Se você me conhece, conhece minha irmã.
Muitos de vocês estão esperando
que ela entre a qualquer momento
para falar ao meu lado.
Porque somos gêmeas, certo?
Fazemos tudo juntas.
Desde o útero até a sepultura.
Odeio decepcioná-los,
mas, esta noite, estou aqui sozinha.
Eu sei, surpresa,
as gêmeas estão fazendo algo separadas,
mas sim, estou aqui sozinha.
Muitos de vocês podem
estar questionando o porquê.
Por que, Kat, você decidiu
vir aqui sozinha?
Bem...
Como gêmea, singularidade é algo
pelo qual posso dizer que sempre lutei.
Muitos falharam em identificar
não só as diferenças físicas
entre eu e minha irmã,
mas também entre nossas personalidades.
Sim, eu sei que somos diferentes.
E estou sozinha hoje à noite
para provar não só a vocês,
mas a mim mesma.
Porque, apesar de estar aqui,
divagando aqui sobre a ideia
de que somos dois indivíduos separados,
tenho dificuldade em descobrir
o que exatamente nos separa.
Para minha surpresa, me perguntam:
"O que vocês tem de diferente?"
Foi difícil encontrar uma resposta válida.
Gostamos muito das mesmas coisas,
conversamos sobre as mesmas coisas
odiamos as mesmas coisas,
temos as mesmas paixões,
fazemos as mesmas coisas.
No entanto, tomamos cuidado
para não usar as mesmas coisas.
E posso garantir a vocês
é pura coincidência:
não nos esforçamos para isso,
simplesmente acontece.
Então, o mínimo que posso fazer
é cortar meu cabelo curto.
Mais curto que o dela, ao menos.
Meu cabelo curto faz com que eu me sinta,
bem, diferente, única.
Ele me lembra de que eu sou eu mesma,
que eu sou a rebelde, a que se arrisca,
a aventureira que tenta não pensar muito,
a chorona, a desajeitada,
aquela que muito frequentemente
fala mais do que devia.
Meu cabelo curto é um lembrete físico
de que sim eu sou diferente,
de que eu sou eu mesma,
que eu sou uma em um milhão
e não uma num par,
não uma parte de uma unidade,
mas que sou Katherine De Jesus.
Apenas Kat, apenas eu.
Minha irmã e eu sempre somos comparadas.
E, como gêmea, entendo
por que isso acontece.
Mas ainda aguardo o dia
em que minhas conquistas
não serão comparadas com as da minha irmã.
Aguardo o dia em que não será sempre:
"Você tirou mais que sua irmã",
"tirou menos", "tirou mais".
Aguardo o dia em que serei
comparada a quem eu costumava ser.
Me desculpem se soa um pouco egoísta,
mas eu aguardo o dia
em que minhas conquistas
não serão medidas
de acordo com as da minha irmã.
Competição é basicamente inexistente
entre eu e minha irmã.
Eu tenho orgulho do que ela faz,
e sei que ela tem orgulho de mim.
Mas não ligo se sou melhor que minha irmã.
Eu quero saber se sou melhor
que a pessoa que fui ontem
porque, como o individuo que sou,
eu quero melhorar.
Mas acho que sempre fiquei ao lado
de minha irmã, porque é mais fácil.
É mais fácil ter minha melhor amiga,
colega de útero, sempre ali;
sempre ali para me ajudar
a tomar decisões,
para ajudar a decidir o que usar, comprar,
o que pedir no restaurante.
É até mais fácil começar conversas;
não precisamos dizer nada.
As pessoas nos olham e comentam:
"Nossa, vocês são gêmeas. Como é isso?"
E a conversa continua a partir dali.
É fácil, bem mais fácil que estar sozinha.
O medo de estar só é mortificante.
Mas só crescemos depois de ficarmos sós.
Aprendemos o quão forte somos,
o quão capazes somos,
o quão confortável ficamos
com o desconfortável.
Eu amei cada momento, cada memória,
cada prêmio, cada título,
cada sorriso, cada choro
que eu tive o privilégio
de compartilhar com minha irmã.
Mas agora estou pronta para começar
um novo capítulo, um novo livro.
Estou ansiosa para começar
meu próprio nome, para me distinguir.
Ansiosa para ver
que conto a minha história,
e rezo para que seja boa.
É claro que fica a questão:
qual história Katherine de Jesus -
e não Kimberly e Katherine - quer contar?
Que história você quer contar?
Não seus pais, não seus amigos,
não seus professores.
Nunca teremos a resposta
a essa pergunta até que estejamos sós,
até que ouçamos nossa própria voz,
cérebro, coração, nossos instintos.
Odeio ser clichê e cafona,
mas não poderia pensar nada mais adequado
para explicar o que tento dizer.
Quando escrever a história de sua vida,
lembre-se que é você quem segura a caneta
ou o lápis, o lápis de cera,
o delineador ou o marcador,
o que você preferir.
Porque o que você sempre terá,
que ninguém mais tem, é você;
seu coração, sua alma, sua essência.
Essas coisas são suas e somente suas.
Elas formam que você é, sua identidade.
Então, quem é você? Quem sou eu?
Não me dei conta do quão difícil
essa pergunta poderia ser,
até tentar respondê-la eu mesma.
Então quem sou eu?
Sim, eu sou gêmea,
mas sou mais que somente isso.
Eu sou Katherine De Jesus.
Sou uma mulher negra-hispânica,
norte-americana de primeira geração.
Sou artista, cineasta.
Eu sou uma entusiasta hardcore
de qualquer-coisa-de-super-herói.
Sou uma idiota e uma leitora voraz.
Eu sou muitas coisas,
mas mais que qualquer coisa,
eu sou apenas eu.
Eu, uma garota que apenas quer ser feliz,
que quer fazer o que ama.
Eu sou só uma garota com fome
de se sobressair, de aprender, de crescer.
Eu sou uma garota que deseja
algo diferente, algo bom,
algo que me meu coração me contou
que eu começaria a encontrar
ficando em pé aqui sozinha.
Obrigada.