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"Smelfies" e outras experiências em biologia sintética

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    E se as nossas plantas
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    pudessem sentir os níveis
    de toxicidade do solo
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    e expressassem essa toxicidade
    através da cor das suas folhas?
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    E se essas plantas pudessem
    também eliminar essas toxinas do solo?
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    E se essas plantas, em vez disso,
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    criassem a sua embalagem
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    ou fossem concebidas para serem colhidas
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    apenas pelas máquinas
    patenteadas dos seus donos?
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    O que acontece
    quando a conceção biológica
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    é guiada pelas motivações
    da produção em massa de mercadorias?
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    Que tipo de mundo seria esse?
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    Chamo-me Ani, e sou "designer"
    e investigadora no MIT Media Lab,
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    onde faço parte de um grupo relativamente
    novo e especial chamado Design Fiction,
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    em que nos situamos algures
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    entre a ficção científica
    e a ciência factual.
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    No MIT, tenho a grande sorte
    de trabalhar ao lado de cientistas
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    que estudam todos os tipos
    de áreas de tecnologia de ponta
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    como a neurobiologia sintética,
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    a inteligência artificial,
    a vida artificial,
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    e tudo o que se relacione com isso.
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    No campus, há cientistas
    brilhantes que perguntam:
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    "Como posso fazer do mundo
    um lugar melhor?"
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    Uma parte do meu grupo
    gosta de perguntar: "O que é melhor?
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    "O que é melhor para vocês, para mim,
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    "para uma mulher branca,
    um homem homossexual,
  • 1:11 - 1:13
    "para um veterano,
    para uma criança com uma prótese?"
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    A tecnologia nunca é neutra.
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    A tecnologia modela a realidade
    e reflete um contexto.
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    Imaginem o que isto diria do equilíbrio
    entre o trabalho e a vida no emprego
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    se estas fossem as perguntas padrão
    no primeiro dia.
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    (Risos)
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    Acredito que o papel
    dos artistas e "designers"
  • 1:28 - 1:30
    é levantar questões críticas.
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    A arte é como podemos
    ver e sentir o futuro,
  • 1:33 - 1:35
    e agora é uma excelente
    altura para ser "designer",
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    para todos os novos recursos
    se tornarem acessíveis
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    Por exemplo, a biologia sintética
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    procura escrever a biologia
    como um problema de "design".
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    Através destes progressos,
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    o meu laboratório pergunta
    quais os papéis e responsabilidades
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    de um artista, de um "designer",
    de um cientista ou de um empresário.
  • 1:51 - 1:53
    Quais são as implicações
  • 1:53 - 1:55
    da biologia sintética,
    da engenharia genética,
  • 1:55 - 2:00
    e como é que elas modelam as nossas
    noções do que significa ser-se humano?
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    Quais são as implicações
    na sociedade, na evolução
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    e quais os interesses neste jogo?
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    O meu projeto especulativo
    de pesquisa, no momento atual,
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    envolve a biologia sintética,
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    mas guia-se num sentido mais emocional.
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    Estou obcecada com o olfato
    enquanto espaço de conceção,
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    Este projeto começou
    com esta ideia:
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    E se pudéssemos tirar uma "selfie"
    com cheiro, uma "smelfie"?
  • 2:23 - 2:24
    (Risos)
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    E se pudéssemos captar
    o nosso odor corporal
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    e enviá-lo a um amante?
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    É engraçado, descobri que isso
    era uma tradição austríaca do século XIX,
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    em que os que se cortejavam
    mantinham uma fatia de maçã
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    debaixo das axilas, durante as danças,
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    até ao fim da noite.
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    A rapariga dava a fruta que usara
    ao rapaz que mais apreciara
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    e, se o sentimento fosse mútuo,
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    ele devorava aquela maçã malcheirosa.
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    (Risos)
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    É sabido que Napoleão escreveu
    muitas cartas de amor a Josefina,
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    mas talvez entre as mais memoráveis,
    é esta nota breve e urgente:
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    "Daqui a três dias em casa.
    Não tomes banho."
  • 3:02 - 3:04
    (Risos)
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    Napoleão e Josefina adoravam violetas.
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    Josefina usava perfume
    com cheiro a violetas,
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    levou violetas no dia do seu casamento,
  • 3:11 - 3:13
    e Napoleão enviava-lhe um ramo de violetas
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    em todos os seus aniversários.
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    Quando Josefina faleceu,
    ele plantou violetas na sua campa
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    e pouco antes de seu exílio,
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    ele voltou ao local do túmulo,
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    colheu algumas dessas flores,
    colocou-as num medalhão
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    e usou-o até o dia em que morreu.
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    Eu achei isto tão comovente
    que pensei:
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    "Poderia fazer aquela
    violeta cheirar como Josefina?
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    "E se, para o resto da eternidade,
  • 3:34 - 3:36
    "quando a fôssemos visitar,
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    "pudéssemos sentir o cheiro de Josefina
    tal como Napoleão a amou?"
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    Poderíamos criar novas formas de luto,
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    novos rituais para relembrar?
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    Afinal, nós criamos
    culturas transgénicas
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    para um lucro maximizado,
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    culturas resistentes ao transporte,
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    culturas que têm uma longa vida útil,
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    que têm sabor doce açucarado
    mas resistem a pragas,
  • 3:55 - 3:58
    por vezes, à custa do valor nutritivo.
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    Poderemos explorar
    essas mesmas tecnologias
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    para um resultado emocionalmente sensível?
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    No meu laboratório,
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    tenho investigado questões como:
    "O que faz uma pessoa cheirar a humana?
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    Acontece que é bastante complicado.
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    Fatores como a dieta,
    os medicamentos, o estilo de vida,
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    todos eles determinam o nosso cheiro.
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    Descobri que o nosso suor
    geralmente é inodoro,
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    são as nossas bactérias,
    o nosso microbioma,
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    os responsáveis pelos cheiros,
    pelo humor, pela identidade
  • 4:24 - 4:26
    e por muito mais outras coisas.
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    Há todos os tipos de moléculas
    que emitimos
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    mas de que só nos apercebemos
    subconscientemente.
  • 4:31 - 4:34
    Então, eu tenho catalogado e reunido
  • 4:34 - 4:36
    bactérias de diferentes locais
    do meu corpo.
  • 4:36 - 4:38
    Após conversar
    com um cientista, pensámos:
  • 4:38 - 4:40
    "Talvez a mistura perfeita de Ani
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    "seja 10% clavícula, 30% axilas,
  • 4:44 - 4:46
    40% linha do biquíni,
    e assim por diante.
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    Ocasionalmente, deixo que
    investigadores de outros laboratórios
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    cheirem as minhas amostras.
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    É interessante ouvir
    como o cheiro do corpo
  • 4:54 - 4:56
    é interpretado fora do contexto do corpo.
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    Já tive reações do tipo:
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    "Tem cheiro de flores, de frango,
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    "de 'cornflakes',
    de rojões de vaca".
  • 5:04 - 5:05
    (Risos)
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    Ao mesmo tempo, cultivo
    um grupo de plantas carnívoras
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    pela capacidade que têm de emitir
    odores como o de carne para atrair presas,
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    para tentar criar uma relação simbiótica
  • 5:16 - 5:19
    entre as minhas bactérias
    e este organismo.
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    Uma vez, estava no MIT, num bar,
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    a conversar com um cientista
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    que também é químico
    e cientista de plantas.
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    Estava-lhe a contar o meu projeto,
    e ele disse:
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    "Isso parece ser botânica
    para mulheres solitárias".
  • 5:32 - 5:35
    (Risos)
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    Imperturbável, eu disse: "Ok".
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    Desafiei-o.
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    "Podemos criar uma planta
    que retribua o meu amor?"
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    Por alguma razão, ele disse:
    "Claro, porque não?"
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    Começámos por tentar fazer
    uma planta crescer na minha direção,
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    como se eu fosse o sol.
  • 5:51 - 5:54
    Observámos os mecanismos
    em plantas, como o fototropismo,
  • 5:54 - 5:57
    que faz a planta
    crescer em direção ao Sol
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    através da produção
    de hormonas, como a auxina,
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    que causa o alongamento da célula
    no lado da sombra.
  • 6:02 - 6:03
    Estou a criar uma linha de batons
  • 6:03 - 6:06
    impregnados com estas substâncias químicas
  • 6:06 - 6:09
    que me permitem interagir
    com uma planta na sua própria química
  • 6:09 - 6:12
    — batons que fazem as plantas
    crescerem no sítio em que beijo,
  • 6:12 - 6:15
    plantas que florescem
    onde eu beijo o botão.
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    Através destes projetos,
  • 6:18 - 6:20
    eu faço perguntas como:
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    "Como definimos a Natureza?"
  • 6:21 - 6:25
    Como definimos a Natureza quando
    podemos recriar as suas propriedades,
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    e quando devemos fazê-lo?
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    Devemos fazê-lo pelo lucro,
    pela sua utilidade?
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    Para fins emocionais?
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    A biotecnologia pode ser usada
    para criações comoventes como a música?
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    Quais as fronteiras entre a ciência
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    e a sua capacidade de modelar
    a nossa paisagem emocional?
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    Há um famoso mantra do "design"
    de que "a forma segue a função".
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    Agora, situamo-nos
    entre a ciência, o "design" e a arte
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    e pergunto-me:
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    "E se a ficção dá forma aos factos?
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    "Como seriam os laboratórios R&D
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    "e que tipo de perguntas faríamos juntos?"
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    Olhamos muito para a tecnologia
    como a resposta,
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    mas como artista e "designer",
    pergunto:
  • 7:01 - 7:02
    "Qual é a questão?"
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    Obrigada.
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    (Aplausos)
Title:
"Smelfies" e outras experiências em biologia sintética
Speaker:
Ani Liu
Description:

E se pudessem tirar uma "selfie" com cheiro, uma "smelfie"? E se tivessem um batom que fizesse crescer plantas onde damos um beijo? Ani Liu explora o cruzamento entre a tecnologia e a perceção sensorial, e o seu trabalho situa-se entre a ciência, o "design" e a arte. Nesta palestra rápida e inteligente, ela partilha os seus sonhos, as suas especulações e experiências, perguntando: "O que acontece quando a ficção científica passa a ser um facto científico?"

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
07:20

Portuguese subtitles

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