1 00:00:01,556 --> 00:00:02,920 No filme "Interestelar", 2 00:00:02,920 --> 00:00:06,247 temos uma visão detalhada de um buraco negro supermassivo. 3 00:00:06,671 --> 00:00:08,698 Em contraste com um fundo de gás brilhante, 4 00:00:08,698 --> 00:00:10,820 a força gravitacional massiva do buraco negro 5 00:00:10,820 --> 00:00:12,349 direciona a luz em um círculo. 6 00:00:12,349 --> 00:00:14,392 No entanto, essa não é uma fotografia real, 7 00:00:14,392 --> 00:00:16,192 mas uma versão de computação gráfica, 8 00:00:16,192 --> 00:00:19,772 uma interpretação do que pode ser a aparência de um buraco negro. 9 00:00:20,401 --> 00:00:21,567 Cem anos atrás, 10 00:00:21,567 --> 00:00:24,978 Albert Einstein publicou sua teoria da relatividade geral. 11 00:00:25,216 --> 00:00:29,329 Desde então, cientistas já apresentaram muitos indícios que a confirmam. 12 00:00:29,676 --> 00:00:32,520 Mas algo previsto nessa teoria, os buracos negros, 13 00:00:32,520 --> 00:00:34,870 ainda não foi observado diretamente. 14 00:00:35,158 --> 00:00:38,118 Embora tenhamos uma ideia sobre a aparência de um buraco negro, 15 00:00:38,118 --> 00:00:40,967 na verdade, nunca fotografamos um. 16 00:00:41,191 --> 00:00:45,100 Entretanto, isso deve mudar em breve. 17 00:00:45,494 --> 00:00:49,522 Talvez vejamos a primeira fotografia de um buraco negro nos próximos anos. 18 00:00:49,612 --> 00:00:53,510 Para isso, será necessária uma equipe internacional de cientistas, 19 00:00:53,510 --> 00:00:58,057 um telescópio do tamanho da Terra e um algorítimo que monta a imagem final. 20 00:00:58,117 --> 00:01:01,639 Não poderei mostrar uma fotografia real de um buraco negro hoje, 21 00:01:01,663 --> 00:01:04,378 mas quero dar a vocês uma breve visão do esforço envolvido 22 00:01:04,378 --> 00:01:06,401 em conseguir essa primeira foto. 23 00:01:07,577 --> 00:01:11,134 Meu nome é Katie Bouman e sou doutoranda no MIT. 24 00:01:11,528 --> 00:01:13,555 Faço pesquisas em um laboratório 25 00:01:13,579 --> 00:01:16,877 que tenta fazer com que computadores vejam além de imagens e vídeo. 26 00:01:16,901 --> 00:01:18,933 Apesar de não ser astrônoma, 27 00:01:18,933 --> 00:01:23,116 hoje quero mostrar como pude contribuir para esse interessante projeto. 28 00:01:23,323 --> 00:01:26,154 Se olharem além das luzes da cidade hoje, 29 00:01:26,178 --> 00:01:29,984 poderão ter a sorte de uma vista deslumbrante da Via Láctea. 30 00:01:30,155 --> 00:01:32,571 E, se olhassem além das milhões de estrelas, 31 00:01:32,571 --> 00:01:36,396 26 mil anos-luz em direção ao interior do espiral da Via Láctea, 32 00:01:36,420 --> 00:01:39,941 encontrariam um aglomerado de estrelas bem ao centro. 33 00:01:39,965 --> 00:01:43,171 Espiando além da poeira galáctica com telescópios de infravermelho, 34 00:01:43,195 --> 00:01:47,062 astrônomos vêm observando essas estrelas por mais de 16 anos. 35 00:01:47,086 --> 00:01:50,675 Mas o mais espetacular é o que eles não veem. 36 00:01:50,699 --> 00:01:53,765 Essas estrelas parecem orbitar em torno de um objeto invisível. 37 00:01:53,789 --> 00:01:57,212 Monitorando o trajeto dessas estrelas, astrônomos concluíram 38 00:01:57,234 --> 00:02:00,633 que a única coisa pequena e pesada o suficiente para gerar o movimento 39 00:02:00,633 --> 00:02:02,575 é um buraco negro supermassivo, 40 00:02:02,599 --> 00:02:06,777 um objeto tão denso que suga tudo que passa por perto, 41 00:02:06,801 --> 00:02:08,295 até a luz. 42 00:02:08,319 --> 00:02:11,380 Mas o que acontece se olharmos mais a fundo? 43 00:02:11,404 --> 00:02:16,137 É possível enxergar algo que, por definição, é impossível de ser visto? 44 00:02:16,719 --> 00:02:19,963 Ocorre que, se dermos um close ao comprimento de ondas de rádio, 45 00:02:19,987 --> 00:02:23,989 esperamos ver um círculo de luz gerado pela lente gravitacional do plasma quente 46 00:02:23,989 --> 00:02:25,957 movendo-se em torno do buraco negro. 47 00:02:25,981 --> 00:02:29,915 Ou seja, o buraco negro lança uma sombra nesse cenário de material brilhante, 48 00:02:29,915 --> 00:02:31,717 criando uma esfera de escuridão. 49 00:02:32,226 --> 00:02:35,565 Esse círculo brilhante revela o horizonte de eventos do buraco negro, 50 00:02:35,589 --> 00:02:37,989 no qual a força gravitacional torna-se tão intensa 51 00:02:38,013 --> 00:02:39,639 que nem a luz consegue escapar. 52 00:02:39,663 --> 00:02:42,522 As equações de Einstein preveem tamanho e forma do círculo, 53 00:02:42,546 --> 00:02:45,754 então fotografá-lo não seria apenas legal: 54 00:02:45,778 --> 00:02:48,360 também ajudaria a verificar se as equações se sustentam 55 00:02:48,360 --> 00:02:50,886 nas situações extremas ao redor do buraco negro. 56 00:02:50,910 --> 00:02:53,468 No entanto, esse buraco negro está tão distante de nós 57 00:02:53,492 --> 00:02:56,590 que, da Terra, esse círculo aparece incrivelmente pequeno: 58 00:02:56,614 --> 00:03:00,204 do mesmo tamanho de uma laranja na superfície da Lua. 59 00:03:00,648 --> 00:03:03,472 Isso faz com que seja extremamente difícil fotografá-lo. 60 00:03:04,645 --> 00:03:05,947 Mas por quê? 61 00:03:06,512 --> 00:03:09,584 Tudo se resume a uma simples equação. 62 00:03:09,584 --> 00:03:12,140 Devido a um fenômeno chamado difração, 63 00:03:12,164 --> 00:03:16,059 há limites fundamentais para os menores objetos que conseguimos ver. 64 00:03:16,699 --> 00:03:20,305 Essa equação governante diz que, para vermos coisas cada vez menores, 65 00:03:20,305 --> 00:03:22,916 precisamos construir telescópios cada vez maiores. 66 00:03:22,916 --> 00:03:26,129 Mas, até com os telescópios ópticos mais potentes aqui na Terra, 67 00:03:26,129 --> 00:03:28,608 não chegamos nem perto da resolução necessária 68 00:03:28,632 --> 00:03:30,830 para retratar a superfície da Lua. 69 00:03:30,854 --> 00:03:34,411 Aliás, mostro aqui uma das imagens com maior resolução já tiradas 70 00:03:34,411 --> 00:03:35,816 da Lua daqui da Terra. 71 00:03:35,816 --> 00:03:38,367 Possui aproximadamente 13 mil pixels, 72 00:03:38,367 --> 00:03:42,547 e, ainda, cada pixel contém 1,5 milhões de laranjas. 73 00:03:43,326 --> 00:03:45,352 Então, quão grande deve ser o telescópio 74 00:03:45,352 --> 00:03:48,157 para podermos ver uma laranja na superfície da Lua 75 00:03:48,181 --> 00:03:50,395 e, por extensão, nosso buraco negro? 76 00:03:50,419 --> 00:03:52,113 Bem, analisando os números, 77 00:03:52,113 --> 00:03:56,153 calculamos facilmente que precisaríamos de um telescópio do tamanho da Terra. 78 00:03:56,153 --> 00:03:57,157 (Risos) 79 00:03:57,168 --> 00:03:59,255 Se conseguíssemos construir esse telescópio, 80 00:03:59,255 --> 00:04:01,954 poderíamos começar a avistar esse distinto círculo de luz 81 00:04:01,954 --> 00:04:04,287 que indica o horizonte de eventos do buraco negro. 82 00:04:04,561 --> 00:04:07,373 Essa fotografia não mostraria todos os detalhes que vemos 83 00:04:07,373 --> 00:04:09,089 nas versões de computação gráfica, 84 00:04:09,089 --> 00:04:11,538 mas permitiria que tivéssemos a primeira visão 85 00:04:11,538 --> 00:04:14,025 do ambiente intermediário ao redor do buraco negro. 86 00:04:14,377 --> 00:04:16,100 No entanto, como podem imaginar, 87 00:04:16,124 --> 00:04:19,748 construir um telescópio do tamanho da Terra é impossível. 88 00:04:19,772 --> 00:04:23,229 Mas, nas palavras de Mick Jagger: "Você nem sempre consegue o que quer, 89 00:04:23,229 --> 00:04:26,636 mas, se tentar, às vezes, vai perceber que consegue o que precisa". 90 00:04:26,858 --> 00:04:29,412 Conectando telescópios do mundo todo, 91 00:04:29,412 --> 00:04:32,950 uma parceria internacional chamada Event Horizon Telescope 92 00:04:32,998 --> 00:04:36,107 está criando um telescópio computacional do tamanho da Terra 93 00:04:36,107 --> 00:04:39,672 que soluciona estruturação no nível do horizonte de eventos do buraco negro. 94 00:04:39,672 --> 00:04:43,329 Essa rede de telescópios deve tirar a primeira foto de um buraco negro 95 00:04:43,329 --> 00:04:44,791 no ano que vem. 96 00:04:45,165 --> 00:04:48,503 Todos os telescópios nessa rede mundial trabalham juntos. 97 00:04:48,527 --> 00:04:51,053 Ligados pelo horário preciso dos relógios atômicos, 98 00:04:51,053 --> 00:04:53,920 as equipes de pesquisadores em cada local congelam a luz 99 00:04:53,944 --> 00:04:56,906 coletando milhares de terabytes em dados. 100 00:04:56,930 --> 00:05:01,947 Esses dados são processados em um laboratório aqui em Massachusetts. 101 00:05:01,971 --> 00:05:03,765 Então, como funciona isso? 102 00:05:03,789 --> 00:05:06,946 Lembram-se de que, para vermos o buraco negro no centro na galáxia, 103 00:05:06,946 --> 00:05:09,928 precisamos construir aquele telescópio do tamanho da Terra? 104 00:05:10,222 --> 00:05:14,058 Por um momento, vamos imaginar que conseguimos construir esse telescópio. 105 00:05:14,218 --> 00:05:18,133 Seria como transformar a Terra em uma bola de espelhos gigante. 106 00:05:18,594 --> 00:05:20,794 Cada espelho receberia luz 107 00:05:20,818 --> 00:05:23,415 que poderíamos, então, juntar para formar uma imagem. 108 00:05:23,439 --> 00:05:26,114 Agora, imaginem que removamos a maior parte dos espelhos, 109 00:05:26,114 --> 00:05:28,096 deixando restar apenas alguns. 110 00:05:28,120 --> 00:05:32,607 Ainda poderíamos juntar essas informações, mas agora há muitos buracos. 111 00:05:33,038 --> 00:05:37,411 Os espelhos restantes representam os locais onde temos telescópios. 112 00:05:37,435 --> 00:05:41,514 É um número incrivelmente pequeno de leituras para formar uma imagem. 113 00:05:41,538 --> 00:05:45,376 Mas, apesar de só recebermos luz em alguns locais, 114 00:05:45,400 --> 00:05:48,823 conforme a Terra gira, podemos ver outras leituras. 115 00:05:48,847 --> 00:05:52,530 Ou seja, conforme a bola de espelhos gira, os espelhos mudam de lugar 116 00:05:52,530 --> 00:05:55,529 e podemos observar partes diferentes da imagem. 117 00:05:55,613 --> 00:05:59,631 Os algorítimos de imagem que desenvolvemos preenchem os espaços na bola de espelhos 118 00:05:59,631 --> 00:06:02,664 para reconstruir a imagem subjacente do buraco negro. 119 00:06:02,664 --> 00:06:05,262 Se tivéssemos telescópios em todos os lugares do globo, 120 00:06:05,262 --> 00:06:07,083 ou seja, a bola de discos inteira, 121 00:06:07,083 --> 00:06:08,427 isso seria trivial. 122 00:06:08,645 --> 00:06:11,921 No entanto, vemos apenas algumas amostras e, por isso, 123 00:06:11,921 --> 00:06:14,283 há um número infinito de imagens possíveis 124 00:06:14,283 --> 00:06:17,367 que são coerentes com as leituras dos telescópios. 125 00:06:17,391 --> 00:06:20,407 Mas nem todas as imagens são criadas igualmente. 126 00:06:20,779 --> 00:06:25,307 Algumas parecem mais com nossa ideia de imagem do que outras. 127 00:06:25,307 --> 00:06:28,413 Meu papel ao ajudar a fotografar o buraco negro pela primeira vez 128 00:06:28,413 --> 00:06:31,419 é desenvolver algorítimos que encontrem a imagem mais aceitável 129 00:06:31,419 --> 00:06:33,755 que se encaixe nas leituras do telescópio. 130 00:06:34,727 --> 00:06:38,669 Assim como desenhistas forenses usam descrições limitadas 131 00:06:38,669 --> 00:06:42,151 para reconstruir uma fotografia com conhecimento em estruturas faciais, 132 00:06:42,151 --> 00:06:45,506 os algorítimos que desenvolvo usam dados limitados do telescópio 133 00:06:45,506 --> 00:06:49,868 para nos levar a uma imagem que também se pareça com as substâncias no universo. 134 00:06:49,916 --> 00:06:53,567 Usando esses algorítimos, podemos reconstruir imagens 135 00:06:53,591 --> 00:06:55,771 a partir desses poucos dados ruidosos. 136 00:06:55,795 --> 00:07:00,324 Aqui está um exemplo de reconstrução feita com dados simulados, 137 00:07:00,348 --> 00:07:04,321 em que simulamos apontar os telescópios para o buraco negro no centro da galáxia. 138 00:07:04,914 --> 00:07:06,963 Apesar de ser apenas uma simulação, 139 00:07:06,963 --> 00:07:09,393 esse tipo de reconstrução nos dá esperança 140 00:07:09,393 --> 00:07:12,846 de que logo poderemos, de fato, fotografar um buraco negro 141 00:07:12,846 --> 00:07:15,441 e, a partir disso, determinar sua circunferência. 142 00:07:16,118 --> 00:07:19,051 Gostaria muito de falar sobre os detalhes desse algorítimo, 143 00:07:19,051 --> 00:07:21,445 mas, para a sorte de vocês, não temos tempo. 144 00:07:21,539 --> 00:07:23,540 Ainda assim, quero dar uma breve noção 145 00:07:23,540 --> 00:07:25,842 sobre como definimos a aparência do universo 146 00:07:25,842 --> 00:07:30,308 e como usamos isso para reconstruir e verificar nossos resultados. 147 00:07:30,380 --> 00:07:32,660 Como há um número infinito de imagens possíveis, 148 00:07:32,660 --> 00:07:35,139 que bem explicam as leituras do telescópio, 149 00:07:35,139 --> 00:07:37,818 temos que escolher entre elas de alguma forma. 150 00:07:37,818 --> 00:07:39,756 Fazemos isso classificando as imagens 151 00:07:39,756 --> 00:07:42,590 com base na probabilidade de serem imagens do buraco negro 152 00:07:42,590 --> 00:07:45,072 e escolhendo a mais provável. 153 00:07:45,144 --> 00:07:47,419 O que isso significa? 154 00:07:47,862 --> 00:07:49,674 Imaginem que tentamos montar um modelo 155 00:07:49,674 --> 00:07:53,047 que mostra a probabilidade de uma imagem aparecer no Facebook. 156 00:07:53,047 --> 00:07:54,748 Seria preferível que ele mostrasse 157 00:07:54,748 --> 00:07:58,067 que é bem improvável que alguém poste essa imagem ruidosa à esquerda, 158 00:07:58,067 --> 00:08:01,666 e que é bem provável que alguém poste uma "selfie" como a da direita. 159 00:08:02,058 --> 00:08:03,721 A imagem ao centro está desfocada, 160 00:08:03,721 --> 00:08:07,380 então, embora seja mais provável vê-la no Facebook do que a imagem ruidosa, 161 00:08:07,380 --> 00:08:10,322 é menos provável vê-la ao compará-la com a "selfie". 162 00:08:10,322 --> 00:08:12,696 Mas, quando se trata de imagens do buraco negro, 163 00:08:12,696 --> 00:08:16,688 deparamo-nos com um enigma: nunca vimos um buraco negro. 164 00:08:16,688 --> 00:08:18,969 Então, como deve ser a imagem de um buraco negro, 165 00:08:18,969 --> 00:08:21,399 e o que supor sobre a estrutura dos buracos negros? 166 00:08:21,399 --> 00:08:24,245 Podemos tentar usar imagens de simulações que fizemos, 167 00:08:24,245 --> 00:08:26,589 como a imagem do buraco negro de "Interestelar", 168 00:08:26,589 --> 00:08:29,841 mas, se fizermos isso, podemos causar sérios problemas. 169 00:08:30,091 --> 00:08:33,541 O que aconteceria se a teoria de Einstein não fosse sustentada? 170 00:08:33,565 --> 00:08:37,526 Ainda íamos querer reconstruir um cenário preciso do que estava acontecendo. 171 00:08:37,550 --> 00:08:40,921 Se incorporarmos demais as equações de Einstein em nossos algorítimos, 172 00:08:40,921 --> 00:08:43,676 vamos acabar vendo o que esperamos ver. 173 00:08:43,724 --> 00:08:45,684 Queremos deixar as opções em aberto 174 00:08:45,684 --> 00:08:48,717 para caso haja um elefante gigante no centro da galáxia. 175 00:08:48,751 --> 00:08:50,028 (Risos) 176 00:08:50,052 --> 00:08:53,041 Tipos diferentes de imagens têm características bem distintas. 177 00:08:53,041 --> 00:08:56,287 Podemos diferenciar facilmente imagens de simulação do buraco negro 178 00:08:56,287 --> 00:08:58,913 das fotos tiradas todos os dias aqui na Terra. 179 00:08:58,937 --> 00:09:02,041 Precisamos saber dizer aos algorítimos como as imagens são 180 00:09:02,065 --> 00:09:05,314 sem aplicar somente um tipo de característica. 181 00:09:05,865 --> 00:09:07,758 Uma forma de contornarmos isso 182 00:09:07,782 --> 00:09:10,844 é aplicando características de diferentes tipos de imagens 183 00:09:10,868 --> 00:09:14,998 para ver como o tipo de imagem que adotamos afeta as reconstruções. 184 00:09:15,712 --> 00:09:19,117 Se todos os tipos de imagem produzem uma imagem similar, 185 00:09:19,117 --> 00:09:21,038 podemos começar a ficar mais confiantes 186 00:09:21,038 --> 00:09:25,481 de que as suposições que estamos fazendo não influenciam muito a foto. 187 00:09:25,505 --> 00:09:28,369 É quase como dar a mesma descrição 188 00:09:28,369 --> 00:09:31,515 a três desenhistas de diferentes partes do mundo. 189 00:09:31,539 --> 00:09:34,399 Se todos produzirem um rosto parecido, 190 00:09:34,423 --> 00:09:36,216 podemos começar a confiar 191 00:09:36,216 --> 00:09:39,832 que não estão aplicando suas tendências culturais nos desenhos. 192 00:09:39,880 --> 00:09:43,195 Uma forma de aplicarmos diferentes características de imagem 193 00:09:43,219 --> 00:09:45,660 é usando partes de imagens existentes. 194 00:09:46,214 --> 00:09:50,944 Pegamos um grande conjunto de imagens e as repartimos em pequenos pedaços. 195 00:09:51,140 --> 00:09:55,425 Podemos considerar cada pedaço uma peça de quebra-cabeça. 196 00:09:55,449 --> 00:09:59,531 E utilizamos peças comumente vistas para montar uma imagem 197 00:09:59,531 --> 00:10:02,203 que se encaixa nas leituras do telescópio. 198 00:10:03,040 --> 00:10:06,783 Tipos diferentes de imagens têm conjuntos diferentes de peças. 199 00:10:06,807 --> 00:10:09,613 Então, o que acontece quando pegamos os mesmos dados 200 00:10:09,637 --> 00:10:13,731 mas usamos conjuntos diferentes de peças para reconstruir a imagem? 201 00:10:13,731 --> 00:10:18,557 Vamos começar com as peças da simulação da imagem do buraco negro. 202 00:10:18,581 --> 00:10:22,632 Bem, parece aceitável. É como esperamos que seja um buraco negro. 203 00:10:22,674 --> 00:10:23,911 Mas será que a obtivemos 204 00:10:23,911 --> 00:10:27,445 porque utilizamos partes de imagens de simulação do buraco negro? 205 00:10:27,469 --> 00:10:31,523 Vamos tentar outro conjunto de peças de outros objetos astronômicos. 206 00:10:32,914 --> 00:10:35,040 Conseguimos uma imagem semelhante. 207 00:10:35,064 --> 00:10:37,164 E que tal partes de imagens cotidianas, 208 00:10:37,164 --> 00:10:40,109 como as fotos que tiramos com nossas câmeras? 209 00:10:41,312 --> 00:10:43,427 Ótimo, vemos a mesma imagem. 210 00:10:43,427 --> 00:10:46,793 Quando obtemos a mesma imagem de todos os conjuntos de peças, 211 00:10:46,793 --> 00:10:48,743 podemos começar a ficar mais confiantes 212 00:10:48,791 --> 00:10:53,457 de que as suposições que fazemos não influenciam muito a imagem final. 213 00:10:53,776 --> 00:10:57,099 Também podemos pegar o mesmo conjunto de peças, 214 00:10:57,123 --> 00:10:59,612 como aquelas extraídas de imagens cotidianas, 215 00:10:59,612 --> 00:11:03,212 e usá-las para reconstruir vários tipos diferentes de imagens originais. 216 00:11:03,212 --> 00:11:04,483 Então, nas simulações, 217 00:11:04,483 --> 00:11:08,258 imaginamos que um buraco negro se parece com outros objetos astronômicos, 218 00:11:08,258 --> 00:11:12,107 bem como imagens cotidianas se parecem com elefantes no centro da galáxia. 219 00:11:12,227 --> 00:11:15,089 Quando os resultados dos algorítimos abaixo são semelhantes 220 00:11:15,089 --> 00:11:17,479 à simulação de imagem real acima, 221 00:11:17,479 --> 00:11:20,779 podemos começar a confiar em nossos algorítimos. 222 00:11:20,779 --> 00:11:24,646 E quero destacar aqui que todas essas images foram criadas 223 00:11:24,646 --> 00:11:27,582 juntando pequenas peças de fotografias cotidianas, 224 00:11:27,688 --> 00:11:29,857 como as que tiramos com nossas câmeras. 225 00:11:29,857 --> 00:11:33,233 Então, uma imagem de um buraco negro jamais vista 226 00:11:33,257 --> 00:11:37,070 pode ser criada se juntarmos imagens que vemos o tempo todo 227 00:11:37,070 --> 00:11:39,945 de pessoas, prédios, árvores, gatos e cães. 228 00:11:39,993 --> 00:11:42,282 Ideias de imagens como essas permitirão 229 00:11:42,282 --> 00:11:45,281 que tiremos as primeiras fotos de um buraco negro 230 00:11:45,305 --> 00:11:47,752 e, com sorte, comprovemos as famosas teorias 231 00:11:47,752 --> 00:11:50,173 com as quais os cientistas contam diariamente. 232 00:11:50,221 --> 00:11:52,829 Mas é claro que a obtenção de ideias como essas 233 00:11:52,829 --> 00:11:55,981 nunca teria sido possível sem a incrível equipe de pesquisadores 234 00:11:56,005 --> 00:11:57,960 com quem tenho o privilégio de trabalhar. 235 00:11:57,960 --> 00:11:59,197 Ainda me surpreende 236 00:11:59,197 --> 00:12:02,492 que, embora tenha começado o projeto sem conhecimento em astrofísica, 237 00:12:02,492 --> 00:12:04,965 o que alcançamos por meio dessa colaboração singular 238 00:12:04,965 --> 00:12:08,074 poderá resultar nas primeiras imagens de um buraco negro. 239 00:12:08,074 --> 00:12:10,760 Mas grandes projetos como o Event Horizon Telescope 240 00:12:10,760 --> 00:12:13,634 obtêm êxito devido a todo o conhecimento interdisciplinar 241 00:12:13,658 --> 00:12:15,448 que pessoas diferentes trazem. 242 00:12:15,472 --> 00:12:19,278 Somos uma mistura de astrônomos, físicos, matemáticos e engenheiros. 243 00:12:20,418 --> 00:12:24,452 Em breve, será possível alcançar algo que já foi considerado impossível. 244 00:12:24,913 --> 00:12:27,169 Gostaria de encorajá-los a saírem 245 00:12:27,193 --> 00:12:29,289 e ajudarem a ampliar os limites da ciência, 246 00:12:29,313 --> 00:12:33,214 mesmo que, no início, pareça tão misterioso quanto um buraco negro. 247 00:12:33,214 --> 00:12:34,428 Obrigada. 248 00:12:34,436 --> 00:12:36,833 (Aplausos)