Porque é que transformei as casas abandonadas de Chicago em arte
-
0:01 - 0:04Eu adoro as cores.
-
0:05 - 0:08Reparo nelas em toda a parte
e em todas as coisas. -
0:10 - 0:12A minha família faz troça de mim
-
0:12 - 0:15porque eu gosto de usar cores
com nomes indescritíveis, -
0:15 - 0:17como "celadon"...
-
0:17 - 0:19(Risos)
-
0:19 - 0:20caqui...
-
0:21 - 0:22carmim.
-
0:24 - 0:28Se ainda não repararam
sou negra, obrigada. -
0:28 - 0:29(Risos)
-
0:29 - 0:31e quando crescemos
numa cidade segregada, -
0:31 - 0:33como eu cresci, como Chicago,
-
0:33 - 0:35somos condicionados a acreditar
-
0:35 - 0:38que a cor e a etnia
nunca se podem separar. -
0:39 - 0:42Dificilmente se passa um dia
-
0:42 - 0:45em que alguém
não nos lembre da nossa cor. -
0:47 - 0:51O racismo é a tonalidade vívida
da minha cidade -
0:52 - 0:57Todos concordamos que o racismo
é um fenómeno criado socialmente -
0:57 - 1:01mas é difícil vê-lo
na nossa existência quotidiana. -
1:01 - 1:03Invade todos os locais.
-
1:04 - 1:05Os bairros onde cresci
-
1:05 - 1:09estavam impregnados duma beleza
culturalmente codificada. -
1:09 - 1:13As principais galerias comerciais
tinham fachadas de cores vivas -
1:13 - 1:16que competiam pelos dólares
dos clientes negros. -
1:16 - 1:20A mistura visual das lojas de esquina
e os bonitos armazéns, -
1:20 - 1:22as casas de câmbio,
-
1:22 - 1:26foram onde eu, inconscientemente,
aprendi os princípios fundamentais -
1:26 - 1:31duma coisa que, mais tarde,
vim a saber que se chama a teoria da cor. -
1:33 - 1:36Lembro-me de me sentir intimidada,
na faculdade, por esta expressão -
1:36 - 1:38— teoria da cor.
-
1:38 - 1:40Todos aqueles tipos brancos, sufocantes,
-
1:40 - 1:44com os seus tratados
e terminologias obscuras. -
1:44 - 1:47Eu tinha de dominar cada uma
daquelas paletas de cores -
1:47 - 1:49e princípios associados.
-
1:51 - 1:55A teoria da cor reduz-se,
essencialmente, à arte e à ciência -
1:55 - 1:59de usar a cor para formar
composições e espaços. -
2:00 - 2:02Não é muito complicado.
-
2:03 - 2:07Foi esta a minha bíblia na faculdade.
-
2:07 - 2:12Josef Albers postulou uma teoria
sobre a cor vermelha -
2:13 - 2:15que nunca esqueci.
-
2:15 - 2:21Defende que a cor icónica
duma lata de Cola é o vermelho -
2:22 - 2:24e que, de facto, todos nós
concordamos que é o vermelho -
2:24 - 2:27mas os tipos de vermelho
que imaginamos -
2:27 - 2:31são tão variados como
o número de pessoas nesta sala. -
2:32 - 2:33Imaginem uma coisa assim.
-
2:33 - 2:37Esta cor que, conforme nos
ensinaram no pré-escolar, é primária -
2:37 - 2:39— vermelho, amarelo, azul —
-
2:39 - 2:41na verdade, não é primária,
-
2:41 - 2:43não é irredutível,
-
2:43 - 2:47não é objetiva, é muito subjetiva.
-
2:47 - 2:49O quê?
-
2:49 - 2:50(Risos)
-
2:50 - 2:53Albers chama-lhe "relacional".
-
2:55 - 2:56Relacional?
-
2:57 - 3:00Foi a primeira vez que eu pude ver
-
3:00 - 3:04o meu bairro como um contexto relacional.
-
3:04 - 3:09Cada cor é afetada pela cor sua vizinha.
-
3:10 - 3:14A outra cor é afetada
pela cor sua vizinha. -
3:18 - 3:20Nos anos 30,
-
3:20 - 3:23o governo dos EUA criou
-
3:23 - 3:26a Administração Federal da Habitação
-
3:26 - 3:28que, por sua vez, criou
uma série de mapas -
3:29 - 3:32que usavam um sistema
de codificação por cores -
3:32 - 3:34para determinar que bairros
-
3:34 - 3:38deviam ou não deviam receber
empréstimos federais para habitação. -
3:40 - 3:45O mapa de segurança de habitação
era um tipo de paleta de cores, -
3:45 - 3:50e, com efeito, foi mais influente
do que todas as paletas de cores -
3:50 - 3:52que eu tinha estudado na faculdade.
-
3:54 - 3:59Os bancos não emprestavam a pessoas
que viviam em bairros como o meu. -
4:00 - 4:02Esta sou eu em D86.
-
4:02 - 4:07Os cartógrafos estavam
a colorir estes mapas -
4:07 - 4:10e a rotular aquela cor "perigosa".
-
4:11 - 4:14O vermelho era o novo negro,
-
4:14 - 4:17e os bairros de negros eram "de cor".
-
4:20 - 4:22O problema continua ainda hoje
-
4:22 - 4:25e vimo-lo mais recentemente
na crise das penhoras. -
4:25 - 4:29Em Chicago, isso ficou mais bem
simbolizado com estes X -
4:29 - 4:32que estão gravados nas fachadas
das casas vagas -
4:32 - 4:34no South Side e no West Side.
-
4:36 - 4:41A realidade é que as paletas de cor
de não sei quem estavam a determinar -
4:41 - 4:45a minha existência física e artística.
-
4:46 - 4:48Ridículo.
-
4:48 - 4:51Decidi que ia criar
a minha paleta de cores -
4:51 - 4:54e falar com as pessoas
que vivem onde eu vivo -
4:54 - 4:58e alterar a forma como a cor
tinha sido definida para nós. -
4:58 - 5:01Não tive de procurar muito
para essa paleta -
5:01 - 5:03nem precisei de consultar nenhum tratado
-
5:03 - 5:05porque eu já a conhecia.
-
5:06 - 5:10Que tipo de pintura surge desta realidade?
-
5:14 - 5:16Qual é a cor que é urbana?
-
5:17 - 5:19Qual é a cor de um gueto?
-
5:20 - 5:22Qual é a cor do privilégio?
-
5:23 - 5:26Qual é a cor indicadora de um gangue?
-
5:26 - 5:29Qual é a cor da gentrificação?
-
5:30 - 5:32Qual é a cor de Freddie Gray?
-
5:34 - 5:36Qual é a cor de Mike Brown?
-
5:38 - 5:41Por fim, encontrei uma forma
-
5:41 - 5:44de ligar a minha compreensão
racial da cor -
5:44 - 5:47com a minha compreensão teórica da cor.
-
5:47 - 5:50E dei à luz o meu terceiro bebé:
-
5:50 - 5:52"Teoria Colorida".
-
5:52 - 5:54(Risos)
-
5:54 - 5:57A "Teoria Colorida" foi um projeto
artístico de dois anos -
5:57 - 6:02em que apliquei a minha paleta
de cores aos meus bairros, -
6:02 - 6:04à minha maneira.
-
6:07 - 6:10Se eu agora, descesse a 79.ª Street
-
6:10 - 6:12e perguntasse a 50 pessoas
-
6:12 - 6:17qual o nome do tom levemente
mais verde do azul turquesa, -
6:18 - 6:20olhariam para mim de esguelha.
-
6:20 - 6:21(Risos)
-
6:21 - 6:24Mas se eu disser:
"De que cor é o Ultra Sheen?" -
6:24 - 6:26aparece logo um sorriso,
-
6:26 - 6:30seguem-se histórias
da casa de banho das avós. -
6:30 - 6:34Ou seja, quem precisa de turquesa
se temos Ultra Sheen? -
6:34 - 6:37Quem precisa de azul turquesa
se temos Ultra Sheen? -
6:37 - 6:41Quem precisa de azul ultramar se temos...
-
6:41 - 6:43(Audiência): Ultra Sheen.
-
6:43 - 6:45(Risos)
-
6:45 - 6:48Foi exatamente assim
que eu constituí a minha paleta. -
6:49 - 6:52Perguntei a amigos e família
-
6:52 - 6:55e a pessoas com origens
semelhantes à minha -
6:55 - 6:57essas histórias e memórias.
-
6:57 - 6:59As histórias nem sempre eram felizes
-
6:59 - 7:03mas as cores sempre soavam
melhor do que o produto. -
7:04 - 7:07Levei essas teorias para a rua.
-
7:09 - 7:10turquesa "Ultra Sheen".
-
7:10 - 7:13"Óleo Hidratante Rosa".
-
7:14 - 7:17Se são de Chicago,
vermelhão "Frango Frito do Harold". -
7:17 - 7:19(Risos)
-
7:19 - 7:22amarelo "Passagem de Peões".
-
7:23 - 7:25"Pipocas cor de flamingo"
-
7:26 - 7:27azul "Loose Squares"
-
7:29 - 7:31sacos azuis de uísque Crown Royal.
-
7:35 - 7:37Pintei casas em vias de demolição
-
7:37 - 7:40numa área muito degradada
chamada Englewood. -
7:42 - 7:45Juntávamos tanta tinta
quanto podíamos enfiar na minha carrinha, -
7:45 - 7:48chamava os meus companheiros mais fiéis,
-
7:48 - 7:51o meu querido marido
sempre ao meu lado, -
7:51 - 7:55e pintávamos cada centímetro do exterior
de modo monocromático. -
7:56 - 8:00Eu queria perceber a escala
de um modo que não tinha percebido, -
8:00 - 8:05queria aplicar as cores à maior tela
que podia imaginar. -
8:05 - 8:06Casas.
-
8:07 - 8:11Percorri obcecadamente ruas
familiares onde eu tinha crescido. -
8:11 - 8:15Cruzava referências dessas casas
com o portal de dados da cidade -
8:15 - 8:18para assegurar que estavam
destinadas a demolição, -
8:18 - 8:21sem salvação, entregues à morte.
-
8:23 - 8:27Eu queria perceber o que significava
deixar que a cor dominasse, -
8:27 - 8:29confiar nos meus instintos,
-
8:29 - 8:31deixar de pedir autorização.
-
8:31 - 8:33Nada de reuniões com funcionários,
-
8:33 - 8:35nada de aquisição pela comunidade
-
8:35 - 8:38deixar apenas a cor dominar
-
8:39 - 8:43no meu desejo de pintar
imagens diferentes para o South Side. -
8:50 - 8:56Estas casas faziam um contraste gritante
com as suas homólogas ao lado. -
8:58 - 9:04Pintámo-las para elas sobressaírem
como peças do Monopólio -
9:04 - 9:06naqueles ambientes.
-
9:06 - 9:09Íamos aos domingos,
de manhã cedo -
9:09 - 9:14e continuávamos até ficarmos
sem tinta ou até alguém se queixar. -
9:19 - 9:21"Ei, foram vocês que pintaram aquilo?"
-
9:22 - 9:25perguntou-nos um condutor
quando eu estava a tirar esta foto. -
9:26 - 9:27E eu, nervosa:
-
9:27 - 9:29"Sim?"
-
9:29 - 9:31A cara dele mudou.
-
9:31 - 9:34"Oh, julgava que vinha aí o Prince".
-
9:34 - 9:36(Risos)
-
9:37 - 9:39Ele tinha nascido naquele quarteirão
-
9:39 - 9:41e, como imaginam,
quando ele por ali passou, -
9:41 - 9:43e viu uma das últimas casas
-
9:43 - 9:46mudar de cor misteriosamente
durante a noite -
9:46 - 9:49viu que, obviamente, não estava envolvida
nenhuma garrafa de "whiskey". -
9:49 - 9:52Devia ser um sinal secreto do Prince.
-
9:52 - 9:54(Risos)
-
9:55 - 9:59Embora aquele quarteirão
estivesse quase todo arrasado, -
10:00 - 10:06era a ideia de que o Prince
pudesse surgir em locais inesperados -
10:06 - 10:10e dar concertos gratuitos em áreas
que a indústria musical e a sociedade -
10:10 - 10:14tinham considerado
que já não tinham interesse. -
10:14 - 10:16Para ele,
-
10:17 - 10:21a ideia de que a imagem daquela casa
-
10:22 - 10:25era suficiente para atrair o Prince
-
10:25 - 10:27significava que isso era possível.
-
10:27 - 10:28Naquele momento,
-
10:29 - 10:33aquele pedaço de Eggleston
tinha-se tornado sinónimo de realeza. -
10:33 - 10:35E, embora brevemente,
-
10:35 - 10:39o bairro de Eric Bennett
tinha reconquistado o seu valor. -
10:40 - 10:43Então, trocámos histórias,
apesar de sermos estranhos, -
10:43 - 10:45sobre os liceus onde tínhamos andado
-
10:45 - 10:47e onde tínhamos crescido
-
10:47 - 10:49e a confeitaria de sicrano e beltrano
-
10:49 - 10:52— quando éramos miúdos em South Side,
-
10:53 - 10:54Depois de eu revelar
-
10:54 - 10:57que este projeto não tinha
nada a ver com o Prince, -
10:57 - 10:59Eric abanou a cabeça, parecendo concordar
-
10:59 - 11:03e, quando nos separámos
e ele seguiu caminho, disse: -
11:03 - 11:05"Mesmo assim, ele podia vir!"
-
11:05 - 11:07(Risos)
-
11:07 - 11:12Tinha assumido total posse deste projeto
-
11:12 - 11:14e não estava disposto a abdicar dele,
-
11:14 - 11:16mesmo sendo eu a autora.
-
11:16 - 11:19Para mim, isso foi um êxito.
-
11:21 - 11:26Gostava de poder dizer
que este projeto transformou o bairro -
11:26 - 11:29e todos os indícios
em que gostamos de nos apoiar: -
11:29 - 11:34— mais empregos, menos crimes,
fim do alcoolismo — -
11:34 - 11:37mas, na verdade, o panorama
é mais sombrio. -
11:37 - 11:40A "Teoria Colorida"
catalisou novas conversas -
11:40 - 11:43sobre o valor da negritude.
-
11:44 - 11:48A "Teoria Colorida" tornou visível,
de forma inconfundível, -
11:48 - 11:51as perguntas desconfortáveis
-
11:51 - 11:54que as instituições e os governos
têm de fazer a si mesmos -
11:54 - 11:56sobre porque é que fazem o que fazem.
-
11:56 - 12:02Também levantam perguntas difíceis
sobre mim mesma e os meus vizinhos, -
12:02 - 12:04sobre os nossos sistemas de valores
-
12:04 - 12:08e qual deve ser o nosso caminho
para uma ação coletiva. -
12:09 - 12:14A cor deu-me liberdade duma forma
que não precisou de esperar autorização -
12:14 - 12:17nem afirmação, nem inclusão.
-
12:17 - 12:22A cor era uma coisa
que eu podia dominar. -
12:22 - 12:26Um dos membros do bairro
e da equipa de pintura disse-o melhor: -
12:27 - 12:29"Isto não alterou o bairro,
-
12:30 - 12:33"alterou a perceção das pessoas
quanto ao que é possível para o bairro". -
12:33 - 12:35De formas pequenas e grandes.
-
12:36 - 12:39Quem passava perguntava-me:
"Porque é que estão a pintar aquela casa -
12:39 - 12:41"se sabem que a cidade
vai deitá-la abaixo?" -
12:41 - 12:44Na altura, eu não tinha a mínima ideia,
-
12:44 - 12:46só sabia que tinha de fazer
qualquer coisa. -
12:46 - 12:51Eu daria tudo para compreender
melhor a cor, enquanto um meio -
12:51 - 12:56e enquanto uma forma inevitável
de que eu me identificava na sociedade. -
12:57 - 13:00Se eu tenho esperança
de tornar o mundo melhor, -
13:00 - 13:05tenho de amar e influenciar
estas formas de ser entendida, -
13:05 - 13:09e é aí que reside o valor e o tom.
-
13:09 - 13:10Obrigada.
-
13:10 - 13:14(Aplausos)
- Title:
- Porque é que transformei as casas abandonadas de Chicago em arte
- Speaker:
- Amanda Williams
- Description:
-
Nesta palestra cheia de força e de arte, Amanda Williams conta o seu fascínio de toda a vida pela complexidade da cor: da sua experiência com a etnia e
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 13:30
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