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Christopher McDougall: nós nascemos para correr?

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    Correr: é basicamente direita, esquerda, direita, esquerda, certo?
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    Nós fazemos isso por dois milhões de anos,
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    então é meio arrogante achar
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    que eu tenha algo a dizer
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    que ainda não foi dito ou feito melhor há muito tempo.
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    Mas o legal sobre correr, como eu descobri,
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    é que algo bizarro acontece
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    nesta atividade o tempo todo.
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    Exemplo: Há dois meses vocês viram a Maratona de Nova York,
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    eu garanto que vocês viram algo
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    que ninguém jamais viu antes.
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    Uma etíope chamada Derartu Tulu
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    aparece na linha de partida.
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    Ela tem 37 anos,
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    e ela não ganhava uma maratona de qualquer tipo há 8 anos,
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    e alguns meses antes
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    ela quase morreu durante o parto.
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    Derartu Tulu estava pronta para pendurar as chuteiras e se aposentar,
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    mas ela decidiu arriscar tudo
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    e tentar mais uma vez
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    participar do famoso evento,
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    a Maratona de Nova York.
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    Porém – más notícias para Derartu Tulu – outras pessoas tiveram a mesma ideia,
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    incluindo a medalhista de ouro Olímpica
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    e Paula Radcliffe, que é um monstro,
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    a maratonista mais rápida da história.
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    Somente 10 minutos atrás do recorde mundial masculino,
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    Paula Radcliffe é praticamente imbatível.
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    Essa era sua competição.
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    É dada a partida, e ela não é nem azarão;
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    ela está abaixo dos azarões.
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    Mas a "sub-azarão" aguenta firme.
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    E depois de 35 km dos quase 42 km,
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    lá está Derartu Tulu
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    junto com a linha de frente.
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    Isso é quando algo realmente bizarro acontece.
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    Paula Radcliffe, a única pessoa certa que vai tirar o grande prêmio
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    das mãos da "sub-azarão" Derartu Tulu,
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    de repente sente a perna e começa a ficar para trás.
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    Todos sabemos o que fazer nesta situação, certo?
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    Você empurra a adversária para trás com seu cotovelo
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    e arranca para a linha de chegada.
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    Derartu Tulu não faz isso.
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    Ao invés de zarpar,
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    ela fica para trás e pega Paula Radcliffe,
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    e diz, "Vamos. Venha conosco. Você consegue."
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    Então Paula Radcliffe infelizmente o faz.
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    Ela alcança a linha de frente
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    e vai se aproximando da linha de chegada.
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    Então ela fica para trás de novo.
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    E pela segunda vez Derartu Tulu a pega e tenta puxá-la.
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    E Paula Radcliffe a essa altura diz,
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    "Pra mim chegou. Vai."
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    Então esta é uma história fantástica, e todos sabemos como termina.
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    Ela perde o cheque,
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    mas vai para casa com algo maior e mais importante.
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    Mas Derartu Tulu não faz isso.
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    Ao invés de perder, ela passa pela linha de frente e ganha,
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    ganha a Maratona de Nova York,
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    e vai para casa com um cheque gordo.
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    É uma história emocionante,
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    mas se vocês forem mais fundo,
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    vocês vão se perguntar o que exatamente aconteceu aqui.
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    Quando se tem duas exceções no organismo,
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    não é uma coincidência.
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    Quando se tem alguém mais competitivo e com mais compaixão
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    que qualquer outro na corrida, também não é coincidência.
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    Mostre-me uma criatura com membranas entre os dedos e guelras,
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    tem algo a ver com água.
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    Alguém com aquele coração, tem algum tipo de conexão aqui.
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    E a resposta para isso, creio eu,
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    pode ser achada no Desfiladeiro Cooper do México,
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    onde há uma tribo, uma tribo reclusa,
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    chamada índios Tarahumara.
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    Os Tarahumaras são espetaculares em três coisas.
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    A primeira é que
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    eles vivem praticamente da mesma maneira
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    que nos últimos 400 anos.
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    Quando os conquistadores chegaram na América do Norte você tinha duas opções:
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    lutar contra eles ou sair correndo.
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    Os Maias e Astecas lutaram,
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    e é por isso que há tão poucos Maias e Astecas.
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    Os Tarahumaras tiveram uma estratégia diferente.
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    Saíram correndo e se esconderam
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    nesta rede de labirintos
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    e sistemas de teias de desfiladeiros
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    chamado Desfiladeiros Cooper,
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    e eles ficaram por lá desde os anos 1600 -
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    essencialmente da mesma maneira que sempre viveram.
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    A segunda coisa espetacular sobre os Tarahumaras é que
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    bem quando são velhos – 70 ou 80 anos –
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    esses caras não estão correndo maratonas,
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    eles correm mega-maratonas.
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    Eles não fazem 42 km,
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    fazem 160 km ou 240 km de uma vez,
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    e aparentemente sem lesões ou problemas.
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    A última coisa espetacular sobre os Tarahumaras
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    é que todas as coisas sobre as quais vamos falar hoje,
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    todas as coisas que tentamos fazer
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    usando tecnologia e cérebro para resolver –
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    coisas como doença cardíaca e colesterol e câncer
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    e crime e guerras e violência e depressão clínica –
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    tudo isso, os Tarahumaras não sabem o que é.
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    Eles são livres
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    de todos os males modernos.
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    Então qual é a conexão?
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    De novo, falamos de exceções.
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    Tem que haver algum tipo de causa e efeito aqui.
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    Bem, há equipes de cientistas
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    em Harvard e na Universidade de Utah
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    que estão fundindo os cérebros para tentar descobrir
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    o que os Tarahumaras sempre souberam.
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    Estão tentando resolver os mesmos tipos de mistérios.
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    E mais uma vez, um mistério dentro de um mistério -
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    talvez a chave para Derartu Tulu e os Tarahumaras
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    está dentro de outros três mistérios, e é mais ou menos assim:
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    Três coisas – se vocês têm a resposta, venham aqui e peguem o microfone,
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    pois ninguém mais sabe a resposta.
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    E se vocês sabem, então são mais inteligentes do que qualquer um na Terra.
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    Mistério número um:
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    Dois milhões de anos atrás o cérebro humano explodiu de tamanho.
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    Australopithecus tinha cérebro de ervilha.
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    De repente os humanos apareceram – Homo erectus –
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    cabeça de melão.
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    Para ter um cérebro deste tamanho,
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    é preciso ter uma fonte de energia calórica condensada.
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    Em outras palavras, os primeiros humanos estão comendo animais mortos –
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    sem disputas, é um fato.
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    O único problema é que
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    as primeiras armas afiadas só apareceram cerca de 200 mil anos atrás.
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    Então de alguma forma por dois milhões de anos,
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    estamos matando animais sem armas.
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    Não estamos usando nossa força
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    pois somos os maiores medrosos na selva.
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    Qualquer outro animal é mais forte do que nós.
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    Eles têm presas e garras e são ágeis e são velozes.
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    Achamos que Usain Bolt é rápido. Usain Bolt pode ser derrotado por um esquilo.
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    Não somos rápidos.
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    Isso seria um evento Olímpico: soltar um esquilo.
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    Quem for capaz de pegá-lo ganha a medalha de ouro.
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    Então sem armas, sem velocidade, sem força, sem presas, sem garras.
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    Como é que matávamos esses animais? Mistério número um.
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    Mistério número dois:
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    As mulheres participam das Olimpíadas já faz algum tempo,
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    mas uma coisa incrível sobre as mulheres velocistas –
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    elas não são boas, são terríveis.
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    Não existe uma mulher veloz no planeta
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    e nunca existiu.
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    A mulher mais rápida a correr 1.6 km o fez em 4.15.
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    Eu posso jogar uma pedra e acertar um garotinho
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    que pode correr mais rápido que 4.15.
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    Por alguma razão vocês são realmente bem lentas.
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    (Risos)
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    Mas vocês chegaram na maratona que estávamos falando –
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    vocês só puderam correr a maratona há cerca de 20 anos.
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    Porque, antes dos anos 80,
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    a ciência médica disse que se uma mulher tentasse correr 42 km –
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    alguém sabe o que aconteceria se vocês tentassem correr 42 km,
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    por que vocês eram banidas da maratona até os anos 80?
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    (Membro da plateia: O útero se destruiria.) O útero se destruiria.
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    Sim. Os órgãos reprodutivos se destruiriam.
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    O útero cairia, literalmente cairia do corpo.
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    Eu estive em muitas maratonas,
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    e ainda estou para ver isso.
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    (Risos)
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    As mulheres foram permitidas correr maratonas somente há 20 anos.
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    Nessa curva de aprendizado muito curta,
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    vocês foram de órgãos quebrados até
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    o fato de que estão somente 10 minutos atrás
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    do recorde mundial masculino.
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    Então vocês foram além de 42 km,
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    para a distância que a ciência médica também disse que seria fatal para humanos–
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    lembrem que Fidípides morreu quando correu 42 km –
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    foram para 80 km e 160 km,
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    e de repente o jogo é diferente.
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    Peguem uma corredora como Ann Trason, ou Nikki Kimball ou Jenn Shelton,
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    ponham elas em uma corrida de 80 km ou 160 km contra qualquer pessoa no mundo
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    e é como tirar um cara ou coroa.
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    Vou dar um exemplo.
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    Há dois anos atrás, Emily Baer entrou para uma corrida
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    chamada Hardrock 100 ["Da Pesada 160km"],
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    o nome diz tudo o que você precisa saber da corrida.
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    Eles dão 48 horas para acabar a corrida.
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    Emily Baer – 500 corredores –
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    ela chega em oitavo lugar, no top 10,
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    mesmo tendo parado em todos os pontos de ajuda
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    para amamentar seu bebê durante a corrida –
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    e mesmo assim derrotou 492 pessoas.
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    O último mistério: por que as mulheres ficam mais fortes
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    com distâncias maiores?
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    O terceiro mistério é:
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    Na Universidade de Utah, começaram a rastrear tempos de chegada
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    de pessoas correndo a maratona.
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    E eles descobriam que
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    se você começa a correr a maratona aos 19 anos,
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    você fica progressivamente mais rápido, ano após ano,
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    até atingir seu ápice aos 27 anos.
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    E então depois disso, você sucumbe
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    ao rigor do tempo.
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    E você fica cada vez mais lento,
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    até finalmente voltar a correr com a mesma velocidade de quando tinha 19 anos.
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    Então cerca de sete ou oito anos para atingir o ápice,
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    e então gradualmente declinar
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    até voltar para o ponto de partida.
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    Vocês diriam que talvez leve oito anos para voltar para a mesma velocidade,
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    talvez 10 anos – não, são 45 anos.
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    Homens e mulheres de 60 anos
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    estão correndo tão rápido quanto tinham 19 anos.
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    Agora eu desafio vocês a pensarem em outra atividade física –
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    e por favor não digam golfe – algo que seja realmente difícil –
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    onde idosos têm uma performance
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    tão boa quanto a que tinham na adolescência.
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    Então vocês têm esses três mistérios.
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    Será que existe uma peça no quebra-cabeça
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    que irá solucionar essas coisas?
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    Vocês têm que tomar cuidado sempre
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    que alguém volta para a pré-história e tenta dar uma resposta global,
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    pois, sendo pré-história,
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    você pode dizer qualquer coisa e se safar.
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    Mas eu proponho o seguinte:
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    Se vocês colocarem uma peça no meio desse quebra-cabeça,
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    de repente uma imagem coerente começa a aparecer.
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    Se vocês pensam, por que os Tarahumaras não lutam
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    e não morrem de doença cardíaca,
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    por que uma mulher etíope pobre chamada Derartu Tulu
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    pode ser a mulher com mais compaixão e ao mesmo tempo mais competitiva,
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    e por que nós de alguma forma conseguimos
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    achar comida sem armas,
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    talvez seja simplesmente porque humanos,
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    mesmo que gostemos de pensar que somos os donos do universo,
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    de fato evoluímos como nada mais
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    do que um grupo de cães caçadores.
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    Talvez evoluímos
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    assim como um grupo de animais caçadores.
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    Pois uma vantagem que temos na selva –
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    de novo, não são nossas presas ou garras ou velocidade -
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    a única coisa que fazemos realmente bem é suar.
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    Somos muito bons em suar e feder.
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    Melhor do que qualquer outro mamífero, vocês podem suar muito bem.
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    Mas a vantagem
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    deste pequeno desconforto social
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    é o fato que, quando se trata de correr
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    sob forte calor e longas distâncias,
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    somos fantásticos, somos os melhores no planeta.
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    Peguem um cavalo em um dia quente,
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    e depois de 8 km ou 10 km, o cavalo tem uma escolha.
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    Ou vai respirar ou vai se resfriar,
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    mas não fará ambos – nós podemos.
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    E se nós evoluímos como um grupo de animais de caça?
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    E se a única vantagem que tínhamos no mundo
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    era o fato de podermos nos juntar em um grupo,
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    sair pela savana africana, escolher um antílope
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    e sair como um grupo e fazer aquela coisa correr até morrer?
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    Era tudo que podíamos fazer;
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    podíamos correr muito longe em dias quentes.
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    Se isso for verdade, algumas coisas também tinham que ser verdade.
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    A chave de ser um grupo de caça é a palavra "grupo."
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    Se você estivesse sozinho, e tentasse perseguir um antílope,
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    eu garanto que haveria dois cadáveres na savana.
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    Você precisa de um grupo para dar certo.
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    Você precisa daqueles com 64, 65 anos
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    que já fazem isso há muito tempo
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    para entender qual antílope vocês realmente irão pegar.
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    O bando explode e se junta novamente.
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    Os corredores experientes precisam fazer parte do grupo.
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    Eles não podem estar 16 km atrás.
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    Você precisa ter as mulheres e os adolescentes lá
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    por que os dois períodos da vida que você mais se beneficia de proteína animal
  • 10:40 - 10:43
    é quando está amamentando e quando se é um adolescente em crescimento.
  • 10:43 - 10:45
    Não faz sentido ter o antílope lá morto
  • 10:45 - 10:47
    e as pessoas que querem comer estão a 80 km de distância.
  • 10:47 - 10:49
    Eles precisam ser parte do grupo.
  • 10:49 - 10:51
    Você precisa ter aqueles com 27 anos no ápice de suas forças
  • 10:51 - 10:53
    prontos para acabar com a presa,
  • 10:53 - 10:55
    e você precisa ter os adolescentes lá
  • 10:55 - 10:57
    que estão aprendendo tudo.
  • 10:57 - 10:59
    O grupo fica junto.
  • 10:59 - 11:02
    Outra coisa que tem que ser verdade sobre o grupo: ele não pode ser materialista.
  • 11:02 - 11:05
    Você não pode arrastar todo o acampamento junto, tentando pegar o antílope.
  • 11:05 - 11:08
    Não pode ser um grupo irritado. Não pode guardar rancor.
  • 11:08 - 11:10
    Tipo, "Eu não vou perseguir o antílope daquele cara.
  • 11:10 - 11:12
    Ele me irritou. Deixa ele perseguir seu próprio antílope."
  • 11:12 - 11:15
    O grupo tem que conseguir engolir seu ego,
  • 11:15 - 11:17
    ser cooperativo e juntar-se.
  • 11:17 - 11:20
    O que vocês têm no final, em outras palavras,
  • 11:20 - 11:22
    é uma cultura incrivelmente similar
  • 11:22 - 11:24
    aos Tarahumaras -
  • 11:24 - 11:26
    uma tribo que permaneceu a mesma
  • 11:26 - 11:28
    desde a idade da pedra.
  • 11:28 - 11:30
    É realmente um argumento convincente
  • 11:30 - 11:32
    que talvez os Tarahumaras estejam fazendo
  • 11:32 - 11:35
    exatamente o que todos nós fizemos por dois milhões de anos.
  • 11:35 - 11:38
    Nós nos tempos modernos é que desviamos do caminho.
  • 11:38 - 11:41
    Sabem, olhamos para a corrida como se fosse um alienígena,
  • 11:41 - 11:44
    uma punição por ter comido uma pizza na noite anterior.
  • 11:44 - 11:46
    Mas talvez seja algo diferente.
  • 11:46 - 11:49
    Talvez nós é que pegamos essa vantagem natural que temos e
  • 11:49 - 11:51
    estragamos com tudo.
  • 11:51 - 11:54
    Como estragamos com isso? Como estragamos qualquer coisa?
  • 11:54 - 11:56
    Tentamos ganhar dinheiro com isso.
  • 11:56 - 11:58
    Tentamos empacotar tudo e fazer melhor
  • 11:58 - 12:00
    e vender para as pessoas.
  • 12:00 - 12:02
    E o que aconteceu foi que começamos a criar
  • 12:02 - 12:04
    essas coisas estofadas,
  • 12:04 - 12:07
    que fazem a corrida melhor, chamadas tênis de corrida.
  • 12:07 - 12:10
    A razão pela qual fico pessoalmente irritado com tênis de corrida
  • 12:10 - 12:13
    é porque eu comprei um milhão deles e continuei a me machucar.
  • 12:13 - 12:15
    E acho que, se qualquer um aqui corre –
  • 12:15 - 12:17
    e acabei de ter uma conversa com Carol;
  • 12:17 - 12:20
    falamos por dois minutos antes, e ela falou sobre plantar fasciitis.
  • 12:20 - 12:23
    Você fala com um corredor e eu garanto que em 30 segundos
  • 12:23 - 12:25
    a conversa vai rumar para lesões.
  • 12:25 - 12:28
    Então se os humanos evoluíram como corredores, se essa é nossa única vantagem natural,
  • 12:28 - 12:31
    então por que são tão ruins nisso? Por que continuamos nos lesionando?
  • 12:31 - 12:33
    Uma coisa curiosa sobre corrida e lesões
  • 12:33 - 12:36
    é que lesões são coisas novas na nossa época.
  • 12:36 - 12:38
    Se vocês lerem folclore e mitologia,
  • 12:38 - 12:40
    quaisquer tipos de mitos e histórias,
  • 12:40 - 12:42
    a corrida é sempre associada
  • 12:42 - 12:45
    com liberdade e vitalidade e juventude e vigor eterno.
  • 12:45 - 12:47
    Foi só na nossa época
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    que a corrida foi associada com medo e dor.
  • 12:49 - 12:51
    Gerônimo costumava a dizer que
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    "Minhas únicas amigas são minhas pernas. Só confio em minhas pernas."
  • 12:54 - 12:56
    Isso porque o triatlon apache
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    era correr 80 km através do deserto,
  • 12:58 - 13:00
    partir para o combate homem-a-homem, roubar um bando de cavalos
  • 13:00 - 13:02
    e atirar para voltar para casa.
  • 13:02 - 13:04
    Gerônimo nunca disse, "Ah, sabe de uma coisa,
  • 13:04 - 13:07
    meu aquiles, não estou bem. Tenho que descansar o resto da semana,"
  • 13:07 - 13:09
    ou "eu preciso treinar.
  • 13:09 - 13:12
    Eu não fiz yoga. Não estou preparado."
  • 13:12 - 13:14
    Humanos corriam e corriam o tempo todo.
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    Estamos aqui hoje. Temos a nossa tecnologia digital.
  • 13:16 - 13:18
    Toda a nossa ciência vem do fato
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    de que nossos ancestrais conseguiram
  • 13:20 - 13:22
    fazer algo extraordinário todos os dias,
  • 13:22 - 13:24
    que era somente confiar nos seus pés e pernas nuas
  • 13:24 - 13:26
    para correr longas distâncias.
  • 13:26 - 13:28
    Como voltamos para isso?
  • 13:28 - 13:30
    Bem, primeiro eu proponho uma coisa:
  • 13:30 - 13:33
    livrar-se dos pacotes, das vendas, do marketing.
  • 13:33 - 13:35
    Livrem-se dos tênis de corrida fedorentos.
  • 13:35 - 13:37
    Parem de focar nas maratonas urbanas,
  • 13:37 - 13:40
    que se vocês fazem em quatro horas, vocês são horríveis.
  • 13:40 - 13:42
    Se fazem em 3.59.59, são ótimos
  • 13:42 - 13:44
    porque qualificaram-se para outra corrida.
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    Temos que voltar para aquela ideia de brincadeira e descontração
  • 13:47 - 13:50
    e, eu diria, estarmos nus
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    que fez os Tarahumaras
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    uma das culturas mais saudáveis e serenas da nossa época.
  • 13:55 - 13:57
    Então qual é o benefício?
  • 13:57 - 14:00
    Então você queima o Haagen-Dazs da noite anterior?
  • 14:00 - 14:03
    Mas talvez tenha outro benefício também.
  • 14:03 - 14:06
    Sem querer ir um pouco longe demais,
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    imaginem um mundo
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    onde todos pudessem sair de suas casas
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    e praticar um tipo de exercício
  • 14:12 - 14:15
    que irá fazê-los ficarem mais relaxados, serenos,
  • 14:15 - 14:17
    mais saudáveis,
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    acabar com o estresse -
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    onde vocês não vão mais para o escritório como maníacos furiosos,
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    onde vocês não vão para casa com muito estresse nos ombros de novo.
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    Talvez tenha algo entre o que somos hoje
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    e o que os Tarahumaras sempre foram.
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    Não estou dizendo para voltarmos para o Desfiladeiro Cooper
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    e viver a base de milho, que é a dieta preferida dos Tarahumaras,
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    mas talvez tenha algo entre as duas coisas.
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    E se acharmos essa coisa,
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    talvez tenha um grande Prêmio Nobel esperando.
  • 14:41 - 14:44
    Pois se alguém conseguir achar uma maneira
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    de restaurar a habilidade natural
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    que todos nós aproveitamos na maior parte da nossa existência,
  • 14:48 - 14:50
    que todos nós aproveitamos até os anos 70,
  • 14:50 - 14:52
    os benefícios, sociais e físicos
  • 14:52 - 14:55
    e políticos e mentais,
  • 14:55 - 14:57
    seria surpreendente.
  • 14:57 - 15:00
    Então o que eu tenho visto hoje é uma crescente subcultura
  • 15:00 - 15:03
    de corredores descalços, pessoas que jogaram os tênis fora.
  • 15:03 - 15:05
    E o que eles encontraram uniformemente é que
  • 15:05 - 15:08
    você se livra dos tênis, você se livra do estresse,
  • 15:08 - 15:10
    você se livra das lesões e dos males.
  • 15:10 - 15:12
    E o que você encontra é algo
  • 15:12 - 15:14
    que os Tarhumaras já sabem há muito tempo,
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    que isso pode ser muito divertido.
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    Eu mesmo experimentei.
  • 15:18 - 15:21
    Eu tive lesões por toda minha vida, e então nos meus 40 anos me livrei dos tênis
  • 15:21 - 15:23
    e minhas lesões de corrida também desapareceram.
  • 15:23 - 15:25
    Então espero que seja algo de que todos nós possamos tirar proveito.
  • 15:25 - 15:28
    E agradeço por terem ouvido a história. Muito obrigado.
  • 15:28 - 15:30
    (Aplausos)
Title:
Christopher McDougall: nós nascemos para correr?
Speaker:
Christopher McDougall
Description:

Christopher McDougall explora os mistérios do desejo humano de correr. Como correr ajudou os primeiros humanos a sobreviverem – e quais impulsos de nossos ancestrais nos estimulam hoje? No TEdxPennQuarter, McDougall conta a história de uma maratonista com um coração de ouro, o improvável ultra-corredor, e a tribo oculta no México que corre para viver.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
15:31
Fers Gruendling added a translation

Portuguese, Brazilian subtitles

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