Como as fronteiras abertas nos dão segurança | Andrew Solomon | TEDxExeter
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0:16 - 0:22O grande naturalista do século 19,
Alexander von Humboldt, disse uma vez: -
0:23 - 0:26"Não há visão de mundo mais perigosa
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0:27 - 0:30do que a visão de mundo daqueles
que ainda não viram o mundo". -
0:31 - 0:35Eu acredito que viajar
seja nossa obrigação moral, -
0:35 - 0:41caso possamos, e que devemos isso
ao mundo para nos comprometermos. -
0:43 - 0:48Em algum momento, todos precisamos
nos abrir para um mundo mais amplo. -
0:48 - 0:52Acho que, se todos nós passássemos
duas semanas em outro país -
0:52 - 0:57antes dos 30 anos, não importa
onde e nem o que fôssemos fazer lá, -
0:57 - 1:01metade dos problemas diplomáticos
mundiais estariam resolvidos. -
1:01 - 1:06Creio que, se o governo tivesse
noção da função social de viajar, -
1:06 - 1:09haveria programas governamentais
para subsidiar viagens, -
1:09 - 1:14assim como temos programas
de apoio à saúde e à educação. -
1:15 - 1:17Viajar é uma janela e um espelho.
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1:18 - 1:21É uma janela, pois nos permite ver
outra sociedade e outra cultura, -
1:21 - 1:23diferentes daquelas conhecemos.
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1:23 - 1:26Mas é um espelho, porque,
quando você vai para o exterior, -
1:26 - 1:28é despido da essência do seu eu,
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1:29 - 1:34e você vê essa essência com uma clareza
que, de outro modo, não veria. -
1:35 - 1:38Todos precisamos ter nossos compatriotas.
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1:38 - 1:41Se não tivermos um lugar
para chamar de nosso, -
1:41 - 1:44descobrir quem somos é quase impossível.
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1:44 - 1:46Mas sem pessoas diferentes,
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1:47 - 1:50você vira uma caricatura de si próprio.
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1:50 - 1:52Nenhum desses modelos precisa prevalecer.
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1:53 - 1:55Nenhum deles subverte o outro.
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1:56 - 2:01Sou um cidadão com nacionalidade
inglesa e norte-americana. -
2:01 - 2:06No ano passado, votei
contra o "Brexit" e contra o Trump, -
2:06 - 2:09e perdi nas duas vezes.
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2:09 - 2:10(Risos)
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2:11 - 2:14O resultado dessas votações
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2:14 - 2:16e a ascensão de governos nacionalistas
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2:16 - 2:21na Polônia, Hungria, Turquia e Rússia
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2:21 - 2:26representam a rejeição da diversidade
humana e das fronteiras abertas -
2:26 - 2:29que caracterizam a ordem mundial.
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2:30 - 2:31Em outubro,
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2:31 - 2:33na Conferência do Partido Conservador,
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2:33 - 2:35Theresa May disse:
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2:36 - 2:40"Não existe isso de ser cidadão do mundo.
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2:40 - 2:45Se você acha que é cidadão do mundo,
você não é cidadão de lugar nenhum. -
2:45 - 2:50Você não entende
o que significa 'cidadania'". -
2:51 - 2:53Theresa May está errada.
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2:54 - 2:57Patriotismo não é nacionalismo.
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2:58 - 3:03Você pode amar o seu país
e outros países também. -
3:04 - 3:06Não é uma via de mão única.
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3:06 - 3:09Mesmo que as políticas
de identidade dos últimos 20 anos -
3:09 - 3:10não tivessem nos dado nada mais,
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3:10 - 3:14ainda assim, conseguiram nos dar
o vocábulo da interseccionalidade, -
3:14 - 3:18o entendimento de que todos temos
várias identidades ao mesmo tempo. -
3:19 - 3:24E você pode ser velho,
conservador, britânico e gay, -
3:25 - 3:29ou jovem, surdo, radical e francês,
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3:29 - 3:35ou anglo-americano, europeu
e cidadão do mundo. -
3:36 - 3:38É uma marca de sofisticação
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3:38 - 3:42tolerarmos e honrarmos
identidades convergentes, -
3:42 - 3:48e a falta dessa habilidade
é sinal de alienação e objeção. -
3:49 - 3:53Mas nos equivocamos ao achar
que, por termos os mesmos problemas, -
3:53 - 3:56precisamos todos das mesmas soluções.
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3:57 - 4:02Quando trabalhei no Camboja,
conheci uma mulher, Phaly Nuon, -
4:02 - 4:06que passou por terrores inimagináveis
durante o genocídio no país. -
4:07 - 4:10Ela foi forçada a assistir
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4:10 - 4:14à sua filha ser estuprada
e morta na sua frente. -
4:14 - 4:16O bebê que ela tinha morreu
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4:16 - 4:19porque Phaly estava desnutrida
demais para produzir leite materno. -
4:20 - 4:25No fim da guerra, ela encontrava-se
em um acampamento na fronteira -
4:26 - 4:28e percebeu que, nesse acampamento,
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4:28 - 4:31havia muitas mulheres, em especial
mulheres que tinham sobrevivido -
4:31 - 4:35a terríveis ignomínias e atrocidades,
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4:35 - 4:38mas que agora só ficavam sentadas
em frente às tendas do acampamento, -
4:38 - 4:42fitando o nada, sem cuidar
dos filhos, sem fazer nada. -
4:43 - 4:46Então, ela foi até os responsáveis
pelo acampamento e eles disseram: -
4:46 - 4:49"Já estamos muito ocupados
com as doenças infecciosas. -
4:49 - 4:51Não podemos fazer nada a respeito".
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4:52 - 4:55Assim, ela decidiu que faria algo.
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4:55 - 5:00E ela criou o chamado
"programa dos três pontos". -
5:01 - 5:03Ela me disse: "Primeiro
eu ia até aquelas mulheres -
5:04 - 5:06e as ensinava a esquecer,
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5:07 - 5:11não que, algum dia, elas esqueceriam
as coisas horríveis que lhes aconteceram, -
5:11 - 5:14mas eu mostrava a elas
outras coisas para pensarem, -
5:14 - 5:16ocupando suas cabeças com outras coisas;
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5:16 - 5:19e esse era o início
de uma espécie de esquecimento. -
5:20 - 5:24Depois de ter ensinado a esquecer,
eu ensinava-as a trabalhar. -
5:25 - 5:27Algumas só sabiam limpar casas,
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5:27 - 5:32outras eram boas em artesanato,
algumas faziam coisas mais complexas, -
5:32 - 5:36mas todas precisavam saber
que eram capazes de fazer algo". -
5:37 - 5:41Ela ainda disse: "Depois de ensiná-las
a esquecer e a trabalhar, -
5:42 - 5:45eu as ensinava a fazer as unhas
das mãos e dos pés". -
5:46 - 5:48E eu: "Como assim?"
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5:48 - 5:49(Risos)
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5:49 - 5:53E ela disse: "O que mais se perdeu,
durante o regime do Khmer Vermelho, -
5:53 - 5:56foi a capacidade das pessoas
de confiarem umas nas outras. -
5:56 - 6:01Essas mulheres passaram tantos anos
sem terem a chance de se sentirem bonitas. -
6:01 - 6:06Eu as convidava para a minha barraca,
enchia-a de vapor e, em poucos minutos, -
6:06 - 6:11elas estavam mostrando as mãos e os pés
a uma estranha com instrumentos afiados. -
6:11 - 6:11(Risos)
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6:12 - 6:16Depois de pouco tempo, elas começavam
a contar suas histórias umas às outras. -
6:16 - 6:19Então, eu tentava ensinar-lhes
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6:19 - 6:24que essas três atitudes não eram
separadas, mas parte de um jeito de viver. -
6:25 - 6:28E quando elas entendiam
isso e a razão disso, -
6:28 - 6:31estavam prontas para encararem
o mundo de novo". -
6:32 - 6:36Hoje, os governos democráticos
devem fundamentar-se em uma visão futura, -
6:36 - 6:38e isso requer o esquecimento.
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6:39 - 6:44Mas também devemos nos esforçar
para trabalhar e confiar. -
6:44 - 6:50No momento, esquecemos muito bem,
e trabalhamos e confiamos muito mal. -
6:51 - 6:53Durante sua campanha, Donald Trump disse:
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6:53 - 6:57"Não tenho tempo para viajar,
os EUA precisam de mim agora". -
6:58 - 7:03Vocês conseguem ver os EUA
sem dar uma olhada do lado de fora? -
7:04 - 7:08Há um sentimento, em todos
esses movimentos nacionalistas, -
7:08 - 7:11de que a diferença é ameaçadora
em vez de ser bonita. -
7:11 - 7:16E eles compartilham da ideia
de repudiar nossa humanidade. -
7:17 - 7:21Tanto que não foi surpresa
que, nos meses após a votação do Brexit, -
7:21 - 7:26o comissário de polícia de Londres
apontou aumento nos crimes de ódio, -
7:27 - 7:30e o Southern Poverty Law Center nos EUA
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7:30 - 7:36registrou mais de mil incidentes causados
pelo ódio nas três semanas pós-eleição. -
7:37 - 7:39Quando não conhecemos uns aos outros,
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7:39 - 7:42é mais fácil nos matarmos mutuamente.
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7:43 - 7:47Quando eu tinha seis anos,
estava no carro com meu pai, -
7:47 - 7:49estávamos viajando para o interior,
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7:50 - 7:54e ele me contou uma história
que fazia alusão ao Holocausto. -
7:54 - 7:58Ele achou que eu sabia daquilo,
mas eu não sabia. -
7:58 - 8:02Eu pedi para ele me explicar,
e ele explicou-me. -
8:02 - 8:06Aquilo não fez sentido para mim,
então, pedi para ele explicar de novo. -
8:06 - 8:10Ele explicou novamente e, quando pedi
pela terceira vez, ele disse: -
8:10 - 8:12"Foi pura maldade".
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8:12 - 8:16Ele disse em um tom de voz
que significava que era o fim da conversa. -
8:16 - 8:20Só que eu tinha
mais uma pergunta e perguntei: -
8:20 - 8:25"Por que os judeus não fugiram,
quando tudo ficou ruim?" -
8:26 - 8:28E meu pai respondeu:
-
8:29 - 8:31"Eles não tinham para onde ir".
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8:32 - 8:36Lembro-me de ter pensado, então,
mesmo com apenas seis anos, -
8:36 - 8:39que eu nunca seria uma pessoa dessas.
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8:40 - 8:43Eu sempre teria para onde ir,
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8:43 - 8:46sempre teria pessoas dispostas
a me receber de braços abertos -
8:46 - 8:49em todos os continentes habitados.
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8:49 - 8:52E isso se tornou
uma parte crucial da minha vida. -
8:53 - 8:57Vivemos em uma época de isolacionismo,
em que as pessoas se esqueceram -
8:57 - 9:02que o princípio para sentir-se seguro
é ter vários lugares para onde ir. -
9:03 - 9:05Há um ano, eu estava em Moscou,
-
9:05 - 9:09quando Putin implementou
uma série de medidas autoritárias. -
9:09 - 9:12Eu estava com Andre Reuter,
que conheço há muito tempo. -
9:12 - 9:15Ele estava envolvido
com a resistência ao golpe de Estado -
9:15 - 9:17quando a União Soviética acabou
-
9:17 - 9:21e lutou idealisticamente
pela liberdade e pela justiça. -
9:21 - 9:23Eu perguntei a ele: "Você se arrepende?
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9:24 - 9:26Está arrependido
de ter gasto tanta energia -
9:26 - 9:28em esperanças que não se concretizaram?"
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9:29 - 9:31Ele me olhou e disse:
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9:31 - 9:34"Se me arrependo? Não, não me arrependo.
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9:34 - 9:38Aquilo foi o motor de tudo
que fiz e penso desde então. -
9:39 - 9:44Aquele momento de idealismo
foi como uma infância feliz. -
9:44 - 9:50É algo que você constrói para lidar
com tudo o que vem depois". -
9:50 - 9:53Percebi, naquele momento,
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9:53 - 9:56que uma esperança perdida
é revestida de nobreza tal -
9:56 - 9:59que uma mera falta de esperança
jamais conhecerá. -
9:59 - 10:03E que o momento em que as coisas mudam
é precioso no presente, -
10:03 - 10:06não importando aonde
as mudanças nos levam, -
10:06 - 10:12e essa mudança só acontece
após múltiplos momentos de esperança. -
10:13 - 10:17Em fevereiro de 2002, logo após a invasão,
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10:18 - 10:19eu fui ao Afeganistão.
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10:19 - 10:23Fui, pois eu achava que um país
não poderia ser composto -
10:23 - 10:27inteiramente por camponeses guerrilheiros
e burocratas corruptos, -
10:27 - 10:31imagem que sempre aparecia,
naquela época, na mídia ocidental. -
10:32 - 10:35Eu tinha alguém lá que era
meu tradutor e faz-tudo, -
10:35 - 10:38e que ainda hoje é meu amigo, Farouq.
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10:38 - 10:41Eu havia dito a ele que queria
um desses chapéus de pele, -
10:41 - 10:44igual ao que o presidente Karzai usava.
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10:44 - 10:47E Farouq disse: "Se você quer um, temos
que ir à rua dos fabricantes de chapéu -
10:47 - 10:49e encomendar um".
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10:49 - 10:52Nós fomos, encomendamos um chapéu
e, no dia seguinte, fomos buscá-lo. -
10:52 - 10:56E Farouq disse: "Nosso próximo compromisso
fica a cinco minutos daqui. -
10:56 - 10:59Podemos ir a pé, passando pelo mercado".
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10:59 - 11:03"Certo", eu disse, e nessa época
a maioria dos ocidentais -
11:03 - 11:07que estavam no Afeganistão
eram das Nações Unidas ou militares, -
11:07 - 11:11e não tinha permissão de andar
em lugares como um mercado lotado. -
11:11 - 11:13Quando estávamos caminhando Farouq falou:
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11:13 - 11:15"Coloque o seu chapéu".
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11:15 - 11:19Eu disse: "Farouq, estrangeiros
querendo ser nativos ficam ridículos". -
11:19 - 11:20(Risos)
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11:20 - 11:22"Não vou colocar meu chapéu."
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11:22 - 11:23Ele respondeu: "Ah, vamos lá".
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11:23 - 11:25E eu: "De verdade, não".
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11:25 - 11:27E ele: "Por favor, coloque o chapéu".
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11:27 - 11:30E eu: "Está bem, vou colocar meu chapéu".
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11:31 - 11:36Então, coloquei o chapéu e, de repente,
todos em volta começaram a aplaudir. -
11:36 - 11:37(Risos)
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11:37 - 11:40Um senhor veio até mim e abraçou-me.
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11:41 - 11:42Ele disse:
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11:42 - 11:45"Você é um estrangeiro,
mas veio ao nosso país, -
11:45 - 11:47está aqui no mercado com a gente,
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11:47 - 11:51está usando um chapéu afegão,
do jeito afegão, -
11:51 - 11:55e nós queremos que você saiba
que é bem-vindo aqui". -
11:57 - 12:02Uma semana depois, entrevistei
três mulheres ativistas. -
12:02 - 12:06Quando nos encontramos,
elas usavam burcas, -
12:06 - 12:09que imediatamente tiraram
para podermos sentar e conversar. -
12:09 - 12:11Eu perguntei a elas:
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12:11 - 12:14"Já não temos o regime Talibã.
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12:14 - 12:17Vocês não precisam mais usar isso.
Por que ainda usam?" -
12:18 - 12:22A primeira mulher disse: "Se eu sair
na rua sem a burca e for estuprada, -
12:22 - 12:25todos dirão que a culpa foi minha".
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12:25 - 12:31A segunda disse: "Se eu sair sem a burca,
e o Talibã voltar ao poder, -
12:32 - 12:35eles podem punir qualquer uma
que tenha saído sem a burca". -
12:36 - 12:43Mas a terceira disse: "Jurei que, quando
o Talibã caísse, eu queimaria esta peça -
12:43 - 12:45e nunca mais a veria de novo.
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12:47 - 12:52Mas, depois de cinco anos,
você se acostuma a ser invisível, -
12:53 - 12:57e a perspetiva de ser visível
de novo é apavorante". -
12:58 - 13:01Entendi que, para essa mulher,
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13:01 - 13:05a invisibilidade dava
uma certa liberdade a ela. -
13:05 - 13:11Mas também percebi
que essa liberdade é uma prisão, -
13:11 - 13:15e que, normalmente, as pessoas
que têm menos liberdade -
13:16 - 13:18são as que entendem
a liberdade mais profundamente. -
13:19 - 13:20Como Tony Morrison disse:
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13:20 - 13:25"Depois que você estiver livre,
você deve libertar-se de si próprio". -
13:26 - 13:30Em uma sociedade livre, você tem
a chance de conquistar suas ambições. -
13:31 - 13:33Em uma sociedade sem liberdade,
você perde essa opção, -
13:34 - 13:37o que, às vezes, leva
a ambições mais visionárias. -
13:38 - 13:42Aqueles que sofrem frequentes restrições
usam suas palavras com mais força, -
13:42 - 13:46mas a palavra "liberdade" é um verbo.
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13:46 - 13:50Você deve buscá-la e alcançá-la,
incessantemente, todos os dias. -
13:50 - 13:52Ela não é algo estático.
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13:52 - 13:56Não podemos considerar
que seja um estado permanente. -
13:56 - 14:00É preciso muito tempo e muito esforço
-
14:01 - 14:03para construir a liberdade.
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14:03 - 14:08E até liberdades arduamente conseguidas
podem ser perdidas com espantosa rapidez. -
14:09 - 14:14Nazismo, apartheid,
o genocídio em Ruanda, a Grande Sérvia -
14:14 - 14:18cada um deles, ao chegar ao poder,
varreu a justiça que existia. -
14:20 - 14:24Quando eu estive na China,
passei um tempo com Zhang Peili, -
14:24 - 14:30artista que participou da revolta
na Praça da Paz Celestial, em 1989. -
14:30 - 14:35Ele esteve lá e, quando foi embora,
pintou um quadro do que havia visto -
14:35 - 14:37e pendurou em uma ponte em Hangzhou.
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14:37 - 14:40E então, teve que se esconder,
porque se tornou um homem procurado. -
14:41 - 14:42Ele me disse:
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14:42 - 14:47"Sabe, talvez o que aconteceu
tenha sido o certo, pois se não fosse, -
14:47 - 14:53teria acontecido uma revolução
e milhares de pessoas teriam morrido". -
14:54 - 14:58Eu perguntei: "Mas Peili,
como pode dizer isso? -
14:58 - 15:01Você quase perdeu sua vida
por isso, teve que se esconder. -
15:01 - 15:04Você realmente acreditava
naquele protesto estudantil". -
15:05 - 15:07E ele respondeu: "Sou um artista.
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15:07 - 15:10E o idealismo é meu direito como artista.
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15:10 - 15:16Mas o idealismo, nas mãos de um líder,
é um coisa terrível". -
15:18 - 15:20Meu marido e eu, nossa família,
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15:20 - 15:25recentemente acolhemos
um refugiado líbio chamado Hassan. -
15:25 - 15:30Fizemos isso, em parte, porque a vida
que levamos como gays norte-americanos -
15:31 - 15:36é um privilégio muito abstrato
para os gays daquela parte do mundo -
15:36 - 15:38e para tantos outros gays mundo afora.
-
15:38 - 15:42E também por acharmos que temos
a obrigação moral de ajudar, -
15:42 - 15:44nessa época de tantos refugiados.
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15:44 - 15:51Também queríamos mandar uma mensagem
para nossos filhos, amigos, -
15:52 - 15:54e inclusive a nós mesmos,
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15:54 - 15:59de que esse ser "maligno", o outro,
pode ser alguém, não apenas conhecido, -
16:00 - 16:02mas também amado.
-
16:03 - 16:07É algo político para nós, termos Hassan
como membro da nossa família, -
16:08 - 16:12mesmo que ele esteja treinando nosso filho
no futebol, trabalhando no hospital, -
16:12 - 16:17fazendo bolos incríveis e fazendo-nos rir.
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16:18 - 16:23Eu esperava que o tempo apagaria
o aspecto político da presença dele, -
16:23 - 16:28mas isso tornou-se impossível
depois da eleição norte-americana. -
16:29 - 16:33O teórico político italiano,
Antonio Gramsci, disse uma vez que: -
16:33 - 16:40"A revolução precisa do pessimismo
da razão e do otimismo da vontade". -
16:40 - 16:45E acho que todas as mudanças sociais
precisam do pessimismo da razão -
16:45 - 16:48e do otimismo da vontade.
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16:48 - 16:51Na época em que o apartheid
estava indo por água abaixo, -
16:51 - 16:54fui como repórter à África do Sul.
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16:54 - 16:58Senti como se eu tivesse saído de um país
onde a democracia funcionava -
16:58 - 17:02e ido para outro onde isso era
uma esperança no horizonte longínquo. -
17:02 - 17:05Mas as coisas podem mudar.
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17:05 - 17:07Logo após a eleição de novembro,
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17:07 - 17:09o artista sul-africano, William Kentridge,
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17:09 - 17:12com quem passei muito tempo,
veio a Nova Iorque -
17:12 - 17:15e falamos sobre o que tinha acontecido.
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17:15 - 17:20Ele disse: "O mais chocante não é
o quanto você está chocado agora, -
17:20 - 17:24mas o quanto você não estará chocado
daqui a seis meses". -
17:25 - 17:29E eu tomei isso como um convite
para continuar chocado. -
17:29 - 17:32(Risos) (Aplausos)
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17:36 - 17:37Obrigado.
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17:37 - 17:40Permanecer chocado é algo que leva tempo.
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17:40 - 17:45É resistirmos à insensibilidade
que surge devido à repetição -
17:46 - 17:53e reconhecermos que, como sociedade,
corremos o risco de nos tornarmos brutais -
17:53 - 17:56e que precisamos lutar
contra esta tendência. -
17:56 - 17:58Viajar é o oposto do chauvinismo.
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17:59 - 18:01Chauvinismo é voltar-se para dentro.
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18:01 - 18:04Viajar é abrir-se para fora.
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18:04 - 18:06E observar um mundo global,
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18:07 - 18:10é uma das melhores formas
de fazer um mundo global. -
18:11 - 18:14O poeta norte-americano,
Robert Frost, escreveu: -
18:14 - 18:21"Antes de erguer um muro, eu perguntaria
o que estaria incluindo ou excluindo, -
18:22 - 18:24e a quem eu poderia,
provavelmente, ofender. -
18:25 - 18:31Há aqueles que não amam o muro,
que querem que ele venha abaixo". -
18:31 - 18:34O vizinho do poema só poderia dizer:
-
18:34 - 18:36"Boas cercas fazem bons vizinhos".
-
18:36 - 18:38Mas a história nos mostra
-
18:38 - 18:42que bons muros fazem bons inimigos.
-
18:42 - 18:48Donald Trump fala do seu grande projeto
de erguer um muro entre os EUA e o México. -
18:48 - 18:52A Grã-Bretanha está trabalhando
no grande muro de Calais, -
18:52 - 18:56supostamente para evitar
a imigração ilegal vinda do continente. -
18:56 - 18:58Os Muros da Paz, na Irlanda do Norte,
-
18:58 - 19:01serão mantidas em alguns pontos.
-
19:01 - 19:03A Hungria prometeu construir
-
19:03 - 19:07uma cerca enorme,
na fronteira, ao redor de todo o país. -
19:07 - 19:11E Israel está indo muito bem
no quesito de ser uma nação murada. -
19:11 - 19:15Muros são símbolos concretos de exclusão,
-
19:15 - 19:19e a exclusão, quase sempre,
machuca aqueles que excluíram -
19:19 - 19:23tanto quanto quem foi excluído.
-
19:23 - 19:28E este processo acarreta em ignorar
o fato de que a ordem mundial liberal -
19:28 - 19:30beneficia todas as nações,
-
19:30 - 19:34e mostra total indiferença
à propagação da guerra, -
19:35 - 19:37bem como à expansão nuclear.
-
19:37 - 19:40Isso tornará os EUA fraco, novamente.
-
19:41 - 19:43Assim como a Grã-Bretanha.
-
19:43 - 19:47É banalizar a delicada paz conseguida
após duas guerras mundiais, -
19:47 - 19:49conquistada a muito custo.
-
19:50 - 19:53Pois os muros são as nossas burcas;
-
19:54 - 19:59são símbolos da segurança
que nos oprimem terrivelmente, -
19:59 - 20:01e, diante dos quais, sofremos.
-
20:02 - 20:05Aqueles que apoiam o internacionalismo,
-
20:05 - 20:09precisam estar cientes de que isso
é confuso e difícil de se contornar. -
20:10 - 20:12A mão de obra barata fecha
postos de trabalho no ocidente, -
20:12 - 20:16enquanto o oriente aproveita-se
da pobreza espalhada pelo mundo. -
20:17 - 20:19Devemos lembrar
que as diferenças linguísticas -
20:19 - 20:21resultam em mal entendidos,
-
20:21 - 20:23e que os valores
são desafiados constantemente. -
20:24 - 20:30Porém, enquanto o mundo estiver
infestado pela guerra, fome e pobreza -
20:30 - 20:35haverá pessoas tentando escapar
de áreas pobres e problemáticas -
20:35 - 20:39para lugares, aparentemente,
menos problemáticos e mais prósperos. -
20:40 - 20:43Elas não migram porque é divertido.
-
20:44 - 20:46Elas não querem se aproveitar dos lugares.
-
20:47 - 20:49Elas não partem sem arrependimento.
-
20:49 - 20:54Elas permanecem chocadas,
queiram elas ou não. -
20:55 - 20:59Quando trabalhei como repórter,
em Trípoli, ao fim do regime de Gaddafi, -
20:59 - 21:04entrevistei todos os ministros do governo.
-
21:04 - 21:09Constatei que todos aqueles que queriam
uma aproximação com o ocidente, -
21:09 - 21:14tinham vivido ou estudado nos EUA,
Reino Unido ou na Europa Ocidental. -
21:14 - 21:18E todos aqueles que queriam que a Líbia
continuasse como um estado terrorista, -
21:18 - 21:20nunca tinham vivido fora.
-
21:21 - 21:24Impor quarentenas, barrar pessoas,
-
21:25 - 21:28desenvolve em nós uma ignorância
que estimula o ódio. -
21:29 - 21:32São as fronteiras abertas
que nos mantêm seguros. -
21:32 - 21:35É evidente que Nova Iorque e Londres,
-
21:35 - 21:38cidades com maior população de imigrantes,
-
21:38 - 21:42têm muito menos medo da imigração,
do que as pessoas de áreas distantes. -
21:43 - 21:47As pessoas que temem os imigrantes
nunca conheceram um. -
21:48 - 21:50E construir muros não ajuda
a lidar com seus problemas. -
21:51 - 21:54É uma fraqueza disfarçada de fortificação.
-
21:55 - 21:59Fazer parte é o único caminho a seguir.
-
22:00 - 22:03Theresa May voltou-se para dentro.
-
22:04 - 22:10Precisamos agir como cidadãos
dos nossos países e acolher todos. -
22:11 - 22:14Acreditar que não podemos ser
cidadãos do mundo, -
22:14 - 22:17nos fará perder o mundo
-
22:17 - 22:19do qual todos deveríamos ser cidadãos.
-
22:19 - 22:20Obrigado.
-
22:20 - 22:23(Aplausos)
-
22:24 - 22:25Obrigado.
-
22:27 - 22:28Obrigado.
-
22:28 - 22:31(Aplausos)
-
22:31 - 22:35Obrigado, obrigado.
- Title:
- Como as fronteiras abertas nos dão segurança | Andrew Solomon | TEDxExeter
- Description:
-
Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx
Vendo uma perigosa tendência isolacionaista, decorrente da eleição do presidente Donald Trump e da votação do Brexit no Reino Unido, o renomado autor e palestrante do TED, Andrew Solomon, faz uma defesa apaixonada dos benefícios pessoais e políticos de se viajar. Ele argumenta que conhecer outros países é a melhor maneira de descobrirmos a nós mesmos, ao passo que a ignorância a respeito de outras culturas só faz crescer o medo, a desconfiança e a guerra.
- Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 22:36
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Claudia Sander approved Portuguese, Brazilian subtitles for How open borders make us safe | Andrew Solomon | TEDxExeter | |
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Claudia Sander edited Portuguese, Brazilian subtitles for How open borders make us safe | Andrew Solomon | TEDxExeter | |
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