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Os nossos filhos irão amanhã para escolas eugenistas? | Laurent Alexandre | TEDxParis

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    Bom dia.
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    A escola de 2014 é tão arcaica
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    como a medicina de 1750.
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    (Aplausos)
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    A escola não evolui há séculos.
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    Há umas pequenas diferenças.
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    No meu tempo, o quadro era negro,
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    hoje é branco.
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    (Risos)
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    Este imobilismo da escola
    é hoje insustentável
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    por três razões.
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    A primeira é que começou
    a Guerra dos Cérebros.
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    Quisemos uma economia do conhecimento.
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    Já a temos!
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    Numa economia do conhecimento,
    o único carburante é o neurónio,
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    a inovação, o quociente intelectual.
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    No mundo dos algoritmos,
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    criam-se terríveis desigualdades
    entre as pessoas
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    mais inovadoras e mais dotadas
    e as pessoas menos dotadas.
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    Um exemplo perfeitamente caricatural
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    resume bem esta situação.
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    WhatsApp, 55 assalariados,
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    quatro anos de existência,
    vale 19 mil milhões!
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    A Peugeot, mais de cem anos,
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    mais de 100 000 assalariados,
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    vale 12 mil milhões de dólares!
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    55 pequenos génios de quociente
    intelectual estratosférico
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    criam mais valor económico
    em quatro anos
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    do que mais de 100 000 assalariados
    numa empresa com mais de cem anos!
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    A segunda razão por que o statu quo
    é totalmente insustentável
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    é que, depois de um arranque
    falhado nos anos 60,
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    a robótica e a inteligência artificial
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    chegam agora à maturidade.
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    O neurónio tem 550 milhões de anos.
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    O transístor: 60 anos.
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    O transístor e o microprocessador
    são 10 milhões de vezes mais novos
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    do que os nossos neurónios.
  • 2:47 - 2:50
    Dentro de 40 anos,
    ou qualquer coisa assim,
  • 2:50 - 2:54
    o transístor terá ultrapassado
    as capacidades do cérebro biológico.
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    Esta corrida está perdida.
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    Entre o ENIAC, no final da guerra,
    fundado pelo genial Turing,
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    e as suas 350 operações por segundo,
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    e o TN2, que faz
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    33 mil biliões de operações por segundo,
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    e, conforme previsto para 2019, um milhão
    de biliões de operações por segundo,
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    há um salto extraordinário.
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    Esta explosão da potência informática
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    permite hoje o aparecimento
    duma robótica de segunda geração,
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    de que a Google é o líder mundial,
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    a Google que adquiriu oito das melhores
    empresas de robótica mundiais.
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    A Google Car é, aliás,
    uma forma especial de robô.
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    O Silicon Valley está muito otimista
    quanto à inteligência artificial.
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    Ray Kurzweil,
    o engenheiro-chefe da Google,
  • 3:51 - 3:54
    explica-nos que, em 2045,
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    a inteligência artificial
    será mil milhões de vezes mais potente
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    do que a reunião nos nossos
    oito mil milhões de cérebros.
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    Dentro de 30 anos!
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    Isso alarma muita gente.
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    Bill Gates, que não é conhecido
    por dizer piadas,
  • 4:13 - 4:16
    calcula que, em 2035,
    ou seja, dentro de 20 anos,
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    tão perto de nós como a morte
    de François Mitterrand,
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    metade das profissões serão
    substituídas pelos autómatos inteligentes,
  • 4:23 - 4:26
    saídos da fusão da inteligência
    artificial com a robótica.
  • 4:28 - 4:29
    Cita mesmo as enfermeiras
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    que, segundo prevê. serão
    substituídas por autómatos,
  • 4:33 - 4:35
    nessa data.
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    Começa a surgir um imenso medo.
  • 4:40 - 4:44
    O ensino não está adaptado
    a permitir que as crianças lutem
  • 4:45 - 4:48
    frente aos autómatos da segunda geração.
  • 4:50 - 4:55
    A terceira razão pela qual
    o statu quo é impensável na escola,
  • 4:56 - 4:58
    é que a sociedade de amanhã
  • 4:58 - 5:01
    deixará de aceitar as desigualdades
    do quociente intelectual.
  • 5:03 - 5:05
    Em média, nesta sala,
  • 5:05 - 5:08
    devem ter 130 de quociente intelectual.
  • 5:09 - 5:11
    A média francesa é 100.
  • 5:12 - 5:14
    Toda a gente considera isso normal.
  • 5:14 - 5:17
    Na realidade, é intolerável.
  • 5:19 - 5:24
    As desigualdades de quociente intelectual
    são a última das grandes desigualdades,
  • 5:24 - 5:27
    muito mais do que
    as diferenças de dinheiro.
  • 5:28 - 5:32
    As diferenças intelectuais
    são a mãe de todas as desigualdades.
  • 5:33 - 5:35
    Entre as pessoas mais dotadas
    e as menos dotadas,
  • 5:36 - 5:39
    há 14 anos de diferença
    na esperança de vida,
  • 5:39 - 5:42
    um fosso de receitas de 1 para 15,
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    imensas diferenças de categorias sociais,
  • 5:45 - 5:47
    de diplomas e de acesso à cultura.
  • 5:49 - 5:53
    Em 1750, aceitava-se que uma criança pobre
    morresse na rua, sem cuidados.
  • 5:54 - 5:55
    Hoje, isso é intolerável.
  • 5:55 - 6:00
    Hoje aceitamos desigualdades
    enormes de capacidades intelectuais.
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    A sociedade do futuro já não as aceitará.
  • 6:05 - 6:09
    Em definitivo, a revolução das NBIC,
  • 6:09 - 6:13
    ou seja, das nanotecnologias,
    das biotecnologias, da informática,
  • 6:13 - 6:16
    e da tecnologia cognitiva,
    ou seja, da inteligência artificial,
  • 6:16 - 6:19
    das neurociências e da robótica,
  • 6:21 - 6:23
    estão em vias de transtornar a sociedade
  • 6:23 - 6:26
    e de transtornar o mercado de trabalho.
  • 6:28 - 6:31
    A escola, tal como a conhecemos hoje,
  • 6:31 - 6:33
    está totalmente desqualificada
  • 6:33 - 6:37
    para permitir aos nossos filhos
    lutar num mundo
  • 6:37 - 6:39
    em que autómatos inteligentes
    estarão omnipresentes
  • 6:39 - 6:41
    nas próximas décadas.
  • 6:48 - 6:51
    O que é que a sociedade vai fazer?
  • 6:51 - 6:54
    O que é que a sociedade vai decidir?
  • 6:58 - 7:02
    Na minha opinião, a sociedade
    vai exigir que a escola utilize
  • 7:02 - 7:05
    todos os recursos das tecnologias NBIC
  • 7:05 - 7:07
    para responder a estes desafios.
  • 7:09 - 7:13
    Amanhã, a escola vai utilizar MOOC,
  • 7:13 - 7:16
    ou seja, um ensino "online"
    de segunda geração,
  • 7:17 - 7:19
    das tecnologias de reforço cerebral,
  • 7:19 - 7:21
    a que chamamos "neuroenhancement".
  • 7:23 - 7:25
    Aceitará a dopagem legal.
  • 7:26 - 7:29
    Aceitará, no futuro,
    implantes intracerebrais
  • 7:29 - 7:31
    para nos melhorar.
  • 7:31 - 7:34
    Aceitará a eugenia intelectual
  • 7:35 - 7:37
    através da seleção dos embriões.
  • 7:40 - 7:43
    No mundo de amanhã,
  • 7:43 - 7:46
    o ensino já não se ocupará do saber,
  • 7:46 - 7:49
    o ensino ocupar-se-á do cérebro.
  • 7:51 - 7:55
    Teremos uma fusão entre
    o ensino da medicina, a informática,
  • 7:55 - 7:57
    a genética e as neurociências.
  • 7:58 - 8:02
    O professor será um "neuro-hacker".
  • 8:05 - 8:07
    Vá lá, que ainda há trabalho!
  • 8:07 - 8:08
    (Risos)
  • 8:09 - 8:11
    O professor será um "neuro-cultivador".
  • 8:17 - 8:22
    Esta aproximação entre o ensino
    e a escola vai tornar-se natural.
  • 8:24 - 8:28
    E o ensino começará antes do nascimento.
  • 8:31 - 8:35
    O cérebro é um órgão extraordinário,
    muito plástico.
  • 8:35 - 8:38
    O ambiente, a escola, o estímulo,
  • 8:38 - 8:42
    são fundamentais para desenvolver
    a nossa cablagem neuronal e sináptica.
  • 8:43 - 8:47
    Infelizmente, a parte genética
    das nossas capacidades intelectuais
  • 8:47 - 8:49
    é importante.
  • 8:49 - 8:52
    Um pouco mais importante
    do que imaginava há anos.
  • 8:52 - 8:54
    Os estudos recentes, como aquele,
  • 8:54 - 8:58
    tendem a demonstrar que cerca de 60%
    das nossas capacidades intelectuais
  • 8:58 - 8:59
    são de origem genética,
  • 8:59 - 9:02
    enquanto que só um terço
    está ligado à influência familiar,
  • 9:02 - 9:06
    ao ambiente educativo e à escola.
  • 9:08 - 9:13
    O Silicon Valley, como é costume,
    vai na frente deste combate,
  • 9:13 - 9:16
    para o melhor ou para o pior.
  • 9:18 - 9:23
    Vemos ali a patente registada
    pela 23andMe, filial genómica da Google,
  • 9:23 - 9:27
    dirigida pela ex-mulher de Sergeï Brin,
    um dos fundadores da Google,
  • 9:27 - 9:34
    para o bebé por medida
    e a seleção genética dos gâmetas,
  • 9:34 - 9:38
    para fazer bebés mais bonitos.
  • 9:41 - 9:44
    É tanto mais preocupante
    em relação às normas morais,
  • 9:44 - 9:48
    que a China lançou um grande programa
    de sequenciação dos superdotados,
  • 9:48 - 9:51
    dirigido por um superdotado,
    que estão a ver naquela foto
  • 9:51 - 9:54
    com o objetivo declarado
    na imprensa internacional.
  • 9:54 - 9:56
    de utilizar esses resultados
  • 9:56 - 10:00
    para aumentar o quociente intelectual
    médio dos chineses, no século XXI.
  • 10:01 - 10:05
    Será que a sociedade vai resistir
    a utilizar essas tecnologias?
  • 10:06 - 10:10
    Sabemos que Bostrom,
    a universidade inglesa,
  • 10:11 - 10:13
    demonstrou que, com estas técnicas,
  • 10:13 - 10:15
    pode-se aumentar 60 pontos,
    num primeiro tempo,
  • 10:15 - 10:18
    depois 120 pontos num segundo tempo,
  • 10:18 - 10:20
    o quociente intelectual médio de um país,
  • 10:20 - 10:23
    o que fará de Bill Gates
    e de Jacques Attail
  • 10:23 - 10:26
    pessoas dentro da média
    numa primeira fase
  • 10:27 - 10:30
    e deficientes intelectuais,
    em relação às normas dessa época,
  • 10:30 - 10:32
    numa segunda fase.
  • 10:35 - 10:39
    Claro que tudo isto parece-nos
    muito longe da nossa existência.
  • 10:39 - 10:42
    A eugenia não é para nós!
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    No entanto, já pusemos um grão
    na engrenagem da eugenia.
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    Nós já somos eugenistas.
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    Nós já estamos numa civilização eugenista.
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    No nosso país,
    97% das crianças trissómicas
  • 10:57 - 10:59
    são despistadas e são abortadas.
  • 10:59 - 11:03
    Só um em 30 trissómicos
    sobrevive à despistagem.
  • 11:06 - 11:09
    Nos EUA, 28% dos americanos
  • 11:10 - 11:14
    confessam-se dispostos a utilizar
    as técnicas da digitalização genética
  • 11:14 - 11:16
    para ter bebés mais inteligentes.
  • 11:18 - 11:21
    Que farão os pais dos 72% restantes?
  • 11:25 - 11:27
    Mas a transgressão não termina aí.
  • 11:27 - 11:30
    O Silicon Valley está pronto
    para ir ainda mais longe.
  • 11:34 - 11:37
    Foi Ray Kurzweil, sempre ele,
    o engenheiro-chefe da Google,
  • 11:37 - 11:41
    que nos explicou em março passado
    em Vancouver, na TED,
  • 11:42 - 11:46
    que, em 2035, dentro de 20 anos,
    teremos implantes intracerebrais
  • 11:46 - 11:49
    para nos ligarmos mais depressa
    ao conhecimento
  • 11:49 - 11:50
    e sermos mais inteligentes.
  • 11:50 - 11:53
    E preveniu-nos que é preciso
    que nos preparemos
  • 11:53 - 11:55
    para ter um pensamento híbrido,
  • 11:55 - 11:58
    uma mistura do nosso cérebro biológico
  • 11:58 - 12:04
    e da inteligência artificial
    ligada ao nosso córtex.
  • 12:05 - 12:11
    Isto cria uma perturbação
    nas normas morais e políticas.
  • 12:13 - 12:15
    É o fim da humanidade 1.0,
  • 12:16 - 12:19
    e, para retomar a expressão
    do dirigente da Google,
  • 12:19 - 12:21
    a chegada duma humanidade 2.0.
  • 12:24 - 12:29
    Tudo isto poderá levar
    a uma nova neuroditadura,
  • 12:29 - 12:31
    a um neuropesadelo.
  • 12:33 - 12:36
    É por isso que, se a escola NBIC de amanhã
  • 12:37 - 12:40
    utilizar sem dúvida,
    ao lado dos professores,
  • 12:40 - 12:42
    engenheiros educativos,
  • 12:42 - 12:45
    neurocientistas e geneticistas,
  • 12:45 - 12:48
    é preciso sobretudo que haja
    neuroeticistas,
  • 12:48 - 12:51
    cientistas éticos do cérebro,
  • 12:52 - 12:58
    para impedir que o neuroensino
    não se torne uma neuromanipulação.
  • 13:02 - 13:04
    O que fazer?
  • 13:04 - 13:06
    Não sei.
  • 13:07 - 13:10
    O que devemos fazer?
  • 13:11 - 13:13
    Não sei.
  • 13:15 - 13:17
    Mas tenho duas convicções.
  • 13:18 - 13:21
    A primeira é que não impediremos
    Silicon Valley
  • 13:21 - 13:24
    de fabricar máquinas
    mais inteligentes do que nós.
  • 13:26 - 13:29
    Como diz Sergeï Brin,
    o cofundador da Google,
  • 13:29 - 13:32
    faremos máquinas
    que raciocinam, que pensam
  • 13:32 - 13:35
    e que fazem coisas melhor do que nós.
  • 13:35 - 13:38
    Nesse quadro,
  • 13:39 - 13:41
    será que vamos deixar
  • 13:41 - 13:44
    que as pessoas com capacidades
    cognitivas médias ou modestas
  • 13:45 - 13:49
    sejam totalmente ultrapassadas
    face aos autómatos de segunda geração,
  • 13:50 - 13:54
    saídos da fusão da inteligência artificial
    com a robótica?
  • 13:55 - 13:57
    Não creio que isso seja possível.
  • 13:58 - 14:00
    A minha segunda convicção
  • 14:01 - 14:04
    é que, se decidirmos
    coletiva e politicamente,
  • 14:04 - 14:06
    nos anos e nas décadas que vierem,
  • 14:06 - 14:09
    bloquear as tecnologias
    que permitem reduzir
  • 14:09 - 14:11
    as desigualdades do quociente intelectual,
  • 14:11 - 14:15
    seremos julgados muito severamente
    pelas gerações futuras.
  • 14:18 - 14:20
    Na realidade,
  • 14:21 - 14:25
    somos todos terríveis neuroconservadores
  • 14:25 - 14:28
    que se satisfazem muito bem
  • 14:28 - 14:31
    com as intoleráveis desigualdades
    do quociente intelectual.
  • 14:32 - 14:33
    Muito obrigado.
  • 14:33 - 14:37
    (Aplausos)
Title:
Os nossos filhos irão amanhã para escolas eugenistas? | Laurent Alexandre | TEDxParis
Description:

A escola deverá ser eugenista? Estará condenada a integrar o desenvolvimento das neurociências para se adaptar à guerra dos cérebros em preparação e reduzir as desigualdades crescentes e futuras do QI?

Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx

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Video Language:
French
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
14:49

Portuguese subtitles

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