Seis meses atrás, assisti com o coração acelerado à aterrissagem da sonda InSight, da NASA, na superfície de Marte. Duzentos metros, 80 metros, 60... 40... 20... 17 metros. Receber a confirmação do pouso bem-sucedido foi um dos momentos de maior êxtase da minha vida. E ouvir essa notícia só foi possível devido a dois pequenos cubos que foram para Marte com a InSight. Basicamente, esses cubos transmitiram ao vivo a telemetria da InSight para a Terra, permitindo-nos assistir, quase em tempo real, à InSight descer chispando para a superfície do planeta vermelho, atingindo a atmosfera de Marte a uma velocidade máxima de cerca de 19 mil km/hora. O evento foi transmitido ao vivo para nós, a mais de 145 milhões de km de distância. Foi transmitido ao vivo de Marte. Enquanto isso, as duas sondas espaciais Voyager, duas exploradoras incrivelmente intrépidas, foram lançadas no mesmo ano em que fomos apresentados a Han Solo. E elas continuam a enviar dados do espaço interestelar mais de 40 anos depois. Cada vez mais, estamos enviando mais sondas a distâncias maiores dentro do espaço profundo. Mas cada uma dessas sondas espaciais depende que sua navegação seja realizada aqui mesmo da Terra, para informar onde ela está e, mais importante ainda, para onde está indo. E o motivo de fazermos a navegação daqui da Terra é muito simples: as naves espaciais não são boas em informar as horas. Mas, se conseguirmos mudar isso, poderemos revolucionar a maneira de explorar o espaço profundo. Sou uma navegadora do espaço profundo, e certamente devem estar pensando: "Que trabalho é esse?" Bem, é um trabalho muito especial e divertido. Eu piloto naves espaciais do momento em que se separam do veículo de lançamento ao momento em que chegam a seu destino no espaço. E esses destinos, digamos, por exemplo, Marte ou Júpiter, ficam muitíssimo longe daqui. Para lhes dar a dimensão disso, é como se eu estivesse aqui em Los Angeles e lançasse uma flecha para acertar um alvo do tamanho de uma moeda de US$ 0,25 na Times Square, em Nova York. Bem, posso ajustar o curso da minha nave espacial algumas vezes durante a trajetória, mas, para tanto, preciso saber onde ela está. E rastrear uma nave durante sua jornada pelo espaço profundo é basicamente uma questão de medir o tempo. Não posso pegar uma régua e medir a que distância está a sonda. Mas consigo medir quanto tempo um sinal leva para ir até ela e voltar. É a mesma ideia do eco. Se eu gritar na direção de uma montanha, quanto mais tempo levar para eu ouvir meu eco de volta, mais afastada estará a montanha. Então, medimos com muita precisão o tempo que o sinal leva para ir e voltar, porque errar, mesmo que apenas por uma pequena fração de segundo, pode significar a diferença entre a nave pousar com segurança e suavidade na superfície de outro planeta ou abrir mais uma cratera naquela superfície. Uma pequena fração de segundo pode ser a diferença entre a vida ou a morte de uma missão. Assim, medimos o tempo do sinal com muita precisão aqui da Terra, com uma precisão maior do que um bilionésimo de segundo. Mas precisa ser medido aqui da Terra. Há um grande desequilíbrio quando se trata de explorar o espaço profundo. Historicamente, conseguimos enviar coisas pequenas para bem longe graças a coisas muito grandes aqui em nosso planeta natal. Como exemplo, este é o tamanho de uma antena parabólica que usamos para conversar com essas naves espaciais. E os relógios atômicos que usamos para navegar também são grandes. Os relógios e toda sua estrutura de apoio podem ter o tamanho de uma geladeira. Mas, se quisermos tentar enviar esse recurso para o espaço profundo, essa geladeira vai precisar encolher para algo do tamanho de sua gaveta de verduras. E qual a importância disso? Bem, vamos lembrar a Voyager 1, uma de nossas intrépidas exploradoras. A Voyager 1 acabou de ultrapassar 20 bilhões de km de distância. Como se sabe, ela demorou mais de 40 anos para chegar lá, e é preciso que um sinal viaje na velocidade da luz por mais de 40 horas para chegar a ela e voltar. E as naves espaciais têm uma coisa: elas se movem muito rápido. E a Voyager 1 não para pra aguardar instruções da Terra. Ela continua se movendo. Nessas 40 horas em que ficamos esperando ouvir aquele eco do sinal aqui na Terra, a Voyager 1 já terá avançado cerca de 2,4 milhões km. São mais 2,4 milhões de km em território vastamente desconhecido. Então seria ótimo se pudéssemos medir esse tempo na própria sonda espacial. Mas a miniaturização da tecnologia de relógio atômico é difícil. A tecnologia do relógio e todo o maquinário de apoio não só precisam encolher, como também precisam funcionar bem. O espaço é um ambiente excepcionalmente hostil e, se uma peça desse instrumento quebrar, não dá simplesmente para enviar um técnico para trocá-la e seguir viagem. As jornadas realizadas por essas sondas podem durar meses, anos, até mesmo décadas. Projetar e construir um instrumento de precisão que aguente isso é tanto arte quanto ciência e engenharia. Mas a boa notícia é que estamos fazendo um progresso incrível, e já estamos engatinhando numa nova era de relógios espaciais atômicos. Em breve estaremos lançando um relógio atômico com base em íons, próprio para o espaço. E esse relógio tem o potencial de mudar a navegação completamente. Ele é tão estável, e mede o tempo tão bem que, se eu colocá-lo aqui, ligá-lo e for embora, eu teria de voltar 9 milhões de anos depois para a medição desse relógio estar um segundo adiantado ou atrasado. Portanto, o que podemos fazer com um relógio assim? Bem, e se, em vez de conduzirmos a navegação da nave aqui da Terra, a deixássemos navegar por si mesma? Navegação autônoma a bordo, ou uma espaçonave autônoma, é uma das principais tecnologias necessárias se quisermos sobreviver no espaço profundo. Quando inevitavelmente enviarmos seres humanos para Marte ou mais longe, vamos precisar navegar essa nave em tempo real, sem esperar instruções da Terra. E errar na medição desse tempo, mesmo por uma pequena fração de segundo, pode significar a diferença entre a vida ou morte de uma missão, o que já é ruim o bastante para uma missão robótica, mas pensem nas consequências se houver uma tripulação humana a bordo. Mas suponhamos que podemos levar nossos astronautas com segurança ao seu destino. Uma vez lá, imagino que eles queiram saber como se situar. Com a tecnologia desse relógio, agora podemos construir sistemas de navegação tipo GPS em outros planetas e luas. Imaginem ter GPS na Lua ou em Marte. Conseguem imaginar uma astronauta em pé na superfície de Marte, com o Monte Olimpo ao fundo, enquanto ela consulta o Google Maps, edição Marte, para ver sua localização e traçar um curso para ir aonde precisa? Permitam-me sonhar um pouco e falar sobre algo bem distante no futuro, quando estivermos enviando humanos a lugares muito mais distantes que Marte, lugares onde aguardar um sinal da Terra para navegar simplesmente não seja possível. Imaginem que nesse cenário possamos ter uma constelação, uma rede de satélites de comunicação espalhados por todo o espaço profundo, transmitindo sinais de navegação. E qualquer espaçonave que capte esse sinal possa viajar de um lugar a outro sem nenhuma ligação direta com a Terra. A capacidade de medir o tempo de forma precisa no espaço profundo pode mudar para sempre nosso modo de navegar. Mas também tem um potencial científico bem legal. Vejam só, o mesmo sinal que usamos para navegação nos diz algo sobre de onde ele veio e o caminho percorrido em sua jornada de antena para antena. E essa jornada nos fornece dados para criar melhores modelos de atmosferas planetárias em todo o nosso Sistema Solar. Podemos detectar oceanos subterrâneos em longínquas luas geladas e, quem sabe, até pequenas ondulações no espaço resultantes da gravidade relativística. Navegação autônoma a bordo significa apoio a mais naves espaciais, mais sensores para explorar o Universo, além de liberar navegadores, pessoas como eu, para trabalhar na busca de respostas para outras perguntas. E ainda temos muitas delas a serem respondidas. Sabemos muito pouco sobre o Universo ao nosso redor. Nos últimos anos, descobrimos quase 3 mil sistemas planetários fora do nosso próprio Sistema Solar, e esses sistemas são o lar de quase 4 mil exoplanetas. Para dar uma ideia do que isso significa, a primeira vez que estudei os planetas, quando criança, havia nove, ou oito, se não contarmos Plutão. Mas agora existem 4 mil. Estima-se que a matéria escura componha cerca de 96% do nosso Universo, e nem sabemos o que ela é. Toda a ciência aprendida de todas as missões combinadas ao nosso espaço profundo é apenas uma gota de conhecimento em um vasto oceano de perguntas. E, se quisermos saber mais, descobrir e entender mais, então temos de explorar mais. A capacidade de manter a precisão do tempo no espaço profundo vai revolucionar o modo de explorarmos este Universo, e pode ser apenas uma das chaves para desvendar alguns desses segredos que o Universo guarda com tanto zelo. Obrigada. (Aplausos) (Vivas)