Em grande parte, ser um artista
depende da vida diária,
das interações diárias,
das políticas diárias.
E grande parte do trabalho
trata da representação de si mesmo.
[Abstrações Quotidianas de Maryam Hoseini]
A primeira vez que percebi
que desenhar é uma coisa que adoro
foi quando tinha 13 anos.
Tinha uma professora na escola
que tinha uma forma de ensinar
— e também é uma pessoa muito forte,
para uma pessoa num sítio como o Irão —
que penso que me levou
a interessar-me por isto.
Recordo vivamente a época
em que eu pensava:
"Só quero ter aulas de desenho.
"Quero estar sempre a fazer trabalhos".
Eu tinha pilhas e pilhas de papéis.
Sempre me senti uma desenhadora.
Comecei por aí.
Faço alguma pintura, e depois,
desenho por cima dela.
Portanto, volto sempre ao mesmo.
Pediram-me para trabalhar
sobre este poema conhecido
"Layla and Majnun."
É sobre um amor proibido.
Realizei esta série,
"Segredos Entre Ela e a sua Sombra".
Eu estava mais interessada
na figura da mulher,
porque, segundo parece,
ninguém lhe prestava atenção,
porque o principal era
como Majnun tinha perdido a cabeça.
Eu estava muito curiosa quanto a Laylah,
esta mulher vulnerável
que estava proibida de falar
e até de desejar
o que ela queria realmente.
Penso que grande parte do trabalho
é uma mistura de humor e de medo.
Há momentos em que nos rimos
apesar de termos medo de muitas coisas.
Nas minhas primeiras pinturas,
o espaço em que as figuras
estão situadas é mais legivel.
Nos últimos anos,
tenho usado essa legibilidade.
optei por apresentar os corpos sem cabeça,
por causa da identidade dos políticos.
Estes espaços fraturados
e corpos fragmentados,
são, de certo modo, o reflexo
das minhas experiências pessoais
e da minha vida, como imigrante
e enquanto uma pessoa que nem sequer
pode viajar até ao meu país
e regressar ao meu trabalho
e à minha vida, aqui na América.
Ou seja, estes corpos têm ansiedade.
Mas, por outro lado,
também são muito fortes.
Eu dou-lhes poder.
Penso constantemente nas interações
do corpo, no interior da pintura,
e na relação do corpo
com o espaço físico à volta dele.
Estou interessada no espaço
entre a pintura e o desenho,
público e privado.
Esse espaço de intervalo
fornece uma espécie de abertura
para os corpos se moverem fluidamente,
segundo as interpretações
dos observadores.
A presença de pessoas ali
quase completa
ou cria esta apresentação.
Tradução de Margarida Ferreira