Refugiados são pessoas normais,
assim como você, assim como eu.
Nunca pensei que me tornaria
uma refugiada.
Quando a guerra começou na Síria,
tudo virou de cabeça pra baixo.
Não existia esperança.
Não existia futuro.
Quando meu pai viu que não poderíamos
ir à escola devidamente,
que não teríamos as necessidades básicas,
que ele não poderia
trabalhar como professor,
ele decidiu deixar nossa casa
e ir para a Jordânia viver
num campo de refugiados.
Não tínhamos escolha.
Mas, definitivamente,
eu estava muito triste.
Eu chorava o tempo todo.
Eu não queira deixar a minha casa,
deixar tudo para trás:
meus amigos, meus familiares,
o país onde nasci,
especialmente minha escola.
Achava que não poderia
continuar minha educação
num lugar como um campo de refugiados.
E quando meu pai disse:
"Não traga coisas pesadas com você.
Leve apenas as coisas
mais importantes de que precisamos",
eu não o escutei.
Peguei meus livros da escola.
Não levei nada comigo
para o campo de refugiados,
apenas meus livros.
Quando estávamos a caminho da Jordânia -
e tivemos que caminhar por três horas
para chegar na fronteira com a Jordânia -
meu pai me viu.
Eu estava lutando
para carregar minha bolsa.
Ele disse: "Deixe-me carregar a bolsa.
Você não consegue carregá-la".
Quando ele pegou minha bolsa, disse:
"Está muito pesada. O que você trouxe?"
Eu disse: "Eu trouxe meus livros".
Ele apenas disse: "Você é louca".
(Risos)
"Por que você trouxe seus livros?
Você não precisa deles."
Eu disse ao meu pai: "Se eu não encontrar
uma escola no campo de refugiados,
vou estudar com estes livros.
Estes livros são meu poder.
Estes livros são meu futuro".
Após nossa chegada ao campo refugiados,
foi muito difícil lidar com a vida ali,
começar em um lugar novo,
onde não havia eletricidade,
viver em uma tenda, em um lugar
completamente diferente da Síria.
A Síria era diferente do campo.
E a primeira pergunta que fiz ao meu pai
não foi sobre sair do campo
ou ter uma vida melhor,
apenas perguntei: "Onde é a escola?"
Quando ele descobriu que havia uma escola,
aquele momento mudou minha vida,
e eu percebi que todos
os desafios não eram nada
em frente a ter o direito à educação.
Primeiro dia, fui para a escola,
e eu estava emocionada
de voltar para a escola
e ter o meu conhecimento,
pois acredito na educação.
Mas, infelizmente,
vi muitas garotas e crianças
que não acreditam em educação,
pensam que educação não é prioridade,
não é o melhor caminho para o futuro.
Naquele momento,
como considero a educação
realmente importante,
e a considero importante para todos,
disse a mim mesma
para começar minha missão
de encorajá-las a voltar à escola.
Quando eu ia de tenda em tenda
para falar às pessoas
sobre a importância da educação,
me diziam: "Não é seu trabalho
nos falar ou avisar sobre isso".
Mas elas me deram
uma motivação ainda mais forte.
Quando essas pessoas
que não me escutavam me diziam isso,
ainda havia algo a fazer
porque eu acredito na educação.
A educação é o caminho
para enfrentarmos desafios.
E é o caminho que pode
reconstruir nossos países.
Precisamos de uma geração forte:
uma geração que possa ser educada,
e não apenas ser chamados de refugiados.
Queremos ser números exatos,
não apenas números na mídia,
ou ser apenas refugiados.
Queremos que os refugiados
tenham outros nomes:
que sejam doutores, engenheiros,
professores, sejam o que quiserem.
Infelizmente, a maioria das pessoas
acha que refugiados precisam
apenas das necessidades básicas.
Mas não é verdade.
Nós precisamos de coisas mais valiosas.
Precisamos de educação.
É algo que pode fazer de mim uma pessoa.
E a educação é o que pode nos dar tudo.
Depois de três anos morando no campo
e falando em favor das crianças,
fiquei muito conhecida
como defensora da educação delas
e tive a oportunidade
de vir ao Reino Unido.
Eu estava muito feliz de vir para cá,
começar uma vida nova,
pensar mais sobre minha educação.
Mas não parei de lutar pelos outros.
Sim, isso é ótimo.
Vou à escola, tenho oportunidades aqui
e posso continuar meus estudos.
Mas não posso ser completamente feliz
sem ver todas as crianças
com acesso à educação.
Vou fazer tudo que estiver ao meu alcance
para ajudá-las a serem ouvidas.
Aquelas pessoas que estão sofrendo,
que vivem em campos de refugiados,
elas não escolheram virar refugiados.
Não é culpa delas.
Não é algo que elas fizeram,
mas a situação difícil,
as circunstâncias difíceis
as forçaram a serem refugiados e sofrerem.
Não importa quem você é
ou qual a sua idade,
o mais importante é ter educação,
ter conhecimento, lutar por seus direitos.
Uma arma como a educação pode
nos dar tudo o que queremos.
Podemos fazer a diferença
e fazer nossas vidas muito melhores.
Não estou falando a vocês hoje
por ser melhor que as outras pessoas
ou por ser especial.
Não, não é verdade.
Estou aqui hoje porque tenho mais
responsabilidades que as outras pessoas.
Quando você fala em favor dos outros,
significa que tem que ser forte suficiente
para fazer a voz deles ser ouvida,
e contar às pessoas sobre seu sofrimento.
Vejam como vocês têm sorte.
Todos que estão me ouvindo hoje
talvez pensem que nossas vidas
não importam, que sofremos
e não queremos ir para a escola.
Por exemplo, eu não posso fazer nada,
mas apenas olhe para as pessoas
que não tem educação,
que estão sofrendo para ter
acesso ao conhecimento.
Vocês têm escolas, têm professores,
têm amigos;
mas outras pessoas não têm.
Temos que nos levantar com elas
e dar a elas oportunidades.
Não é algo fácil a se fazer.
É muito difícil, mas não é impossível.
Temos apenas que começar.
Pessoalmente, posso espalhar minha voz,
posso contar minha história a vocês,
e não é apenas dar uma lição
sobre a importância da educação.
Todos nós sabemos
a importância da educação
e sabemos que a educação é o caminho
para construirmos nosso futuro.
Especialmente as pessoas aqui,
elas sabem essas coisas,
mas o mais importante que elas devem saber
é pensar sobre isso
depois de ir para casa.
Não queremos fazer este evento
apenas para falar e depois esquecer.
Temos que ir para nossas casas
e ensinar nossas crianças
e dar a elas mais esperança
e deixá-las amar umas às outras
e aceitar os outros.
Os refugiados não queriam
deixar suas casas,
então quando os aceitamos,
quando damos oportunidades a eles,
naquele momento, podemos
torná-los fortes o suficiente
para reconstruírem seus países.
Isso é o que devemos fazer.
É fácil falar sobre pessoas,
mas é difícil ajudá-las.
E eu, sozinha, não posso fazer nada.
Cada pessoa nesta sala pode nos ajudar,
pode nos dar mais oportunidades.
Quando você está conosco,
quando você nos ama,
nós podemos te ajudar
e você pode nos ajudar.
Não podemos apenas ouvir a mídia
ou não pensar sobre os refugiados
e suas dificuldades.
Precisamos saber essas coisas,
que são as mais importantes.
E para mim eu, como a voz agora
e como a mais jovem Embaixadora
da Boa Vontade da UNICEF,
tenho grandes responsabilidades.
É maravilhoso ser embaixadora,
mas também é um longo caminho a percorrer
para ajudar outras crianças
a ter acesso a educação
e dar a elas conhecimento,
que traz estabilidade
e habilidades para seu futuro.
E, como disse, não importa quem você é,
nós temos, todos nós, que trabalhar juntos
e ter solidariedade.
Não ganhamos quando nos odiamos,
mas ganhamos quando nos amamos,
quando estamos juntos
e amplificamos nossas vozes
e damos esperança àqueles que não têm.
É uma responsabilidade
para todos nós, hoje e todos os dias.
Vamos começar hoje.
Não podemos ter a mudança amanhã
sem realmente começar agora.
Agora é o momento
que pode mudar nossas vidas.
Depende de você e de todos
que estão ouvindo agora.
É responsabilidade de todos nós
fazer a paz mundial.
Conhecer uns aos outros
é uma coisa maravilhosa.
E educação é o nosso caminho
para fazer do mundo um lugar melhor
e sermos mais forte.
Não podemos ser mais fortes sem educação.
Nossa educação nos faz ser quem somos,
quem queremos ser.
E todos nós importamos.
Não precisa ser grande para começar;
mas precisa começar para ser grande.
E naquele momento, você pode construir
vidas melhores para os outros.
E, com vocês hoje, espero que todos nós
possamos estar juntos, fazer algo
e pensar profundamente
sobre aqueles que sofrem,
pois eles realmente precisam de nós.
Eles não precisam de nós
quando estão felizes em seus países.
Precisam de nós nos momentos difíceis,
quando estão sofrendo e não têm esperança.
E isso depende de vocês:
dar esperança a eles, vamos começar hoje.
Muito obrigada.
(Aplausos) (Vivas)