • 6:53 - 6:56
    Ele pode usar uma prótese,
    correr, pular e jogar.
  • 6:57 - 7:00
    Esta oportunidade ficou à disposição dele
  • 7:00 - 7:03
    devido a colaborações internacionais.
  • 7:03 - 7:04
    Ele desejava isso,
  • 7:04 - 7:08
    pois havia contatado outros pacientes
    que a haviam experimentado.
  • 7:09 - 7:13
    E assim, exceções
    e valores atípicos em medicina
  • 7:13 - 7:17
    nos ensinam o que não sabemos,
    mas também nos levam a um novo raciocínio.
  • 7:18 - 7:20
    Agora, muito importante:
  • 7:20 - 7:23
    o novo raciocínio ao qual valores atípicos
    e exceções nos conduzem em medicina
  • 7:23 - 7:27
    não se aplica apenas
    a valores atípicos e exceções.
  • 7:28 - 7:31
    Não significa que, com pacientes
    com sarcoma, aprendemos apenas
  • 7:31 - 7:33
    a tratar pacientes com sarcoma.
  • 7:34 - 7:37
    Às vezes, valores atípicos e exceções
  • 7:37 - 7:41
    nos ensinam coisas que importam
    muito para a população em geral.
  • 7:42 - 7:44
    Como uma árvore fora de uma floresta:
  • 7:44 - 7:48
    os valores atípicos e as exceções
    chamam a nossa atenção
  • 7:49 - 7:54
    e nos conduzem a um sentido muito maior
    do que o significado de uma árvore.
  • 7:54 - 7:57
    É comum falarmos em perder
    as florestas para as árvores,
  • 7:57 - 8:01
    mas também se perde uma árvore
    dentro de uma floresta.
  • 8:02 - 8:03
    Mas a árvore que se destaca por si só
  • 8:03 - 8:06
    torna essas relações
    que definem uma árvore,
  • 8:06 - 8:10
    as relações entre o tronco,
    as raízes e os galhos,
  • 8:10 - 8:12
    muito mais aparentes.
  • 8:12 - 8:14
    Mesmo que essa árvore seja torta
  • 8:14 - 8:19
    ou tenha relacionamentos muito incomuns
    entre o tronco, as raízes e os galhos,
  • 8:19 - 8:24
    ela, todavia, chama a nossa atenção
    e nos permite fazer observações
  • 8:24 - 8:26
    que podemos então testar
    na população geral.
  • 8:27 - 8:29
    Eu disse que os sarcomas são raros.
  • 8:29 - 8:31
    Eles constituem cerca de 1%
    de todos os cânceres.
  • 8:32 - 8:36
    É provável que saibam que o câncer
    é considerado uma doença genética,
  • 8:37 - 8:40
    o que significa que ele
    é causado por oncogenes,
  • 8:40 - 8:41
    que são ativados no câncer,
  • 8:41 - 8:45
    e genes supressores de tumores,
    que são desligados para causar o câncer.
  • 8:45 - 8:47
    Podem achar que aprendemos sobre oncogenes
  • 8:47 - 8:50
    e genes supressores de tumores
    de cânceres comuns
  • 8:50 - 8:53
    como o câncer de mama,
    de próstata ou de pulmão,
  • 8:53 - 8:55
    mas estariam errados.
  • 8:55 - 8:59
    Aprendemos sobre oncogenes e genes
    supressores de tumores pela primeira vez
  • 8:59 - 9:02
    naquele mínimo de 1%
    dos cânceres chamados sarcoma.
  • 9:03 - 9:08
    Em 1966, Peyton Rous recebeu
    o Prêmio Nobel por perceber que galinhas
  • 9:08 - 9:11
    tinham uma forma transmissível de sarcoma.
  • 9:12 - 9:15
    Trinta anos depois, Harold Varmus
    e Mike Bishop descobriram
  • 9:15 - 9:17
    qual era o elemento transmissível.
  • 9:17 - 9:19
    Era um vírus
  • 9:19 - 9:20
    portando um gene:
  • 9:20 - 9:22
    o oncogene src.
  • 9:23 - 9:26
    Eu não diria que o src é
    o oncogene mais importante.
  • 9:26 - 9:30
    Nem diria que é o oncogene mais
    frequentemente ativado em todo câncer.
  • 9:31 - 9:33
    Mas foi o primeiro oncogene.
  • 9:35 - 9:37
    A exceção, o valor atípico
  • 9:37 - 9:40
    chamou nossa atenção e nos levou a algo
  • 9:40 - 9:44
    que nos ensinou coisas muito importantes
    sobre o restante da biologia.
  • 9:46 - 9:50
    TP53 é o mais importante
    gene supressor de tumor.
  • 9:50 - 9:52
    É o gene supressor de tumor
    mais frequentemente desligado
  • 9:52 - 9:55
    em quase todos os tipos de câncer.
  • 9:55 - 9:57
    Mas não aprendemos
    isso com cânceres comuns.
  • 9:57 - 10:01
    Aprendemos quando os médicos Li e Fraumeni
    estavam observando famílias,
  • 10:01 - 10:06
    e perceberam que elas
    tinham muitos sarcomas.
  • 10:07 - 10:08
    Eu disse que o sarcoma é raro.
  • 10:08 - 10:12
    Lembrem-se de que um
    em um milhão de diagnósticos,
  • 10:12 - 10:14
    se ele se repetir numa família,
  • 10:14 - 10:16
    será comum demais nessa família.
  • 10:17 - 10:20
    O fato de serem raros
  • 10:20 - 10:22
    chama a nossa atenção
  • 10:22 - 10:25
    e nos leva a novos tipos de raciocínio.
  • 10:26 - 10:29
    Muitos de vocês podem dizer, e com razão:
  • 10:29 - 10:31
    "Sim, Kevin, isso é ótimo,
  • 10:31 - 10:34
    mas você não está falando
    sobre as asas de um pássaro,
  • 10:34 - 10:37
    nem sobre luas flutuando
    ao redor do planeta Júpiter.
  • 10:37 - 10:39
    Esta é uma pessoa.
  • 10:39 - 10:42
    Este valor atípico, esta exceção,
    pode levar ao avanço da ciência,
  • 10:42 - 10:44
    mas esta é uma pessoa".
  • 10:45 - 10:49
    E tudo o que posso dizer
    é que sei disso muito bem.
  • 10:50 - 10:54
    Converso com esses pacientes
    portadores de doenças raras e fatais.
  • 10:54 - 10:58
    Escrevo sobre essas conversas,
    que são terrivelmente graves.
  • 10:59 - 11:02
    Conversas repletas de frases horríveis
    como: "Tenho más notícias"
  • 11:02 - 11:04
    ou "Não há nada mais que possamos fazer".
  • 11:04 - 11:08
    Às vezes, essas conversas
    despertam uma única palavra:
  • 11:08 - 11:10
    "Terminal".
  • 11:18 - 11:21
    O silêncio também pode
    ser bastante desconfortável.
  • 11:22 - 11:26
    Os espaços em branco na medicina
    podem ser tão importantes
  • 11:26 - 11:29
    quanto as palavras usadas
    nessas conversas.
  • 11:30 - 11:31
    Quais são as incógnitas?
  • 11:31 - 11:34
    Que experiências estão sendo feitas?
  • 11:34 - 11:36
    Façam esse pequeno exercício comigo.
  • 11:36 - 11:39
    Lá em cima na tela, veem esta frase:
    "no where", lugar nenhum.
  • 11:39 - 11:41
    Observem onde está o espaço em branco.
  • 11:41 - 11:45
    Se deslocarmos aquele espaço em branco
  • 11:45 - 11:47
    "lugar nenhum"
  • 11:47 - 11:50
    torna-se "now here", agora aqui,
  • 11:50 - 11:54
    o significado oposto exato, apenas
    deslocando o espaço em branco.
  • 11:56 - 11:58
    Eu nunca vou me esquecer da noite
  • 11:58 - 12:00
    em que entrei no quarto
    de um de meus pacientes.
  • 12:01 - 12:04
    Eu havia operado aquele dia todo,
    mas ainda assim queria vê-lo.
  • 12:05 - 12:09
    Era um garoto que eu havia diagnosticado
    com câncer ósseo alguns dias antes.
  • 12:09 - 12:12
    Ele e a mãe haviam falado com os médicos
    da quimioterapia antes, naquele dia,
  • 12:12 - 12:15
    e ele tinha sido internado
    para iniciar a quimioterapia.
  • 12:15 - 12:18
    Era quase meia-noite
    quando cheguei ao quarto dele.
  • 12:18 - 12:20
    Ele estava dormindo,
    mas encontrei a mãe dele
  • 12:20 - 12:23
    lendo com uma lanterna
    ao lado da cama dele.
  • 12:23 - 12:26
    Ela saiu no corredor para conversar
    comigo por alguns minutos.
  • 12:27 - 12:31
    Ela estava lendo o protocolo
    que os médicos da quimioterapia
  • 12:31 - 12:33
    haviam dado a ela naquele dia.
  • 12:33 - 12:35
    Ela o havia memorizado.
  • 12:36 - 12:41
    Ela disse: "Dr. Jones, você me disse
    que nem sempre vencemos
  • 12:42 - 12:44
    este tipo de câncer,
  • 12:44 - 12:48
    mas tenho estudado este protocolo,
    e acho que posso fazer isso.
  • 12:49 - 12:52
    Acho que posso seguir
    estes tratamentos difíceis.
  • 12:52 - 12:55
    Vou pedir demissão,
    morar com os meus pais;
  • 12:55 - 12:57
    vou manter meu garoto a salvo".
  • 13:00 - 13:01
    Eu não disse a ela.
  • 13:03 - 13:05
    Não parei para corrigir o raciocínio dela;
  • 13:06 - 13:09
    para deslocar aquele espaço em branco
    para onde ele deveria estar.
  • 13:09 - 13:12
    O experimento não tinha a ver
    com o fato de ela seguir ou não
  • 13:12 - 13:14
    este protocolo muito difícil.
  • 13:15 - 13:18
    Ela estava confiando num protocolo
  • 13:18 - 13:21
    que, mesmo que fosse seguido,
  • 13:21 - 13:23
    não necessariamente salvaria o filho dela.
  • 13:26 - 13:27
    Eu não disse a ela.
  • 13:28 - 13:30
    Não preenchi o espaço em branco.
  • 13:31 - 13:33
    Mas um ano e meio depois,
  • 13:33 - 13:36
    o filho dela morreu de câncer.
  • 13:37 - 13:39
    Eu deveria ter dito a ela?
  • 13:41 - 13:45
    Muitos de vocês podem dizer:
    "E daí? Eu não tenho sarcoma.
  • 13:45 - 13:47
    Ninguém na minha família tem sarcoma.
  • 13:47 - 13:48
    E está tudo bem,
  • 13:48 - 13:51
    mas, provavelmente,
    não importa na minha vida".
  • 13:51 - 13:52
    E vocês devem estar certos.
  • 13:52 - 13:55
    O sarcoma pode não importar
    muito na sua vida.
  • 13:57 - 13:59
    Mas a posição dos espaços
    em branco na medicina
  • 13:59 - 14:01
    importa na sua vida.
  • 14:02 - 14:05
    Não contei um segredinho a vocês.
  • 14:05 - 14:09
    Eu disse que na medicina
    testamos as previsões em populações,
  • 14:09 - 14:10
    mas eu não disse,
  • 14:10 - 14:13
    e muitas vezes a medicina nunca diz,
  • 14:13 - 14:15
    que cada vez que um indivíduo
  • 14:15 - 14:17
    recorre à medicina,
  • 14:17 - 14:22
    mesmo que ele esteja firmemente
    inserido na população geral,
  • 14:24 - 14:26
    nem o indivíduo nem o médico sabe
  • 14:26 - 14:29
    onde aquele indivíduo
    se encontra nessa população.
  • 14:30 - 14:35
    Portanto, cada encontro
    com a medicina é um experimento.
  • 14:35 - 14:39
    Você será um sujeito num experimento.
  • 14:39 - 14:44
    E o resultado será
    melhor ou pior para você.
  • 14:46 - 14:48
    Contanto que a medicina funcione bem,
  • 14:48 - 14:51
    estaremos bem com serviço rápido,
  • 14:51 - 14:54
    e com conversas desafiadoras e confiantes.
  • 14:55 - 14:59
    Mas quando as coisas não funcionam bem,
    às vezes queremos algo diferente.
  • 15:00 - 15:03
    Um colega meu removeu um tumor
    de um dos membros de uma paciente.
  • 15:04 - 15:06
    Ele estava preocupado com esse tumor.
  • 15:06 - 15:09
    Em nossas reuniões médicas,
    ele falou sobre sua preocupação,
  • 15:09 - 15:13
    dizendo que era um tipo de tumor
    com alto risco de voltar no mesmo membro.
  • 15:14 - 15:16
    Mas suas conversas com a paciente
  • 15:16 - 15:20
    eram exatamente o que um paciente
    pode querer: repletas de confiança.
  • 15:20 - 15:22
    Ele disse: "Eu retirei tudo
    e você está liberada".
  • 15:22 - 15:24
    Ela e o marido ficaram felizes.
  • 15:24 - 15:28
    Eles saíram, comemoraram: jantar chique,
    abriram uma garrafa de champanhe.
  • 15:29 - 15:32
    O único problema foi
    que algumas semanas depois,
  • 15:32 - 15:35
    ela começou a notar
    outro nódulo na mesma área.
  • 15:35 - 15:39
    Ele não havia retirado tudo,
    e ela não estava liberada.
  • 15:40 - 15:43
    Mas o que aconteceu nesta conjuntura
    me fascina muito.
  • 15:44 - 15:46
    Meu colega veio até mim e disse:
  • 15:46 - 15:48
    "Kevin, se importaria de cuidar
    desta paciente pra mim?"
  • 15:49 - 15:52
    Eu perguntei: "Por quê? Você sabe
    o que fazer tanto quanto eu.
  • 15:52 - 15:54
    Você não fez nada de errado".
  • 15:54 - 15:59
    Ele disse: "Por favor, apenas
    cuide dessa paciente pra mim".
  • 16:00 - 16:03
    Ele se sentia envergonhado,
    não pelo que tinha feito,
  • 16:04 - 16:06
    mas pela conversa que eles tinham tido,
  • 16:06 - 16:08
    pelo excesso de confiança.
  • 16:09 - 16:12
    Então fiz uma cirurgia muito mais invasiva
  • 16:12 - 16:15
    e depois tive uma conversa
    muito diferente com a paciente.
  • 16:15 - 16:18
    Eu disse: "É bem provável
    que eu tenha retirado tudo
  • 16:18 - 16:20
    e é provável que você esteja liberada,
  • 16:20 - 16:23
    mas este é o experimento
    que estamos fazendo.
  • 16:24 - 16:26
    Isto é o que você vai observar.
  • 16:26 - 16:28
    Isto é o que eu vou observar.
  • 16:28 - 16:32
    E vamos trabalhar juntos
    para saber se esta cirurgia vai funcionar
  • 16:32 - 16:34
    para que se livre do seu câncer".
  • 16:34 - 16:36
    Posso garantir que ela e o marido
  • 16:36 - 16:39
    não abriram outra garrafa de champanhe
    depois de terem falado comigo.
  • 16:40 - 16:43
    Mas agora ela era uma cientista,
  • 16:43 - 16:47
    não apenas um sujeito no experimento dela.
  • 16:49 - 16:50
    Por isso, encorajo vocês
  • 16:50 - 16:54
    a buscar humildade e curiosidade
  • 16:54 - 16:55
    em seus médicos.
  • 16:57 - 17:00
    Quase 20 bilhões de vezes ao ano,
  • 17:00 - 17:04
    uma pessoa entra num consultório médico,
  • 17:04 - 17:06
    e essa pessoa se torna um paciente.
  • 17:07 - 17:12
    Vocês, ou alguém que vocês amam, serão
    esse paciente algum dia muito em breve.
  • 17:12 - 17:14
    Como vão falar com seus médicos?
  • 17:15 - 17:16
    O que vão dizer a eles?
  • 17:17 - 17:19
    O que eles dirão a vocês?
  • 17:21 - 17:24
    Eles não podem dizer o que não sabem,
  • 17:26 - 17:29
    mas podem dizer quando não sabem,
  • 17:30 - 17:32
    se vocês simplesmente perguntarem.
  • 17:32 - 17:35
    Então, por favor, juntem-se à conversa.
  • 17:36 - 17:38
    Obrigado.
  • 17:38 - 17:40
    (Aplausos)
Title:
Por que a curiosidade é a chave para a ciência e a medicina | Kevin Jones | TEDxSaltLakeCity
Description:

A ciência é um processo de aprendizagem que envolve experimentação, fracasso e revisão, e a ciência da medicina não é exceção. O pesquisador de câncer Kevin B. Jones enfrenta as incógnitas profundas sobre cirurgia e cuidados médicos com uma resposta simples: honestidade. Em uma palestra cuidadosa sobre a natureza do conhecimento, Jones mostra como a ciência é melhor quando os cientistas humildemente admitem o que ainda não entendem.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
17:45

Portuguese, Brazilian subtitles

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