Uma história de dois Estados Unidos e o mercadinho onde eles colidiram
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0:01 - 0:02“De onde você é?”,
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0:03 - 0:07perguntou o homem pálido e tatuado.
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0:07 - 0:10“De onde você é?”
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0:12 - 0:15É o dia 21 de setembro de 2001,
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0:17 - 0:22dez dias após o pior ataque aos EUA
desde a Segunda Guerra Mundial. -
0:23 - 0:27Todos se perguntam sobre o próximo avião.
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0:27 - 0:30As pessoas procuram por bodes expiatórios.
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0:30 - 0:34O presidente, na noite anterior, promete:
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0:34 - 0:40“trazer nossos inimigos à justiça
ou trazer a justiça aos nossos inimigos.” -
0:41 - 0:45E no mercadinho em Dallas,
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0:46 - 0:52uma pequena parte de Dallas cercada
por lojas de pneus e boates de striptease, -
0:52 - 0:56um imigrante bengalês trabalha no caixa.
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0:56 - 1:01Em seu país, Raisuddin Bhuiyan
era importante, -
1:01 - 1:03um oficial da Força Aérea.
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1:03 - 1:07Mas sonhava com um recomeço nos EUA.
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1:07 - 1:12Se precisasse trabalhar em um mercadinho
para economizar para o curso de T.I. -
1:12 - 1:15e seu casamento em dois meses, tudo bem.
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1:15 - 1:21Então, em 21 de setembro,
aquele homem tatuado entra no mercado. -
1:21 - 1:23Ele está com uma arma na mão.
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1:24 - 1:26Raisuddin sabe o que fazer:
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1:26 - 1:29ele põe o dinheiro no balcão.
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1:30 - 1:34Dessa vez, o homem não toca no dinheiro.
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1:34 - 1:38“De onde você é?” , ele pergunta.
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1:39 - 1:44“O que disse?”, Raisuddin responde.
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1:44 - 1:48Ele é traído pelo sotaque.
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1:48 - 1:53O homem tatuado, um verdadeiro justiceiro
americano com estilo próprio, -
1:53 - 1:58atira em Raisuddin
como vingança pelo 11 de setembro. -
1:58 - 2:03Raisuddin sente seu rosto
sendo picado por milhões de abelhas. -
2:04 - 2:10Na verdade, inúmeras balas de chumbo
escaldantes perfuram sua cabeça. -
2:10 - 2:14Por trás do balcão,
ele cai banhado em sangue. -
2:14 - 2:18Ele cobre a testa com a mão
para conter sua massa encefálica -
2:18 - 2:21na qual ele havia apostado tudo.
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2:22 - 2:29Ele recita versos do Alcorão,
implorando ao seu Deus por sua vida. -
2:29 - 2:32Ele sente que está morrendo.
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2:33 - 2:35Ele não morreu.
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2:36 - 2:39Perdeu o olho esquerdo.
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2:39 - 2:43Foi abandonado pela noiva.
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2:43 - 2:47Seu locador, o dono do mercadinho,
se livraram dele. -
2:47 - 2:52Ele ficou sem casa e com uma dívida
de hospital de US$ 60 mil, -
2:52 - 2:56incluindo a taxa por pedir
uma ambulância por telefone. -
2:58 - 3:00Mas Raisuddin sobreviveu.
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3:00 - 3:06E anos depois, ele se perguntava
o que faria para compensar o seu Deus -
3:06 - 3:09e tornar-se digno dessa segunda chance.
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3:10 - 3:12Chegou a acreditar, na verdade,
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3:12 - 3:18que teve essa chance para poder
oferecer uma segunda chance -
3:18 - 3:22a um homem que pensaríamos
não merecer chance alguma. -
3:24 - 3:29Doze anos atrás, eu era um recém-formado
em busca de um lugar no mundo. -
3:29 - 3:32Nascido em Ohio,
filho de imigrantes indianos, -
3:32 - 3:35fiz a rebelião final contra meus pais,
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3:35 - 3:40ao me mudar para o país
de onde eles lutaram tanto para sair. -
3:40 - 3:46O que seria um período de 6 meses
em Mumbai se estendeu por 6 anos. -
3:46 - 3:50Tornei-me escritor e me vi
em meio a uma história mágica: -
3:50 - 3:55o despertar da esperança
pelo tão falado Terceiro Mundo. -
3:55 - 4:00Seis anos atrás, retornei aos EUA
e percebi o seguinte: -
4:00 - 4:03o sonho americano prosperava,
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4:03 - 4:07mas apenas na Índia. (Risos)
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4:07 - 4:10Nos EUA, nem tanto.
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4:10 - 4:14Na verdade, observei
que os EUA estavam se dividindo -
4:14 - 4:16em duas sociedades distintas:
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4:16 - 4:21uma república de sonhos
e uma república de medos. -
4:21 - 4:24Então, me deparei com um conto incrível
sobre duas vidas -
4:24 - 4:31e dois EUA que colidiram brutalmente
no mercadinho de Dallas. -
4:31 - 4:34Eu soube logo que queria saber mais,
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4:34 - 4:37e talvez escrever um livro sobre eles,
-
4:37 - 4:40pois a história deles
era a história da divisão dos EUA -
4:40 - 4:45e de como esse país
poderia ser restaurado. -
4:46 - 4:50Depois de ser baleado,
a vida de Raisuddin piorou. -
4:50 - 4:55Um dia após sua entrada no hospital,
ele foi dispensado. -
4:55 - 4:57Estava cego do olho direito.
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4:57 - 4:59Não conseguia falar.
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4:59 - 5:02Seu rosto estava estilhaçado pelo metal.
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5:02 - 5:06Mas ele não tinha plano de saúde,
por isso o dispensaram. -
5:06 - 5:10Sua família em Bangladesh
implorou que ele voltasse para casa. -
5:11 - 5:15Mas ele disse a eles
que queria realizar um sonho. -
5:15 - 5:18Conseguiu um emprego em telemarketing,
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5:18 - 5:21depois se tornou garçom no Olive Garden,
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5:21 - 5:25pois que lugar melhor para superar o medo
dos homens brancos do que no Olive Garden? -
5:25 - 5:28(Risos)
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5:28 - 5:33Como muçulmano devoto,
ele refutava o álcool, -
5:33 - 5:35não tocava nisso.
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5:35 - 5:40Mas aprendeu que não vendê-lo
prejudicaria seu salário. -
5:40 - 5:44Então ele raciocinou,
como um americano novato pragmático: -
5:44 - 5:48“Deus não gostaria
que eu morresse de fome, não é?" -
5:48 - 5:51E meses depois,
Raisuddin já era o maior vendedor -
5:51 - 5:55de bebida alcoólica daquele Olive Garden.
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5:55 - 5:59Ele conheceu um homem que lhe ensinou
administração de banco de dados. -
5:59 - 6:01Conseguiu emprego na área de T.I.
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6:01 - 6:07Depois conseguiu emprego com bom salário
numa boa empresa de tecnologia de Dallas. -
6:08 - 6:13Mas quando os EUA começaram
a dar certo para Raisuddin, -
6:13 - 6:16ele evitou o erro clássico do afortunado,
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6:16 - 6:20supondo que ele era a regra
e não a exceção. -
6:20 - 6:26Na verdade, ele observou que muitos
com a sorte de terem nascido americanos -
6:26 - 6:33também tinham uma vida que tornava
impossível uma segunda chance como a dele. -
6:33 - 6:37Ele mesmo viu isso no Olive Garden,
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6:37 - 6:40onde tantos dos seus colegas
tinham histórias horríveis da infância -
6:40 - 6:45de problemas familiares,
caos, vícios, crime. -
6:45 - 6:49Ele ouviu uma história parecida
sobre o homem que atirou nele -
6:49 - 6:52na época em que esteve no julgamento.
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6:52 - 6:58Quanto mais perto Raisuddin ficava dos EUA
que ele cobiçara de longe, -
6:58 - 7:02mais percebia que havia
um outro EUA igualmente real, -
7:02 - 7:06que era mais cruel em relação
à uma segunda chance. -
7:07 - 7:14O homem que atirou em Raisuddin
cresceu nesse país mais cruel. -
7:14 - 7:19À distância, Mark Stroman
sempre brilhava nas festas, -
7:19 - 7:22sempre fazendo
as meninas se sentirem bonitas. -
7:22 - 7:27Sempre trabalhando, independentemente
das drogas ou brigas da noite anterior. -
7:27 - 7:31Mas ele sempre lutou contra seus demônios.
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7:31 - 7:34Entrou no mundo pelos três portais
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7:34 - 7:36que amaldiçoam tantos jovens americanos:
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7:36 - 7:41péssimos pais, péssima escola,
péssimas prisões. -
7:41 - 7:45A mãe dele lhe disse, quando criança,
com arrependimento, -
7:45 - 7:50que só faltaram US$ 50 para o aborto dele.
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7:50 - 7:56Às vezes, aquele menino estava na escola,
-
7:56 - 8:00e subitamente puxava
a faca para os colegas. -
8:00 - 8:04Às vezes esse mesmo garoto
estava na casa dos avós, -
8:04 - 8:07carinhosamente alimentando os cavalos.
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8:07 - 8:09Ele foi preso antes mesmo de ter barba,
-
8:09 - 8:12primeiro na internação, depois na prisão.
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8:12 - 8:15Ele se tornou um supremacista
branco ocasional -
8:15 - 8:21e como muitos à sua volta,
era viciado em drogas e pai ausente. -
8:21 - 8:25E em pouco tempo,
foi parar no corredor da morte, -
8:25 - 8:32pois no ataque ao Jihad, em 2001, atirou
não apenas em um funcionário do mercado, -
8:32 - 8:34mas em três.
-
8:34 - 8:36Apenas Raisuddin sobreviveu.
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8:37 - 8:42Estranhamente, o corredor da morte
foi a primeira instituição -
8:42 - 8:45a tornar Stroman uma pessoa melhor.
-
8:45 - 8:48As influências antigas o abandonaram.
-
8:48 - 8:51As pessoas que entraram em sua vida
eram virtuosas e afetuosas: -
8:51 - 8:56pastores, jornalistas,
europeus que lhe escreviam. -
8:56 - 9:02Elas lhe davam atenção,
rezavam com ele e o ajudavam a refletir. -
9:02 - 9:07E o levaram a uma viagem
de introspecção e aprimoramento. -
9:07 - 9:12Ele finalmente confrontou a raiva
que havia determinado a vida dele. -
9:12 - 9:15Ele leu Viktor Frankl,
sobrevivente do Holocausto -
9:15 - 9:18e arrependeu-se das tatuagens de suástica.
-
9:18 - 9:21Ele encontrou Deus.
-
9:21 - 9:25Então um dia em 2011,
dez anos depois dos crimes, -
9:25 - 9:27Stroman recebeu uma notícia.
-
9:27 - 9:34O homem que sobrevivera ao seu ataque,
estava lutando para salvar a vida dele. -
9:35 - 9:38Vejam, no fim de 2009,
-
9:38 - 9:41oito anos após o ataque,
-
9:41 - 9:47Raisuddin estava em sua própria jornada,
uma peregrinação à Meca. -
9:47 - 9:51Em meio à multidão,
ele sentiu uma gratidão imensa, -
9:51 - 9:53mas também um dever.
-
9:53 - 9:57Ele se lembrou de ter prometido a Deus,
quando quase morreu em 2001, -
9:57 - 10:02que, se sobrevivesse, serviria
à humanidade enquanto vivesse. -
10:02 - 10:07Mas, ficou ocupado reconstruindo a vida.
-
10:07 - 10:11Agora era hora de pagar a dívida.
-
10:12 - 10:15E decidiu após refletir
que a forma de pagamento -
10:15 - 10:19seria uma intervenção no ciclo de vingança
-
10:19 - 10:22entre o mundo muçulmano e o ocidental.
-
10:22 - 10:24E como ele interviria?
-
10:24 - 10:29Perdoando publicamente
Stroman em nome do Islã -
10:29 - 10:30e sua doutrina do perdão.
-
10:30 - 10:32E depois
-
10:33 - 10:37processando o estado do Texas,
e o governador Rick Perry, -
10:37 - 10:41para evitar a execução de Stroman,
-
10:41 - 10:45exatamente como a maioria das pessoas
que foram baleadas no rosto faz. -
10:45 - 10:46(Risos)
-
10:46 - 10:53No entanto, o perdão de Raisuddin
foi inspirado não apenas na fé. -
10:53 - 11:00Como um novo cidadão americano,
ele acreditou que Stroman -
11:00 - 11:06era o produto de um EUA em sofrimento
que não poderia levar uma injeção letal. -
11:06 - 11:11Esse raciocínio me levou a escrever
meu livro “The True American”. -
11:11 - 11:16Esse imigrante implorando aos EUA
por misericórdia a um de seus filhos, -
11:16 - 11:20assim como havia tido com um adotado.
-
11:20 - 11:24No mercadinho, todos esses anos antes,
-
11:24 - 11:28não apenas dois homens,
mas dois EUA se confrontaram. -
11:28 - 11:31Um EUA que ainda sonha e luta,
-
11:31 - 11:35e ainda imagina que o amanhã
pode ser construído hoje, -
11:35 - 11:38e um EUA resignado com seu destino,
-
11:38 - 11:41assolado pelo estresse, caos,
baixas expectativas, -
11:41 - 11:44e escondido no mais antigo dos refúgios:
-
11:44 - 11:48no companheirismo tribal
de sua própria espécie. -
11:48 - 11:51E foi Raisuddin, apesar de ser
um recém-chegado, -
11:51 - 11:56apesar de ter sido atacado,
de ser um sem-teto traumatizado, -
11:56 - 11:59que pertencia àquela república de sonhos
-
11:59 - 12:03e Stroman que pertencia
àquele outro país ferido, -
12:03 - 12:07apesar de ter nascido com o privilégio
de um homem branco e nativo. -
12:08 - 12:15Percebi que a história desses homens
formava uma parábola urgente sobre os EUA. -
12:15 - 12:19O país que tenho orgulho de chamar de meu,
-
12:19 - 12:23não estava vivendo
um declínio generalizado -
12:23 - 12:30como aquele visto na Espanha ou Grécia,
onde as perspectivas diminuíam para todos. -
12:30 - 12:35Os EUA são simultaneamente
o país mais e menos bem-sucedido -
12:35 - 12:37do mundo industrializado.
-
12:37 - 12:40Cria as melhores empresas do mundo,
-
12:40 - 12:43ainda que tenha um número recorde
de crianças famintas. -
12:43 - 12:47Vendo a expectativa de vida decrescer
para grandes grupos, -
12:47 - 12:51ainda que ostente
os melhores hospitais do mundo. -
12:51 - 12:55Os EUA são, hoje, um corpo jovem e alegre,
-
12:55 - 13:01abatido por um desses AVCs
que suga a vida de um lado, -
13:01 - 13:04deixando o outro lado
preocupantemente perfeito. -
13:05 - 13:12Em 20 de julho de 2011,
logo após Raisuddin, -
13:12 - 13:14testemunhar, chorando,
a favor da vida de Stroman, -
13:14 - 13:21Stroman foi morto por injeção letal
pelo estado que ele tanto amava. -
13:21 - 13:25Horas antes, quando Raisuddin
ainda pensava que poderia salvar Stroman, -
13:25 - 13:28os dois homens se falaram
pela segunda vez. -
13:28 - 13:32Aqui está um trecho
dessa conversa ao telefone. -
13:32 - 13:37Raisuddin: “Mark, quero que saiba
que estou rezando a Deus, -
13:37 - 13:40o mais piedoso e misericordioso.
-
13:40 - 13:43Eu o perdoo e não o odeio.
-
13:43 - 13:46Eu nunca o odiei.”
-
13:46 - 13:50Stroman: “Você é uma pessoa admirável.
-
13:50 - 13:53Agradeço de coração.
-
13:53 - 13:55Te amo, irmão.”
-
13:55 - 13:59Mais impressionante ainda,
após a execução, -
13:59 - 14:04foi que Raisuddin se aproximou
da filha mais velha de Stroman, Amber, -
14:04 - 14:06uma ex-presidiária e viciada.
-
14:06 - 14:08e ofereceu sua ajuda.
-
14:08 - 14:11“Você pode ter perdido um pai,”
ele disse a ela, -
14:11 - 14:14“mas ganhou um tio.”
-
14:14 - 14:19Ele queria que ela também
tivesse uma segunda chance. -
14:20 - 14:25Se a história humana fosse um desfile,
-
14:25 - 14:32o carro alegórico dos EUA seria
um santuário de neon às segundas chances. -
14:32 - 14:38Mas os EUA, generosos com segundas chances
às crianças de outras terras, -
14:38 - 14:44hoje minguam primeiras chances
aos seus próprios filhos. -
14:44 - 14:49Os EUA ainda deslumbram ao permitir
que qualquer um se torne americano. -
14:49 - 14:55Mas perdem seu brilho não permitindo
que todo americano se torne alguém. -
14:56 - 15:01Na última década, sete milhões de
estrangeiros ganharam cidadania americana. -
15:01 - 15:03Impressionante!
-
15:03 - 15:08Nesse meio tempo, quantos americanos
ganharam um lugar na classe média? -
15:08 - 15:12Na verdade, houve um fluxo negativo.
-
15:12 - 15:14Voltemos mais,
e é ainda mais impressionante: -
15:14 - 15:19desde os anos 60,
a classe média encolheu 20%, -
15:19 - 15:23principalmente devido
aos que deixaram de pertencer a ela. -
15:23 - 15:26E minha pesquisa pelo país
mostra que o problema é pior -
15:26 - 15:29do que uma simples desigualdade.
-
15:29 - 15:35Observei um par de secessões
do centro unificador da vida americana. -
15:35 - 15:38Uma secessão afluente que segue em alta,
-
15:38 - 15:42em enclaves da elite com educação
e em uma matriz global -
15:42 - 15:44de trabalho, dinheiro e conexões,
-
15:44 - 15:48e uma secessão empobrecida, sem recursos,
-
15:48 - 15:51em vidas desconectadas e sem saída
-
15:51 - 15:54que os afortunados raramente veem.
-
15:55 - 16:00E não se consolem por estarem nos 99%.
-
16:01 - 16:06Se você mora perto de um mercado
chique de produtos orgânicos, -
16:06 - 16:10se ninguém em sua família
serve o exército, -
16:10 - 16:15se você é remunerado por ano,
não por hora, -
16:15 - 16:19se a maioria daqueles que você conhece
concluiu a faculdade, -
16:19 - 16:21se não conhece ninguém
que usa metanfetamina, -
16:21 - 16:23se você se casou uma vez
e continua casado, -
16:23 - 16:28se não é um dos 65 milhões
de americanos com ficha criminal... -
16:28 - 16:31se alguma ou todas essas coisas
descrevem você, -
16:31 - 16:34então aceite a possibilidade
-
16:34 - 16:37de que você pode não saber
o que está se passando -
16:37 - 16:40e talvez seja parte do problema.
-
16:43 - 16:49Outras gerações tiveram que construir
uma nova sociedade após a escravidão, -
16:49 - 16:53passar pela Grande Depressão,
combater o fascismo, -
16:53 - 16:56a questão racial no Mississippi.
-
16:56 - 16:58O desafio moral da minha geração, creio,
-
16:58 - 17:01é instruir esses dois EUA,
-
17:01 - 17:06a novamente escolher a união
em vez da secessão -
17:06 - 17:10Essa não é uma questão
de cobrar ou não impostos. -
17:10 - 17:15Isso não será resolvido com muitos tuítes,
criando aplicativos atraentes, -
17:15 - 17:19ou começando mais um serviço
de torrefação artesanal de café. -
17:19 - 17:25É um desafio moral que implora
a cada um de nós dos EUA que florescem -
17:25 - 17:29a tomar como nosso os EUA que murcham,
-
17:29 - 17:32como Raisuddin tentou fazer.
-
17:32 - 17:35Assim como ele,
podemos fazer peregrinações. -
17:35 - 17:38E lá, seja em Baltimore,
Oregon e em Appalachia, -
17:38 - 17:41encontrar um novo objetivo, como ele fez.
-
17:41 - 17:44Podemos mergulhar naquele outro país,
-
17:44 - 17:48testemunhar suas esperanças e tristezas,
-
17:48 - 17:54e, assim como Raisuddin,
perguntar o que podemos fazer. -
17:54 - 17:57O que você pode fazer?
-
17:58 - 18:00O que você pode fazer?
-
18:00 - 18:01O que nós podemos fazer?
-
18:01 - 18:06Como nós podemos construir
um país mais misericordioso? -
18:06 - 18:10Nós, os maiores inventores do mundo,
-
18:10 - 18:16podemos criar soluções para os problemas
daquele EUA, não só para o nosso. -
18:16 - 18:19Nós, escritores e jornalistas,
podemos cobrir as histórias desse EUA -
18:19 - 18:23em vez de fechar os escritórios de lá.
-
18:23 - 18:26Podemos financiar as ideias desse EUA,
-
18:26 - 18:29em vez das ideias de Nova Iorque
e São Francisco. -
18:29 - 18:32Podemos por nossos estetoscópios
nas costas dele, -
18:32 - 18:38ensinar lá, ir aos tribunais,
produzir, viver e rezar lá. -
18:38 - 18:43Esse, eu creio,
é o chamado de uma geração. -
18:43 - 18:47Um EUA onde as duas metades reaprendam
-
18:47 - 18:52a progredir, a cultivar,
a refazer, a ousar juntos. -
18:54 - 18:57Uma república de oportunidades,
-
18:57 - 19:00reconstruída, renovada,
-
19:00 - 19:03começa conosco.
-
19:03 - 19:05Obrigado.
-
19:05 - 19:07(Aplausos)
- Title:
- Uma história de dois Estados Unidos e o mercadinho onde eles colidiram
- Speaker:
- Anand Giridharadas
- Description:
-
Dez dias após 11 de setembro, um ataque chocante em um mercadinho do Texas destruiu a vida de dois homens: a vítima e o agressor. Nessa palestra impressionante, Anand Giridharadas, autor de "The True American", conta a história do que ocorreu depois. É uma parábola sobre os dois caminhos que uma vida americana pode tomar, e um veemente chamado à reconciliação.
- Video Language:
- English
- Team:
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Maricene Crus approved Portuguese, Brazilian subtitles for A tale of two Americas. And the mini-mart where they collided | ||
Maricene Crus edited Portuguese, Brazilian subtitles for A tale of two Americas. And the mini-mart where they collided | ||
Maricene Crus edited Portuguese, Brazilian subtitles for A tale of two Americas. And the mini-mart where they collided | ||
Maricene Crus edited Portuguese, Brazilian subtitles for A tale of two Americas. And the mini-mart where they collided | ||
Maricene Crus accepted Portuguese, Brazilian subtitles for A tale of two Americas. And the mini-mart where they collided | ||
Maricene Crus edited Portuguese, Brazilian subtitles for A tale of two Americas. And the mini-mart where they collided | ||
Maricene Crus edited Portuguese, Brazilian subtitles for A tale of two Americas. And the mini-mart where they collided | ||
Viviane Ferraz Matos edited Portuguese, Brazilian subtitles for A tale of two Americas. And the mini-mart where they collided |