Estou aqui para falar sobre liberdade
e estou muito animada com isso.
Você se lembra da primeira vez
que percebeu que era livre?
Que você era realmente livre?
A primeira vez que entendi
o que era liberdade
foi quando me perdi na biblioteca
e comecei a ler histórias
sobre Harriet Tubman e Sojourner Truth,
e a liberdade era tão clara
e tão fácil de entender.
Então eu cresci e, como tudo,
isso ficou mais complicado.
E comecei a procurar pela liberdade
em tudo o que eu via,
tentei ouvi-la.
Um dia, eu estava no carro dirigindo
e ouvi Janis Joplin no rádio,
e ela cantava aquele famoso trecho
"Liberdade é não ter nada a perder".
E pensei: "É assim que eu tenho
que experimentar a liberdade?
Preciso chegar ao limite,
perder tudo, desistir de tudo
para realmente experimentar a liberdade?"
Veja, a liberdade se tornou
essa ideia esotérica e cerebral
que eu não conseguia tocar.
Era como o amor, certo?
Você pode sentir, mas não pode tocar,
não pode segurar nas mãos.
E li algo que um grande agnóstico,
Robert Green Ingersoll,
foi muito feliz ao escrever:
"O que a luz é para os olhos,
o que o ar é para os pulmões,
o que o amor é para o coração,
a liberdade é para a alma do homem".
E pensei: "Puxa, isso é incrível!
Não me canso dessa coisa
chamada liberdade".
E continuei procurando por ela
em tudo o que eu fazia,
e então entrei pra faculdade de direito.
Enquanto outras pessoas
encontravam parceiros,
eu encontrei a Constituição.
E estudei a Constituição,
flertei com ela e a experimentei.
Explorei a liberdade religiosa.
Experimentei a liberdade de expressão,
e minha família diria que exagerei.
Participei de grupos, fiz
abaixo-assinados, escrevi para a imprensa,
até atirei com uma arma.
Eu amava, amava tudo sobre a liberdade.
E o que descobri
foi que liberdade, na Constituição,
era algo muito pessoal, muito íntimo,
algo diferente do que eles
tinham me ensinado.
A Constituição não estabelecia
apenas o poder do governo,
não estabelecia apenas a estrutura
ou a arquitetura do governo,
ela falava comigo pessoalmente,
falava com todos nós pessoalmente.
Era nossa guardiã, era nossa aliada.
Mas só depois que passei a dar aula
em uma faculdade aberta,
onde a idade dos alunos
ia de 15 a 75 anos e até mais -
e eles chegavam a esse santuário,
onde todos têm acesso à educação;
é uma ideia maravilhosa, certo? -
é que, através dos meus alunos,
realmente entendi
essa ideia emergente de liberdade
e o que eu viria a entender
como liberdade agora.
Deixe-me falar sobre meus alunos
porque eles são absolutamente fantásticos.
Eles são corajosos, são determinados,
eles são intelectualmente curiosos,
eles são autoconfiantes,
eles são absolutamente lindos.
Eles também carregam
o peso do mundo em seus ombros.
Eles são maridos, esposas, filhos, filhas,
eles são cuidadores,
e eles estão buscando educação
carregando tudo isso.
E eles vêm até mim
e começamos a falar sobre liberdade,
começamos a explorar a Constituição,
e eles se afastam da liberdade.
No começo, eu não entendia
o que estava acontecendo
e, aos poucos, ficou claro
que a liberdade está algumas gerações
distante dos meus alunos,
aquela fome de liberdade,
aquele sentimento,
e que eles também associavam a liberdade
com um pouco do horror
e da fragmentação da política atual,
que eles relacionam essas duas questões,
e, por isso, se sentiam
inseguros com a liberdade.
Então eu apresentei a Constituição a eles,
e eles passaram a entender
o que eu tinha entendido.
Que era algo muito pessoal para eles,
muito íntimo.
E que a Constituição
não dava a eles direitos,
ela lhes dava um escudo, ela os protegia.
Que eles já eram livres.
E que não precisavam procurar tanto,
eu também não precisava,
nem vocês precisam procurar tanto
para encontrar a liberdade,
pois ela está dentro de nós.
E eles entenderam aquela verdade
que cada pessoa nesta sala conhece,
que, lá no fundo,
cada um de nós é tão magnífico,
tão valioso, tão único,
que não precisamos da Constituição
para nos dar liberdade.
É nosso direito nato.
Não só como norte-americanos,
mas como membros da raça humana.
Assim, à medida que os estudantes
entendiam aquela verdade,
e experimentavam aquela verdade,
eles a usufruíam
de maneiras únicas e diferentes.
Mas eles precisaram entender algo antes:
que herdar a liberdade
é uma responsabilidade.
Isso é muito pesado,
especialmente para esses alunos
que já carregam o peso do mundo.
E a responsabilidade adquiriu
uma má reputação.
Pensamos na responsabilidade como um peso,
e, de certo modo,
o que Janis Joplin disse,
que temos de nos livrar
de todos os deveres
e de todas as incumbências de nossa vida
para experimentar a liberdade,
e isso não é verdade de jeito nenhum.
E qualquer um de nós
que transita na responsabilidade
sabe que abraçar a responsabilidade
é provavelmente a coisa mais libertadora
que podemos fazer,
porque assim você pode
mapear seu próprio curso,
pode definir sua própria navegação,
pode escolher uma vida que fala com você.
Então os alunos,
quando descobrem sua liberdade,
quando definem a liberdade,
eles têm de abraçar a responsabilidade.
E essa responsabilidade significa,
primeiramente, se amar e respeitar,
e assim a liberdade os leva
a respeitar os outros,
ser tolerante e gentil
e exaltar a civilidade.
Porque a liberdade,
não importa como a definimos,
não importa como ela pareça,
nunca significou
deixar de seguir
os princípios da humanidade.
E assim, uma vez que eles
abracem a liberdade,
e sintam a responsabilidade,
isso os leva aos lugares mais incríveis.
Isso os leva a ajudar.
E eu só quero dizer
que esses alunos sabem,
e eu também sei,
que a Constituição tem falhas,
tanto em sua concepção
quando em sua aplicação,
mas há ternura e dignidade
oferecida a cada um de nós.
E, quando você consegue ver que é
uma fração da liberdade na Constituição,
você pode encontrar essa intimidade,
que te leva aos lugares mais incríveis.
Uma noite eu não conseguia dormir
e fiz tudo o que os especialistas
não recomendam:
eu abri meu e-mail no meio da noite
pensando que isso
me ajudaria a dormir, certo?
E eu tinha recebido
um e-mail de um aluno que tive
alguns semestres atrás.
E o e-mail era uma espécie
de pedido de desculpas
e também uma espécie de manifesto.
E na mensagem ele me revelou
que normalmente não estava sóbrio
durante minhas aulas,
mas que ele estava
em seu 30º dia de abstinência,
e que ele estava reconectando
com o filho, como homem, como pai,
e que estava usando a única parte
da minha aula de que se lembrava
sobre usar a liberdade
para reconquistar sua vida,
para reassumir sua vida.
E eu percebi que aquilo era
uma expressão única de liberdade
que estava realmente despontando.
Não era coisa do governo,
era algo que estava dentro de nós.
Ele estava agarrando sua liberdade
e reconquistando uma nova vida.
Ele não estava apenas quebrando
os laços do governo,
ele estava quebrando a narrativa
que todos nós temos
de mágoas e abusos do passado,
atitudes, privação de direitos,
tudo que suportamos.
Ele estava usando seu relacionamento
íntimo com a liberdade
para se expressar,
para reconquistar sua vida.
Mas, então, ele terminou com um trecho
que é o que realmente me comove,
é o trecho que realmente
quero compartilhar com vocês hoje.
Ele tinha usado seu livre-arbítrio
para conquistar a sobriedade,
para se reconectar com seu filho,
e então, para terminar, ele perguntou
onde poderia ajudar os outros,
onde ele poderia dedicar sua vida.
Então, por mais exausto que estivesse,
ele estava procurando ajudar os outros.
E essa diversidade de liberdade
é vista em quase todos os meus alunos.
É quando eles descobrem a liberdade,
seja o artista que procura se expressar
e celebrar ou curar usando sua arte,
seja o empresário
que busca a independência financeira,
ela chega de maneiras diferentes,
mas sempre conduz ao mesmo ponto:
quando definimos liberdade, seja como for,
ela envolve responsabilidade
e isso nos leva a ajudar,
e essa é a natureza
transformadora da Constituição,
e essa é uma história muito diferente
da que qualquer um de nós sempre ouviu
nas aulas de cidadania.
Então, eu vejo meus alunos
quando eles chegam
e eles definem a liberdade por si mesmos,
e eles abraçam a responsabilidade,
e eles ajudam os outros na comunidade,
e eles ajudam em nossa comunidade.
Essa liberdade de expressão
soma-se a um burburinho nacional
que todos nós estamos ouvindo agora,
por onde nossas instituições
estão tentando dignamente navegar,
aonde nós devemos levar essas liberdades
que são individuais para cada um
e que competem entre si,
e temos que descobrir
como resolver esse conflito.
Assim, essas liberdades de expressão
encontram esse burburinho nacional,
e se unem e são parte
desse grande movimento de mudança
que todos nós estamos vivendo.
Essa liberdade não está apenas nos livros,
não está apenas nos protestos;
ela está em cada um
de nós individualmente,
e ela sempre nos conduz
à responsabilidade
e sempre nos leva a ajudar.
E isso é lindo e transformador.
E não é apenas um ideal norte-americano;
é uma ideia universal e compartilhada.
Então, da próxima vez
que ouvirmos o debate
sobre outros países e outros indivíduos
buscando sua liberdade,
talvez possamos pensar fora da caixa
que aquilo não é apenas
uma questão de crise econômica,
que é a construção dos direitos humanos.
E sei que gostamos de ver
grandes gestos de mudança,
e que procuramos essa grandiosidade
de como o mundo está mudando
e como a liberdade deve ser,
mas acho que vemos
as mais belas expressões de liberdade
nas demonstrações silenciosas
diárias de ajuda,
e essa ajuda muda o mundo.
E estou muito animada e motivada
para ver onde os murmurinhos
da Constituição dialogam com você,
como eles revelam
a sua liberdade e a sua ajuda.
Obrigada.
(Aplausos)
Elizabeth Markie:
Você pode ficar mais um pouco?
Tara Hechlik Newsom: Claro.
EM: Tara, imagino que te façam
muitas perguntas sobre a Constituição.
Você se importa se eu fizer algumas?
THN: Claro que não!
EM: Tenho uma curiosidade,
qual é o nosso grau de liberdade nos EUA?
THN: Essa é uma pergunta
que muitos dos meus alunos fazem
porque nos achamos
o parâmetro da liberdade,
a grande referência, não é?
Mas sabemos que há uma série de dados
indicando que, em termos
de liberdade econômica,
que é a base de muitas
de nossas liberdades,
nós estamos, na verdade,
em 12º lugar mundialmente.
E, no que diz respeito a liberdades civis,
aquelas de que realmente gostamos,
estamos, na verdade,
em 21º lugar mundialmente.
E isso porque essa ideia de liberdade
de que estamos falando,
que estamos definindo,
outros países pegaram,
reiniciaram e avançaram
e aprenderam com nossas fraquezas e erros,
e agora a exaltam.
Então, para responder à sua pergunta,
Elizabeth, somos livres,
mas nossos colegas em outros países,
na verdade, estão desenvolvendo
a liberdade de uma maneira bem diferente.
EM: Tenho mais uma.
THN: Tudo bem.
(Risos)
EM: Mais uma pergunta para a Tara.
A decisão da Suprema Corte
em relação ao casamento
indica que a primeira
emenda constitucional,
que trata da liberdade
religiosa, é irrelevante?
THN: Então, todos estão
acompanhando as notícias, não é?
Temos um oficial de justiça
de Kentucky na prisão.
E há muito falatório
sobre a liberdade religiosa,
que a Constituição pertence,
de alguma maneira, aos conservadores,
ou pertence aos liberais.
E o que a Suprema Corte decidiu em junho
é que ela pertence,
que a liberdade pertence a você,
mas não há liberdades
mais importantes que outras.
Assim, a liberdade de religião
não supera a igualdade,
e uma vertente da liberdade religiosa
não supera a outra.
Então, acho que o que estamos descobrindo
é que a igualdade é tão soberana
quanto a liberdade,
certo?
E que não temos de promover
competição entre liberdades,
mas exaltar a igualdade.
EM: Obrigada, Tara.
(Aplausos)
THN: Obrigada.