Se quisesse dar apenas uma olhadinha
nos manuscritos de Marie Curie,
você teria que assinar
um termo de compromisso
e vestir roupa de proteção
contra contaminação por radiação.
Os restos mortais de Marie Curie
estão guardados num caixão de chumbo,
mantendo a radiação,
que foi a essência de sua pesquisa
e provavelmente a causa
de sua morte, bem isolada.
Crescendo em Varsóvia, durante
a ocupação da Polônia pela Rússia,
a jovem Marie, cujo
nome era Maria Sklodowska,
era uma estudante brilhante
que teve que enfrentar muitos obstáculos.
Como mulher, ela foi impedida
de prosseguir num curso superior
então, num ato de rebeldia,
Marie se inscreveu
numa universidade itinerante,
uma instituição secreta que oferecia
educação clandestina à juventude polonesa.
Economizando e trabalhando
como professora e educadora,
ela se mudou para Paris
para estudar na renomada Sorbonne.
Marie então se graduou
em física e matemática,
sobrevivendo basicamente de chá e pão,
sendo que, às vezes, desmaiava de fome.
Em Paris, Marie conheceu
o físico Pierre Curie,
que dividiu o seu laboratório
e seu coração com ela.
Mas ela queria muito voltar à Polônia.
De volta a Varsóvia,
ela percebeu que, conseguir
uma posição acadêmica,
continuava sendo muito difícil.
Nem tudo estava perdido.
De volta a Paris,
Pierre ainda esperava por ela,
eles se casaram e se tornaram
uma fantástica equipe científica.
Os trabalhos de outros físicos
despertaram o interesse de Marie.
Em 1986, Henri Becquerel descobriu
que o urânio emitia espontaneamente
uma radiação misteriosa semelhante
ao raio X, que queimava filme fotográfico.
Logo ela descobriu que o tório
emitia uma radiação parecida.
E o mais importante, a força da radiação
dependia unicamente
da quantidade da substância
e não era afetada por
alterações físicas ou químicas.
Isso a levou a concluir que a radiação
provinha de alguma coisa fundamental
de dentro do átomo de cada elemento.
Era uma ideia radical
que ajudou a contestar o modelo de longa
data dos átomos como objetos indivisíveis.
Em seguida, pesquisando um minério
super radioativo chamado pechblenda,
os Curies perceberam que o urânio sozinho
não poderia criar toda aquela radiação.
Haveria outros elementos
radiativos que seriam responsáveis?
Em 1898, eles anunciaram
dois novos elementos:
polônio, em homenagem à Polônia
e rádio, a palavra latina para raio.
Eles também inventaram
o termo radiatividade.
Em 1902, os Curies extraíram um décimo
de grama de sal de cloreto de rádio
de diversas toneladas de pechblenda,
um feito incrível naquela época.
Depois, naquele ano,
Pierre Curie e Henri Becquerel
foram indicados ao prêmio Nobel de Física,
mas Marie não foi.
Pierre solicitou que houvesse
o reconhecimento de sua esposa também.
E ambos os Curies e Becquerel
dividiram o prêmio Nobel de 1903
transformando Marie Curie
a primeira mulher a ganhar o Nobel.
Recebendo financiamentos e muito
respeitados, os Curies estavam com sorte.
Mas, a tragédia veio em 1906 quando
Pierre foi atropelado por uma carruagem,
quando atravessava
um cruzamento movimentado,
Marie, desolada,
mergulhou em suas pesquisas
e assumiu o lugar de Pierre na Sorbonne,
tornando-se a primeira
professora da universidade.
Seu trabalho solitário foi prolífico.
Em 1911 ela ganhou outro Nobel,
desta vez em química, pela sua
descoberta anterior de rádio e polônio
e pela extração e análise
de rádio puro e seus componentes.
Com isso, ela foi
a primeira, e é até hoje,
a única pessoa a ganhar o Nobel duas vezes
em dois campos diferentes da ciência.
Curie colocou suas descobertas em campo,
mudando para sempre o panorama
da pesquisa e do tratamento médico.
Criou unidades radiológicas
móveis na Primeira Guerra Mundial
e investigou os efeitos
da radiação em tumores.
No entanto, esses benefícios à humanidade
cobraram dela um alto preço pessoal.
Curie morreu em 1934
de uma doença da medula óssea,
que se acredita tenha sido
causada pela exposição à radiação.
As pesquisas revolucionárias
de Marie Curie
lançaram as bases para a nossa
compreensão da física e da química,
abrindo caminhos na oncologia,
tecnologia, medicina e física nuclear,
para citar apenas alguns.
Para o bem ou o para o mal, suas
descobertas iniciaram uma nova era,
revelando alguns
dos maiores segredos da ciência.