[Script Info] Title: [Events] Format: Layer, Start, End, Style, Name, MarginL, MarginR, MarginV, Effect, Text Dialogue: 0,0:00:07.18,0:00:10.61,Default,,0000,0000,0000,,Imaginem uma brilhante\Nneurocientista chamada Mary. Dialogue: 0,0:00:11.15,0:00:13.83,Default,,0000,0000,0000,,Mary vive num quarto preto e branco, Dialogue: 0,0:00:13.95,0:00:16.22,Default,,0000,0000,0000,,só lê livros a preto e branco, Dialogue: 0,0:00:16.34,0:00:20.19,Default,,0000,0000,0000,,e os ecrãs que têm são só\Na preto e branco. Dialogue: 0,0:00:20.58,0:00:25.91,Default,,0000,0000,0000,,Apesar de nunca ter visto cores,\NMary é uma especialista na visão a cores Dialogue: 0,0:00:26.16,0:00:30.18,Default,,0000,0000,0000,,e sabe tudo que já foi descoberto\Nsobre isso, na Física e na Biologia. Dialogue: 0,0:00:31.22,0:00:33.65,Default,,0000,0000,0000,,Sabe como as diferentes\Nondas de comprimento da luz Dialogue: 0,0:00:33.65,0:00:36.84,Default,,0000,0000,0000,,estimulam três tipos\Nde células cónicas na retina Dialogue: 0,0:00:36.84,0:00:38.74,Default,,0000,0000,0000,,e sabe como os sinais elétricos Dialogue: 0,0:00:38.74,0:00:41.86,Default,,0000,0000,0000,,viajam pelo nervo ótico\Naté ao cérebro. Dialogue: 0,0:00:42.82,0:00:45.34,Default,,0000,0000,0000,,Aí, criam padrões\Nde atividade neural Dialogue: 0,0:00:45.34,0:00:47.85,Default,,0000,0000,0000,,que correspondem aos milhões de cores Dialogue: 0,0:00:47.85,0:00:50.60,Default,,0000,0000,0000,,que quase todos\Nos seres humanos distinguem. Dialogue: 0,0:00:50.85,0:00:52.41,Default,,0000,0000,0000,,Imaginem, agora, que um dia Dialogue: 0,0:00:52.41,0:00:54.94,Default,,0000,0000,0000,,o ecrã a preto e branco de Mary se avaria Dialogue: 0,0:00:54.94,0:00:57.26,Default,,0000,0000,0000,,e aparece uma maçã a cores. Dialogue: 0,0:00:57.58,0:00:58.80,Default,,0000,0000,0000,,Pela primeira vez, Dialogue: 0,0:00:58.80,0:01:02.75,Default,,0000,0000,0000,,ela tem a experiência de uma coisa\Nque conhece há anos. Dialogue: 0,0:01:03.50,0:01:05.34,Default,,0000,0000,0000,,Será que aprende uma coisa nova? Dialogue: 0,0:01:05.34,0:01:07.34,Default,,0000,0000,0000,,Há alguma coisa na perceção da cor Dialogue: 0,0:01:07.34,0:01:10.22,Default,,0000,0000,0000,,que não tenha sido captado\Npor todo o seu saber? Dialogue: 0,0:01:10.40,0:01:13.62,Default,,0000,0000,0000,,O filósofo Frank Jackson \Npropôs esta experiência mental, Dialogue: 0,0:01:13.62,0:01:16.55,Default,,0000,0000,0000,,chamada "o quarto de Mary",\Nem 1982. Dialogue: 0,0:01:17.07,0:01:19.96,Default,,0000,0000,0000,,Defendeu que, se Mary\Njá sabia todos os factos físicos Dialogue: 0,0:01:19.96,0:01:21.42,Default,,0000,0000,0000,,sobre a visão a cores, Dialogue: 0,0:01:21.42,0:01:24.72,Default,,0000,0000,0000,,e ter a experiência da cor\Nainda lhe ensina qualquer coisa de novo, Dialogue: 0,0:01:24.72,0:01:27.62,Default,,0000,0000,0000,,então, os estados mentais,\Ntal como a perceção da cor, Dialogue: 0,0:01:27.62,0:01:31.27,Default,,0000,0000,0000,,não podem ser totalmente descritos\Npor factos físicos. Dialogue: 0,0:01:31.57,0:01:33.67,Default,,0000,0000,0000,,A experiência mental de "o quarto de Mary" Dialogue: 0,0:01:33.67,0:01:37.49,Default,,0000,0000,0000,,descreve aquilo a que os filósofos chamam\No "argumento do conhecimento", Dialogue: 0,0:01:37.49,0:01:40.19,Default,,0000,0000,0000,,em que há propriedades não físicas\Ne conhecimentos Dialogue: 0,0:01:40.19,0:01:44.70,Default,,0000,0000,0000,,que só podem ser descobertos\Natravés duma experiência consciente. Dialogue: 0,0:01:44.85,0:01:48.02,Default,,0000,0000,0000,,O argumento do conhecimento\Ncontradiz a teoria do fisicalismo Dialogue: 0,0:01:48.02,0:01:50.83,Default,,0000,0000,0000,,que diz que tudo,\Nincluindo os estados mentais, Dialogue: 0,0:01:50.83,0:01:53.08,Default,,0000,0000,0000,,tem uma explicação física. Dialogue: 0,0:01:53.51,0:01:55.98,Default,,0000,0000,0000,,A maioria das pessoas\Nque ouve a história de Mary Dialogue: 0,0:01:55.98,0:01:59.48,Default,,0000,0000,0000,,pensa intuitivamente\Nque é óbvio que ver as cores Dialogue: 0,0:01:59.48,0:02:02.66,Default,,0000,0000,0000,,será completamente diferente\Nde saber tudo sobre elas. Dialogue: 0,0:02:03.06,0:02:06.18,Default,,0000,0000,0000,,Portanto, deve haver\Nqualquer qualidade na visão a cores Dialogue: 0,0:02:06.18,0:02:08.81,Default,,0000,0000,0000,,que transcende a sua descrição física. Dialogue: 0,0:02:09.30,0:02:12.45,Default,,0000,0000,0000,,O argumento do conhecimento\Nnão trata apenas da visão das cores. Dialogue: 0,0:02:12.82,0:02:15.40,Default,,0000,0000,0000,,"O quarto de Mary" usa a visão das cores Dialogue: 0,0:02:15.40,0:02:18.40,Default,,0000,0000,0000,,para representar\Numa experiência consciente. Dialogue: 0,0:02:18.40,0:02:21.71,Default,,0000,0000,0000,,Se a Física não consegue\Nexplicar totalmente a visão das cores. Dialogue: 0,0:02:21.71,0:02:26.45,Default,,0000,0000,0000,,então talvez também não consiga explicar\Ntotalmente outras experiências conscientes. Dialogue: 0,0:02:26.84,0:02:29.58,Default,,0000,0000,0000,,Por exemplo, podemos conhecer\Ntodos os pormenores físicos Dialogue: 0,0:02:29.58,0:02:32.86,Default,,0000,0000,0000,,da estrutura e função\Ndo cérebro de uma pessoa, Dialogue: 0,0:02:32.86,0:02:36.81,Default,,0000,0000,0000,,mas, mesmo assim, não compreender\No que é ser essa pessoa. Dialogue: 0,0:02:37.79,0:02:42.59,Default,,0000,0000,0000,,Estas experiências indescritíveis\Ntêm propriedades chamadas "qualia", Dialogue: 0,0:02:42.75,0:02:47.16,Default,,0000,0000,0000,,qualidades subjetivas que não podemos\Ndescrever ou medir com rigor. Dialogue: 0,0:02:47.66,0:02:50.47,Default,,0000,0000,0000,,As "qualia" são únicas para a pessoa\Nque as experimenta, Dialogue: 0,0:02:50.47,0:02:51.71,Default,,0000,0000,0000,,como ter comichão, Dialogue: 0,0:02:51.71,0:02:53.26,Default,,0000,0000,0000,,estar apaixonado, Dialogue: 0,0:02:53.26,0:02:54.84,Default,,0000,0000,0000,,ou sentir-se aborrecido. Dialogue: 0,0:02:54.89,0:02:58.74,Default,,0000,0000,0000,,Os factos físicos não podem explicar\Ntotalmente estados mentais como estes. Dialogue: 0,0:02:59.62,0:03:02.18,Default,,0000,0000,0000,,Os filósofos interessados\Nem inteligência artificial, Dialogue: 0,0:03:02.18,0:03:03.98,Default,,0000,0000,0000,,têm usado o argumento do conhecimento Dialogue: 0,0:03:03.98,0:03:06.72,Default,,0000,0000,0000,,para teorizar que a recriação\Nde um estado físico Dialogue: 0,0:03:06.72,0:03:10.80,Default,,0000,0000,0000,,não recriará necessariamente\Num estado mental correspondente. Dialogue: 0,0:03:11.38,0:03:12.75,Default,,0000,0000,0000,,Por outras palavras, Dialogue: 0,0:03:12.75,0:03:16.30,Default,,0000,0000,0000,,construir um computador que imite\Na função de cada um dos neurónios Dialogue: 0,0:03:16.30,0:03:17.81,Default,,0000,0000,0000,,do cérebro humano Dialogue: 0,0:03:17.81,0:03:21.65,Default,,0000,0000,0000,,não criará necessariamente\Num cérebro artificial consciente. Dialogue: 0,0:03:22.54,0:03:24.22,Default,,0000,0000,0000,,Nem todos os filósofos concordam Dialogue: 0,0:03:24.22,0:03:26.93,Default,,0000,0000,0000,,que a experiência\Nde "o quarto de Mary" seja útil. Dialogue: 0,0:03:26.93,0:03:30.24,Default,,0000,0000,0000,,Uns defendem que o extenso conhecimento\Nque ela tem da visão a cores Dialogue: 0,0:03:30.24,0:03:32.84,Default,,0000,0000,0000,,ter-lhe-á permitido criar\No mesmo estado mental Dialogue: 0,0:03:32.84,0:03:35.56,Default,,0000,0000,0000,,produzido por uma real visão a cores. Dialogue: 0,0:03:35.56,0:03:38.67,Default,,0000,0000,0000,,O ecrã avariado não lhe terá\Nmostrado nada de novo. Dialogue: 0,0:03:39.66,0:03:42.94,Default,,0000,0000,0000,,Outros dizem que, para começar,\No conhecimento dela nunca foi completo Dialogue: 0,0:03:42.94,0:03:45.75,Default,,0000,0000,0000,,porque se baseava apenas\Nnos factos físicos Dialogue: 0,0:03:45.75,0:03:48.12,Default,,0000,0000,0000,,que podem ser transmitidos por palavras, Dialogue: 0,0:03:48.51,0:03:50.08,Default,,0000,0000,0000,,Anos depois desta sua proposta, Dialogue: 0,0:03:50.08,0:03:53.83,Default,,0000,0000,0000,,Jackson inverteu a sua posição\Nsobre esta experiência mental. Dialogue: 0,0:03:53.83,0:03:57.09,Default,,0000,0000,0000,,Concluiu que, mesmo a experiência\Nde Mary ao ver o vermelho Dialogue: 0,0:03:57.09,0:04:01.73,Default,,0000,0000,0000,,corresponde a um acontecimento\Nfísico mensurável, no cérebro, Dialogue: 0,0:04:01.73,0:04:05.38,Default,,0000,0000,0000,,e não a "qualia" desconhecidas\Npara além de uma explicação física. Dialogue: 0,0:04:05.56,0:04:07.88,Default,,0000,0000,0000,,Mas continua a não haver\Numa resposta definitiva Dialogue: 0,0:04:07.88,0:04:11.16,Default,,0000,0000,0000,,à pergunta de se Mary teria aprendido\Nalguma coisa de novo Dialogue: 0,0:04:11.16,0:04:12.87,Default,,0000,0000,0000,,quando viu a maçã. Dialogue: 0,0:04:13.20,0:04:16.57,Default,,0000,0000,0000,,Será que há limites fundamentais\Npara aquilo que conhecemos Dialogue: 0,0:04:16.57,0:04:18.92,Default,,0000,0000,0000,,sobre uma coisa que nunca experimentámos? Dialogue: 0,0:04:18.92,0:04:21.95,Default,,0000,0000,0000,,E isso significará que há\Ncertos aspetos do universo Dialogue: 0,0:04:21.95,0:04:25.26,Default,,0000,0000,0000,,que ficarão permanentemente\Npara além da nossa compreensão? Dialogue: 0,0:04:25.43,0:04:28.28,Default,,0000,0000,0000,,Ou a ciência e a filosofia permitir-nos-ão Dialogue: 0,0:04:28.28,0:04:31.30,Default,,0000,0000,0000,,ultrapassar as limitações\Ndo nosso espírito?