[JES FAN]
Quando você os vê,
ficam grudados na sua mente.
Principalmente pensando neles como
uma das primeiras poucas representações
da pessoa chinesa, como tema.
Há um missionário médico
chamado Peter Parker,
que viajou para Cantão para realizar
a incisão cirúrgica em tumores
no início do século XIX.
Lam Qua era um célebre
pintor daquela época.
Era famoso principalmente
por pintar retratos.
Mas acho que Lam Qua também era famoso
pela sua precisão ao pintar seus modelos.
Ele é conhecido por uma citação que diz:
"O que o olho não vê, não pode fazer."
Há algo de "chinesíssimo" aqui.
Como "chinesíssimo" se tornou uma palavra?
Quais são as tecnologias envolvidas
na criação da ideia do outro?
Por que o ombro precisa ficar nu?
Como a trança de cabelo é colocada.
É tão sedutor, e me pergunto
se esse tipo de sedução
tem que vir de uma forma
que você veja o modelo
como um humano familiar.
"JES FAN: BELEZA INFECTA"
Acho que isso me fez tentar entender
a ideia de beleza e sedução.
Acho que meu trabalho
tem muito a ver com sedução.
Hoje em dia, a beleza é muito plana.
Só se pode expressar
uma emoção na mídia social,
que é o coraçãozinho, não é?
É só um formato de coração.
Quando algo é bonito,
é só um simples coração.
Mas quando você pensa
em beleza no passado,
é a beleza e o sublime.
Tem que vir com essa suspensão, esse medo.
Também significava, no passado,
descrever algo que era tão bonito,
que quase fazia você querer vomitar.
[Risos]
Eu cresci em Hong Kong.
É muito opressor, ser queer lá.
Não nos vemos representado na sociedade,
nem ao menos vemos...
queers adultos e felizes,
ou queers adultos em geral.
É como não conseguir ver
um futuro para si mesmo.
Vivi anos muito difíceis enquanto crescia,
tentando descobrir quem eu posso ser.
[ÁUDIO DE NOTICIÁRIO]
Notícias de Hong Kong,
onde o governo invocou
poderes emergenciais durante a noite,
proibindo o uso de máscaras
em manifestações públicas.
As máscaras tornaram-se
uma preciosidade durante a pandemia.
Esse foi o caso em Hong Kong
há alguns meses,
mas os estoques foram recuparados.
[JES FAN]
Vamos tentar colocar isto e vermos.
Tenho pensado muito nisso,
desde que os protestos em Hong Kong...
foram cauterizados pelo vírus.
As mudanças de máscaras diferentes,
de papel para bacterianas,
mas elas significam
um movimento social tão diferente.
Há algo sobre aquela proteção
e a necessidade
de melhorar cada vez mais;
esse é o próximo passo da evolução,
se tornando cada vez mais autônomo
e impedido de descamar
sua microesfera para os outros.
Eu estava pensando
sobre a máscara protética,
para te selar completamente
e te permitir ser o indivíduo perfeito.
É como se você fosse
sua própria atmosfera.
[JULIE WOLF]
Pelo que entendi da peça,
você a faz de vidro,
com um certo formato.
Então você adiciona melanina à peça,
e a preenche com silicone no final, certo?
[FAN]
Isso.
[WOLF]
Queremos fazer melanina.
Vamos fazer a forma física final.
Isto se chama levodopa.
Neste caso, a levodopa
é uma molécula muito instável.
Se você a expõe à luz
ou à temperatura ambiente,
ela vai começar a fazer algo
chamado autopolimerização.
Vai começar a fazer um polímero,
que é uma subunidade repetida,
que vai se ligar àquela melanina.
Então, o que vamos fazer
é criar as condições
mais instáveis possíveis para a levodopa,
assim podemos ignorar o processo biológico
e passar diretamente à melanina.
Não é tão escuro,
mas dá para ver que há flocos lá dentro.
[FAN]
Que doido, elas são quentes.
[WOLF]
Sim.
[FAN]
Seria ótimo se elas fossem...
algo que você pudesse
identificar ou provocar,
e torcer para que sejam.
Porque as placas
que você me deu com E. coli,
são idênticas ao mofo.
Então esperemos que elas cresçam felizes,
e se tornem mais viscosas, sabe?
Muito do que estou tentando fazer
com o que consideramos
materias generificados,
ou materiais racializados,
é muito, muito absurdo.
É como um programa de culinária.
Tenho sêmen, sangue,
melanina e o xixi.
[Risos]
Na época eu estava pensando muito
sobre como a raça,
principalmente nos EUA,
é vista como infecciosa.
Pense na China e no coronavírus.
Pense na SARS, estando em Hong Kong.
E pense na Era Jim Crow,
o não-compartilhamento da água.
Aquela ideia de estar sendo infectado.
Atualmente, na Ásia, a beleza é suave,
não tem arestas, não respulsa.
Tem uma coisa de...
fazer isso está subvertendo
esse equilíbrio,
está mostrando o trabalho que dá
conseguir essa suavidade.
E assim, ela se parece
com esses círculos infectos.
Mas então, os materiais
que estão nessas formas bulbosas
são sêmen decaindo.
Acho isso muito engraçado.
[Risos]
É muito sobre formas se encaixando,
e de alguma forma evocando
uma sensação dessa estranheza,
mas ao mesmo tempo tão erótica,
que você não pode evitar.
Mas para ser atraído para isso,
essa eroticidade
te seduz.
É beleza no brilho,
e a possibilidade de ver
seu próprio reflexo nele.
Ao mesmo tempo, você está olhando
para algo que te repulsa,
que é considerado infecto ou sujo.
Meu terapeuta diz que estou
tão familiarizado com a opressão,
que o perigo, o risco e a opressão
fazem me sentir em casa.
Então me escravizo no estúdio.
Ou me privo do prazer,
porque, como queer,
não estou sendo oprimido aqui.
[Risos]
Então agora oprimo a mim mesmo.
Porque não posso voltar, se eu fracassar.