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Como as fronteiras abertas nos dão segurança | Andrew Solomon | TEDxExeter

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    O grande naturalista do século 19,
    Alexander von Humboldt, disse uma vez:
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    "Não há visão de mundo mais perigosa
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    do que a visão de mundo daqueles
    que ainda não viram o mundo".
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    Eu acredito que viajar
    seja nossa obrigação moral,
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    caso possamos, e que devemos isso
    ao mundo para nos comprometermos.
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    Em algum momento, todos precisamos
    nos abrir para um mundo mais amplo.
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    Acho que, se todos nós passássemos
    duas semanas em outro país
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    antes dos 30 anos, não importa
    onde e nem o que fôssemos fazer lá,
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    metade dos problemas diplomáticos
    mundiais estariam resolvidos.
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    Creio que, se o governo tivesse
    noção da função social de viajar,
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    haveria programas governamentais
    para subsidiar viagens,
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    assim como temos programas
    de apoio à saúde e à educação.
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    Viajar é uma janela e um espelho.
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    É uma janela, pois nos permite ver
    outra sociedade e outra cultura,
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    diferentes daquelas conhecemos.
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    Mas é um espelho, porque,
    quando você vai para o exterior,
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    é despido da essência do seu eu,
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    e você vê essa essência com uma clareza
    que, de outro modo, não veria.
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    Todos precisamos ter nossos compatriotas.
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    Se não tivermos um lugar
    para chamar de nosso,
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    descobrir quem somos é quase impossível.
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    Mas sem pessoas diferentes,
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    você vira uma caricatura de si próprio.
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    Nenhum desses modelos precisa prevalecer.
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    Nenhum deles subverte o outro.
  • 1:56 - 2:01
    Sou um cidadão com nacionalidade
    inglesa e norte-americana.
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    No ano passado, votei
    contra o "Brexit" e contra o Trump,
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    e perdi nas duas vezes.
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    (Risos)
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    O resultado dessas votações
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    e a ascensão de governos nacionalistas
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    na Polônia, Hungria, Turquia e Rússia
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    representam a rejeição da diversidade
    humana e das fronteiras abertas
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    que caracterizam a ordem mundial.
  • 2:30 - 2:31
    Em outubro,
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    na Conferência do Partido Conservador,
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    Theresa May disse:
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    "Não existe isso de ser cidadão do mundo.
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    Se você acha que é cidadão do mundo,
    você não é cidadão de lugar nenhum.
  • 2:45 - 2:50
    Você não entende
    o que significa 'cidadania'".
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    Theresa May está errada.
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    Patriotismo não é nacionalismo.
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    Você pode amar o seu país
    e outros países também.
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    Não é uma via de mão única.
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    Mesmo que as políticas
    de identidade dos últimos 20 anos
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    não tivessem nos dado nada mais,
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    ainda assim, conseguiram nos dar
    o vocábulo da interseccionalidade,
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    o entendimento de que todos temos
    várias identidades ao mesmo tempo.
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    E você pode ser velho,
    conservador, britânico e gay,
  • 3:25 - 3:29
    ou jovem, surdo, radical e francês,
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    ou anglo-americano, europeu
    e cidadão do mundo.
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    É uma marca de sofisticação
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    tolerarmos e honrarmos
    identidades convergentes,
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    e a falta dessa habilidade
    é sinal de alienação e objeção.
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    Mas nos equivocamos ao achar
    que, por termos os mesmos problemas,
  • 3:53 - 3:56
    precisamos todos das mesmas soluções.
  • 3:57 - 4:02
    Quando trabalhei no Camboja,
    conheci uma mulher, Phaly Nuon,
  • 4:02 - 4:06
    que passou por terrores inimagináveis
    durante o genocídio no país.
  • 4:07 - 4:10
    Ela foi forçada a assistir
  • 4:10 - 4:14
    à sua filha ser estuprada
    e morta na sua frente.
  • 4:14 - 4:16
    O bebê que ela tinha morreu
  • 4:16 - 4:19
    porque Phaly estava desnutrida
    demais para produzir leite materno.
  • 4:20 - 4:25
    No fim da guerra, ela encontrava-se
    em um acampamento na fronteira
  • 4:26 - 4:28
    e percebeu que, nesse acampamento,
  • 4:28 - 4:31
    havia muitas mulheres, em especial
    mulheres que tinham sobrevivido
  • 4:31 - 4:35
    a terríveis ignomínias e atrocidades,
  • 4:35 - 4:38
    mas que agora só ficavam sentadas
    em frente às tendas do acampamento,
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    fitando o nada, sem cuidar
    dos filhos, sem fazer nada.
  • 4:43 - 4:46
    Então, ela foi até os responsáveis
    pelo acampamento e eles disseram:
  • 4:46 - 4:49
    "Já estamos muito ocupados
    com as doenças infecciosas.
  • 4:49 - 4:51
    Não podemos fazer nada a respeito".
  • 4:52 - 4:55
    Assim, ela decidiu que faria algo.
  • 4:55 - 5:00
    E ela criou o chamado
    "programa dos três pontos".
  • 5:01 - 5:03
    Ela me disse: "Primeiro
    eu ia até aquelas mulheres
  • 5:04 - 5:06
    e as ensinava a esquecer,
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    não que, algum dia, elas esqueceriam
    as coisas horríveis que lhes aconteceram,
  • 5:11 - 5:14
    mas eu mostrava a elas
    outras coisas para pensarem,
  • 5:14 - 5:16
    ocupando suas cabeças com outras coisas;
  • 5:16 - 5:19
    e esse era o início
    de uma espécie de esquecimento.
  • 5:20 - 5:24
    Depois de ter ensinado a esquecer,
    eu ensinava-as a trabalhar.
  • 5:25 - 5:27
    Algumas só sabiam limpar casas,
  • 5:27 - 5:32
    outras eram boas em artesanato,
    algumas faziam coisas mais complexas,
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    mas todas precisavam saber
    que eram capazes de fazer algo".
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    Ela ainda disse: "Depois de ensiná-las
    a esquecer e a trabalhar,
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    eu as ensinava a fazer as unhas
    das mãos e dos pés".
  • 5:46 - 5:48
    E eu: "Como assim?"
  • 5:48 - 5:49
    (Risos)
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    E ela disse: "O que mais se perdeu,
    durante o regime do Khmer Vermelho,
  • 5:53 - 5:56
    foi a capacidade das pessoas
    de confiarem umas nas outras.
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    Essas mulheres passaram tantos anos
    sem terem a chance de se sentirem bonitas.
  • 6:01 - 6:06
    Eu as convidava para a minha barraca,
    enchia-a de vapor e, em poucos minutos,
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    elas estavam mostrando as mãos e os pés
    a uma estranha com instrumentos afiados.
  • 6:11 - 6:11
    (Risos)
  • 6:12 - 6:16
    Depois de pouco tempo, elas começavam
    a contar suas histórias umas às outras.
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    Então, eu tentava ensinar-lhes
  • 6:19 - 6:24
    que essas três atitudes não eram
    separadas, mas parte de um jeito de viver.
  • 6:25 - 6:28
    E quando elas entendiam
    isso e a razão disso,
  • 6:28 - 6:31
    estavam prontas para encararem
    o mundo de novo".
  • 6:32 - 6:36
    Hoje, os governos democráticos
    devem fundamentar-se em uma visão futura,
  • 6:36 - 6:38
    e isso requer o esquecimento.
  • 6:39 - 6:44
    Mas também devemos nos esforçar
    para trabalhar e confiar.
  • 6:44 - 6:50
    No momento, esquecemos muito bem,
    e trabalhamos e confiamos muito mal.
  • 6:51 - 6:53
    Durante sua campanha, Donald Trump disse:
  • 6:53 - 6:57
    "Não tenho tempo para viajar,
    os EUA precisam de mim agora".
  • 6:58 - 7:03
    Vocês conseguem ver os EUA
    sem dar uma olhada do lado de fora?
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    Há um sentimento, em todos
    esses movimentos nacionalistas,
  • 7:08 - 7:11
    de que a diferença é ameaçadora
    em vez de ser bonita.
  • 7:11 - 7:16
    E eles compartilham da ideia
    de repudiar nossa humanidade.
  • 7:17 - 7:21
    Tanto que não foi surpresa
    que, nos meses após a votação do Brexit,
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    o comissário de polícia de Londres
    apontou aumento nos crimes de ódio,
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    e o Southern Poverty Law Center nos EUA
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    registrou mais de mil incidentes causados
    pelo ódio nas três semanas pós-eleição.
  • 7:37 - 7:39
    Quando não conhecemos uns aos outros,
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    é mais fácil nos matarmos mutuamente.
  • 7:43 - 7:47
    Quando eu tinha seis anos,
    estava no carro com meu pai,
  • 7:47 - 7:49
    estávamos viajando para o interior,
  • 7:50 - 7:54
    e ele me contou uma história
    que fazia alusão ao Holocausto.
  • 7:54 - 7:58
    Ele achou que eu sabia daquilo,
    mas eu não sabia.
  • 7:58 - 8:02
    Eu pedi para ele me explicar,
    e ele explicou-me.
  • 8:02 - 8:06
    Aquilo não fez sentido para mim,
    então, pedi para ele explicar de novo.
  • 8:06 - 8:10
    Ele explicou novamente e, quando pedi
    pela terceira vez, ele disse:
  • 8:10 - 8:12
    "Foi pura maldade".
  • 8:12 - 8:16
    Ele disse em um tom de voz
    que significava que era o fim da conversa.
  • 8:16 - 8:20
    Só que eu tinha
    mais uma pergunta e perguntei:
  • 8:20 - 8:25
    "Por que os judeus não fugiram,
    quando tudo ficou ruim?"
  • 8:26 - 8:28
    E meu pai respondeu:
  • 8:29 - 8:31
    "Eles não tinham para onde ir".
  • 8:32 - 8:36
    Lembro-me de ter pensado, então,
    mesmo com apenas seis anos,
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    que eu nunca seria uma pessoa dessas.
  • 8:40 - 8:43
    Eu sempre teria para onde ir,
  • 8:43 - 8:46
    sempre teria pessoas dispostas
    a me receber de braços abertos
  • 8:46 - 8:49
    em todos os continentes habitados.
  • 8:49 - 8:52
    E isso se tornou
    uma parte crucial da minha vida.
  • 8:53 - 8:57
    Vivemos em uma época de isolacionismo,
    em que as pessoas se esqueceram
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    que o princípio para sentir-se seguro
    é ter vários lugares para onde ir.
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    Há um ano, eu estava em Moscou,
  • 9:05 - 9:09
    quando Putin implementou
    uma série de medidas autoritárias.
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    Eu estava com Andre Reuter,
    que conheço há muito tempo.
  • 9:12 - 9:15
    Ele estava envolvido
    com a resistência ao golpe de Estado
  • 9:15 - 9:17
    quando a União Soviética acabou
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    e lutou idealisticamente
    pela liberdade e pela justiça.
  • 9:21 - 9:23
    Eu perguntei a ele: "Você se arrepende?
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    Está arrependido
    de ter gasto tanta energia
  • 9:26 - 9:28
    em esperanças que não se concretizaram?"
  • 9:29 - 9:31
    Ele me olhou e disse:
  • 9:31 - 9:34
    "Se me arrependo? Não, não me arrependo.
  • 9:34 - 9:38
    Aquilo foi o motor de tudo
    que fiz e penso desde então.
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    Aquele momento de idealismo
    foi como uma infância feliz.
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    É algo que você constrói para lidar
    com tudo o que vem depois".
  • 9:50 - 9:53
    Percebi, naquele momento,
  • 9:53 - 9:56
    que uma esperança perdida
    é revestida de nobreza tal
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    que uma mera falta de esperança
    jamais conhecerá.
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    E que o momento em que as coisas mudam
    é precioso no presente,
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    não importando aonde
    as mudanças nos levam,
  • 10:06 - 10:12
    e essa mudança só acontece
    após múltiplos momentos de esperança.
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    Em fevereiro de 2002, logo após a invasão,
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    eu fui ao Afeganistão.
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    Fui, pois eu achava que um país
    não poderia ser composto
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    inteiramente por camponeses guerrilheiros
    e burocratas corruptos,
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    imagem que sempre aparecia,
    naquela época, na mídia ocidental.
  • 10:32 - 10:35
    Eu tinha alguém lá que era
    meu tradutor e faz-tudo,
  • 10:35 - 10:38
    e que ainda hoje é meu amigo, Farouq.
  • 10:38 - 10:41
    Eu havia dito a ele que queria
    um desses chapéus de pele,
  • 10:41 - 10:44
    igual ao que o presidente Karzai usava.
  • 10:44 - 10:47
    E Farouq disse: "Se você quer um, temos
    que ir à rua dos fabricantes de chapéu
  • 10:47 - 10:49
    e encomendar um".
  • 10:49 - 10:52
    Nós fomos, encomendamos um chapéu
    e, no dia seguinte, fomos buscá-lo.
  • 10:52 - 10:56
    E Farouq disse: "Nosso próximo compromisso
    fica a cinco minutos daqui.
  • 10:56 - 10:59
    Podemos ir a pé, passando pelo mercado".
  • 10:59 - 11:03
    "Certo", eu disse, e nessa época
    a maioria dos ocidentais
  • 11:03 - 11:07
    que estavam no Afeganistão
    eram das Nações Unidas ou militares,
  • 11:07 - 11:11
    e não tinha permissão de andar
    em lugares como um mercado lotado.
  • 11:11 - 11:13
    Quando estávamos caminhando Farouq falou:
  • 11:13 - 11:15
    "Coloque o seu chapéu".
  • 11:15 - 11:19
    Eu disse: "Farouq, estrangeiros
    querendo ser nativos ficam ridículos".
  • 11:19 - 11:20
    (Risos)
  • 11:20 - 11:22
    "Não vou colocar meu chapéu."
  • 11:22 - 11:23
    Ele respondeu: "Ah, vamos lá".
  • 11:23 - 11:25
    E eu: "De verdade, não".
  • 11:25 - 11:27
    E ele: "Por favor, coloque o chapéu".
  • 11:27 - 11:30
    E eu: "Está bem, vou colocar meu chapéu".
  • 11:31 - 11:36
    Então, coloquei o chapéu e, de repente,
    todos em volta começaram a aplaudir.
  • 11:36 - 11:37
    (Risos)
  • 11:37 - 11:40
    Um senhor veio até mim e abraçou-me.
  • 11:41 - 11:42
    Ele disse:
  • 11:42 - 11:45
    "Você é um estrangeiro,
    mas veio ao nosso país,
  • 11:45 - 11:47
    está aqui no mercado com a gente,
  • 11:47 - 11:51
    está usando um chapéu afegão,
    do jeito afegão,
  • 11:51 - 11:55
    e nós queremos que você saiba
    que é bem-vindo aqui".
  • 11:57 - 12:02
    Uma semana depois, entrevistei
    três mulheres ativistas.
  • 12:02 - 12:06
    Quando nos encontramos,
    elas usavam burcas,
  • 12:06 - 12:09
    que imediatamente tiraram
    para podermos sentar e conversar.
  • 12:09 - 12:11
    Eu perguntei a elas:
  • 12:11 - 12:14
    "Já não temos o regime Talibã.
  • 12:14 - 12:17
    Vocês não precisam mais usar isso.
    Por que ainda usam?"
  • 12:18 - 12:22
    A primeira mulher disse: "Se eu sair
    na rua sem a burca e for estuprada,
  • 12:22 - 12:25
    todos dirão que a culpa foi minha".
  • 12:25 - 12:31
    A segunda disse: "Se eu sair sem a burca,
    e o Talibã voltar ao poder,
  • 12:32 - 12:35
    eles podem punir qualquer uma
    que tenha saído sem a burca".
  • 12:36 - 12:43
    Mas a terceira disse: "Jurei que, quando
    o Talibã caísse, eu queimaria esta peça
  • 12:43 - 12:45
    e nunca mais a veria de novo.
  • 12:47 - 12:52
    Mas, depois de cinco anos,
    você se acostuma a ser invisível,
  • 12:53 - 12:57
    e a perspetiva de ser visível
    de novo é apavorante".
  • 12:58 - 13:01
    Entendi que, para essa mulher,
  • 13:01 - 13:05
    a invisibilidade dava
    uma certa liberdade a ela.
  • 13:05 - 13:11
    Mas também percebi
    que essa liberdade é uma prisão,
  • 13:11 - 13:15
    e que, normalmente, as pessoas
    que têm menos liberdade
  • 13:16 - 13:18
    são as que entendem
    a liberdade mais profundamente.
  • 13:19 - 13:20
    Como Tony Morrison disse:
  • 13:20 - 13:25
    "Depois que você estiver livre,
    você deve libertar-se de si próprio".
  • 13:26 - 13:30
    Em uma sociedade livre, você tem
    a chance de conquistar suas ambições.
  • 13:31 - 13:33
    Em uma sociedade sem liberdade,
    você perde essa opção,
  • 13:34 - 13:37
    o que, às vezes, leva
    a ambições mais visionárias.
  • 13:38 - 13:42
    Aqueles que sofrem frequentes restrições
    usam suas palavras com mais força,
  • 13:42 - 13:46
    mas a palavra "liberdade" é um verbo.
  • 13:46 - 13:50
    Você deve buscá-la e alcançá-la,
    incessantemente, todos os dias.
  • 13:50 - 13:52
    Ela não é algo estático.
  • 13:52 - 13:56
    Não podemos considerar
    que seja um estado permanente.
  • 13:56 - 14:00
    É preciso muito tempo e muito esforço
  • 14:01 - 14:03
    para construir a liberdade.
  • 14:03 - 14:08
    E até liberdades arduamente conseguidas
    podem ser perdidas com espantosa rapidez.
  • 14:09 - 14:14
    Nazismo, apartheid,
    o genocídio em Ruanda, a Grande Sérvia
  • 14:14 - 14:18
    cada um deles, ao chegar ao poder,
    varreu a justiça que existia.
  • 14:20 - 14:24
    Quando eu estive na China,
    passei um tempo com Zhang Peili,
  • 14:24 - 14:30
    artista que participou da revolta
    na Praça da Paz Celestial, em 1989.
  • 14:30 - 14:35
    Ele esteve lá e, quando foi embora,
    pintou um quadro do que havia visto
  • 14:35 - 14:37
    e pendurou em uma ponte em Hangzhou.
  • 14:37 - 14:40
    E então, teve que se esconder,
    porque se tornou um homem procurado.
  • 14:41 - 14:42
    Ele me disse:
  • 14:42 - 14:47
    "Sabe, talvez o que aconteceu
    tenha sido o certo, pois se não fosse,
  • 14:47 - 14:53
    teria acontecido uma revolução
    e milhares de pessoas teriam morrido".
  • 14:54 - 14:58
    Eu perguntei: "Mas Peili,
    como pode dizer isso?
  • 14:58 - 15:01
    Você quase perdeu sua vida
    por isso, teve que se esconder.
  • 15:01 - 15:04
    Você realmente acreditava
    naquele protesto estudantil".
  • 15:05 - 15:07
    E ele respondeu: "Sou um artista.
  • 15:07 - 15:10
    E o idealismo é meu direito como artista.
  • 15:10 - 15:16
    Mas o idealismo, nas mãos de um líder,
    é um coisa terrível".
  • 15:18 - 15:20
    Meu marido e eu, nossa família,
  • 15:20 - 15:25
    recentemente acolhemos
    um refugiado líbio chamado Hassan.
  • 15:25 - 15:30
    Fizemos isso, em parte, porque a vida
    que levamos como gays norte-americanos
  • 15:31 - 15:36
    é um privilégio muito abstrato
    para os gays daquela parte do mundo
  • 15:36 - 15:38
    e para tantos outros gays mundo afora.
  • 15:38 - 15:42
    E também por acharmos que temos
    a obrigação moral de ajudar,
  • 15:42 - 15:44
    nessa época de tantos refugiados.
  • 15:44 - 15:51
    Também queríamos mandar uma mensagem
    para nossos filhos, amigos,
  • 15:52 - 15:54
    e inclusive a nós mesmos,
  • 15:54 - 15:59
    de que esse ser "maligno", o outro,
    pode ser alguém, não apenas conhecido,
  • 16:00 - 16:02
    mas também amado.
  • 16:03 - 16:07
    É algo político para nós, termos Hassan
    como membro da nossa família,
  • 16:08 - 16:12
    mesmo que ele esteja treinando nosso filho
    no futebol, trabalhando no hospital,
  • 16:12 - 16:17
    fazendo bolos incríveis e fazendo-nos rir.
  • 16:18 - 16:23
    Eu esperava que o tempo apagaria
    o aspecto político da presença dele,
  • 16:23 - 16:28
    mas isso tornou-se impossível
    depois da eleição norte-americana.
  • 16:29 - 16:33
    O teórico político italiano,
    Antonio Gramsci, disse uma vez que:
  • 16:33 - 16:40
    "A revolução precisa do pessimismo
    da razão e do otimismo da vontade".
  • 16:40 - 16:45
    E acho que todas as mudanças sociais
    precisam do pessimismo da razão
  • 16:45 - 16:48
    e do otimismo da vontade.
  • 16:48 - 16:51
    Na época em que o apartheid
    estava indo por água abaixo,
  • 16:51 - 16:54
    fui como repórter à África do Sul.
  • 16:54 - 16:58
    Senti como se eu tivesse saído de um país
    onde a democracia funcionava
  • 16:58 - 17:02
    e ido para outro onde isso era
    uma esperança no horizonte longínquo.
  • 17:02 - 17:05
    Mas as coisas podem mudar.
  • 17:05 - 17:07
    Logo após a eleição de novembro,
  • 17:07 - 17:09
    o artista sul-africano, William Kentridge,
  • 17:09 - 17:12
    com quem passei muito tempo,
    veio a Nova Iorque
  • 17:12 - 17:15
    e falamos sobre o que tinha acontecido.
  • 17:15 - 17:20
    Ele disse: "O mais chocante não é
    o quanto você está chocado agora,
  • 17:20 - 17:24
    mas o quanto você não estará chocado
    daqui a seis meses".
  • 17:25 - 17:29
    E eu tomei isso como um convite
    para continuar chocado.
  • 17:29 - 17:32
    (Risos) (Aplausos)
  • 17:36 - 17:37
    Obrigado.
  • 17:37 - 17:40
    Permanecer chocado é algo que leva tempo.
  • 17:40 - 17:45
    É resistirmos à insensibilidade
    que surge devido à repetição
  • 17:46 - 17:53
    e reconhecermos que, como sociedade,
    corremos o risco de nos tornarmos brutais
  • 17:53 - 17:56
    e que precisamos lutar
    contra esta tendência.
  • 17:56 - 17:58
    Viajar é o oposto do chauvinismo.
  • 17:59 - 18:01
    Chauvinismo é voltar-se para dentro.
  • 18:01 - 18:04
    Viajar é abrir-se para fora.
  • 18:04 - 18:06
    E observar um mundo global,
  • 18:07 - 18:10
    é uma das melhores formas
    de fazer um mundo global.
  • 18:11 - 18:14
    O poeta norte-americano,
    Robert Frost, escreveu:
  • 18:14 - 18:21
    "Antes de erguer um muro, eu perguntaria
    o que estaria incluindo ou excluindo,
  • 18:22 - 18:24
    e a quem eu poderia,
    provavelmente, ofender.
  • 18:25 - 18:31
    Há aqueles que não amam o muro,
    que querem que ele venha abaixo".
  • 18:31 - 18:34
    O vizinho do poema só poderia dizer:
  • 18:34 - 18:36
    "Boas cercas fazem bons vizinhos".
  • 18:36 - 18:38
    Mas a história nos mostra
  • 18:38 - 18:42
    que bons muros fazem bons inimigos.
  • 18:42 - 18:48
    Donald Trump fala do seu grande projeto
    de erguer um muro entre os EUA e o México.
  • 18:48 - 18:52
    A Grã-Bretanha está trabalhando
    no grande muro de Calais,
  • 18:52 - 18:56
    supostamente para evitar
    a imigração ilegal vinda do continente.
  • 18:56 - 18:58
    Os Muros da Paz, na Irlanda do Norte,
  • 18:58 - 19:01
    serão mantidas em alguns pontos.
  • 19:01 - 19:03
    A Hungria prometeu construir
  • 19:03 - 19:07
    uma cerca enorme,
    na fronteira, ao redor de todo o país.
  • 19:07 - 19:11
    E Israel está indo muito bem
    no quesito de ser uma nação murada.
  • 19:11 - 19:15
    Muros são símbolos concretos de exclusão,
  • 19:15 - 19:19
    e a exclusão, quase sempre,
    machuca aqueles que excluíram
  • 19:19 - 19:23
    tanto quanto quem foi excluído.
  • 19:23 - 19:28
    E este processo acarreta em ignorar
    o fato de que a ordem mundial liberal
  • 19:28 - 19:30
    beneficia todas as nações,
  • 19:30 - 19:34
    e mostra total indiferença
    à propagação da guerra,
  • 19:35 - 19:37
    bem como à expansão nuclear.
  • 19:37 - 19:40
    Isso tornará os EUA fraco, novamente.
  • 19:41 - 19:43
    Assim como a Grã-Bretanha.
  • 19:43 - 19:47
    É banalizar a delicada paz conseguida
    após duas guerras mundiais,
  • 19:47 - 19:49
    conquistada a muito custo.
  • 19:50 - 19:53
    Pois os muros são as nossas burcas;
  • 19:54 - 19:59
    são símbolos da segurança
    que nos oprimem terrivelmente,
  • 19:59 - 20:01
    e, diante dos quais, sofremos.
  • 20:02 - 20:05
    Aqueles que apoiam o internacionalismo,
  • 20:05 - 20:09
    precisam estar cientes de que isso
    é confuso e difícil de se contornar.
  • 20:10 - 20:12
    A mão de obra barata fecha
    postos de trabalho no ocidente,
  • 20:12 - 20:16
    enquanto o oriente aproveita-se
    da pobreza espalhada pelo mundo.
  • 20:17 - 20:19
    Devemos lembrar
    que as diferenças linguísticas
  • 20:19 - 20:21
    resultam em mal entendidos,
  • 20:21 - 20:23
    e que os valores
    são desafiados constantemente.
  • 20:24 - 20:30
    Porém, enquanto o mundo estiver
    infestado pela guerra, fome e pobreza
  • 20:30 - 20:35
    haverá pessoas tentando escapar
    de áreas pobres e problemáticas
  • 20:35 - 20:39
    para lugares, aparentemente,
    menos problemáticos e mais prósperos.
  • 20:40 - 20:43
    Elas não migram porque é divertido.
  • 20:44 - 20:46
    Elas não querem se aproveitar dos lugares.
  • 20:47 - 20:49
    Elas não partem sem arrependimento.
  • 20:49 - 20:54
    Elas permanecem chocadas,
    queiram elas ou não.
  • 20:55 - 20:59
    Quando trabalhei como repórter,
    em Trípoli, ao fim do regime de Gaddafi,
  • 20:59 - 21:04
    entrevistei todos os ministros do governo.
  • 21:04 - 21:09
    Constatei que todos aqueles que queriam
    uma aproximação com o ocidente,
  • 21:09 - 21:14
    tinham vivido ou estudado nos EUA,
    Reino Unido ou na Europa Ocidental.
  • 21:14 - 21:18
    E todos aqueles que queriam que a Líbia
    continuasse como um estado terrorista,
  • 21:18 - 21:20
    nunca tinham vivido fora.
  • 21:21 - 21:24
    Impor quarentenas, barrar pessoas,
  • 21:25 - 21:28
    desenvolve em nós uma ignorância
    que estimula o ódio.
  • 21:29 - 21:32
    São as fronteiras abertas
    que nos mantêm seguros.
  • 21:32 - 21:35
    É evidente que Nova Iorque e Londres,
  • 21:35 - 21:38
    cidades com maior população de imigrantes,
  • 21:38 - 21:42
    têm muito menos medo da imigração,
    do que as pessoas de áreas distantes.
  • 21:43 - 21:47
    As pessoas que temem os imigrantes
    nunca conheceram um.
  • 21:48 - 21:50
    E construir muros não ajuda
    a lidar com seus problemas.
  • 21:51 - 21:54
    É uma fraqueza disfarçada de fortificação.
  • 21:55 - 21:59
    Fazer parte é o único caminho a seguir.
  • 22:00 - 22:03
    Theresa May voltou-se para dentro.
  • 22:04 - 22:10
    Precisamos agir como cidadãos
    dos nossos países e acolher todos.
  • 22:11 - 22:14
    Acreditar que não podemos ser
    cidadãos do mundo,
  • 22:14 - 22:17
    nos fará perder o mundo
  • 22:17 - 22:19
    do qual todos deveríamos ser cidadãos.
  • 22:19 - 22:20
    Obrigado.
  • 22:20 - 22:23
    (Aplausos)
  • 22:24 - 22:25
    Obrigado.
  • 22:27 - 22:28
    Obrigado.
  • 22:28 - 22:31
    (Aplausos)
  • 22:31 - 22:35
    Obrigado, obrigado.
Title:
Como as fronteiras abertas nos dão segurança | Andrew Solomon | TEDxExeter
Description:

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

Vendo uma perigosa tendência isolacionaista, decorrente da eleição do presidente Donald Trump e da votação do Brexit no Reino Unido, o renomado autor e palestrante do TED, Andrew Solomon, faz uma defesa apaixonada dos benefícios pessoais e políticos de se viajar. Ele argumenta que conhecer outros países é a melhor maneira de descobrirmos a nós mesmos, ao passo que a ignorância a respeito de outras culturas só faz crescer o medo, a desconfiança e a guerra.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
22:36

Portuguese, Brazilian subtitles

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