Nos últimos 12 anos,
venho pesquisando o campo
da medicina regenerativa.
Como médica de neurociência,
investigo se é possível
usar células-tronco
para ajudar crianças com lesão cerebral
ou adultos com lesão na medula espinhal.
Hoje, vou falar
sobre como estamos mudando
o futuro com as células-tronco.
Acredito que as células-tronco
são a nova internet.
Pense nisso.
Pense em como a internet mudou
completamente a forma de nos comunicarmos,
a forma de fazer negócios
e até mesmo a forma pela qual
reunimos dados e informações.
Analogamente, acredito que células-tronco
têm o poder de revolucionar
todo o conceito de saúde.
Para começar, vamos a uma
pequena participação do público.
Levantem a mão: quantos aqui
já ouviram falar de células-tronco?
Mantenha a mão levantada
quem puder me explicar o que elas são.
Isso ilustra uma parte muito importante
do meu trabalho na ciência da comunicação.
A maioria de nós já ouviu
falar em células-tronco
seja pela mídia ou por amigos,
mas, bem poucos sabem
o que realmente elas são,
o que podem fazer e, o mais importante,
o que elas não podem fazer.
Vamos falar um pouco
sobre o que são células-tronco,
vamos ver como elas estão
sendo usadas atualmente
e como será o seu futuro.
Não se pode esperar que se compreenda
os tratamentos com células-tronco,
se não se sabe o que elas são.
Isso é o que gosto de chamar
de "Introdução às células-tronco".
Sabemos que centenas
de células no corpo humano
têm sua origem num óvulo fertilizado.
Imaginando isso como uma
bola rolando colina abaixo:
no topo da colina, a bola
pode rolar por qualquer caminho
mas, à medida que desce, ela passa
por várias bifurcações no caminho.
Ela irá rolar por um caminho ou outro
e isso restringe o seu
potencial de possibilidades.
Analogamente, as células-tronco,
durante seu processo de diferenciação,
enfrentam uma série de decisões fatídicas,
nas quais devem escolher em que tipo
de célula elas devem se especializar
e elas não podem voltar atrás.
Próximo ao topo da colina,
podem-se ver células-tronco pluripotentes:
"pluri-" significa "muito"
e "potente", "potência".
As células-tronco
pluripotentes embrionárias
são o tipo de células que as pessoas
associam à palavra células-tronco.
No entanto, essas células
praticamente nunca são utilizadas
nos transplantes.
Em vez disso, diferenciamos
a célula em geradores multipotentes
que são muito especializados
no tipo de tecido que desejamos obter.
É importante observar
que um tipo de célula multipotente
não pode gerar células
adultas de outro tipo.
Por exemplo, células-tronco de gordura
não podem gerar células do cérebro ou olho
e vice-versa.
Você pode perguntar:
se células-tronco pluripotentes podem
se transformar em qualquer outra célula,
por que não as utilizamos?
Elas poderiam ir diretamente ao ponto,
ao local de qualquer lesão
e se transformar
nas células que precisamos.
Certo?
Errado!
Elas poderiam se transformar
em coisas como esta.
Isso é chamado de teratoma.
O problema é que, uma vez
injetadas, essas células-tronco,
não poderemos controlar onde irão e nem
em que tipo de células se transformarão.
Elas poderiam se transformar
em todas as células do corpo,
de uma só vez e no mesmo lugar.
Aqui se pode ver cabelo,
gordura, dente, intestinos, ossos...
Imagine isso no seu cérebro
ou nos seus olhos.
É por isso que precisamos
diferenciar as células
em geradores específicos,
à medida do possível,
antes de se pensar em transplantá-las.
Todo o nosso tecido adulto
tem suas próprias células multipotentes,
que nos ajudarão a crescer
ou curar um machucado
e podem ser obtidas de muitos tecidos,
no laboratório, para
procedimentos de transplante.
No entanto, existem alguns
tecidos que não se pode obter.
Pense no cérebro, coração ou no olho.
Tentar pegar essas células pode te matar.
Temos que pensar em outras
fontes alternativas para essas células.
E é aqui que entram
as células pluripotentes.
Até agora, células embrionárias
foram diferenciadas colina abaixo
nos tipos de células-tronco
que precisamos.
Recentemente, desenvolveram-se
células-tronco pluripotentes induzidas,
em que se pode pegar
amostras de pele adulta
empurrá-las colina acima,
usando quatro elementos químicos
e, então, transformá-las no tipo
de célula que se necessita.
Isso foi descoberto recentemente
por Shinya Yamanaka,
ganhadora do prêmio Nobel.
A boa notícia é que estão
utilizando fontes não embrionárias
do seu próprio tecido,
sem possibilidade de rejeição.
Alternativamente,
a reprogramação de linhagem direta
leva de A a B,
sem a etapa intermediária
na subida da colina.
Pode-se pegar amostras de pele adulta
e transformá-la diretamente
no tipo necessário de célula,
com diferentes gatilhos químicos.
Esta é somente uma etapa
muito nova em laboratório,
mas representa
uma direção muito interessante
por onde este campo está indo.
Então, o que estamos
fazendo com as células-tronco?
Vamos a outra participação da plateia.
Quantos de vocês sofrem
ou conhecem alguém que sofra
de qualquer dessas doenças?
Levantem a mão: AVC, queimaduras,
diabetes ou lesões nas articulações.
Olhe a sua volta.
Todos nós somos afetados por essas doenças
que as células-tronco poderiam,
potencialmente, tratar um dia.
Não é somente porque estamos colocando
células-tronco como primeira alternativa
que elas serão um tratamento
ou que serão um tratamento
usado normalmente.
Como se pode ver aqui,
pode levar até dez anos ou mais
para passar pelo crivo
dos testes clínicos.
A ciência é incremental,
mas a boa notícia
é que temos muitos tratamentos
que estiveram em análise por vários anos
e que já começam a aparecer.
Além disso, agora, mais do que nunca,
cientistas, médicos clínicos,
pessoas comuns e legisladores
estão trabalhando juntos
para agilizar esse processo.
Significa que se pode ter o melhor
tratamento com células-tronco
para as pessoas que mais precisam,
num curto período de tempo.
Aqui estão as doenças
codificadas por cores,
conforme suas posições no estágio atual.
Pode-se observar dois tratamentos
atuais usando células-tronco em verde.
O primeiro para câncer
de sangue e de ossos,
que pode ser visto como
transplante de medula óssea.
Tem sido usado por décadas.
A próxima aplicação
de células-tronco em análise
é para queimaduras e cicatrização.
Ela usa o tecido da pele e ajuda
na aparência da queimadura também.
Vamos nos concentrar
em duas áreas principais
que estão utilizando células-tronco.
A primeira é o AVC.
Este é o meu trabalho
em lesão cerebral na infância.
Você sabia que a paralisia
cerebral é mais comum
do que a AIDS juvenil,
leucemia infantil, distrofia muscular
e diabetes juvenil juntas?
A paralisia cerebral causa
problemas no envio dos sinais
do cérebro aos músculos,
que fazem os movimentos,
e é a doença mais comum
do desenvolvimento neurológico.
Meu trabalho é injetar
células-tronco no cérebro,
capazes de incorporar e se transformar
nos tipos de células do local afetado,
e que normalmente são
destruídas nas lesões cerebrais.
Podem melhorar a função
e restaurar o tecido cerebral.
E o meu trabalho, particularmente,
mostra que é possível dobrar
a velocidade do sinal
do cérebro dos animais.
O que isso significa para uma criança
com paralisia cerebral?
O potencial para poder
voltar ao movimento normal,
para sair, correr, pular
e brincar com seus amigos.
Uma coisa muito empolgante.
Atualmente, essas células estão
sendo usadas apenas em testes clínicos.
Há testes em adultos relativos a AVC
e outros relativos
a lesões na medula espinhal.
As mesmas células são
perdidas nesses modelos.
O primeiro teste clínico
que usa esses tipos de células
começou a ser usado agora em crianças.
Vamos nos concentrar, agora,
numa área muito interessante
que combina bioimpressão 3D com medicina
regenerativa de células-tronco.
Está em vermelho porque são
os primeiros estágios, ainda,
mas acho que já representa
um caminho muito promissor
na direção de um avanço.
Melhorando-se os programas
e a tecnologia das imagens,
poderemos fazer imagens 3D exatas
das estruturas de dentro do corpo.
Usando programas de AutoCAD e 3D,
poderemos fazer projetos em CAD,
que serão impressos em bioimpressoras 3D.
Essas bioimpressoras são parecidas
com as impressoras que temos em casa,
só que, ao invés de usarem
tinta, usam um biogel especial
para criar as estruturas
que temos no corpo.
Depois disso, pode-se
alimentá-las com células-tronco.
Pode-se ver aqui uma válvula
cardíaca sendo impressa,
que será alimentada mais tarde,
com suas próprias células-tronco.
Temos uma imagem
na junção da válvula cardíaca.
Há, também, uma imagem de uma orelha
sendo alimentada com células-tronco,
que podem ser as suas.
Embaixo, você vê uma imagem
de uma traqueia impressa em 3D.
No canto inferior direito, uma entrevista
que fiz para o noticiário nacional da CTV
sobre o receptor de transplante
mais jovem de uma traqueia até agora,
alimentada com suas
próprias células-tronco.
Ainda que tudo isso seja muito empolgante,
ainda está na sua infância.
Não podemos fazer estruturas
complicadas com vários tipos de células
e isso é realmente muito básico.
Mas, pense até onde isso pode nos levar.
Imagine se pudermos usar isso no futuro
para imprimir estruturas do corpo e usar
nossas próprias células para transplante.
É um campo muito empolgante,
mas, como toda tecnologia
potencialmente revolucionária,
há muitos desafios.
Isso costumava se concentrar no uso
de células-tronco de células embrionárias,
mas, recentemente, com o advento
das células-tronco pluripotentes induzidas
e reprogramação de linhagem direta,
que pode usar seus
próprios tecidos adultos,
esta conversa tornou-se
cada vez menos relevante.
Atualmente, o que se vê,
especialmente com o crescimento
de tratamentos provenientes de pesquisas,
é uma deturpação das estratégias
de uso das células-tronco.
Muitos médicos oferecem tratamentos
não comprovados com células-tronco,
apenas para ganhar dinheiro.
Não comprovados, o que significa
que eles podem não funcionar
e podem não ser seguros.
Recentemente, a "Scientific American"
publicou um artigo sobre uma mulher
que foi a uma clínica
muito elegante em Beverly Hills
para fazer o "lifting" facial
mais moderno com células-tronco.
Os médicos aproveitaram uma lacuna na lei,
aspiraram a gordura dela e aplicaram
as células-tronco no rosto dela
para torná-la mais jovem,
mais saudável ou algo assim.
Durante o procedimento,
eles aplicaram o preenchimento dérmico.
O que os médicos não consideraram
é que aquele preenchimento dérmico
transforma células-tronco
de gordura em osso.
A mulher ficou com fragmentos
de ossos em suas pálpebras.
Isso mostra a necessidade de testes
para que os tratamentos sejam seguros.
Se você tomar um remédio
e tiver um efeito colateral prejudicial,
pode parar de tomar o remédio
e o efeito colateral desaparece.
Não é o caso com as células-tronco.
Uma vez implantadas as células-tronco,
elas nunca mais poderão ser retiradas.
Além disso, ir a uma clínica irregular
pode impedir que se participe
de futuros testes legais.
Como podemos saber
se o que se está pretendendo
é um tratamento com células-tronco
verdadeiro ou uma enganação?
Algumas dicas para ajudar
você nesta difícil tarefa.
A primeira: veja quantos
tipos de células existe, por lesão.
Os tipos de células precisam ser muito
específicos para substituir a lesão
e um tipo de célula-tronco não pode
se transformar em células de outro tipo.
Então, se alguém quiser
aspirar um tipo de célula-tronco
para usá-la em 12 indicações diferentes,
é bom que se questione o médico.
Segundo lugar: verifique
o histórico pré-clínico deles;
clinicaltrials.gov é um banco
de dados abrangente
de todos os testes clínicos das empresas
que querem obter aprovação do FDA.
E a terceira e mais importante
coisa que se pode fazer
é conhecer o assunto.
Pesquise e tire suas conclusões.
Pergunte aos seus médicos, todos eles,
porque estão aqui para ajudar você.
As células-tronco têm o potencial
de mudar a nossa vida.
Todos nós somos afetados por doenças
que as células-tronco poderiam
ajudar a tratar futuramente.
E agora que tem o conhecimento,
você tem o poder.
Cabe a você divulgar esse
conhecimento sobre as células-tronco
e apoiar os testes clínicos honestos,
para que se possamos trabalhar duro
para obter os melhores tratamentos
para as pessoas que mais precisam,
o mais rápido possível.
Atualmente, mais do que nunca,
existem muitos tratamentos em análise,
prontos para serem lançados.
O campo da medicina regenerativa
está em sua massa crítica.
Convido você a participar
comigo nesta jornada.
Venha comigo como novo fornecedor
do conhecimento sobre as células-tronco,
para transformarmos
ficção científica em fato científico.
Obrigada.
(Aplausos)