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Quantas Vezes Você Já se Sentiu Realmente Útil? | Vitor Belota | TEDxBlumenau

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    Em maio de 2013 eu fui numa palestra
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    na Universidade Federal de Santa Catarina.
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    Eles estavam divulgando oportunidades
    de intercâmbio social.
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    Na época seriam três
    intercambistas falando.
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    Um tinha ido pra África,
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    um tinha ido à Índia,
    e a menina para o leste europeu.
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    Eu lembro que as histórias
    eram tão incríveis,
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    me deixaram tão maravilhado,
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    que me fizeram questionar
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    o momento que eu estava vivendo.
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    Eu tinha acabado de me formar
    em administração.
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    Tinha voltado pro direito,
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    que eu estava na sétima fase
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    Eu já trabalhava oito horas por dia.
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    Então, do ponto de vista
    acadêmico e profissional
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    eu me sentia bem,
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    mas sentia que no fundo algo me faltava?
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    Uma experiência de vida
    como aquelas me faltava.
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    Comecei a pesquisar alguns locais
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    que eu tinha interesse,
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    minha dúvida principal
    era entre Ásia e África.
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    E comecei a conversar
    com alguns amigos,
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    para saber aonde eles tinham ido
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    e o que tinham achado.
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    Duas amigas que tinham ido ao Quênia
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    vieram falar comigo e me contavam
    com tanta paixão,
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    com tanta emoção
    e com tanta nostalgia até,
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    do que elas tinham vivido por lá,
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    que eu com certeza elas me bateriam
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    se eu pensasse em escolher outro lugar,
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    mas principalmente porque
    eu queria sentir na pele,
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    ver com meus próprios olhos,
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    se tudo aquilo que
    elas falavam era verdade.
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    Na época o mais difícil
    foi pedir demissão.
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    Meu chefe achou que eu tinha virado
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    hippie e que eu ia largar tudo para fazer
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    voluntariado na África.
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    Mas enfim, a decisão estava tomada,
    eu me demiti em um dia
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    e no outro eu comprei passagem,
    para não ter volta
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    Em julho eu embarquei rumo ao Quênia
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    e, assim que cheguei,
    a viagem mostrou a que veio.
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    Se eu queria aventura, tudo começou
    a acontecer no primeiro dia.
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    A companhia aérea perdeu
    a minha mala, coisa boa.
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    Depois a pessoa que iria me buscar,
    não foi me buscar.
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    Fiquei quatro horas perdido
    no aeroporto, sozinho.
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    A casa que eu ia, não existia mais,
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    eu ia acabar indo para outra casa.
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    E tudo isso no primeiro dia.
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    Mas tudo bem, eu queria aventura,
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    era pra isso que estava lá e
    eu encarei de frente.
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    Nairóbi para a minha surpresa,
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    melhor dizendo,
    para a minha ignorância,
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    era uma cidade muito rica.
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    Tinha BMW andando na rua,
    hotel cinco estrelas,
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    e até uma churrascaria brasileira,
    caríssima, tinha por lá.
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    Eu fui ter contato mesmo
    com essa realidade
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    não é realidade, é estereótipo o que temos
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    sobre o que é a África,
    no meu primeiro dia de aula.
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    Eu lembro que eu acordei bem cedo
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    umas sete horas da manhã,
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    saí de casa com mais dois
    amigos chineses, o Alan e a Dousy,
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    a gente entrou num Matato,
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    que é uma van assim, que vão 16 pessoas
    na parte de trás,
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    bem apertadas, com música alta,
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    tem umas que têm até luz neon. Uma festa.
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    Eu super recomendo para um dia
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    for para Nairóbi, tem que andar
    pelo menos uma vez no Matato.
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    Dava mais ou menos uma hora
    até chegar na favela.
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    Eu lembro que assim que chegamos,
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    o que mais chamou a atenção foi a sujeira.
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    Lá eles não têm saneamento básico nenhum.
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    Quando eu digo, é nenhum.
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    Eles faziam essas grandes
    montanhas de lixo
  • 3:01 - 3:04
    e colocavam fogo,
    tipo uma espécie de brasa
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    e essa montanha de lixo ia queimando,
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    e subia aquele cheiro horrível,
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    e uma fumaça tóxica no ar.
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    Sem falar de toda a poeira que já tinha,
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    porque o lugar não era nada asfaltado.
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    Em alguns locais da favela,
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    lá quem não tem dinheiro,
    que é a maioria,
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    para arcar com os banheiros privados,
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    faz todas as suas necessidades
    em sacos plásticos
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    e jogam pela janela.
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    Então em alguns locais era um cheiro
    simplesmente insuportável.
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    E aí foi o primeiro grande aprendizado.
  • 3:31 - 3:33
    Eu lembro que, voltando pra casa,
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    nos questionamos: "Tá,
    mas como que a gente
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    vai passar oito semanas
    trabalhando aqui todo dia,
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    se só no primeiro dia a gente quase
    passou mal umas três vezes?"
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    E o primeiro aprendizado foi esse,
    a quebra de paradigma.
  • 3:45 - 3:48
    Que o ser humano é um ser
    extremamente adaptável.
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    Em três dias já estávamos em casa,
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    não ligávamos pro cheiro,
    andávamos por qualquer lugar
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    já sabia aonde evitar tal cheiro,
    que era muito ruim.
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    Realmente, esse já foi
    o primeiro grande aprendizado.
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    A princípio, eu fui pra Nairóbi para dar
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    aulas de inglês e matemática
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    para crianças de 5ª a 8ª série
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    e pra ajudar na construção
    de uma escola,
  • 4:05 - 4:07
    que a gente tinha arrecadado
    o dinheiro aqui no Brasil.
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    O meu primeiro grande desafio
    foi ser professor.
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    Eu dividia uma sala
    de aproximadamente 20m²
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    com mais dois professores.
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    Eram três turmas na mesma sala,
    sem nenhuma divisória.
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    E eu tentava, às vezes,
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    aluno de cursinho, fazer uma dinâmica,
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    uma piada com os alunos,
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    mas era impossível,
    porque eu chamava a atenção
  • 4:29 - 4:31
    dos outros alunos das outras turmas.
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    E gera uma situação complicada
  • 4:32 - 4:34
    com os outros professores.
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    Eu também tinha que me adaptar ao país
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    e lá o professor tem uma autoridade
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    muito forte sobre os alunos.
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    Muitas vezes eles batiam nos alunos
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    e eu tinha que ficar quieto,
    absorver aquilo,
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    aceitar que era cultura e eu não
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    podia fazer nada a respeito.
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    Isso tudo se mostrou
    muito difícil para mim
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    Eu comecei a dar aulas
    e depois de uma semana
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    nós demolimos a escola
    para construir a escola nova.
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    A gente se mudou para um prédio
    que tínhamos comprado
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    que ficava a aproximadamente
    500 metros de distância.
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    Esse prédio já tinha
    uma estrutura bem melhor,
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    tinha uma sala de aula pra cada turma,
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    mas ele mostrou um problema novo,
    que a gente ainda não
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    tinha se deparado antes.
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    Na sala, você não conseguia enxergar
    nem a sua própria mão.
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    Nessa favela, onde eu trabalhava,
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    se chamava Mathare e tinha
    cerca de 600 mil habitantes,
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    uma das mais pobres de toda a África.
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    As casas eram muito
    grudadas umas nas outras,
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    então a luz do sol não conseguia
    passar pela telha,
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    e alcançar a janela e iluminar dentro
    das casas ou das salas de aula.
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    E se já não bastassem todos os problemas
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    que a gente já encarava todo dia,
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    como o aluno que está com fome,
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    porque a única vez
    que ele come é no colégio,
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    que é um almoço à base de batata, feijão,
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    ou uma pasta de amendoim no café da manhã.
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    Se não bastasse ele não
    ter um material didático
  • 5:46 - 5:48
    um corpo docente preparado,
  • 5:48 - 5:50
    tudo isso, o aluno não conseguia
  • 5:50 - 5:52
    nem enxergar o próprio caderno na sala.
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    Eu fiquei indignado com aquilo,
  • 5:53 - 5:55
    conversei com um amigo egípcio meu
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    que tinha o mesmo problema na escola dele
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    e a gente falou: "Vamos
    tentar achar uma solução
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    pra iluminar comunidades que não possuem
  • 6:02 - 6:04
    acesso à rede elétrica!
  • 6:04 - 6:06
    A gente botou no Google,
    literalmente isso,
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    e a gente achou um projeto chamado:
  • 6:08 - 6:09
    "Liter of Light"
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    que, em vez de eu tentar
    ficar aqui explicando o que é para vocês,
  • 6:13 - 6:15
    prefiro mostrar um vídeo
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    da primeira instalação
    que fizemos, um teste.
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    E aí vocês verão os resultados
    e eu espero que vocês gostem.
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    ["Liter of Light" Brasil - Quênia]
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    [Resultado: antes e depois]
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    (Aplausos)
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    Bom, assim como vocês,
  • 8:02 - 8:05
    o diretor da escola parece
    ter gostado bastante também
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    Ele fala ali: "Wonderful,
    Wonderful!" no final.
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    E não só ele, vários outros diretores
    de outras escolas
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    começaram a visitar a nossa
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    para ver o efeito do projeto
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    e começaram a pedir que a gente
    fizesse aquilo na escola deles.
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    Infelizmente, era a última semana
    desse meu amigo egípcio
  • 8:18 - 8:21
    e eu tive que começar
    a tocar o projeto sozinho.
  • 8:21 - 8:23
    Parei de dar aula, porque não dava tempo.
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    Passávamos a manhã
    inteira preparando as garrafas,
  • 8:25 - 8:27
    pra passar a tarde instalando.
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    Não era um projeto fácil,
    a gente se cortava muito
  • 8:30 - 8:32
    e era tudo muito sujo.
  • 8:32 - 8:34
    A gente se cortava porque a telha
    era de alumínio e bem fina.
  • 8:34 - 8:36
    E outro problema também
    era a alimentação.
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    A gente passava a manhã
    inteira trabalhando,
  • 8:39 - 8:41
    e quando a gente subia no telhado...
  • 8:41 - 8:43
    É complicado você ficar
    comendo ali em cima
  • 8:43 - 8:46
    porque é um lugar muito sujo,
    então tem que ser algo prático.
  • 8:46 - 8:49
    Mas não tem como ser algo prático
    como chocolate, por exemplo,
  • 8:49 - 8:50
    porque eu estou em cima do telhado,
  • 8:50 - 8:53
    "muzungo" em Swahili,
    como eles chamam branquelo lá,
  • 8:53 - 8:55
    todas as crianças da escola te olhando,
  • 8:55 - 8:57
    você vai comer um chocolate
    em cima de um telhado
  • 8:57 - 9:00
    pra uma criança que nunca
    viu chocolate na vida?
  • 9:00 - 9:02
    Não existe essa possibilidade!
  • 9:02 - 9:04
    Então, a nossa alimentação
    era basicamente frutas.
  • 9:04 - 9:05
    Pra vocês terem uma ideia,
  • 9:05 - 9:07
    ao fim das minhas oito semanas lá,
  • 9:07 - 9:10
    eu tinha perdido 12 quilos...
  • 9:12 - 9:14
    Não era o meu objetivo,
  • 9:14 - 9:17
    mas para quem quiser fazer
    uma causa social ou um regime
  • 9:17 - 9:20
    eu super recomendo. (Risos)
  • 9:20 - 9:22
    Mesmo com todas essas dificuldades,
  • 9:22 - 9:23
    o projeto foi crescendo.
  • 9:23 - 9:26
    Um dia, eu tive a felicidade
    de olhar para o lado
  • 9:26 - 9:28
    e ver meus cinco melhores
    amigos do meu lado
  • 9:28 - 9:29
    em cima de um telhado,
  • 9:29 - 9:32
    embaixo mais três amigos ajudando.
  • 9:32 - 9:35
    No final das minhas oito semanas
    a gente tinha feito
  • 9:35 - 9:37
    mais de 12 escolas, instalado
    mais de 140 garrafas,
  • 9:37 - 9:39
    inclusive no interior do Quênia,
  • 9:39 - 9:41
    e impactado a vida de aproximadamente
  • 9:41 - 9:43
    três mil estudantes.
  • 9:43 - 9:44
    E aí vocês podem se perguntar:
  • 9:44 - 9:47
    "Tá, Vitor, mas como que você fazia isso?
  • 9:47 - 9:49
    Todo o projeto vocês que bancavam?
  • 9:49 - 9:52
    E todas essas dificuldades
    de se cortar e da comida...
  • 9:52 - 9:55
    Como que os intercambistas
    se juntavam pra fazer?"
  • 9:55 - 9:57
    Eu acho que era por um sentimento,
  • 9:57 - 9:59
    que pra tentar explicar pra vocês
  • 9:59 - 10:02
    vou contar uma história que aconteceu
    na minha última semana lá.
  • 10:02 - 10:04
    Eu estava realizando o maior projeto
  • 10:04 - 10:07
    de todos que a gente
    já tinha feito até o momento,
  • 10:07 - 10:08
    era numa escola chamada:
  • 10:08 - 10:11
    "Sparguians", em Kibera, no maior
    complexo de favelas do mundo
  • 10:11 - 10:15
    Só nessa escola, colocaríamos 48 garrafas.
  • 10:15 - 10:17
    Essa é a escola pronta.
  • 10:18 - 10:20
    Nesse dia, eu estava em cima do telhado
  • 10:20 - 10:23
    e o tempo começou a fechar,
  • 10:23 - 10:24
    nunca trabalhamos na chuva,
  • 10:24 - 10:27
    comecei a descer a escada, juntei tudo.
  • 10:27 - 10:28
    Assim que eu desci a escada,
  • 10:28 - 10:31
    uma professora que eu já tinha visto
    algumas vezes por lá,
  • 10:31 - 10:34
    me puxou pelo braço, foi me levando
    até a sala de aula.
  • 10:35 - 10:38
    Quando a gente chegou lá,
    ela me levou até a mesa dela,
  • 10:38 - 10:39
    que ficava oposta a porta,
  • 10:39 - 10:43
    bem perto de uma lâmpada
    que a gente tinha acabado de instalar.
  • 10:43 - 10:44
    E lá ela falou assim: "
  • 10:44 - 10:49
    "Meu filho é a primeira vez,
    em quatro anos que eu trabalho aqui,
  • 10:49 - 10:53
    que eu consigo ler ou corrigir
    uma prova na minha sala de aula.
  • 10:53 - 10:57
    Muito obrigada! Muito obrigada!
    Muito obrigada!"
  • 10:57 - 11:01
    Ela falou com uma naturalidade incrível
  • 11:01 - 11:06
    mas ela não tinha ideia do efeito
    que aquela frase causaria em mim.
  • 11:06 - 11:09
    Demorava mais ou menos 1 hora
    para voltar pra casa,
  • 11:09 - 11:12
    eu estava voltando e refletindo
    bastante sobre isso.
  • 11:12 - 11:13
    Como que uma ajuda tão simples, instalar
  • 11:13 - 11:16
    instalar uma garrafa plástica
    em um telhado,
  • 11:16 - 11:18
    pode fazer uma pessoa
    ficar tão grata por algo?
  • 11:19 - 11:20
    Você começa a se questionar...
  • 11:20 - 11:22
    e não era uma ajuda efêmera
  • 11:22 - 11:25
    porque uma garrafa dessas
    dura de 2 a 3 anos,
  • 11:25 - 11:27
    então realmente impactaria
    a vida de muita gente.
  • 11:27 - 11:28
    Aí eu cheguei em casa,
  • 11:28 - 11:31
    eu morava com mais 21 intercambistas.
  • 11:31 - 11:33
    Eu fico brincando que a gente não jantava,
  • 11:33 - 11:35
    a gente sempre fazia uma ceia,
  • 11:35 - 11:37
    e aí eu questionei o pessoal, falei:
  • 11:37 - 11:41
    "Galera, quantas vezes,
    no dia a dia de vocês,
  • 11:41 - 11:44
    vocês se sentem incondicionalmente úteis?
  • 11:44 - 11:48
    Assim, sem querer nada
    em troca, quantas vezes?"
  • 11:48 - 11:50
    Eu parei pra pensar no meu dia a dia.
  • 11:50 - 11:53
    Nada! Na minha semana, talvez? Não!
  • 11:53 - 11:56
    Mês? Também não!
  • 11:56 - 11:58
    E cheguei a assustadora conclusão
  • 11:58 - 12:02
    de que em 24 anos de idade,
    eu nunca tinha, de fato,
  • 12:02 - 12:06
    tido aquele sentimento que eu tinha
    sentido naquele dia com a professora.
  • 12:06 - 12:08
    Eu acho que era isso que nos unia, sabe?
  • 12:08 - 12:11
    Os alunos ali, todos os intercambistas
    nesse projeto, era isso.
  • 12:11 - 12:13
    Era poder ter o sentimento de utilidade.
  • 12:14 - 12:17
    Essa, infelizmente,
    era minha última semana
  • 12:17 - 12:18
    estava voltando ao Brasil.
  • 12:18 - 12:21
    Lembro bem no dia em que eu estava
    no aeroporto de Joanesburgo,
  • 12:21 - 12:24
    na África do Sul, escrevendo
    meu último blog,
  • 12:24 - 12:27
    atualizando minha família
    sobre esses últimos fatos,
  • 12:27 - 12:30
    e aí meu pai sabia muito dessa
    preocupação que eu tinha,
  • 12:30 - 12:32
    que é uma preocupação
    que todo intercambista,
  • 12:32 - 12:34
    todos que já viajaram tiveram,
  • 12:34 - 12:36
    que é aquela ideia
    de voltar à velha rotina,
  • 12:36 - 12:39
    voltar à velha vida e aí você
    fica naquele desespero.
  • 12:39 - 12:41
    E meu pai me ligou para me tranquilizar,
  • 12:41 - 12:44
    e falou assim: "Filhão, fica tranquilo
  • 12:44 - 12:47
    que o ser humano é um produto do meio!
  • 12:47 - 12:48
    Você já já se acostuma!".
  • 12:48 - 12:52
    Era tudo o que eu não queria ouvir!
  • 12:52 - 12:54
    Que eu tinha que voltar ao meu meio...
  • 12:54 - 12:57
    tinha acabado de viver essa experiência,
  • 12:57 - 12:58
    vi o quanto o ser humano é adaptável.
  • 12:58 - 13:01
    E no pragmatismo de sempre
    do meu pai ele estava certo.
  • 13:01 - 13:03
    Assim que eu pisei no Brasil,
  • 13:03 - 13:05
    eu entrei em contato com o Illac Diaz,
  • 13:05 - 13:06
    que eu sabia ser o presidente
  • 13:06 - 13:10
    dessa organização que espalhou
    essa ideia do Litro de Luz pelo mundo,
  • 13:10 - 13:12
    e falei: "Illac, posso criar no Brasil?"
  • 13:12 - 13:14
    e ele falou: "Vitor, não sei se você sabe,
  • 13:14 - 13:18
    mas quem criou essa ideia
    da lâmpada diurna
  • 13:18 - 13:23
    foi o brasileiro Alfredo Moser,
    na série de apagões em 2002."
  • 13:23 - 13:25
    Esse brasileiro criou,
    na cidade de Sorocaba,
  • 13:25 - 13:28
    fez ali na cidade dele,
    o Illac ficou maravilhado,
  • 13:28 - 13:32
    pediu ao Alfredo pra espalhar
    essa ideia pelo mundo
  • 13:32 - 13:35
    e só naquele ano nas Filipinas
    ele fez mais de 500 mil garrafas
  • 13:35 - 13:37
    e começou a espalhar
    essa ideia pelo mundo.
  • 13:37 - 13:39
    Ele falou: "Vitor, claro que você pode.
  • 13:39 - 13:43
    Mas, primeiro, me manda o material
    da África pra eu ver o que vocês fizeram."
  • 13:43 - 13:45
    Eu mandei e a gente teve a feliz notícia:
  • 13:45 - 13:50
    nós éramos a equipe que mais tinha
    feito garrafas na África até o momento.
  • 13:50 - 13:52
    E aí ele falou para mim assim:
  • 13:52 - 13:55
    "Vitor, teve uma menina
    que entrou em contato comigo
  • 13:55 - 13:58
    um tempo atrás e ela queria
    criar o Litro de Luz no Brasil.
  • 13:58 - 14:01
    Vou colocar vocês dois em contato
    e vocês veem se trabalham juntos.
  • 14:01 - 14:03
    E eu falei: "Claro!".
  • 14:03 - 14:05
    E aí começa uma série
    de coincidências incríveis
  • 14:05 - 14:07
    que me trouxeram até aqui hoje.
  • 14:07 - 14:10
    Eu sou nascido em Brasília,
  • 14:10 - 14:12
    essa menina era nascida no Maranhão,
  • 14:12 - 14:15
    e nós dois, por coincidência do destino,
  • 14:15 - 14:17
    morávamos numa ilha chamada Florianópolis.
  • 14:17 - 14:19
    Ela entrou em contato comigo,
  • 14:19 - 14:21
    no dia seguinte a gente
    estava tomando um café.
  • 14:21 - 14:25
    E eu morto de curiosidade para saber
    como ela conheceu o projeto,
  • 14:25 - 14:29
    outra coincidência incrível,
    na minha opinião,
  • 14:29 - 14:33
    ela conheceu esse projeto quando ela foi
    visitar um amigo intercambista
  • 14:33 - 14:37
    que estava na Índia, que é aquele mesmo
    intercambista que, lá no início,
  • 14:37 - 14:40
    fez aquela palestra
    na Universidade Federal
  • 14:40 - 14:43
    e me incentivou muito a fazer
    essa viagem que eu fiz pra África.
  • 14:43 - 14:46
    E quando ela foi visitar o Pedro,
  • 14:46 - 14:50
    o Pedro falou que tinha ido
    numa conferência de energia elétrica,
  • 14:50 - 14:52
    conhecido o Illac pessoalmente
  • 14:52 - 14:56
    e o Illac entregou uma bandeira
    do Litro de Luz e falou assim:
  • 14:56 - 14:59
    "Pedro, quando você for ao Brasil
    crie o projeto lá.
  • 14:59 - 15:03
    Os dois voltaram para o Brasil
    com aquela sede de criar o projeto,
  • 15:03 - 15:05
    mas eles nunca tinham subido
    num telhado na vida.
  • 15:05 - 15:08
    E eu tinha um currículo
    de muitos telhados.
  • 15:08 - 15:10
    Assim que eu cheguei,
  • 15:10 - 15:15
    em questão de uma semana a gente já
    estava com a nossa equipe formada,
  • 15:15 - 15:17
    começando a trabalhar juntos.
  • 15:19 - 15:23
    A gente viu um potencial enorme
    do Litro de Luz no Brasil.
  • 15:25 - 15:28
    Cerca de 2,7 milhões
    de habitantes no Brasil
  • 15:28 - 15:30
    ainda não possuem acesso
    à energia elétrica,
  • 15:30 - 15:32
    segundo o último Censo do IBGE.
  • 15:32 - 15:35
    Sem falar de todos aqueles
    que possuem acesso à energia elétrica,
  • 15:35 - 15:38
    mas que não têm capacidade
    de arcar com ela.
  • 15:38 - 15:40
    Aí vocês podem me perguntar:
  • 15:40 - 15:41
    "Tá, Vitor, mas peraí...
  • 15:41 - 15:46
    você, o Pedro, a Alana e toda essa equipe
    do Litro de Luz que você falou,
  • 15:46 - 15:48
    vocês pretendem, de alguma forma,
  • 15:48 - 15:51
    subir em todos esse telhados no mundo,
    espalhando a ideia?"
  • 15:51 - 15:52
    Não, a gente não tem essa pretensão.
  • 15:52 - 15:55
    Nosso objetivo é inspirar, é motivar,
  • 15:55 - 15:59
    ensinar lideranças locais
    a espalharem essa ideia
  • 15:59 - 16:01
    dentro das suas próprias comunidades.
  • 16:01 - 16:03
    Assim como espero, de alguma forma,
  • 16:03 - 16:05
    fazer aqui com ao menos um de vocês.
  • 16:05 - 16:09
    Afinal de contas
    eu questiono, sinceramente,
  • 16:09 - 16:18
    quantas vezes, no dia a dia de vocês,
    vocês se sentem incondicionalmente úteis?
  • 16:20 - 16:22
    Obrigado!
  • 16:22 - 16:24
    (Aplausos)
Title:
Quantas Vezes Você Já se Sentiu Realmente Útil? | Vitor Belota | TEDxBlumenau
Description:

Essa palestra é de um evento TEDx que usa o formato de conferência TED mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx"

Quantas vezes você realmente se sentiu útil? Vitor fez essa pergunta ao realizar um trabalho voluntário em Nairóbi, no Quênia. Com uma maneira distinta de levar esperança às comunidades pobres das maiores favelas do mundo, Vitor entendeu o que realmente significa ajudar alguém.

Trabalhando oito horas por dia e obtendo a sua segunda graduação aos 24 anos de idade, Vitor decidiu que essa não era a vida que queria. Pediu demissão de seu emprego e ingressou em um programa de voluntariado na África. Seu emprego inicial era lecionar inglês e matemática, mas, quando chegou, Vitor percebeu que a ausência de eletricidade nas escolas prejudicava o processo de aprendizado das milhares de crianças. Tocado pela questão, ele desenvolveu, em conjunto com alguns amigos, o projeto "Liter of Light" (Litro de Luz, em inglês).

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Video Language:
Portuguese, Brazilian
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
16:34

Portuguese, Brazilian subtitles

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