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Quão cedo a experiência de vida é escrita no ADN

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    Tudo começou
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    num bar em Madrid.
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    Encontrei o meu colega da universidade
    de McGill, Michael Meaney.
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    Estávamos a beber umas cervejas,
  • 0:12 - 0:14
    e como os cientistas fazem,
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    ele falou-me do seu trabalho.
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    Disse-me que está interessado em como
    as mães dos ratos lambem as suas crias
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    depois de elas nascerem.
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    Eu estava sentado e disse:
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    "Então, é nisto que o dinheiro
    dos meus impostos é desperdiçado...
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    (Risos)
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    ... neste tipo de ciência de cordel."
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    Ele começou a dizer-me
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    que os ratos, tal como os seres humanos,
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    lambem as suas crias de diferentes modos.
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    Algumas progenitoras lambem muito,
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    outras lambem muito pouco,
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    e a maior parte estão entre umas e outras.
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    Mas o que é interessante nisto
  • 0:54 - 0:59
    é quando ele segue estas crias,
    quando elas se tornam adultas
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    — como anos na vida humana —
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    muito depois de as suas progenitoras
    terem morrido.
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    São animais completamente diferentes.
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    Os animais que foram
    muito lambidos e acarinhados,
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    os que lambiam muito e acarinhavam
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    não são ansiosos.
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    Têm um comportamento sexual diferente.
  • 1:16 - 1:19
    Têm um modo de vida diferente
  • 1:19 - 1:25
    do que aqueles que não foram
    tão bem tratados pelas suas progenitoras.
  • 1:26 - 1:28
    Pensei para mim próprio:
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    Será magia?
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    Como é que isto funciona?
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    Como os geneticistas gostam que pensemos,
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    talvez a progenitora tivesse
    o gene da "progenitora má"
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    que fez com que as suas crias
    fossem ansiosas,
  • 1:43 - 1:46
    e foi, depois, passado
    de geração em geração.
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    É tudo determinado pela genética.
  • 1:48 - 1:52
    Ou será possível que algo mais
    esteja a acontecer aqui?
  • 1:52 - 1:55
    Nos ratos, podemos fazer
    esta pergunta e responder-lhe.
  • 1:55 - 1:59
    Então, fizemos uma experiência
    de adopção cruzada.
  • 1:59 - 2:04
    Separámos a ninhada, os bebés
    deste rato, à nascença,
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    em dois tipos de
    progenitoras adoptivas
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    — não as reais, mas progenitoras
    que vão tomar conta deles:
  • 2:09 - 2:12
    progenitoras que lambem muito
    e outras que lambem pouco.
  • 2:12 - 2:15
    Podemos fazer o contrário
    com as crias que lambem pouco.
  • 2:16 - 2:18
    A resposta extraordinária foi
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    que não era importante
    o gene que se recebe da progenitora.
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    Não é a progenitora biológica
    que define a característica destes ratos.
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    É a progenitora que tomou conta das crias.
  • 2:33 - 2:36
    Como é que isto funciona?
  • 2:37 - 2:39
    Sou epigeneticista.
  • 2:39 - 2:42
    Estou interessado em como
    os genes são marcados
  • 2:42 - 2:44
    por um marcador químico
  • 2:44 - 2:49
    durante a embriogénese, durante o tempo
    em que estamos no ventre das nossas mães,
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    e que decide quais os genes
    que são expressos, em que tecido.
  • 2:53 - 2:56
    Diferentes genes são expressos
    no cérebro, no fígado e nos olhos.
  • 2:58 - 3:00
    E pensámos: será possível
  • 3:01 - 3:07
    que a progenitora esteja, de algum modo,
    a reprogramar os genes das suas crias
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    através do seu comportamento?
  • 3:09 - 3:11
    Investigámos durante 10 anos
  • 3:11 - 3:15
    e descobrimos que há uma cascata
    de acontecimentos bioquímicos
  • 3:15 - 3:18
    através dos quais as lambidelas da mãe,
    os cuidados da mãe,
  • 3:18 - 3:21
    são traduzidos em sinais bioquímicos
  • 3:21 - 3:24
    que entram no núcleo e no ADN
  • 3:24 - 3:26
    e o programam de maneira diferente.
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    O animal pode preparar-se para a vida.
  • 3:31 - 3:34
    A vida vai ser complicada?
  • 3:34 - 3:36
    Vai haver muita comida?
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    Vai haver muitos gatos e cobras,
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    ou vou viver num bairro de classe alta
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    onde tudo o que tenho
    de fazer é portar-me bem,
  • 3:43 - 3:46
    e isso vai dar-me aceitação social?
  • 3:47 - 3:52
    Agora podemos pensar sobre o quão
    importante este processo pode ser
  • 3:52 - 3:54
    para a nossa vida.
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    Herdamos o ADN dos nossos antepassados.
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    O ADN é antigo.
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    Evoluiu ao longo do tempo.
  • 4:02 - 4:06
    Mas não nos diz se
    vamos nascer em Estocolmo,
  • 4:06 - 4:10
    onde os dias são longos no verão
    e curtos no inverno,
  • 4:10 - 4:11
    ou no Equador,
  • 4:11 - 4:15
    onde o dia e a noite têm o mesmo
    número de horas, durante todo o ano.
  • 4:15 - 4:18
    Isto tem um grande efeito
    na nossa fisiologia.
  • 4:19 - 4:23
    O que sugerimos é, talvez
    o que acontece cedo na vida,
  • 4:23 - 4:26
    esses sinais, que nos são
    enviados através da progenitora,
  • 4:26 - 4:30
    dizem à cria em que tipo
    de mundo social vão viver.
  • 4:30 - 4:34
    Vai ser complicado, e é melhor
    sermos ansiosos e angustiados,
  • 4:34 - 4:37
    ou vai ser fácil, e temos
    de ser diferentes.
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    Vai ser um mundo com muita ou pouca luz?
  • 4:40 - 4:44
    Vai ser um mundo com
    muita ou pouca comida?
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    Se não há comida,
  • 4:46 - 4:50
    é melhor desenvolver o cérebro para
    comer muito quando há uma refeição,
  • 4:50 - 4:56
    ou guardar todos os bocados de comida
    que temos sob a forma de gordura.
  • 4:57 - 4:58
    Isto é bom.
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    A evolução seleccionou isto
  • 5:00 - 5:05
    para permitir que o nosso antigo ADN
    funcione de modo dinâmico
  • 5:05 - 5:07
    em novos ambientes.
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    Mas, às vezes, as coisas podem correr mal.
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    Por exemplo, se nascermos
    numa família pobre
  • 5:15 - 5:18
    e os sinais forem:
    "é melhor comeres muito,
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    "é melhor comeres toda
    a comida que encontrares."
  • 5:21 - 5:23
    Mas em nós, os seres humanos,
    o nosso cérebro evoluiu,
  • 5:23 - 5:25
    a evolução tornou-se ainda mais rápida.
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    Podemos comprar McDonald's por um dólar.
  • 5:29 - 5:35
    Por isso, a preparação
    que as nossas mães nos deram
  • 5:35 - 5:38
    está a tornar-se desajustada.
  • 5:38 - 5:42
    A mesma preparação que é suposto
    proteger-nos da fome e da escassez
  • 5:43 - 5:45
    vai causar obesidade,
  • 5:45 - 5:48
    problemas cardiovasculares
    e doenças metabólicas.
  • 5:49 - 5:52
    Este conceito de que os genes podem
    ser marcados pela nossa experiência,
  • 5:52 - 5:54
    e especialmente a experiência
    no início de vida,
  • 5:54 - 5:57
    pode dar-nos uma explicação consistente
  • 5:57 - 6:00
    da saúde e da doença.
  • 6:01 - 6:03
    Mas será verdade só para os ratos?
  • 6:03 - 6:06
    O problema é que não podemos
    testar isto nos seres humanos,
  • 6:06 - 6:10
    porque eticamente não podemos colocar
    uma criança num ambiente adverso.
  • 6:10 - 6:13
    Se uma criança pobre desenvolve
    uma certa característica,
  • 6:13 - 6:17
    não sabemos se ela é devida à pobreza
  • 6:17 - 6:20
    ou se as pessoas pobres têm maus genes.
  • 6:20 - 6:23
    Os geneticistas vão tentar dizer-nos
    que os pobres são pobres
  • 6:23 - 6:25
    porque os seus genes fazem-nos pobres.
  • 6:25 - 6:27
    Os epigeneticistas vão dizer-nos
  • 6:27 - 6:31
    que as pessoas pobres estão num
    mau ambiente ou num ambiente empobrecido
  • 6:31 - 6:35
    que cria esse fenótipo,
    essa característica.
  • 6:36 - 6:41
    Então, fomos ver nos nossos primos,
    os macacos.
  • 6:42 - 6:46
    O meu colega, Stephen Suomi,
    tem criado macacos
  • 6:46 - 6:47
    de dois modos diferentes.
  • 6:47 - 6:50
    Aleatoriamente, separou o macaco
    da sua progenitora
  • 6:50 - 6:52
    e criou-o com uma ama
  • 6:53 - 6:55
    e condições de maternidade substituta.
  • 6:56 - 6:59
    Estes macacos não tiveram
    uma progenitora; tiveram uma ama.
  • 6:59 - 7:03
    Outros macacos foram criados
    com as suas mães biológicas.
  • 7:03 - 7:07
    Quando cresceram, eram animais
    completamente diferentes.
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    Os macacos que tiveram uma progenitora
    não se interessavam pelo álcool,
  • 7:11 - 7:12
    não eram sexualmente agressivos.
  • 7:12 - 7:16
    Os macacos que não tiveram progenitora
    eram agressivos e ansiosos
  • 7:16 - 7:18
    e eram alcoólicos.
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    Observámos o seu ADN, logo depois
    do nascimento, para ver:
  • 7:24 - 7:27
    É possível que a progenitora
    esteja a marcar?
  • 7:27 - 7:32
    Haverá uma assinatura da progenitora
    no ADN que passe para a descendência?
  • 7:32 - 7:35
    Estes são macacos com 14 dias.
  • 7:35 - 7:39
    Vemos aqui a forma moderna
    como estudamos a epigenética.
  • 7:39 - 7:43
    Podemos mapear estes marcadores químicos,
    a que chamamos marcadores de metilação,
  • 7:43 - 7:46
    no ADN, com resolução de um só nucleótido.
  • 7:47 - 7:48
    Podemos mapear todo o genoma.
  • 7:48 - 7:52
    Podemos comparar o macaco
    que teve progenitora com o que não teve.
  • 7:52 - 7:54
    Esta é uma apresentação visual disso.
  • 7:54 - 7:58
    Vemos os genes que foram
    mais metilados a vermelho.
  • 7:58 - 8:01
    Os genes que foram menos
    metilados a verde.
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    Podem ver que muitos genes estão a mudar,
  • 8:04 - 8:07
    porque não ter uma progenitora
    não é apenas uma coisa,
  • 8:07 - 8:08
    afecta tudo.
  • 8:08 - 8:12
    Envia sinais sobre como vai ser o mundo
  • 8:12 - 8:13
    quando nos tornarmos adultos.
  • 8:13 - 8:16
    Vemos os dois grupos de macacos
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    extremamente bem separados uns dos outros.
  • 8:19 - 8:22
    Quão cedo é que isto se desenvolve?
  • 8:22 - 8:24
    Estes macacos não viram
    as suas progenitoras,
  • 8:24 - 8:26
    por isso tiveram uma experiência social.
  • 8:26 - 8:31
    Sentimos o nosso estatuto social,
    mesmo no momento em que nascemos?
  • 8:31 - 8:35
    Nesta experiência, tirámos
    placentas de macacos
  • 8:35 - 8:37
    que tinham diferentes estatutos sociais.
  • 8:38 - 8:43
    O que é interessante na classificação
    social é que todos os seres vivos
  • 8:43 - 8:46
    se vão estruturar por hierarquia.
  • 8:46 - 8:49
    O macaco número um é o chefe,
  • 8:49 - 8:51
    o macaco número quatro é o camponês.
  • 8:51 - 8:53
    Se pusermos quatro macacos numa jaula,
  • 8:53 - 8:56
    haverá sempre um chefe e um camponês.
  • 8:57 - 9:01
    O que é interessante
    é que o macaco número um
  • 9:01 - 9:05
    é muito mais saudável que o número quatro.
  • 9:05 - 9:07
    E se os pusermos numa jaula,
  • 9:07 - 9:11
    o macaco número um não vai comer muito.
  • 9:11 - 9:14
    O macaco número quatro
    vai comer muito.
  • 9:14 - 9:18
    Vemos aqui neste
    mapeamento da metilação,
  • 9:18 - 9:21
    uma separação drástica no nascimento
  • 9:21 - 9:24
    dos animais que tinham
    um alto estatuto social
  • 9:24 - 9:27
    em comparação com os animais
    que não o tinham.
  • 9:27 - 9:32
    Nascemos já com conhecimento
    das informações sociais,
  • 9:32 - 9:35
    e essas informações sociais
    não são más ou boas,
  • 9:35 - 9:36
    apenas nos preparam para a vida,
  • 9:36 - 9:40
    porque temos de programar
    a nossa biologia de modo diferente
  • 9:40 - 9:44
    se tivermos um estatuto social
    baixo ou alto.
  • 9:44 - 9:47
    Mas como podemos estudar isto
    nos seres humanos?
  • 9:47 - 9:50
    Não podemos fazer experiências,
    colocá-los em ambientes adversos.
  • 9:50 - 9:53
    Mas Deus faz experiências
    com os seres humanos,
  • 9:53 - 9:55
    e chamamos-lhes desastres naturais.
  • 9:55 - 9:59
    Um dos piores desastres naturais
    na história do Canadá
  • 9:59 - 10:02
    aconteceu na minha terra, Quebeque.
  • 10:02 - 10:04
    Foi a tempestade de gelo de 1998.
  • 10:04 - 10:08
    Perdemos toda a rede eléctrica
    devido à tempestade
  • 10:08 - 10:11
    quando as temperaturas eram,
    em pleno inverno no Quebeque,
  • 10:11 - 10:13
    entre 20 a 30 graus negativos.
  • 10:13 - 10:16
    Havia mães grávidas durante essa época.
  • 10:16 - 10:22
    A minha colega Suzanne King
    seguiu as crianças dessas mães
  • 10:22 - 10:24
    durante 15 anos.
  • 10:25 - 10:29
    O que aconteceu foi,
    à medida que o "stress" aumentou
  • 10:29 - 10:31
    — tínhamos medidas objectivas de "stress":
  • 10:31 - 10:36
    Quanto tempo ficaram sem electricidade?
    Onde passaram o tempo?
  • 10:36 - 10:41
    Foi no apartamento da sogra
    ou numa casa luxuosa no campo?
  • 10:41 - 10:44
    Tudo isto somado
    à escala do "stress" social
  • 10:44 - 10:45
    podemos perguntar:
  • 10:45 - 10:48
    Como estavam as crianças?
  • 10:48 - 10:51
    Parece que, à medida
    que o "stress" aumenta,
  • 10:51 - 10:53
    as crianças desenvolvem mais autismo,
  • 10:53 - 10:55
    mais doenças metabólicas
  • 10:55 - 10:58
    e mais doenças auto-imunes.
  • 10:59 - 11:01
    Fizemos o mapeamento
    do estado de metilação,
  • 11:01 - 11:07
    e vemos os genes verdes a tornarem-se
    vermelhos, à medida que o "stress" aumenta,
  • 11:07 - 11:10
    os genes vermelhos a tornarem-se verdes
    à medida que o "stress" aumenta,
  • 11:10 - 11:15
    um total rearranjo do genoma,
    como resposta ao "stress".
  • 11:17 - 11:21
    Se conseguimos programar genes,
  • 11:21 - 11:25
    se não somos apenas os escravos
    da história dos nossos genes,
  • 11:25 - 11:28
    que podem ser programados,
    como podemos desprogramá-los?
  • 11:28 - 11:33
    Porque as causas epigenéticas podem
    resultar em doenças como o cancro,
  • 11:34 - 11:35
    as doenças metabólicas
  • 11:36 - 11:38
    e as doenças mentais.
  • 11:38 - 11:41
    Vamos falar do vício da cocaína.
  • 11:42 - 11:45
    O vício da cocaína é uma situação terrível
  • 11:45 - 11:49
    que pode levar à morte
    e à perda da vida humana.
  • 11:50 - 11:51
    Perguntámos:
  • 11:52 - 11:55
    Podemos reprogramar um cérebro viciado
  • 11:55 - 12:00
    para fazer com que esse animal
    deixe de estar viciado?
  • 12:00 - 12:05
    Usámos um modelo viciado em cocaína
  • 12:05 - 12:07
    que reconstitui o que acontece
    nos seres humanos.
  • 12:07 - 12:09
    Estamos na escola secundária,
  • 12:09 - 12:12
    alguns amigos sugerem
    que consumamos cocaína
  • 12:12 - 12:13
    consumimos cocaína e nada acontece.
  • 12:13 - 12:18
    Passam-se meses, algo nos faz lembrar
    o que aconteceu na primeira vez,
  • 12:18 - 12:19
    um vendedor de droga
    vende-nos cocaína,
  • 12:20 - 12:22
    tornamo-nos viciados e a nossa vida muda.
  • 12:22 - 12:24
    Nos ratos, fazemos o mesmo.
  • 12:24 - 12:26
    O meu colega, Gal Yadid,
  • 12:26 - 12:28
    treina os animais
    a habituarem-se à cocaína,
  • 12:29 - 12:31
    e depois durante um mês, não há cocaína.
  • 12:32 - 12:35
    Depois lembra-lhes quando
    viram cocaína pela primeira vez,
  • 12:35 - 12:38
    através de um sinal, as cores da jaula
    quando viram cocaína.
  • 12:38 - 12:40
    Eles ficam loucos.
  • 12:40 - 12:42
    Pressionam a alavanca para terem cocaína
  • 12:42 - 12:44
    até morrerem.
  • 12:44 - 12:48
    Primeiro, determinámos que
    a diferença entre estes animais
  • 12:49 - 12:51
    é que, durante o tempo que nada acontece,
  • 12:51 - 12:53
    não há cocaína por perto,
  • 12:53 - 12:55
    o seu epigenoma é rearranjado.
  • 12:55 - 12:58
    Os seus genes são remarcados
    de modo diferente,
  • 12:58 - 13:02
    e quando o sinal aparece,
    o seu genoma está pronto
  • 13:02 - 13:04
    para desenvolver este fenótipo aditivo.
  • 13:05 - 13:11
    Tratámos estes animais com drogas
    que aumentavam a metilação do ADN,
  • 13:11 - 13:14
    que era o marcador epigenético a observar,
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    ou diminuíam as marcações epigenéticas.
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    Descobrimos que,
    se aumentássemos a metilação,
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    estes animais ficavam ainda mais loucos.
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    Precisavam ainda mais de cocaína.
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    Mas se reduzíssemos a metilação do ADN,
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    estes animais deixavam de estar viciados.
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    Reprogramámo-los.
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    Uma diferença fundamental
    entre uma droga epigenética
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    e qualquer outra droga
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    é que, nas drogas epigenéticas,
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    essencialmente removemos
    os sinais de experiência,
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    e, uma vez que já lá não estão,
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    não voltam, a não ser que haja
    a mesma experiência.
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    O animal está agora reprogramado.
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    Quando vimos os animais
    30 dias, 60 dias depois,
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    o que, em termos humanos,
    são muitos anos de vida,
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    continuavam sem estar viciados, através
    de um único tratamento epigenético.
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    O que aprendemos sobre o ADN?
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    O ADN não é apenas uma sequência de letras
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    não é apenas um guião.
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    O ADN é um filme dinâmico.
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    As nossas experiências estão a ser
    escritas neste filme, que é interactivo.
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    Estamos a ver o filme
    da nossa vida, com o ADN,
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    com o nosso telecomando.
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    Podemos remover ou adicionar um actor.
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    E, apesar da natureza
    determinística da genética,
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    temos controlo do modo
    como os nossos genes são.
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    Isto tem uma mensagem optimista tremenda
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    na capacidade de abordarmos
    algumas doenças mortais
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    como o cancro, as doenças mentais,
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    com uma abordagem nova,
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    olhando para elas como uma má adaptação.
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    E se conseguirmos
    intervir epigeneticamente,
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    podemos reverter o filme,
    removendo o actor
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    e construir uma nova narrativa.
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    O que vos disse hoje é:
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    o nosso ADN é formado
    por dois componentes,
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    duas camadas de informação.
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    Uma das camadas de informação é antiga,
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    evoluiu desde há milhões de anos.
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    É fixa e muito difícil de alterar.
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    A outra camada de informação
    é a camada epigenética,
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    que é aberta e dinâmica,
  • 15:35 - 15:39
    e tem uma narrativa interactiva,
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    que nos permite controlar,
    em grande extensão, o nosso destino,
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    para ajudar o destino das nossas crianças
  • 15:51 - 15:55
    e para, esperemos, vencer a doença
  • 15:55 - 16:00
    e os problemas graves de saúde
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    que atormentam a humanidade,
    desde há muito tempo.
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    Mesmo que estejamos
    determinados pelos nossos genes,
  • 16:09 - 16:12
    temos um nível de liberdade
  • 16:12 - 16:16
    que pode configurar a nossa vida
    a uma vida de responsabilidade.
  • 16:16 - 16:17
    Obrigado.
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    (Aplausos)
Title:
Quão cedo a experiência de vida é escrita no ADN
Speaker:
Moshe Zsyf
Description:

Moshe Szyf é um pioneiro na área da epigenética, o estudo de como as coisas vivas reprogramam o seu genoma em resposta a factores sociais como o "stress" e a falta de comida. A sua investigação sugere que sinais bioquímicos passam da mãe para os filhos para lhes dizer em que tipo de mundo vão viver, alterando a expressão dos genes. "O ADN não é só uma expressão de letras; não é só um guião." Diz Szyf. " O ADN é um filme dinâmico no qual a nossas experiência estão a ser escritas."

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
16:35

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