Certamente, perguntarão:
"Que faz ali aquele louco, vestido assim?"
Não é?
Não foi por ter saído tarde de casa
e agarrado na primeira coisa que vestir.
Não!
Este traje vai ter grande importância
na recuperação de habitats naturais.
Por outras palavras, este traje
vai devolver a cor da natureza.
Mas...
Por falar na "cor da natureza"...
Olhamos para ela com muitos sentimentos.
Um sentimento é de alegria,
tranquilidade, felicidade.
Mas também olhamos para a cor
da natureza com muita tristeza,
melancolia, deceção.
Foi uma das coisas que vivi.
Foi num habitat natural
uma zona húmida chamada El Cascajo.
El Cascajo fica a norte de Lima,
a cerca de hora e meia de distância.
No interior de El Cascajo
passei uma infância fabulosa,
recordações familiares
e umas aventuras fabulosas com o meu pai.
Mas, por algumas razões,
por muitos motivos, deixámos de o visitar.
E o tempo foi passando.
Os meus estudos levaram-me ao Japão,
para fazer a minha pós-graduação,
o mestrado e o doutoramento.
Atualmente, trabalho na universidade
como investigador científico e docente.
Uma das coisas que vivi no Japão
foi receber uma chamada curiosa
do meu pai que me diz:
"Lembras-te de El Cascajo?"
E eu: "Claro, claro que sim".
"Nem vais acreditar, mas vão tapá-lo".
"O quê? O que é que
estás a dizer?", perguntei.
"Está tão contaminado que está perdido".
Fiquei com um ponto
de interrogação na cabeça.
Aproveitei umas férias e fui até ao Peru.
Disse ao meu pai:
"Velhote, leva-me a El Cascajo".
"Ok".
E deparo com esta surpresa.
Uma zona húmida... de cor verde.
Muitas plantas aquáticas
que a cobriam a 100%.
Perguntei ao meu pai:
"Tens a certeza de que isto é El Cascajo?"
"Tenho".
"Bolas, não se vê nada!", digo eu.
"Isto é El Cascajo e está a morrer,
ou já morreu", disse ele.
Doeu-me tanto
que, ao aproximar-me da zona húmida,
ajoelhei-me
e a primeira coisa que fiz
foi pedir-lhe perdão... por descurá-lo.
Levantei as plantas aquáticas
e encontrei esta surpresa.
A água era castanha, malcheirosa
e com muitas coisas flutuantes.
Não me perguntem que coisas eram essas.
(Risos)
Foi então que disse:
"Bom... para alguma coisa estudei".
Não é?
Então, façamos qualquer coisa.
Batemos a todas as portas possíveis,
mas todas elas se fecharam.
Diziam-me: "Mas, para quê?
O que é que ganhamos com isso?"
Bem, paciência.
Então, façamos uma coisa mais simples.
Façamos isto.
Dar o primeiro passo.
Como assim?
Ok. Regressei ao Japão.
Fui ao banco, levantei
todas as minhas poupanças
e fui a outros bancos pedir empréstimos.
E voltei ao Peru.
Mas, como este projeto era
de recuperação de um habitat natural,
antes de começar,
tinha que haver uma avaliação.
Durante essa avaliação...
Vou contar-vos uma história .
Quando cheguei à zona húmida,
obviamente estava verde,
mas vi umas narinas a flutuar.
Pensei: "Hipopótamos!"
Mas não, eram uns porcos a nadar.
(Risos)
Havia criadores de animais
à volta da zona húmida.
Ou seja, um escoamento ilegal de lixo
durante mais de 20 anos!
O mais triste, meus senhores,
é que as aves alimentavam-se ali.
Entre elas, muitas aves carniceiras.
Outra coisa, o tal esgoto
drenava diretamente para a zona húmida
e uma grande parte para o mar!
Tudo aquilo, o que gerou?
A proliferação destas espécies invasoras
"Pistia stratiotes" ou "alfaces de água".
E, por conseguinte,
também havia terras contaminadas.
Então, a primeira coisa a fazer
era eliminar o "lixo exterior".
Ou seja, essas alfaces de água.
Como assim?
Desenhei o sistema de setorização
que consiste em dividir a zona húmida
em oito partes.
Entre a A1 - A2, D1 e a D2.
Mas, para quê?
Para ter uma ordem do controlo da limpeza,
para haver os primeiros resultados
de um espelho de água.
A começar pelo setor A1 e A2.
Mas, como separá-los?
Com materiais do local.
Usamos a Guadua angustifolia,
ou seja o bambu.
Metemo-nos na água para separar
toda a zona húmida com estas barreiras.
Aqui também disse: "Ok, comecemos".
Mas quem se põe a apanhar alfaces?
(Risos)
Como cavaleiro andante, tive que ser eu.
Mas foi um plano estratégico.
Andei metido na zona húmida
durante uma semana,
desde as 7 da manhã às 8 da noite,
a tirar as alfaces.
Mas com um objetivo.
Como eu sabia quantas pessoas
passavam por ali,
eram entre 70 a 100 pessoas por dia,
o objetivo era que essas pessoas
me vissem, olhassem outra vez
e todos me diziam: "Estás doido?
Vais ficar doente, o meu filho ficou".
O objetivo era esse...
que ficassem com essa ideia.
Saía da zona húmida e explicava-lhes:
"Não senhor, a cor
que estão a ver não é a cor real.
"A cor da zona húmida é uma cor fabulosa!"
Explicava os benefícios da zona húmida,
as suas propriedades, o que podemos gozar
e a sustentabilidade
que este habitat natural pode ter.
E aqui... passou-se uma coisa.
A extração da "Pistia stratiotes"
foi feita manualmente.
Começámos com o setor A1 deste modo.
Podem ver aquele barquito,
ou uma chata, como lhe chamam no porto.
Aquela quantidade de alfaces
pesa cerca de 150 kg.
E o tempo foi passando, a limpar.
Pouco a pouco, o grupo ia crescendo.
Um dia, levantei-me tarde
e cheguei à zona húmida às 8 da manhã
e deparo com esta surpresa.
Mais de 100 pessoas na zona húmida!
Gritaram: "Estamos contigo,
salvemos El Cascajo!"
Foi a primeira vez que me senti
como um político,
a cumprimentar toda a gente.
(Risos)
Foi uma alegria fabulosa
ver aquelas pessoas sem proteção,
metidos na zona húmida a tirar alfaces.
"Vamos salvar El Cascajo!
"Sim, todos juntos".
Bom, excelente!
O resultado da A1 foi assim:
Tirámos 70 toneladas de alfaces.
O que fizemos a essas alfaces?
Composto, adubo orgânico.
Para quê? Para alimentar zonas desertas
e zonas áridas, para gerar áreas verdes.
Tivemos resultados excelentes.
Graças a um programa com o governo local,
que, diga-se de passagem,
também me ajudou desde o princípio.
Limpámos, sucessivamente,
a A1, a A2, depois a B1, etc.
O passo seguinte foi um sistema
para tratar a água.
O que é que fizemos?
Implementámos a nanotecnologia.
Na área da nanotecnologia,
temos dois sistemas.
O sistema de borbulhagem micronano
e os biofiltros.
O que é a borbulhagem micronano?
O que é isso?
Imaginem as borbulhas das gasosas.
A nanoborbulha é 10 mil vezes mais pequena.
Ou seja, é difícil de ver
com estes pequenos olhos que tenho.
(Risos)
A diferença é que as borbulhas
da gasosa duram pouco tempo
Em contrapartida, as nanoborbulhas
mantêm-se no líquido entre 5 a 8 horas.
E estão tanto tempo para quê?
Para uma função.
A nanoborbulha, a toda a volta,
tem iões positivos e negativos.
Em poucas palavras,
tem uma alta concentração de energia.
Em poucas palavras,
é uma corrente eletrostática.
Todos nós brincámos
com a capa de plástico dos livros.
Passávamos pelos cabelos
e eles punham-se em pé, não era?
É a mesma coisa!
Então, o que é que vai acontecer?
A nanoborbulha vai impregnar-se assim.
Dou como exemplo os vírus.
Os vírus vão ser atraídos
por esta corrente eletrostática
e vão ficar colados.
E o que é que vai acontecer?
Quando esta borbulha explode,
liberta todos estes iões
e vai gerar radicais livres.
Vamos dar um bom uso à palavra,
criámos uma "bombinha"
para que estas bactérias
se destruam ou morram.
Como é que a instalamos?
Também com materiais locais.
Como podem ver ali.
Uma bomba de água, bomba de oxigénio,
um grupo eletrógeno e tubo de PVC.
Podem vê-lo ali. Parece um detergente
que está a limpar.
As nanoborbulhas estão a funcionar.
Graficamente, seria deste modo.
Ali está o tubo de PVC.
Mas como se forma esta nanoborbulha?
Graças à interação do ar, da água
e de um dispositivo que redesenhei.
Redesenhei-o nos laboratórios
da universidade de Tsukuba, no Japão.
Este dispositivo transforma
esta interseção nestas nanoborbulhas.
Assim, vai limpando pouco a pouco
os contaminantes da zona húmida.
Depois destas nanoborbulhas,
introduzimos os biofiltros.
Os filtros, todos sabem bem,
vão cumprir uma função de absorção.
Para quê? Para ter um resultado,
para reduzir a carga contaminante.
Mais a palavra "bio" que está na moda.
E assim foi.
Utilizámos também os materiais do local.
Utilizei a argila, o barro,
para construir estes biofiltros
duma maneira natural.
Também desta maneira, conseguimos
a absorção de bactérias ou vírus
ou contaminantes, como compostos
orgânicos, inorgânicos.
Tudo que seja absorvido por este biofiltro.
O tempo de vida?
Estão ali metidos até hoje.
Mas podem reutilizar-se de outro modo.
Quando já não servem, o que é que faço?
Triturei-o, transformei-o
de novo em barro e fiz lajes.
Lembram-se da cor da água
da zona húmida?
Em pouco tempo, transformámo-la assim.
Fabuloso!
(Aplausos)
Mas, não se emocionem.
Não se emocionem.
Aqui vem a surpresa.
Em pouco tempo,
chegaram as aves migratórias.
Mais de 77 espécies!
Uma coisa fabulosa.
Sabem que mais?
Aqui passou-se uma coisa muito curiosa,
em janeiro de 2013.
Eu estava no laboratório da universidade,
obviamente com as minhas experiências,
todas "nerd"...
(Risos)
e recebi outra chamada telefónica,
mas não era do meu pai,
era de outra pessoa, que diz:
"Ouve, lembras-te da zona húmida
que estava verde?"
"Lembro", respondi.
"Bem, agora está branca".
"Oh, meu Deus,
puseram-lhe lixivia", disse eu.
Não senhor.
Passou-se o seguinte.
A zona húmida ficou branca, sim,
mas por causa das aves migratórias.
São aves, não são morcegos.
(Risos)
Eu estava nervoso,
por causa das dúvidas
que tinha gerado nos bancos
Mas, ao ver este cenário,
a primeira coisa que pensei,,,
mais que isso... senti-me bem.
"As minhas filhas", pensei.
(Risos)
Mas sabem o que é
o mais belo de tudo isto?
Ao ver este espetáculo, olhei para elas
e todas as dúvidas desapareceram.
Disse-lhes: "Obrigado,
já desapareceu todo o nervosismo".
Como se lembram,
El Cascajo era de cor verde.
Quando o deixei, estava assim
Agora, sim, aplausos, por favor.
(Risos)
(Aplausos)
Mas, para continuarmos a manter
El Cascajo precisávamos duma equipa.
Essa equipa, primeiro, foram as crianças.
Antes disso, as mães proibiam-nos
de se aproximarem
porque, quando eles ali se metiam,
saíam de lá cheios de sarna.
Agora as crianças já brincam.
Já brincam ali,
a atirar pedrinhas aos animais.
Eu grito: "Não atirem pedras!"
Mas, ao ver estes miúdos, penso:
"Voltei ao passado".
É uma coisa bonita.
Agora El Cascajo tem uma grande família,
Chama-se Cascajo Team.
Qualquer um pode pertencer a esta família.
Para mantê-lo,
fazemos campanhas de limpeza.
Tivemos mais de 150 voluntários
de todo o Peru.
Aproveito para anunciar que amanhã
temos uma campanha de limpeza.
(Risos)
Antes disso, sabem que mais?
Uma pessoa muito especial na minha vida
disse-me o seguinte:
"Ouve, porque não fazes isto
em todo o Peru?"
A culpada é ela.
É a minha irmã Marian.
Penso: "Seria bonito, não era?"
Pois bem.
Façamos isso.
É por isso que, no próximo ano,
vou voltar ao meu Peru.
Vou começar com o lago Titicaca,
o rio Chira, a lagoa de Paca.
e muitos mais habitats naturais.
Já tenho uma lista de espera.
(Aplausos)
Ela deixou-me uma frase
que quero partilhar convosco.
Gostaria que também a partilhem.
"Que a cor do coração da natureza
chegue ao coração de todos".
Muito obrigado.
(Aplausos)