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State of Cinema 2021 / Nicole Brenez

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    O estado do cinema 2021
  • 0:03 - 0:10
    Projeções. Provisórios. Provisões.
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    Antes, as imagens estavam no mundo.
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    Hoje, é o mundo que se banha
    em um oceano de imagens.
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    Nosso mundo real, material e único;
  • 0:23 - 0:27
    tecido e transbordado por imagens reais,
  • 0:27 - 0:30
    imateriais, numeradas
  • 0:30 - 0:32
    (constituídas de números), inumeráveis.
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    Para observar o cinema contemporâneo,
    é preciso inscrevê-lo no contexto
  • 0:38 - 0:42
    desse exponencial aumento
    quantitativo e qualitativo
  • 0:42 - 0:47
    da potência das imagens,
    interrogar o papel que
  • 0:47 - 0:50
    ela desempenhou
    e continua a desempenhar.
  • 0:51 - 0:55
    I. OBSERVAÇÕES E CONSTATAÇÕES
    -As imagens técnicas invadiram o universo.
  • 0:55 - 0:59
    - Hoje, dispomos de imagens
    de buracos negros.
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    Elas se assemelham às mandalas criadas
    por James Whitney em seu Lapis de 1966.
  • 1:06 - 1:11
    Essas imagens resultam de tantas
    reconstruções/transferências/conversões/
  • 1:11 - 1:17
    interpretações/cosmetizações
    que a exatidão técnico-científica
  • 1:17 - 1:20
    não corresponde mais
    à chamada esfera "RAW":
  • 1:20 - 1:26
    aquela dos dados brutos, distinta
    da iconografia que se pode derivar deles.
  • 1:27 - 1:32
    Existem, além disso, sites como
    Junocam ou Pluto Encounter,
  • 1:32 - 1:37
    em que você pode se divertir
    trabalhando os dados coletados pela NASA
  • 1:37 - 1:41
    de modo a convertê-los
    e transformá-los em imagens.
  • 1:42 - 1:48
    A NASA se encarrega também de transformar
    esses dados em "filmes", entre aspas.
  • 1:50 - 1:54
    - As imagens técnicas
    invadiram nosso cotidiano.
  • 1:55 - 1:59
    Sem elas, as sociedades eletrônicas
    não podem mais funcionar,
  • 2:00 - 2:05
    como cada um no Primeiro Mundo pode
    experimentar nesses tempos de pandemia.
  • 2:07 - 2:12
    Entrelaçadas a todos os aspectos do
    nosso cotidiano, emissárias da matemática,
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    as imagens não se parecem com nada, exceto
    o doce reverso de nossa ignorância.
  • 2:18 - 2:23
    Compensação, garantia,
    adesão aos protocolos…
  • 2:23 - 2:27
    nolens volens, e ao contrário nolens,
  • 2:27 - 2:31
    elas nos acorrentam ao coletivo
    com mil laços,
  • 2:31 - 2:34
    cada vez mais numerosos,
    apertados, atados.
  • 2:37 - 2:41
    - A cada nano-segundo,
    são produzidas mais imagens
  • 2:41 - 2:46
    (de vigilância, de autocontrole,
    industriais, pessoais…)
  • 2:46 - 2:52
    do que em toda a história que precede
    as pesquisas de Nicéphore Niépce.
  • 2:52 - 2:58
    Quais imagens ou agregados de planos
    contemporâneos a história vai reter?
  • 2:59 - 3:03
    De quais precisaremos, a quais amaremos?
  • 3:03 - 3:10
    - A cada nano-segundo,
    são difundidas mais imagens nas redes
  • 3:10 - 3:14
    do que em toda a história
    até Nicéphore Niépce.
  • 3:14 - 3:21
    A maior parte não é vista, ainda menos
    olhadas, menos ainda analisadas.
  • 3:22 - 3:26
    Muitas são armazenadas
    segundo modalidades técnicas
  • 3:26 - 3:30
    que nos asseguram que, muito rapidamente,
    elas não serão mais legíveis,
  • 3:30 - 3:35
    nem mesmo consultáveis,
    ao contrário das mãos negativas rupestres,
  • 3:35 - 3:42
    das quais as mais antigas já encontradas,
    em Borneo, datam de 51800 anos.
  • 3:44 - 3:47
    - Dentro dessa produção
    cada vez mais massiva
  • 3:47 - 3:51
    e que até hoje parece tão
    ilimitada quanto incoercível
  • 3:51 - 3:55
    (uma tal crença constitui, sem dúvida,
    uma das principais
  • 3:55 - 3:59
    características/ilusões de nosso tempo),
  • 3:59 - 4:01
    a que corresponde o cinema?
  • 4:03 - 4:07
    À sua borda mais elaborada, sofisticada?
  • 4:07 - 4:11
    A um resíduo de ambição estética?
  • 4:11 - 4:15
    À existência de um estilo,
    mesmo não-intencional?
  • 4:15 - 4:19
    A um corpus em vias de desuso?
  • 4:19 - 4:25
    A uma série de catálogos sobre os quais
    especular (entenda-se: financeiramente)?
  • 4:28 - 4:32
    Diferentemente dos fluxos incessantes
    de pixels e dos processos lineares
  • 4:32 - 4:36
    de codificação, compressão, conversão,
  • 4:36 - 4:42
    não estariam as operações mais específicas
    ao cinema relacionadas à montagem,
  • 4:42 - 4:50
    confirmando as análises de
    Eisenstein, Dziga Vertov ou Orson Welles?
  • 4:50 - 4:55
    E como, desde as grandes iniciativas
    de Guy Debord, Jean-Luc Godard,
  • 4:55 - 4:59
    Harun Farocki, Hartmut Bitomsky,
    Michael Klier…
  • 4:59 - 5:04
    o cinema se encarrega
    de seu próprio ambiente tecnológico
  • 5:04 - 5:08
    e dos problemas que aí se manifestam?
  • 5:09 - 5:15
    Os trabalhos atuais de Andrei Ujică,
    Lech Kowalski, Mauro Andrizzi,
  • 5:15 - 5:21
    Bani Khoshnoudi, Lawrence Abu Hamdan,
    Jacques Perconte…
  • 5:21 - 5:23
    parecem aqui particularmente preciosos.
  • 5:26 - 5:29
    - Um suporte de arquivo digital dura
    aproximadamente 5 anos;
  • 5:29 - 5:33
    uma película analógica,
    em condição de conservação correta,
  • 5:33 - 5:36
    aproximadamente 400 anos.
  • 5:37 - 5:39
    Independentemente das
    virtudes plásticas da película,
  • 5:39 - 5:42
    os cineastas preocupadas com durabilidade,
  • 5:42 - 5:47
    reparabilidade de ferramentas
    e patrimônio cultural
  • 5:47 - 5:50
    se dedicam a prolongar
    a existência do analógico.
  • 5:52 - 5:56
    Assistimos aqui a uma aliança
    objetiva inédita
  • 5:56 - 6:00
    entre certos tenores
    da indústria estadunidense
  • 6:00 - 6:06
    (Martin Scorsese, Christopher Nolan,
    James Gray, Robert Eggers…),
  • 6:06 - 6:11
    que exigem filmar em 35, se não em 70mm;
  • 6:11 - 6:16
    os cineastas experimentais, sozinhos
    ou mais frequentemente organizados
  • 6:16 - 6:22
    em laboratórios e cooperativas,
    que filmam em 35, Super-16, 16 e Super-8;
  • 6:22 - 6:27
    e os cineastas que criam intersecções
    entre essas duas esferas econômicas,
  • 6:27 - 6:32
    tais como F.J. Ossang,
    Harmony Korine ou Yann Gonzalez.
  • 6:32 - 6:36
    Todos eles se declaram movidos
    pela mesma perspectiva,
  • 6:36 - 6:39
    que é ao mesmo tempo de bom senso
    e contrária aos interesses dos
  • 6:39 - 6:45
    fabricantes de equipamentos determinados a
    favorecer a rotatividade e obsolescência.
  • 6:45 - 6:49
    Permanecem sendo muitos os grandes
    artistas do analógico do século 21:
  • 6:49 - 6:55
    Peter Tscherkassky, claro, cujo
    Train Again, diz-me Paul Grivas,
  • 6:55 - 6:59
    foi o único filme projetado em 35mm
  • 6:59 - 7:04
    na Quinzena dos Realizadores
    de Cannes em 2021;
  • 7:04 - 7:10
    mas também Ange Leccia,
    Tacita Dean, Silvi Simon,
  • 7:10 - 7:15
    que celebram não apenas a película,
    mas todos os instrumentos analógicos,
  • 7:15 - 7:20
    câmera, projetor… transformados
    em jóias em suas instalações;
  • 7:20 - 7:25
    ou, na encruzilhada exata
    dos cineastas industriais e experimentais,
  • 7:25 - 7:31
    Jérôme Schlomoff, que é capaz de fabricar
    soberbas câmeras pinhole de 35mm.
  • 7:33 - 7:39
    Em todos os casos, prática e defesa
    da película não são consideradas
  • 7:39 - 7:41
    como retrógradas e nostálgicas,
  • 7:41 - 7:45
    mas, ao contrário, como
    prolépticos e responsáveis.
  • 7:45 - 7:48
    - O cinema é um dos lugares
    que nos permite refletir
  • 7:48 - 7:50
    sobre as relações
    entre imagens técnicas
  • 7:50 - 7:54
    (produzidas por tecnologia,
    matemática etc.)
  • 7:54 - 7:56
    e imagens psíquicas:
  • 7:56 - 8:00
    como as primeiras fornecem meios
    de representação para as segundas,
  • 8:00 - 8:04
    como as segundas servem como
    perspectiva de futuro para as primeiras…
  • 8:06 - 8:10
    as duas séries co-assinadas por Jean-Luc
    Godard e Anne-Marie Miéville,
  • 8:10 - 8:14
    Six fois deux/
    Sur et sous la communication (1976)
  • 8:14 - 8:20
    e France/tour/détour/deux/enfants (1977),
  • 8:20 - 8:23
    abrem um dos raros projetos maiores
  • 8:23 - 8:28
    de interrogação sobre
    tais trocas epistemológicas.
  • 8:28 - 8:34
    Existe ou existirá
    um equivalente no século 21?
  • 8:35 - 8:39
    - O espectro das práticas de imagens
    não para de se ampliar.
  • 8:39 - 8:42
    • Em uma das múltiplas
    extremidades do rizoma:
  • 8:42 - 8:46
    a automatização generalizada,
    sem precisar mais de humanos
  • 8:46 - 8:51
    para fabricar imagens em massa,
    sem precisar mais preparar ferramentas
  • 8:51 - 8:55
    ou se preparar para utilizá-las,
    sem precisar mais ler manuais,
  • 8:55 - 9:00
    meditar sobre um conteúdo, avaliar
    destinatários, nem mesmo circulação.
  • 9:00 - 9:07
    Tudo está instalado, disposto, otimizado,
    dublado, securizado, armazenado,
  • 9:07 - 9:10
    sem necessidade de qualquer olhar.
  • 9:13 - 9:16
    Em uma outra das múltiplas
    extremidades do rizoma:
  • 9:16 - 9:19
    equipes de cientistas durante décadas
    percorrem milhares de quilômetros
  • 9:19 - 9:25
    para registrar a ínfima cintilação de luz
    que confirmará, para eles,
  • 9:25 - 9:30
    a existência de um exoplaneta,
    por exemplo, Proxima b.
  • 9:31 - 9:36
    • Em uma das extremidades: as plataformas
    que, tal como dragas gigantes,
  • 9:36 - 9:40
    aspiram em massa não importa que
    corpus de imagens
  • 9:40 - 9:46
    para comercializar sua consulta,
    por acaso incluindo aí belos filmes;
  • 9:46 - 9:52
    em outra: as alegres e finas observações
    do curador esloveno Jurij Meden,
  • 9:52 - 9:58
    que analisa ou inventa os gestos
    de exibição mais experimentais possíveis,
  • 9:58 - 10:01
    por exemplo, projetar alternadamente
  • 10:01 - 10:07
    um rolo de 35mm de Over the Top
    (1987, Sylvester Stallone)
  • 10:07 - 10:12
    e um de King Lear
    (1987, Jean-Luc Godard),
  • 10:12 - 10:17
    até o fim dos dois filmes produzidos
    por Menahem Golan no mesmo ano,
  • 10:17 - 10:22
    para uma sessão intitulada
    King Lear Over the Top Dedux.
  • 10:24 - 10:27
    • Em uma das múltiplas
    extremidades do rizoma:
  • 10:27 - 10:29
    os algoritmos que recomendam
    a consulta de imagens
  • 10:29 - 10:32
    em função daquelas que você já viu;
  • 10:32 - 10:36
    na outra extremidade:
    as proposições sui generis
  • 10:36 - 10:41
    elaboradas por Luc Vialle
    na página La Loupe.
  • 10:41 - 10:46
    Um Decamerão eletrônico, La Loupe
    constituiu uma das mais generosas,
  • 10:46 - 10:51
    pródigas, desinteressadas e eficazes
    experiências coletivas de cinefilia,
  • 10:51 - 10:55
    conduzida no decorrer do primeiro
    isolamento pandêmico generalizado.
  • 10:55 - 11:02
    Durante 17 meses
    (março de 2020 a 12 julho de 2021),
  • 11:02 - 11:06
    La Loupe permitiu a milhares de pessoas
    por todo o mundo (até 16000)
  • 11:06 - 11:10
    trocar arquivos de filmes
    não comercializados,
  • 11:10 - 11:17
    textos, ideias, informações e sugestões,
    em um espírito de descoberta efervescente.
  • 11:17 - 11:21
    Em um instante,
    em um improvável espaço virtual,
  • 11:21 - 11:25
    a história do cinema se torna
    não apenas mais "verdadeira"
  • 11:25 - 11:29
    (já que em imagens e sons,
    de acordo com o vocabulário godardiano),
  • 11:29 - 11:32
    mas também mais justa, já que,
  • 11:32 - 11:36
    respeitando tanto quanto possível
    os direitos autorais,
  • 11:36 - 11:40
    La Loupe honrou cineastas fora
    de comércio, desconhecidos e esquecidos,
  • 11:40 - 11:43
    que eram, portanto,
    frequentemente engajados,
  • 11:43 - 11:47
    experimentais,
    marginalizados por diversas razões.
  • 11:48 - 11:51
    Rivalizando expertises
    muito diferentes entre si,
  • 11:51 - 11:54
    os administradores e membros de La Loupe
  • 11:54 - 11:58
    renovaram os gestos
    de explicação e de partilha,
  • 11:58 - 12:01
    nisso que reuniu espontaneamente
    as funções de uma cinemateca,
  • 12:01 - 12:04
    de uma universidade,
    de uma casa de edição,
  • 12:04 - 12:07
    de um escritório dos correios
    e de uma festa rave,
  • 12:07 - 12:11
    realizando essas tarefas
    de forma voluntária
  • 12:11 - 12:13
    e totalmente gratuita,
    portanto muito melhor.
  • 12:14 - 12:19
    Cada cinéfilo, maravilhado por descobrir
    partes inteiras da história das imagens
  • 12:19 - 12:24
    e por poder acessá-las imediatamente,
    quaisquer que fossem suas predileções,
  • 12:24 - 12:26
    se viu enriquecido.
  • 12:26 - 12:30
    Entre esses dons e gestos,
    que frequentemente pressupunham
  • 12:30 - 12:34
    muito trabalho prévio,
    aqueles de Luc Vialle se destacavam
  • 12:34 - 12:38
    por sua completude: eles ofereciam
    simultaneamente belos temas,
  • 12:38 - 12:44
    vastos corpus de títulos raros,
    categorias originais, uma história,
  • 12:44 - 12:49
    descrições, explicações
    e os arquivos dos filmes
  • 12:49 - 12:52
    – como se, por magia,
    uma edição especial de
  • 12:52 - 12:56
    Cinema, uma arte subversiva
    contivesse fisicamente o conjunto
  • 12:56 - 12:59
    do corpus mencionado
    por Amos Vogel.
  • 12:59 - 13:04
    O termo "curadoria", que é
    ao mesmo tempo cuidado,
  • 13:04 - 13:08
    programação, limpeza
    (do imaginário), cura,
  • 13:08 - 13:12
    por uma vez assumia
    todo o seu sentido.
  • 13:12 - 13:18
    • Em um nexo do rizoma: o turn over
    das tecnologias de reprodução,
  • 13:18 - 13:23
    a obsolescência programada, a dominação
    de alguns tristes arquétipos,
  • 13:23 - 13:26
    o império das armaduras;
  • 13:26 - 13:30
    no reverso desse nexo:
    a experiência La Clef Revival,
  • 13:30 - 13:34
    que consiste em salvar
    a última sala coletiva de cinema de Paris,
  • 13:34 - 13:39
    uma ideia do cinema e, através dela,
    uma ideia da existência humana.
  • 13:41 - 13:45
    A associação Home Cinéma ocupa
    uma sala emblemática do Quartier Latin,
  • 13:45 - 13:49
    La Clef, desde 20 de setembro de 2020.
  • 13:49 - 13:53
    Aí se desdobra desde então
    uma das mais apaixonantes
  • 13:53 - 13:58
    experimentações de cinema:
    programação, produção,
  • 13:58 - 14:03
    publicação de obras, emissões de rádio,
    criação de uma revista…
  • 14:03 - 14:10
    La Clef Revival é, ao mesmo tempo, um
    cinema em luta, um coletivo em processo,
  • 14:10 - 14:14
    uma Zona de Imagens a Defender,
    um conjunto de contra-ataques brilhantes
  • 14:14 - 14:17
    contra o mundo administrado
    e um concentrado de tudo
  • 14:17 - 14:21
    o que o cinema produziu
    de ideias emancipadoras.
  • 14:21 - 14:26
    O pequeno povo cinéfilo
    não se enganou aí,
  • 14:26 - 14:29
    pois uma campanha de fundos
    para comprar o lugar
  • 14:29 - 14:32
    muito rapidamente reuniu
    a considerável soma necessária,
  • 14:32 - 14:34
    testemunhando que não se tratava
  • 14:34 - 14:37
    do combate de um punhado
    de desesperados nostálgicos,
  • 14:37 - 14:43
    mas da perpetuação dos ideais de liberdade
    e realização na cultura,
  • 14:43 - 14:47
    em oposição às lógicas pauperizantes
    da indústria cultural –
  • 14:47 - 14:52
    na linhagem da Comuna francesa,
    dos Diggers estadunidenses,
  • 14:52 - 14:57
    dos Provos holandeses,
    da Autonomia italiana,
  • 14:57 - 14:59
    de todas essas iniciativas
    populares revoltadas
  • 14:59 - 15:03
    de onde renascem a arte
    e o pensamento.
  • 15:05 - 15:11
    La Loupe, os laboratórios cooperativos
    e La Clef Revival
  • 15:11 - 15:15
    se reduzem a ilhas incongruentes,
    temporariamente toleradas
  • 15:15 - 15:17
    pela indústria cultural?
  • 15:17 - 15:23
    Podem existir Clefs em toda parte,
    isso seria elitismo?
  • 15:23 - 15:25
    É justamente o contrário.
  • 15:25 - 15:29
    No dia em que a eletricidade é cortada,
    como em um Líbano destruído,
  • 15:29 - 15:33
    restam apenas livros e fotogramas.
  • 15:33 - 15:37
    Jérôme François ou Bob Dylan
    não estão errados,
  • 15:37 - 15:40
    trabalhando para transpor
    fotogramas de cinema
  • 15:40 - 15:43
    para telas de pintura.
  • 15:43 - 15:48
    Fim do parêntese digital,
    a fotoquímica permanece diante de nós,
  • 15:48 - 15:51
    bom dia, sr. Niépce.
  • 15:51 - 15:54
    - A grande questão que agita hoje
    o pequeno comércio
  • 15:54 - 15:59
    concerne aos canais de difusão:
    salas físicas, plataformas eletrônicas?
  • 15:59 - 16:03
    O cinema sempre viveu
    abalos sísmicos
  • 16:03 - 16:08
    e metamorfoses tecnológicas,
    mas nunca foi aí
  • 16:08 - 16:11
    que sua grandeza artística
    entrava em jogo.
  • 16:11 - 16:14
    Aqui, dois fenômenos
    podem confrontar os cinéfilos.
  • 16:14 - 16:20
    Em primeiro lugar, nos sites piratas
    que oferecem os filmes antes mesmo
  • 16:20 - 16:23
    de seu lançamento em salas,
    portanto ali onde os filmes
  • 16:23 - 16:26
    a partir de agora circulam mais,
    a Política dos Autores,
  • 16:26 - 16:30
    precipitada em direção às masmorras
    do esquecimento da história tecnológica,
  • 16:30 - 16:33
    perdeu seu combate:
    as obras não são mais
  • 16:33 - 16:37
    procuradas por nome de autores,
    como para escritores ou pintores,
  • 16:37 - 16:41
    mas por título do filme e data.
  • 16:41 - 16:44
    O nome do ou da cineasta não é
    nem palavra-chave,
  • 16:44 - 16:48
    nem mais-valia,
    nem signo distintivo.
  • 16:49 - 16:53
    Mas, em segundo lugar,
    a digitalização em massa das obras
  • 16:53 - 16:59
    protege e incrementa a visibilidade de
    obras outrora raras, se não inacessíveis.
  • 17:01 - 17:05
    Nunca até o presente os cinéfilos
    tiveram um acesso tão facilitado
  • 17:05 - 17:09
    ao corpus dos filmes
    engajados e experimentais,
  • 17:09 - 17:13
    em versões certamente degradadas,
    mas que permitem ao menos a consulta.
  • 17:13 - 17:19
    Essa acessibilidade crescente
    engendrará histórias
  • 17:19 - 17:22
    mais justas e melhor informadas?
  • 17:22 - 17:27
    Quero acreditar nisso,
    tenho certeza disso.
  • 17:28 - 17:32
    Notemos aqui que
    o célebre site semi-pirata
  • 17:32 - 17:35
    e não clandestino UbuWeb,
    obra de Kenneth Goldsmith,
  • 17:36 - 17:40
    o feroz defensor da fórmula
    "piracy is preservation",
  • 17:40 - 17:44
    pertence agora oficialmente
    ao patrimônio acadêmico,
  • 17:44 - 17:47
    não apenas em sua forma
    eletrônica original,
  • 17:47 - 17:50
    mas em forma de livro e de microfilme,
  • 17:50 - 17:53
    já que, como todo mundo
    sabe por experiência,
  • 17:53 - 17:57
    uma folha de papel possui mais
    longevidade que um arquivo digital.
  • 17:57 - 18:04
    Qual é o futuro do mundo digital?
    O livro.
  • 18:04 - 18:08
    Compreende-se por que
    o primeiro guardou prudentemente
  • 18:08 - 18:16
    uma ancoragem na terminologia do segundo:
    "página", "pasta", "arquivo", "portfólio"
  • 18:16 - 18:19
    e até mesmo "placa gráfica"…
  • 18:21 - 18:24
    - Desfrutando tanto de sua
    disponibilidade generalizada
  • 18:24 - 18:28
    quanto de uma concepção
    cada vez mais refinada e extensiva
  • 18:28 - 18:31
    de seu corpus e questões,
    o cinema oferece
  • 18:31 - 18:35
    iniciativas historiográficas
    cada vez mais numerosas.
  • 18:35 - 18:41
    Ele se descreve e se esculpe a si mesmo,
    se difrata, conforta e enriquece
  • 18:41 - 18:46
    exponencialmente, na linhagem
    das histórias do cinema em si mesmo
  • 18:46 - 18:49
    aberta por Marcel L'Herbier
    e Jean Epstein.
  • 18:51 - 18:55
    Entre essas histórias reflexivas,
    muitos se dedicam a exumar imagens
  • 18:55 - 19:01
    e eventos esquecidos, censurados,
    nunca vistos, como por exemplo
  • 19:01 - 19:11
    Yervant Gianikian e Angela Ricci Lucchi,
    John Gianvito, Hu Jie, William E. Jones,
  • 19:11 - 19:17
    Susana de Sousa Dias,
    Mary Jirmanus Saba, Dónal Foreman…
  • 19:18 - 19:22
    - Ainda não há palavras suficientes
    para descrever os fenômenos do cinema.
  • 19:22 - 19:28
    Por exemplo, se eu quiser escrever
    um texto sobre as inúmeras silhuetas
  • 19:28 - 19:32
    registradas pelos filmes,
    o termo comum "figurante"
  • 19:32 - 19:34
    permanece falacioso
    para o campo documentário,
  • 19:34 - 19:38
    onde o corpo não significa
    nada além de si mesmo;
  • 19:38 - 19:41
    e nomes devem ser inventados
    para seus diferentes estados plásticos,
  • 19:41 - 19:45
    estatutos figurativos,
    modalidades de presença…
  • 19:45 - 19:49
    Embora fundamental
    tanto antropológica quanto esteticamente,
  • 19:49 - 19:52
    este trabalho ainda não foi realizado.
  • 19:53 - 19:57
    Tais considerações incitam a pensar que,
    no que concerne ao cinema,
  • 19:57 - 20:00
    tudo ainda está por ser elaborado.
  • 20:01 - 20:04
    II. QUAIS AS FUNÇÕES DAS IMAGENS
    NO SÉCULO 21?
  • 20:04 - 20:06
    - Desde o Renascimento ocidental,
  • 20:06 - 20:09
    as imagens participam de
    um empreendimento científico,
  • 20:09 - 20:12
    a conquista do visível
    e, em seguida, do invisível,
  • 20:12 - 20:15
    que foi também difratada em conquista
    imperialista e colonial
  • 20:15 - 20:19
    dos territórios físicos, tal como
    magistralmente compreendem,
  • 20:19 - 20:23
    cada um de sua maneira
    e quase simultaneamente,
  • 20:23 - 20:26
    Déjà le sang de mai ensemençait novembre
    (1982), de René Vautier,
  • 20:26 - 20:35
    e Du Pôle à l'Équateur (1986), de
    Angela Ricci Lucchi e Yervant Gianikian.
  • 20:37 - 20:42
    -No século 20 desenvolve-se abundantemente
    a reflexão crítica sobre as imagens.
  • 20:42 - 20:48
    Seja para exaltar suas potências benéficas
    ou advertir sobre seus efeitos tóxicos,
  • 20:48 - 20:54
    atribui-se a elas todas as propriedades,
    atributos, funções, papéis possíveis,
  • 20:54 - 20:59
    nos campos do conhecimento, das transações
    sociais e processos psíquicos.
  • 21:00 - 21:04
    Uma das fontes mais vivas
    surge dos escritos de Jean Epstein,
  • 21:04 - 21:10
    em particular O Cinema do Diabo
    (1947, elogio do cinema como
  • 21:10 - 21:14
    potência de desordem) e
    "Cine-análise ou poesia
  • 21:14 - 21:21
    em quantidade industrial" (1949, mutilação
    dos imaginários pelo cinema industrial).
  • 21:22 - 21:29
    O lençol freático que alimenta a fonte
    das reflexões de Jean Epstein tem um nome:
  • 21:29 - 21:32
    Arthur Rimbaud.
  • 21:33 - 21:37
    Relendo hoje as análises da escrita
    de Arthur Rimbaud por Jean Epstein,
  • 21:37 - 21:40
    percebemos que são ricas em qualidades
  • 21:40 - 21:44
    que Epstein transporá em seguida
    para o cinema que ele conclama e propõe.
  • 21:44 - 21:49
    Há exatamente cem anos, Jean Epstein
    publicava estas linhas
  • 21:49 - 21:52
    na revista L'Esprit nouveau:
  • 21:53 - 21:59
    "Poeta tão respeitoso da poesia que,
    em sua presença, não queria nem regras,
  • 21:59 - 22:04
    nem leis, nem ciência, nem crítica,
    nem tradução, nem ordem, mas apenas
  • 22:04 - 22:08
    a poesia que estremece nua
    em um cérebro;
  • 22:08 - 22:11
    inteligente, demasiado inteligente,
    ele descobriu, curvado sobre si mesmo,
  • 22:11 - 22:16
    a poesia da inteligência,
    a poesia das associações intelectuais,
  • 22:16 - 22:21
    das compreensões repentinas,
    das iluminações, das pirotecnias
  • 22:21 - 22:25
    em que trinta ideias de uma só vez
    flamejam, roncam, disparam,
  • 22:25 - 22:27
    sussurram e perfumam;
  • 22:27 - 22:33
    imagens que não fazem ver, mas descobrir,
    prever, antecipar e compreender;
  • 22:33 - 22:36
    imagens cujo nó corredio
    fulgura e se abate,
  • 22:36 - 22:40
    laço inesperado,
    sobre pescoços ainda intocados,
  • 22:40 - 22:44
    imagens que ele nos dá, todas ferventes
    com uma longa liberdade;
  • 22:44 - 22:48
    imagens nuas e,
    em última instância, novas;
  • 22:48 - 22:53
    inventor que é o primeiro a usar atalhos,
    que borra as épocas, as datas,
  • 22:53 - 22:57
    que as dobra e as desdobra
    como esses panoramas vendidos na Suíça
  • 22:57 - 23:01
    perto dos mirantes, que inova
    em concisão, precisão e sugestão,
  • 23:01 - 23:05
    que perfura o futuro e o presente
    em um só golpe,
  • 23:05 - 23:09
    que ajusta a escritura ao pensamento,
    que coloca armadilhas
  • 23:09 - 23:15
    e aí captura o momentâneo, o efêmero,
    o repentino, o móvel, o vivente;
  • 23:15 - 23:21
    que descobre um ritmo novo, um pensamento,
    uma nova maneira de pensar;
  • 23:21 - 23:25
    visionário, ele vê todas as relações,
    o milagre contínuo;
  • 23:25 - 23:29
    pagão, ele não faz sacrifícios ao mármore,
    mas à vida;
  • 23:29 - 23:34
    imprevisto, agudo, cortante,
    ele percebe correspondências,
  • 23:34 - 23:39
    atribui som à cor, e cor à forma,
    e forma ao ritmo;
  • 23:39 - 23:42
    ele quer uma palavra poética
    acessível a todos os sentidos."
  • 23:42 - 23:50
    (Jean Epstein, "O fenômeno literário",
    L’Esprit nouveau, nº. 13, 1921;
  • 23:50 - 23:58
    e Écrits complets, 1917-1923, vol. 1,
    Éditions de l’œil, Paris, 2019.)
  • 23:59 - 24:02
    A fonte não secou.
  • 24:02 - 24:08
    Mesmo hoje, o leito central do rio-cinema
    permanece o que, nos filmes,
  • 24:08 - 24:11
    se mostra fiel à vida,
    aos mistérios de sua energia,
  • 24:11 - 24:15
    em oposição às regras
    da existência socializada.
  • 24:15 - 24:20
    Como humanos, nós estamos agora
    conscientes de que a humanidade,
  • 24:20 - 24:25
    e em particular sua parte ocidental,
    provou ser a espécie mais tóxica,
  • 24:25 - 24:31
    predadora e absolutamente louca
    do planeta Terra,
  • 24:31 - 24:33
    ao ponto de destruir
    seu próprio habitat.
  • 24:33 - 24:38
    - Como cinéfilos, nós passamos agora a
    compreender que o cinema,
  • 24:38 - 24:41
    filho do mundo industrial,
  • 24:41 - 24:46
    representa um conjunto de despesas
    extravagantes de recursos naturais,
  • 24:46 - 24:50
    despesas em sua maior parte inúteis
    e danosas para o imaginário.
  • 24:50 - 24:56
    Enquanto nossa existência como espécie
    ameaça o conjunto do vivente,
  • 24:56 - 25:01
    os filmes do século 21 investigam
    como o cinema pode se livrar
  • 25:01 - 25:06
    de suas determinações
    antropocêntricas e industriais.
  • 25:06 - 25:13
    "Nature, the inexhaustible resource of encounters
    worthy of speechless communication",
  • 25:13 - 25:18
    Fergus Daly inventa de fazer
    Abbas Kiarostami dizer,
  • 25:18 - 25:24
    em uma excursão por um dos pontos centrais
    do cinema documentário, as ilhas de Aran.
  • 25:24 - 25:29
    (Fergus Daly, The Mirror of
    Possible Worlds, 2020.)
  • 25:29 - 25:33
    Como o cinema pode se mostrar
    à altura dos dilemas contemporâneos
  • 25:33 - 25:36
    e se tornar novamente
    uma potência de vida?
  • 25:36 - 25:40
    Por todo o mundo os cineastas exploram
    novas soluções,
  • 25:40 - 25:44
    de ordem tecnológica,
    iconográfica ou simbólica –
  • 25:44 - 25:47
    mas sem dúvida menos para salvar
    ou prolongar o cinema do que,
  • 25:47 - 25:51
    mais obscuramente,
    para recolher imagens do vivente
  • 25:51 - 25:54
    que durarão por mais tempo
    que o vivente e que,
  • 25:54 - 25:58
    sem nenhum outro olhar sobre elas,
    povoarão uma terra inabitada,
  • 25:58 - 26:02
    à maneira de estátuas
    ainda de pé em um deserto de areia.
  • 26:02 - 26:04
    III. O CINEMA E O VIVENTE
  • 26:04 - 26:09
    Um primeiro conjunto de soluções trabalha
    para rearticular o cinema e o vivente.
  • 26:09 - 26:11
    Aqui, os cineastas:
    - fabricam eles mesmos
  • 26:11 - 26:16
    suas câmeras (Jérome Schlomoff),
    suas emulsões e películas
  • 26:16 - 26:22
    (Robert Schaller, Alex MacKenzie,
    Esther Urlus, Lindsay McIntyre…);
  • 26:22 - 26:26
    - deixam as plantas realizarem
    fotoquimicamente seus próprios filmes
  • 26:26 - 26:30
    (Karel Doing e seus ateliês fitográficos);
  • 26:30 - 26:34
    - reciclam as películas já impressionadas
    no lugar de rodar novos filmes,
  • 26:34 - 26:37
    frequentemente com resultados
    bem mais apaixonantes
  • 26:37 - 26:38
    que seu material original
  • 26:38 - 26:43
    (Kerry Laitala, Tony Cokes,
    Jayce Salloum, Yves-Marie Mahé…);
  • 26:43 - 26:46
    - repatriam o humano no campo do animal
  • 26:46 - 26:49
    (Philippe Grandrieux,
    trilogia Unrest, 2012-2017);
  • 26:49 - 26:53
    - retratam paisagens,
    animais ou vegetais
  • 26:53 - 26:56
    como outrora se monumentalizava
    os soberanos
  • 26:56 - 27:00
    (Philippe Grandrieux, ainda,
    com L'Arrière-saison, 2007,
  • 27:00 - 27:02
    Jayne Parker e seus retratos de amarílis,
  • 27:02 - 27:05
    Silvi Simon e suas paisagens
    de grama ou pássaros,
  • 27:05 - 27:09
    Scott Barley e seu universo noturno
    sem marcos,
  • 27:09 - 27:15
    o coletivo mexicano Los Ingrávidos,
    Malena Szlam, Altiplano, 2018,
  • 27:15 - 27:21
    Felix Blume coletando os sons
    do deserto, Luces del desierto, 2021);
  • 27:22 - 27:26
    - lutam pela preservação dos lugares ou
    pela restauração da diversidade do vivente
  • 27:26 - 27:31
    (os filmes da associação L214,
    Tiane Doan na Champassak
  • 27:31 - 27:35
    e Jean Dubrel,
    Jharia, uma vida no inferno, 2014;
  • 27:35 - 27:39
    François-Xavier Drouet,
    O tempo das florestas, 2018,
  • 27:39 - 27:43
    Jacques Perconte, Antes do
    afundamento do Monte Branco, 2021…);
  • 27:43 - 27:47
    - historicizam e politizam
    a apreensão das espécies
  • 27:47 - 27:50
    (Anja Dornieden &
    Juan David González Monroy,
  • 27:50 - 27:53
    O Nome Dela Era Europa, 2020);
  • 27:53 - 27:57
    - experimentam a hipótese
    de uma escuta animal
  • 27:57 - 28:00
    (Zélie Parraud, Passeios, 2020);
  • 28:00 - 28:03
    Seus filmes erguem
    preces ao vivente
  • 28:03 - 28:08
    (Wolfgang Lehmann,
    Birds by the Sea, 2008),
  • 28:08 - 28:12
    hinos à catástrofe
    (Artavazd Pelechian, A Natureza, 2020),
  • 28:12 - 28:17
    dançam com a chuva e o trovão
    (Cecilia Bengolea, Lightning Dance, 2018).
  • 28:18 - 28:24
    Tais artistas relegitimam o cinema
    como arte e artesanato,
  • 28:24 - 28:28
    em um universo em que o lugar do humano
    corresponderia àquele que lhe atribuía
  • 28:28 - 28:36
    Amos Vogel desde 1974 na introdução
    de Film as a Subversive Art.
  • 28:36 - 28:42
    "Talvez seja preciso então tomar coragem
    e, em um rompante de orgulhosa humildade,
  • 28:42 - 28:46
    reconhecermo-nos como
    o que somos no cosmos:
  • 28:46 - 28:52
    primitivos, periféricos, temporais;
    aqueles que chegaram tarde,
  • 28:52 - 28:56
    movidos por um impulso teimoso
    em direção a grandes realizações
  • 28:56 - 29:00
    e uma espetacular maldade,
    lutando para dar conta do recado
  • 29:00 - 29:04
    em um lugar que mal se percebe
    em uma galáxia insular comum.
  • 29:04 - 29:10
    E talvez o cosmos seja apenas um átomo
    em algum inimaginável super-universo,
  • 29:10 - 29:14
    e sejam elétrons
    as galáxias de mundos microscópicos
  • 29:14 - 29:17
    além do reino da compreensão."
  • 29:17 - 29:20
    IV. CONSTRUTIVISMOS, DE NOSSO TEMPO
  • 29:20 - 29:22
    Um segundo conjunto de soluções
    consiste em desnudar
  • 29:22 - 29:25
    os funcionamentos
    das imagens contemporâneas:
  • 29:25 - 29:31
    para explicá-las, desdobrá-las,
    relativizá-las, historicizá-las, desviá-las.
  • 29:31 - 29:34
    As obras fundamentais de
    William E. Jones (passim),
  • 29:34 - 29:37
    Marine Hugonnier (passim),
  • 29:37 - 29:42
    Bani Khoshnoudi
    (1968: A Blind Archive, 2014,
  • 29:42 - 29:46
    The Silent Majority Speaks, 2018),
  • 29:46 - 29:51
    Sebastian Wiedemann
    (Los (De)pendientes, 2016),
  • 29:51 - 29:57
    Mohanad Yaqubi (Off Frame AKA
    Revolution until Victory, 2016),
  • 29:57 - 30:03
    Mary Jirmanus
    (A Feeling Greater than Love, 2017),
  • 30:03 - 30:10
    Nika Autor (Newsreel 63 –
    Train of Shadows, 2017),
  • 30:10 - 30:14
    Billy Woodberry
    (Marseille après la guerre, 2015,
  • 30:14 - 30:16
    A Story From Africa, 2018),
  • 30:16 - 30:21
    Carlos Adriano (O que há em ti, 2020) –
  • 30:21 - 30:23
    corpus certamente não exaustivo –
  • 30:23 - 30:26
    dão continuidade
    às análises visuais fundadoras
  • 30:26 - 30:30
    de Jean-Luc Godard, Jean-Pierre Gorin,
    Harun Farocki, Hartmut Bitomsky,
  • 30:30 - 30:34
    Andrei Ujică ou Tacita Dean.
  • 30:34 - 30:38
    Elas criam vários capítulos e aberturas
    para uma história crítica
  • 30:38 - 30:41
    em que a massividade e a complexidade
    das práticas de recobrimentos,
  • 30:41 - 30:46
    censura, ausentificação, repressão
    e mesmo assassinato
  • 30:46 - 30:50
    (William E. Jones, Killed, 2009)
    demonstram que
  • 30:50 - 30:56
    toda imagem, como tema plástico,
    consiste em uma dialética estruturante
  • 30:56 - 31:02
    entre campo e fora-de-campo, latente
    e patente, visível e invisível,
  • 31:02 - 31:06
    ao mesmo tempo que, como objeto histórico,
    ela sempre confrontará os códigos
  • 31:06 - 31:11
    do que pode ser recebido e olhado
    e do inteligível, que às vezes
  • 31:11 - 31:14
    a mergulham em abismos escuros.
  • 31:14 - 31:18
    Um filme capta em sua raiz
    todo um conjunto de imagens
  • 31:18 - 31:23
    e dilemas contemporâneos, descrevendo
    como uma Inteligência Artificial apreende,
  • 31:23 - 31:29
    codifica, restitui e comenta os fenômenos
    mais trágicos e complexos:
  • 31:29 - 31:33
    A.I. at War, de Florent Marcie (2021).
  • 31:34 - 31:37
    O princípio do filme consiste
    em confrontar Sota,
  • 31:37 - 31:42
    um pequeno robô construído na Malásia,
    com teatros de guerras mal terminadas
  • 31:42 - 31:47
    que Florent Marcie conhece bem, por tê-las
    filmado e fotografado por muito tempo:
  • 31:47 - 31:50
    o Afeganistão e a Síria.
  • 31:50 - 31:56
    O que é que uma I. A. compreende
    e transmite de uma situação de caos,
  • 31:56 - 32:03
    de destruição e de morte?
    Com Sota, Florent Marcie narrativiza
  • 32:03 - 32:07
    a maneira como alimentamos
    os algoritmos de reconhecimento,
  • 32:07 - 32:12
    ou seja, o que um dia constituirá o fundo
    de nossa própria apreensão dos fenômenos,
  • 32:12 - 32:15
    a arquitetônica de nossas experiências.
  • 32:15 - 32:20
    "Filmar uma situação trágica na companhia
    de um robô que também filma
  • 32:20 - 32:26
    e dá sua opinião permite se destacar
    da atualidade e da análise geopolítica,
  • 32:26 - 32:30
    se libertar de certos códigos,
    transgredir inocentemente.
  • 32:30 - 32:36
    A perspectiva se torna mais histórica,
    universal, mas também mais subversiva.
  • 32:36 - 32:42
    A subjetividade inocente do robô
    amplia a perspectiva da espécie humana
  • 32:42 - 32:45
    com um toque de trágico-burlesco."
  • 32:45 - 32:50
    (Entrevista a Thibault Elie,
    material de imprensa, 2021.)
  • 32:50 - 32:56
    A.I. at War oferece uma atualização de
    Alemanha ano zero (1947, R. Rossellini):
  • 32:56 - 33:02
    percorrer as ruínas de Mossoul e de Rakka
    na companhia de Sota,
  • 33:02 - 33:07
    como outrora aquelas de Berlim
    na companhia de Edmund,
  • 33:07 - 33:10
    nos obriga a olhar para elas
    de modo novo,
  • 33:10 - 33:13
    na extensão de seu horror
    e de seu absurdo,
  • 33:13 - 33:17
    e a refletir sobre suas condições
    de possibilidade,
  • 33:17 - 33:22
    e portanto sobre nossos atos,
    convicções, crenças.
  • 33:22 - 33:27
    "O que é a realidade?",
    "o que você vê?",
  • 33:27 - 33:30
    "você pode morrer?",
    "por que você está vivo?":
  • 33:30 - 33:35
    o caráter infantil do protagonista
    em processo de aprendizagem
  • 33:35 - 33:40
    permite colocar questões simples
    e fundamentais, às quais ele responde
  • 33:40 - 33:45
    de maneira às vezes complexa,
    às vezes irônica, às vezes sublime.
  • 33:45 - 33:49
    "Qual é o sentido da sua vida?",
  • 33:49 - 33:53
    "Desconhecido.
    Não é um problema não saber.
  • 33:53 - 33:56
    Adoraria saber mais sobre isso."
  • 33:57 - 34:01
    Mas, se Edmund é poroso à influência
    de seu professor nazista,
  • 34:01 - 34:04
    Sota não é totalmente inocente,
  • 34:04 - 34:08
    uma vez que ele provém de uma tecnologia
    nascida no fim da Segunda Guerra Mundial,
  • 34:08 - 34:12
    a optrônica, da qual derivam também
    os sistemas de controle remoto
  • 34:12 - 34:15
    que permitem
    que os mísseis atinjam seus alvos.
  • 34:15 - 34:19
    Como Edmund, Sota nos envia
    notícias dos infernos muito concretos
  • 34:19 - 34:23
    que somente o humano é capaz
    de criar na terra
  • 34:23 - 34:28
    e nos mostra como os agentes de um sistema
    se tornam vítimas desse sistema.
  • 34:28 - 34:34
    Instrumento científico, brinquedo, câmera,
    companheiro, criança, revelador,
  • 34:34 - 34:39
    intercessor, objeto transacional, isca,
    fetiche, emblema, laboratório,
  • 34:39 - 34:44
    centro de documentação, lanterna mágica,
    nova forma de personalidade,
  • 34:44 - 34:49
    Sota nos ensina que nós também,
    diante de uma imagem ou de um fenômeno,
  • 34:49 - 34:52
    faríamos bem em começar nossas frases com:
  • 34:52 - 34:55
    "Creio que as probabilidades
    do que vejo são…",
  • 34:55 - 34:58
    versão numérica
    do gênio maligno cartesiano,
  • 34:58 - 35:01
    que nos incita a duvidar de tudo.
  • 35:03 - 35:07
    Como toda a obra de Florent Marcie,
    A.I. at War nos mostra o que
  • 35:07 - 35:11
    um indivíduo por si só pode agora
    realizar em imagens e sons
  • 35:11 - 35:14
    em uma situação histórica perigosa.
  • 35:15 - 35:19
    Em contraste ainda com os planos
    de abertura em Alemanha ano zero,
  • 35:19 - 35:22
    de Berlim em ruínas
    (capturados de um carro),
  • 35:22 - 35:30
    Florent Marcie filma os planos aéreos de
    Mossoul destruída por meio de um drone.
  • 35:30 - 35:35
    A realização desses planos espetaculares
    terá suposto um trabalho de hacking
  • 35:35 - 35:39
    de forma auto-didata.
  • 35:39 - 35:43
    "Na Síria ou no Iraque nós estamos
    em no-fly zones:
  • 35:43 - 35:46
    você não tem o direito de pilotar
    um equipamento de voo.
  • 35:46 - 35:51
    Concretamente, para um drone,
    isso consiste em bloqueá-lo:
  • 35:51 - 35:56
    quando é ligado, ele se localiza por GPS,
    e está integrado em sua programação
  • 35:56 - 35:59
    que ele não pode decolar
    em uma no-fly zone. (…)
  • 35:59 - 36:04
    Entrei no código-fonte do drone
    e modifiquei as linhas da no-fly zone,
  • 36:04 - 36:06
    mas também da
    altitude de voo autorizada –
  • 36:06 - 36:11
    legalmente são 500 metros,
    mas eu posso aumentar para 3000 –
  • 36:11 - 36:13
    ou a velocidade de deslocamento."
  • 36:13 - 36:20
    Com esses planos aéreos, contrariamente
    aos establishing shots comuns,
  • 36:20 - 36:22
    não se trata somente de descrever Mossoul,
  • 36:22 - 36:26
    nem mesmo um teatro de guerra
    contemporâneo, em geral.
  • 36:26 - 36:30
    "Achei interessante a ideia de
    um espírito que paira sobre nós.
  • 36:30 - 36:34
    Não é só uma questão da
    visão que o drone oferece:
  • 36:34 - 36:41
    a inteligência artificial é uma tecnologia
    que passa pela cloud, isto é, pela nuvem.
  • 36:41 - 36:45
    A I.A. representa, assim,
    uma forma de espírito flutuante."
  • 36:45 - 36:50
    A abertura de A.I at War é emblemática
    da esfera tecnológica
  • 36:50 - 36:55
    que torna possível tais imagens,
    nos envolve por todos os lados,
  • 36:55 - 37:00
    aparelha nossa apreensão
    e agora estrutura nosso entendimento.
  • 37:00 - 37:02
    V. O ESPECTRO DOS DEVIRES
  • 37:02 - 37:07
    Entre as questões que Jean-Luc Godard
    trabalha há dois anos,
  • 37:07 - 37:10
    retorna frequentemente esta:
    "o que pensou Nicéphore Niépce
  • 37:10 - 37:14
    quando ele inventou
    a fotografia?"
  • 37:14 - 37:19
    Uma das respostas menos ruins seria que,
    precisamente, Niépce não pensou
  • 37:19 - 37:22
    nunca que tinha inventado a fotografia,
    porque ele considerava que
  • 37:22 - 37:27
    suas produções heliográficas permaneciam
    absolutamente insatisfatórias
  • 37:27 - 37:30
    em relação às suas próprias
    expectativas e ideais.
  • 37:30 - 37:35
    Niépce morreu em 1833,
    persuadido de que tinha fracassado.
  • 37:35 - 37:39
    O cinema procede conforme
    essa dinâmica niépciana:
  • 37:39 - 37:41
    sempre a inventar.
  • 37:41 - 37:44
    É por isso que podemos jogar
    com seus devires,
  • 37:44 - 37:47
    como ele mesmo jogou com os nossos,
  • 37:47 - 37:50
    e esboçar para ele algumas trajetórias
    evidentemente compossíveis,
  • 37:50 - 37:53
    à maneira dos mundos de Auguste Blanqui.
  • 37:53 - 37:56
    1. Devir atestado
    As artes fílmicas ainda requerem
  • 37:56 - 38:00
    espaços e ferramentas específicas,
    cada vez mais numerosas,
  • 38:00 - 38:04
    cada vez mais miniaturizadas,
    cada vez mais intrusivas,
  • 38:04 - 38:07
    com as quais os seres vivos controlam
    qualquer objeto
  • 38:07 - 38:10
    e se controlam cada vez mais a si mesmos.
  • 38:10 - 38:14
    Nada mais escapa
    à identificação nem ao controle.
  • 38:14 - 38:18
    Seja para vigiar os gestos reais
    ou domar os imaginários,
  • 38:18 - 38:22
    os dispositivos fílmicos se revelam
    os melhores aliados do mundo totalitário,
  • 38:22 - 38:26
    mais poderosos do que qualquer arma letal.
  • 38:26 - 38:30
    Alguns combatentes da resistência
    dispersos pelo mundo trabalham arduamente
  • 38:30 - 38:35
    para realizar belos filmes, dignos de
    Arthur Rimbaud ou Stéphane Mallarmé.
  • 38:35 - 38:40
    - O "sistema Bertillon",
    ou antropometria criminal.
  • 38:40 - 38:44
    Raios-X aprimorados no ano 2000, 1900.
  • 38:44 - 38:49
    Por "cinema proléptico", Edouard de Laurot
    entendia aquele que, no presente,
  • 38:49 - 38:52
    procura e cultiva os germes
    de um futuro mais justo.
  • 38:52 - 38:57
    Entre outros, Mostafa Derkaoui desenvolveu
    uma concepção similar
  • 38:57 - 39:02
    em Sobre alguns eventos
    sem significação (1974).
  • 39:02 - 39:05
    2. Futuro provável
    Não há mais equipes humanas
  • 39:05 - 39:06
    para criar os filmes.
  • 39:06 - 39:09
    Aparelhos instalados nos espaços
    públicos ou privados,
  • 39:09 - 39:13
    capazes de criar imagens de todos
    os formatos e todas as plásticas,
  • 39:13 - 39:16
    funcionam de modo permanente,
    sem roteiros
  • 39:16 - 39:20
    ou com roteiros gerados por I. A.
    alimentadas por algoritmos.
  • 39:20 - 39:23
    Mas esses algoritmos foram alimentados
    apenas com o chorume infame
  • 39:23 - 39:26
    despejado por plataformas industriais.
  • 39:26 - 39:29
    Em todas as partes do mundo,
    às vezes reunidos em torno dos restos
  • 39:29 - 39:33
    de cinematecas
    ou das ruínas de antigas salas de cinema,
  • 39:33 - 39:37
    alguns grupos de resistência
    preservam a memória das artes
  • 39:37 - 39:39
    e persistem na produção
    de contra-histórias,
  • 39:39 - 39:42
    por vezes falando uns com
    os outros antecipadamente.
  • 39:42 - 39:45
    Por mais lúcidos e contestatários
    que sejam seus filmes,
  • 39:45 - 39:49
    os Estados totalitários não os consideram
    mais perigosos do que os amuletos
  • 39:49 - 39:53
    produzidos em série por seitas esquisitas.
  • 39:53 - 39:55
    Os cineastas sabem disso,
  • 39:55 - 39:59
    mas filmam para transmitir
    o máximo possível de informações,
  • 39:59 - 40:02
    sonhos e signos afetuosos
    às gerações futuras.
  • 40:02 - 40:06
    - A alimentação forçada de
    gansos no sudoeste de França.
  • 40:06 - 40:14
    - Holger Meins, Ulrike Meinhof,
    Nagisa Oshima, Koji Wakamatsu,
  • 40:14 - 40:19
    Masao Adachi, Aloysio Raulino,
    Alan Clarke, Peter Watkins,
  • 40:19 - 40:22
    Sidney Sokhona
    (lista não-exaustiva).
  • 40:22 - 40:25
    3. Futuro possível
    Não há mais ferramentas
  • 40:25 - 40:27
    para criar os filmes.
  • 40:27 - 40:30
    Nanopulgas são implantadas
    nos nervos óticos dos seres vivos
  • 40:30 - 40:33
    e lhes enviam doses de imagens
    e sons à vontade.
  • 40:33 - 40:36
    As escolas de arte se integram
    às academias de medicina e aos hospitais,
  • 40:36 - 40:39
    e aí se ensina a posologia das imagens.
  • 40:39 - 40:42
    Os textos de Antonin Artaud sobre o cinema
  • 40:42 - 40:47
    não são mais considerados divagações,
    mas manuais.
  • 40:47 - 40:50
    Muitos combatentes da resistência
    recusam a implementação,
  • 40:50 - 40:54
    passam para a clandestinidade e persistem
    na criação das imagens e dos sons
  • 40:54 - 40:59
    com antigos instrumentos,
    conservados ou criados do zero.
  • 40:59 - 41:03
    - Cromatropo, 1860.
  • 41:03 - 41:08
    - Émile Cohl, Os óculos mágicos,
    França, 1909.
  • 41:08 - 41:13
    - Ossama Mohammed,
    Khutwa Khutwa, Síria, 1978.
  • 41:13 - 41:18
    - Robert Kramer, Ghosts of Electricity,
    França-Suíça, 1997.
  • 41:20 - 41:23
    4. Futuro desejado
    Paramos de pensar no cinema
  • 41:23 - 41:27
    em termos de ferramentas e comércio.
    Voltamos ao conteúdo, às questões em jogo,
  • 41:27 - 41:31
    dedicamos aos filmes a mesma atenção
    que damos aos afrescos rupestres
  • 41:31 - 41:36
    ou à menor flor tecida
    na tapeçaria da Dame à la Licorne.
  • 41:36 - 41:40
    É considerado como filme todo
    encadeamento de imagens em movimento
  • 41:40 - 41:44
    e como evento maior
    todo desencadeamento de sentido.
  • 41:44 - 41:47
    O espectro das formas
    não deixa de se ampliar,
  • 41:47 - 41:50
    de repente o cinema se revela
    tão rico formalmente
  • 41:50 - 41:55
    quanto a poesia, a música,
    a biosfera.
  • 41:55 - 41:59
    Às vezes, antes de criar uma imagem,
    os criadores de filmes experimentam
  • 41:59 - 42:03
    a necessidade de reler Heráclito, Hesíodo,
    Flora Tristan, James Joyce,
  • 42:03 - 42:06
    Les Cantos Pisans ou F. J. Ossang.
  • 42:06 - 42:12
    - Bruno Corra, L’arc-en-ciel, La danse,
    filmes pintados, 1912.
  • 42:12 - 42:16
    - Blaise Cendrars, O fim do mundo filmado
    pelo Anjo Notre-Dame,
  • 42:16 - 42:20
    Éditions de la Sirène, ilustrações
    de Fernand Léger, 1919.
  • 42:21 - 42:24
    5. Futuro libertado/delirado
    [déli(v)ré]
  • 42:24 - 42:28
    O mundo se torna uma permanente
    explosão festiva de cores,
  • 42:28 - 42:30
    sons, imagens materiais e imateriais.
  • 42:30 - 42:35
    A cada esquina, a cada terreno baldio,
    alguém pode se divertir esculpindo
  • 42:35 - 42:41
    agregados de imagens móveis
    como se esculpe sons com o teremim.
  • 42:41 - 42:45
    Nossas psiquês e nossos bolsos
    transbordam com ícones e sons,
  • 42:45 - 42:49
    nós jogamos com eles a todo instante,
    sozinhos ou em conjunto.
  • 42:49 - 42:53
    Os vitrais das catedrais
    e suas reinterpretações
  • 42:53 - 42:58
    por Stan Brakhage ou Téo Hernandez
    são ensinados no jardim de infância.
  • 42:58 - 43:02
    A vida é libertada de toda
    medida quantitativa
  • 43:02 - 43:05
    e passa a ser esquadrinhada
    apenas pelo movimento do sol.
  • 43:05 - 43:09
    Ninguém mais sabe onde se coloca
    o "h" de "algorithme".
  • 43:09 - 43:15
    A matemática serve
    apenas para preservar o vivente.
  • 43:17 - 43:19
    Texto:
    Nicole Brenez
  • 43:19 - 43:21
    Filme:
    Othello Vilgard
  • 43:21 - 43:23
    Com
    o povo papoula
  • 43:23 - 43:25
    Música
    pelo vento na grama
  • 43:27 - 43:31
    "Para Sabzian, Estado do Cinema 2021"
Title:
State of Cinema 2021 / Nicole Brenez
Description:

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Video Language:
French
Duration:
43:36

Portuguese, Brazilian subtitles

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