Meus amigos, nós estamos aqui hoje reunidos em torno desta obra: "Boa Nova". E há um fato que nos chama a atenção nessa... digamos, gigantesca obra da Espiritualidade. Emmanuel, coordenador da mediunidade de Chico Xavier, autor de cinco romances que praticamente reconstruíram a história do cristianismo primitivo, optou por chamar alguém que pudesse escrever 30 contos a respeito da época de Jesus. E o projeto foi tão bem-sucedido, "Boa Nova", que Humberto de Campos repetiu a dose em outras obras, trazendo outros contos. O que nos chama a atenção é: por que Emmanuel não escreveu ele próprio? Por que chamou Humberto de Campos? O que Humberto de Campos agrega ao contar essas histórias? Por que ele? Que histórias são essas? Essa é uma reflexão, e toda vez que nós lemos um desses casos, e hoje vamos ler o capítulo 20, "Maria de Magdala", essa reflexão inicial vem à nossa mente: Por que Humberto de Campos? E é preciso dizer que Jesus não escreveu nada. Ele poderia ter redigido um compêndio do Evangelho de forma insuperável. Porque ninguém, ninguém seria capaz de superá-lo na redação do próprio Evangelho, mas Ele optou por nada escrever. Na verdade, Jesus optou por não deixar nada de material, prevendo que nós nos apegaríamos ao material e esqueceríamos da essência. Imaginem se tivesse existido um texto escrito pelo próprio punho de Jesus? Os homens adorariam mais esse pergaminho, ou esse papiro, fariam peregrinações, se ajoelhariam diante desse texto, implorariam curas, milagres e se esqueceriam da essência da mensagem. Portanto, Jesus ensina verbalmente, ensina oralmente, ensina com a Sua conduta, com a Sua vida e deixa que centenas de pessoas registrem os fatos e aqui eu gostaria de chamar a atenção para uma coisa: Nesse trânsito caótico que a gente vive nas grandes cidades, é comum ocorrerem acidentes. E quando ocorre o acidente, que foi presenciado por diversas pessoas, existe uma coisa muito engraçada: Ocorre o acidente e você chega para a pessoa e fala assim: "O acidente foi entre dois veículos, quais eram os veículos?" "Ah, era um Fiat Palio... ...e um Fiat Uno." O outro fala: "Não, não, não! Era um Fiat Palio e um Volkswagen." E não há concordância. Um fala: "Era um amarelo e um verde." Outro fala: "Não, era um azul e um amarelo." "O carro amarelo avançou... e o verde bateu no..." "Não, não foi não! Não foi assim." Cada um vai dar uma versão do fato. Porque percepção é algo muito subjetivo. Tirando aqueles elementos centrais do acontecimento, aqueles fatos que preenchem, que simplesmente compõem o cenário, nem sempre quem presenciou estava atento. E na redação dos Evangelhos ocorreu a mesma coisa... Os Evangelistas narraram, primeiro, com um propósito. Nenhum evangelista escreveu seu livro sem um propósito. Eles queriam transmitir uma mensagem. Eles não eram historiadores. Até porque historiador como nós conhecemos hoje, no séc. 21, não existia na época do Cristo. Esse conceito de fazer história como nós entendemos, não é um conceito de um habitante da época de Jesus. Esse conceito é nosso, não é deles. Eles estavam preocupados em transmitir a essência de uma mensagem. E mais do que isso, os Evangelistas estavam interessados em comover. Comover. Porque eles estavam comovidos. Alguém que teve a oportunidade de presenciar algo que Jesus fez ficou marcado para sempre. Para sempre. Para a eternidade. E, de algum modo, a pessoa queria expressar isso. Então ela não estava preocupada se, quando Jesus curou o cego, tinha 10, 15 ou 5 pessoas em volta. Porque, eu acredito, se você estivesse lá, você não ia prestar atenção. Você não ia prestar atenção. A figura de Jesus iria atraí-lo com tamanha força que você não teria energia para prestar atenção em mais nada. Esse é o trabalho do Evangelista. Cada qual narrou, um talvez percebeu algo que o outro não percebeu, um enfocou o acontecimento de um ângulo que o outro não enfocou, e assim foram redigidos os Evangelhos. E como hoje nós vamos falar dessa figura extraordinária que é Maria de Magdala... E aqui ela não é identificada pelo nome do pai, pelo nome da mãe, pela família... Como Simão Pedro, Simão bar Jonas, Simão filho de Jonas. Aqui não. É Maria de Magdalena. Seria mais ou menos assim: Haroldo de Belo Horizonte. José de Sabará. Luiza de Nova Lima. Essa é a identificação dela. Pela sua cidade natal. Maria de Magdala. O lago de Genesaré talvez seja um pouco maior do que a lagoa da Pampulha. E, por incrível que pareça, era rodeado de aldeias. E uma dessas aldeias próximas de Cafarnaum era a cidade de Magdala. Quais os dados nós temos de Maria de Magdala ou Maria Magdalena? Nós temos aqui um dicionário, um dicionário bíblico da Vida Nova... E como o objetivo neste momento é que você fique muito perdido, e que você tenha a sensação de que, depois que eu ler isso aqui, você está sabendo menos do que antes, eu vou ler o que ele vai falar sobre Maria Magdalena. É um dicionário feito, organizado pelo J. D. Douglas, mas tem vários eruditos bíblicos, vários estudiosos. E naturalmente eles vão falar do material que eles têm em mãos. O material que está disponível para os encarnados estudarem. É sobre isso que eles vão dizer. E ele diz assim: "Maria Magdalena: esse nome provavelmente se deriva da aldeia galileia de Magdala." Provavelmente? Como assim? Se Magdalena não se origina da aldeia de Magdala, se origina de onde? Aí a gente já percebe o temor, o medo de quem está escrevendo o artigo. Ele está com tanto medo que não quer fazer nenhuma afirmação. "O nome, provavelmente, se deriva da aldeia galileia de Magdala." "Seu aparecimento, antes das narrativas sobre a paixão de Jesus, se confina a Lucas 8, versículo 2." E é verdade. É verdade. E realmente a narrativa dos evangelistas se concentra na paixão, no momento da crucificação de Jesus e no momento da ressurreição. Antes, qual a referência à Maria Magdalena? Bom... Ele diz: capítulo 8, versículo 2, de Lucas. Vamos ver a referência: "E sucedeu depois disso..." Depois disso o quê? Depois de uma passagem que Lucas narrou, que é um banquete na casa de Simão, o fariseu. Depois disso... "E sucedeu, depois disso, que Ele percorria cada cidade e aldeia, proclamando e evangelizando o Reino de Deus. Os doze estavam com ele, e algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos maus e enfermidades: Maria, chamada Magdalena, ou de Magdala, da qual saíram sete daimones; Joana, mulher de Cusa, administrador de Herodes; Susana e muitas outras, as quais serviam a ele com seus bens." Essa é a referência a ela. Maria de Magdala, junto de Joana de Cusa, Suzana e outras mulheres. Nenhuma referência mais. E antes? Antes, no cap. 6, versículo 36, ao cap. 49 nós temos um caso curioso. Jesus é chamado para um banquete na casa de um fariseu. Essa é uma passagem bastante interessante, porque ela está repleta de elementos culturais e, se não entendemos os elementos da cultura da época, praticamente não entendemos a passagem. Praticamente não entendemos a passagem. Jesus é convidado para um banquete, Ele se reclina, começam a fazer as refeições e uma mulher chega por trás, começa a chorar nos Seus pés, por trás dos pés, enxuga as lágrimas com seus cabelos e derrama um vaso de unguento nos pés de Jesus. E o fariseu, vendo isso, diz a Jesus assim: "Se você fosse profeta, saberia que uma mulher pecadora está tocando em você." Bom, até aquele momento, Jesus cumpria todo o protocolo de um convidado bastante educado. Daquele momento em diante, Jesus diz coisas, para esse fariseu, muito duras. Muito duras... Mas quem é essa mulher? Não identificada. Há um outro caso, de outra mulher que ungiu Jesus, mas em Betânia. A pesquisa se divide, mas há uma corrente que entende que houve duas mulheres que ungiram Jesus: essa, que ungiu na casa de Simão, o fariseu... E onde ele morava? Não sabemos. O texto não diz. E depois, essa outra unção feita em Betânia, às vésperas da crucificação de Jesus. E esses são os dados. Alguns estudiosos tentaram identificar Maria de Magdala como a mulher adúltera, mas essa é uma corrente minoritária. A maioria entende que são pessoas distintas, completamente distintas. Mesmo porque não há referência nenhuma, nenhuma, nos Evangelhos, ao fato de ser Maria de Magdala casada ou não. E essa é a confusão dos estudiosos, em razão da falta de informação mais robusta nos Evangelhos, mas, sobretudo, da falta de conhecimento dos estudiosos das tradições da época de Jesus. Porque o texto tem informações, mas é preciso saber extraí-las. E aqui nós vamos fazer alguns comentários, sem recorrer ao livro "Boa Nova". Daqui a pouco vamos para o livro. Daqui a pouquinho. Vai ser importante. Sobre essa questão de entender-se os elementos culturais... Kenneth Bailey. Esse homem se dirigiu... protestante, se dirigiu à sua igreja com um projeto. Ele identificou que, na região da Palestina, Jerusalém e aldeias circunvizinhas, havia alguns povoados que mantinham características semelhantes à época de Jesus. Isso 50 anos atrás, quando ele começou a fazer a pesquisa. E o que ele propôs, então? Que dessem a ele uma bolsa, que bancassem um projeto, e ele iria até essas aldeias fazer uma pesquisa sobre a cultura local, na tentativa de encontrar elementos da cultura da época de Jesus. Qual era o projeto? Ele moraria um tempo nessas aldeias, leria o Evangelho para essas pessoas e perguntaria para elas: "O que você está entendendo aqui?" Detalhe: Ele lia o Evangelho em siríaco, que é um desenvolvimento da língua aramaica. Então, praticamente, numa língua muito próxima da língua materna de Jesus. E ele começava a perguntar pras pessoas. Ele se entusiasmou e acabou ficando 30 anos. Trinta anos... E produziu 5 obras. Estão todas em inglês, infelizmente, mas a editora Vida Nova traduziu um pedaço de uma obra. Por incrível que pareça, não traduziram a obra inteira. "As Parábolas de Lucas", Kenneth Bailey. E por incrível que pareça, para nossa sorte, para nossa sorte, o capítulo 2 se refere exatamente ao banquete na casa do fariseu Simão, onde aquela mulher quebra o vaso de alabastro com unguento e unge os pés de Jesus. E ele leu essa passagem para aqueles aldeões que mantinham os mesmos hábitos e viviam como se vivia 2.000 anos atrás, e começou a perguntar pra essas pessoas: "Ei!" "Por que Jesus chamou a atenção desse fariseu?" E eles ficavam assim: "Mas não é possível! Você não entendeu? Esse homem foi extremamente mal-educado com Jesus!" "Mal-educado como? Ele não convidou Jesus para cear na casa dele?" "Sim... Convidou Jesus para cear, mas ele não cumpriu nenhuma das regras da etiqueta social, nenhuma das regras que alguém que está recebendo... As regras da hospitalidade, ele quebrou todas." Aí o Kenneth Bailey ficou perplexo. "Como assim, quebrou todas?" Imagine que você convide alguém para ir na sua casa. A pessoa toca o interfone ou a campainha e você desce, abre a porta e fica olhando para a pessoa. E a pessoa olhando para você. Está certo? Não está! Tem uma coisa esquisita. Porque, quando recebe alguém, você abre a porta e o que diz? "Bom dia!" "Boa tarde!" "Boa noite!" "Vamos..." "Vamos entrar." "Vamos entrar?" Regras da hospitalidade da nossa sociedade. Aí a pessoa entra, fica em pé e você em pé também. Aí a pessoa te olha e fala: "Meu Deus! Ou essa pessoa que está me recebendo é um pouquinho maluquinha, ou eu não sou uma pessoa bem-vinda." Não é? "Eu não sou uma pessoa bem-vinda." Porque, quando alguém entra na sua casa, você fala: "Senta..." Regra da hospitalidade da nossa sociedade. "Senta..." Terceira pergunta: "Você quer beber alguma coisa? Um suco? Uma água? Um refrigerante?" Regras da hospitalidade. Você senta e conversa. Quais eram as regras de hospitalidade nas aldeias, na época de Jesus? A regra era: alguém entrava na sua casa e o "Bom dia! Vamos entrar?" era um beijo na pessoa. Se fosse alguém como você, um beijo na face. O beijo na face equivale a dizer: "Bom dia!" "Boa tarde!" "Boa noite!" "Por favor, entra!" Mas, se você estivesse recebendo alguém que fosse um mestre da Lei, um mestre da Torá, você beijava as mãos. A pessoa entrava. O que você fazia? Pedia para alguma mulher... mulher... lavar os pés da pessoa. Trazia-se uma vasilha... Por quê? Eu não sei se alguém aqui já teve oportunidade de caminhar no deserto. Particularmente, eu tive o privilégio de caminhar no deserto de Jerusalém para Jericó. E posso dizer uma coisa: depois de 30min no deserto da Judeia, se alguém te der uma água fresca para colocar o pé, refresca até o perispírito. Quando você põe o pé naquela água fria, até o corpo mental refresca. E nós temos essa experiência aqui. Quando está frio, você coloca os pés numa água morna, não aquece todo o corpo? Aquece. Então essa regra tinha sua razão de ser. Ao molhar os pés do convidado, você refrescava. Depois, o que você fazia? Se você estivesse recebendo uma autoridade, na Torá, você derramava um pouco de óleo na cabeça da pessoa. Era a unção. O sinal de que você estava recebendo um mestre da Lei. Pois bem... Simão, o fariseu, convidou Jesus para cear na casa dele. Jesus entrou na casa, ele não deu beijo nenhum, ele não ofereceu água para os pés de Jesus e ele não ungiu a cabeça de Jesus com óleo. O que ele estava dizendo para Jesus? "Você não é bem-vindo." "Você não é bem-vindo." As refeições eram feitas em mesas pequenas, de modo que a pessoa se ajoelhava, se reclinava com os pés para trás e comia. Como as aldeias eram muito pequenas, 50, 40 casas, a aldeia inteira vinha para observar você comer. Porque receber uma visita era um acontecimento. Então todo mundo vinha e não havia problema nenhum nisso. E nem precisava ficar constrangido da comida não dar, porque não tinha nenhuma obrigação de dar comida para a aldeia toda. As pessoas queriam ver você recebendo o seu hóspede e comendo. Daí o fato dessa mulher ter tido acesso à refeição. Ela entrou, como entraram dezenas de pessoas. E ela se posicionou por trás de Jesus porque Jesus estava reclinado para comer com os pés para trás. Mas talvez você esteja se perguntando: "Qual que é o tema desse estudo? É Maria de Magdala?" É. É Maria de Magdala. Essa mulher entra. Como ela é uma mulher pecadora... e aqui mais um elemento extraordinário da cultura: "mulher pecadora" é uma forma polida de dizer... "prostituta". Como dizer "garota de programa" é uma maneira polida de se referir à prostituição feminina. Nós também temos essas mesmas estratégias. Não é? Nós temos essa estratégia. Por que "mulher pecadora" sugere fortemente a prostituição feminina? Porque nós vivíamos numa sociedade altamente patriarcal. A mulher não tinha personalidade jurídica. Como assim? Significa que: é o pai e... boi, vaca, mulher... objetos... Na sinagoga ou no templo, para iniciar a oração que dá abertura ao culto, eu preciso de 10 pessoas. Eu estou sendo polido. A regra é: eu preciso de 10 homens, porque mulher não é pessoa. Ao menos para essa finalidade. Na sociedade judaica da época, a mulher não conta como pessoa para inteirar 10, para se iniciar a oração. Uma mulher é criada pelo pai, que tem autoridade de vida e morte sobre ela, assim como na sociedade romana da época. Ela sai da autoridade do pai e passa para a autoridade do marido. Ela devia usar, na cultura judaica, isso na cultura judaica, vestes adequadas, que tampassem tudo, ela não poderia conversar com homens que não fossem membros da sua família, ou na presença de membros da sua família... De modo que uma mulher conversando com um homem que não é da família dela, na rua... Inadmissível! Inadmissível. Essas eram as regras rígidas. Pois bem! E aqui nós temos um fato importante. Importantíssimo. Para a sensibilidade religiosa daquela época, uma pessoa que cumpre a lei, que é religiosa, conversar com alguém que é pecador é desaconselhável, porque eles imaginavam que, se você conversa com alguém que é pecador, se você toca nessa pessoa e essa pessoa toca em você, a impureza dela se transmite a você. Você se torna impuro. Dá para imaginar a reação de Simão Pedro quando vê Jesus conversando com prostitutas. Já tentaram imaginar? Às vezes, nós temos uma tendência de não entrar nessas questões, porque ferem a nossa sensibilidade. Ferem a nossa sensibilidade. Naquele caso específico, uma mulher pecadora, que é uma forma polida de dizer "uma prostituta"... ou... Porque, quando eu digo "prostituta", no conceito da época, não é necessariamente o conceito de "garota de programa". Não é necessariamente esse conceito. O conceito é: se você não casou e mantém um relacionamento com um homem, você é uma prostituta. Porque a mulher deve se manter virgem até o casamento e ela só pode manter relação após o casamento e com a pessoa com quem ela casou, evidentemente. Se... se... o marido divorciar... e ela arrumar um outro marido, ela é prostituta. Então as regras que definem a conduta da mulher eram extremamente restritivas. Se o seu marido te abandonou, e você ficou sozinha, encontrou outra pessoa e casou, você era uma prostituta. Que dirá de uma mulher que não casou e tinha namorados... Esse era o conceito. A questão é que Jesus era um mestre da Lei. Jesus era um rabi. E uma prostituta toca nele. Isso é inconcebível! É inconcebível uma mulher "de má vida" tocar num sacerdote ou em alguém religioso, que dirá num mestre da Lei... Essa mulher tocou em Jesus. Mas vamos observar? O fariseu que recebeu Jesus muito mal, que não cumpriu nenhuma das regras de hospitalidade, critica Jesus e encontra naquele ponto a razão para ridicularizar Jesus, que era o propósito dele. O propósito dele era ridicularizar Jesus, por isso ele não deu o beijo, por isso não ofereceu água para os pés, por isso ele não ungiu Jesus. O propósito era ridicularizar. Quando essa mulher toca, ele fala assim: "Agora eu tenho certeza que você não é profeta, porque, se você fosse profeta, você saberia que uma mulher impura te tocou." E aí Jesus diz para ele assim: "Simão... Um homem, um credor, tinha dois devedores. Um devia R$ 50." Vou adaptar a parábola para o sistema monetário brasileiro. "Um devia R$ 50. O outro, R$ 1 milhão. O credor chamou os dois e perdoou a divida dos dois. Qual o que ficou mais grato? Qual o que amou mais o credor?" E ele responde: "O que devia 1 milhão..." Imagina! Teve uma divida de 1 milhão perdoada. "Pois bem, Simão..." Jesus, indiretamente, disse para ele: "Você deve 1 milhão; ela, 50." Jesus diz assim para ele: "Eu entrei na casa, você não me deu o beijo, você não lavou meus pés e você não me ungiu. Essa mulher, desde que entrou, não cessa de beijar os meus pés." A obrigação, quando você encontra um mestre, é beijar as mãos dele, não os pés! Ela beijava os pés de Jesus. "Você não lavou meus pés, ela os lavou com lágrimas e enxugou com os cabelos. Você não ungiu minha cabeça, mas ela tirou o seu unguento..." E aí vem... o "pulo do gato": Ela tira um recipiente e joga aquele óleo nos pés de Jesus. Esse é um produto tão caro, tão caro! E dela... Pelo vocábulo, o recipiente que ela estava portando, seguramente, ela era uma prostituta. Era uma prostituta. E ela utilizou todo o produto que ela usava para ficar cheirosa... Derrama nos pés de Jesus, dando a entender que aquele era um caminho sem volta. É como um criminoso que entrega as armas: "Não quero mais!" Entrega. Essa é a passagem. Esses são os elementos culturais, são os os elementos da cultura da época que os pesquisadores bíblicos passam sem perceber, sem se dar conta. E depois que Lucas conta essa história, ele diz assim... Ele acaba de contar essa história... "E os que estavam reclinados à mesa começaram a dizer entre si: 'Quem é este que também perdoa pecados? Ele, porém... disse à mulher: A tua fé te tornou salva, vai em paz." Porque ele, antes, disse para ela: "Os teus pecados estão perdoados." E Lucas começa o capítulo 8 assim: "E sucedeu, depois disso... que Ele percorria cada cidade e aldeia proclamando e evangelizando o Reino de Deus." Como assim? Dá uma ideia de deslocamento? Porque essas aldeias estão na Galileia. Eles não estavam na Galileia? Onde estavam? "E algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos maus e enfermidades: Maria, chamada Magdalena, da qual saíram sete daimones..." e cita Maria Magdalena. E aí nós abrimos o capítulo 20 do livro "Boa Nova", com todas essas dúvidas que nós estamos agora, com todos esses questionamentos, e Humberto de Campos diz assim: "Maria de Magdala ouvira as pregações do Evangelho do Reino não longe da vila principesca onde vivia entregue a prazeres em companhia de patrícios romanos e tomara-se de admiração profunda pelo Messias." Uma mulher que vivia numa aldeia, que era Magdala, principesca, porque Magdala era tomada pelos romanos, e como os romanos tinham um bom gosto enorme, essa aldeia era linda. E Maria de Magdala "vivia entregue a prazeres em companhia de patrícios", no plural. Alguém aqui tem mais alguma dúvida ou podemos prosseguir? Uma mulher judia, porque ele vai dar esse detalhe aqui, que se entregava a prazeres na companhia de patrícios, no plural? Patrícios romanos? Olha como Humberto de Campos vai reconstituindo a história evangélica! Essas são peças que faltavam no quebra-cabeça. São peças que faltavam no quebra-cabeça, e ele está entregando de presente para nós. "Que novo amor era aquele, apregoado aos pescadores singelos por lábios tão divinos? Até ali, caminhara ela sobre as rosas rubras do desejo, embriagando-se com o vinho de condenáveis alegrias. No entanto, seu coração estava sequioso..." Sedento. "E em desalento. Jovem e formosa, emancipara-se dos preconceitos férreos de sua raça." A luz até tremeu. Emancipara-se dos preconceitos férreos de sua raça? Ela não seguia nenhuma das normas de conduta estabelecidas para a mulher na sociedade judaica. Por isso era tida como prostituta. Por isso era tida como prostituta. "Sua beleza lhe escravizara, aos caprichos de mulher, os mais ardentes admiradores." Então tinha um secto de fãs. "Mas seu espírito tinha fome de amor." Fome de amor. "O profeta nazareno havia plantado em sua alma novos pensamentos. Depois que lhe ouvira a palavra, observou que as facilidades da vida lhe traziam um tédio mortal ao espírito sensível. As músicas voluptuosas não encontravam eco em seu íntimo, os enfeites romanos de sua habitação se tornaram áridos e tristes. Maria chorou longamente, embora não compreendesse ainda o que pleiteava o profeta desconhecido. Entretanto, seu convite amoroso parecia ressoar-lhe nas fibras mais sensíveis de mulher. Jesus chamava os homens para uma vida nova." Esse é o toque. Esse é o toque. Nós temos depreendido da leitura dessa obra que cada espírito traz um elemento de toque que marca um trecho da sua evolução. Geralmente, é uma característica. Uma característica. Aqueles que têm um problema para lidar com o dinheiro vêm tendo esse problema nas últimas 30 encarnações. Os que tropeçam no poder vêm tendo problemas com o poder há três, quatro mil anos. E assim na sexualidade, e em outros aspectos. Geralmente é um elemento, um elemento do seu psiquismo que faz você ficar agarrado à terra, ao solo. Você se desenvolve em outros aspectos, você sublima em outras características, mas aquela te mantém acorrentado ao chão. No caso de Magdalena, ela tinha uma profunda sede de amor e ela tentava matar sua sede na sexualidade sem limite. Sem limite... Para as pessoas superficiais da época, e de hoje... ela era uma pecadora. Para Jesus, que enxerga no mais profundo da nossa alma, ela era alguém com sede, buscando no poço errado, ou buscando num poço que não existia, até a chegada de Jesus. Porque a humanidade não conhecia amor. A humanidade só conheceu o amor o dia que Jesus pisou na Terra. Eu estou falando do amor divino, eu estou falando do amor celeste, do amor incondicional, do amor sem limite, do amor que é um oceano... A humanidade não conhecia isso. Jesus soube ver no fundo da alma. No fundo da alma. A busca de Maria de Magdala era legítima. O problema era como e onde ela buscava. E aí Humberto de Campos diz assim: "Decorrida uma noite de grandes meditações e antes do famoso banquete em Naim, onde ela ungira publicamente os pés de Jesus com os bálsamos perfumados de seu afeto..." Vou ler de novo: "E antes do famoso banquete em Naim..." Então o banquete na casa de Simão, o fariseu, foi na aldeia de Naim, próximo do monte Tabor, que fica pertinho, pertinho do Mar da Galileia. "Pertinho" de mineiro, pertinho de carro. Dá uns 30km, 40km. Naim. O banquete foi em Naim. E a gente passa, passa, passa pela obra e não vê! Não vê... "Onde ela ungira publicamente os pés de Jesus com os bálsamos perfumados do seu afeto." Por que Emmanuel não escreveu? Porque Humberto de Campos é um literato. Ele é um mestre da Literatura! "Bálsamo perfumado do seu afeto" é... Ou são... os perfumes que ela utilizava para ficar cheirosa e receber os patrícios, no plural, romanos em sua suntuosa residência, na aldeia de Magdala. "Bálsamos perfumados do seu afeto." Só um literato para escrever uma frase dessa. E Emmanuel, que é um Espírito extraordinário, sabia... que a mediunidade de Chico Xavier precisava ser marcada pelo caráter da universalidade. Porque às vezes as pessoas pensam "universalidade no ensino dos espíritos", imaginando que eu tenho que ter vários médiuns para receber a mesma mensagem. Acontece que "O Livro dos Espíritos" foi recebido por duas médiuns e foi revisado por uma. Então nós temos dois tipos de universalidade. Nós temos a universalidade de vários médiuns, recebendo várias entidades que dizem algo em concordância, e temos um médium extraordinário recebendo diversos espíritos, todos uníssonos, dizendo na mesma linha. Aqui, Emmanuel... como ele fez no "Parnaso"! No "Parnaso de Além-Túmulo", ele chamou dezenas de poetas ilustres, cada qual para escrever uma poesia a respeito de uma das Leis Morais de "O Livro dos Espíritos". Porque o "Parnaso de Além-Túmulo" são as Leis Morais em forma de poesia. E aqui ele chama um literato. "Por favor, eu..." Ele deve ter dito: "Usa tudo que você sabe de Literatura, porque, Humberto, eu quero que você reconstitua o Evangelho do Cristo. Conte as histórias que os encarnados não sabem, dê a eles as peças do quebra-cabeça que faltam, mas faça isso... faça isso de uma forma literária sublime!" E aí veio esse homem, membro da Academia Brasileira de Letras, e escreve assim: "Ungira publicamente os pés de Jesus com os bálsamos perfumados de seu afeto. Notou-se que uma barca tranquila conduzia a pecadora a Cafarnaum. Dispusera-se a procurar o Messias após muitas hesitações. Seus conterrâneos, seus conterrâneos nunca lhe haviam perdoado o abandono do lar e a vida de aventuras." Por que ela não casou? Por que ela não seguiu o caminho que eles traçavam para as mulheres? Por que ela não se sujeitou? Por que ela foi atrás da sua liberdade e foi viver uma vida de aventura para a época? Eles não perdoavam ela por isso, muito menos Simão. Simão era um homem mais velho, um homem tradicional, um homem aferrado às tradições. Era difícil para ele compreender essa moça, era difícil para ele aceitar essa moça. Para todos, era ela a mulher perdida que teria de encontrar a lapidação na praça pública. Na cultura judaica, uma mulher assim era apedrejada em praça pública. Por que ela não foi? Porque contava com a proteção de patrícios romanos. "Sua consciência, porém, lhe pedia que fosse. Jesus tratava a multidão com especial carinho, jamais lhe observara qualquer expressão de desprezo para com as numerosas mulheres de vida equívoca que O cercavam." Você estaria preparado, se Jesus viesse hoje a Belo Horizonte, e Ele estivesse cercado de garotas de programa de Belo Horizonte? Qual seria a sua reação como espírita? Sinceramente falando, qual seria a sua reação? Seja sincero. "Além disso, sentia-se seduzida pela sua generosidade. Se possível, desejaria trabalhar na execução de suas idéias puras e redentoras." E aí vai... "Senhor, ouvi a Vossa palavra consoladora e venho ao Vosso encontro... Tendes a clarividência do céu e podeis adivinhar como tenho vivido. Sou uma filha do pecado. Todos me condenam; entretanto, Mestre, observai, observai como tenho sede do verdadeiro amor..." Olha! É Maria Magdalena pedindo para Jesus: "Olha para dentro de mim, Mestre! Eu sei que você tem a clarividência Divina. Olha o quanto que eu tenho sede do verdadeiro Amor!" "'Minha existência, como todos os prazeres, tem sido estéril e amargurada...' As primeiras lágrimas lhe borbulharam dos olhos, enquanto Jesus a contemplava com bondade infinita." Jesus a contemplava com bondade infinita. "Ela, porém, continuou: 'Ouvi o Vosso amoroso convite ao Evangelho, desejava ser das Vossas ovelhas, mas será que Deus me aceitaria?'" Imagina... Uma mulher pecadora ser seguidora de um mestre da Lei? Se nem a mulher pura, dedicada ao lar, esposa, poderia participar das cerimônias religiosas? "'...será que Deus me aceitaria?' 'Maria! Levanta os olhos para o céu...'" Nossa! Olha... "'... e regozija-te no caminho, porque escutaste a Boa Nova do Reino e Deus te abençoa as alegrias.'" Nossa! "'Acaso poderias pensar que alguém no mundo estivesse condenado ao pecado eterno? Onde, então, o amor de nosso Pai?'" Imaginar que alguém vai ficar perdido para sempre é pensamento de quem não ama. Você só acha que uma pessoa vai permanecer indefinidamente no mal, se você não a ama. Porque quem ama nunca pensa isso. "'Nunca viste a primavera dar flores sobre uma casa em ruínas?'" A primavera dar flores num vaso todo arrebentado? "'As ruínas são as criaturas humanas, porém as flores são as esperanças em Deus. Sobre todas as falências e desventuras próprias do homem, as bênçãos paternais de Deus descem e chamam. Sentes, hoje, esse novo sol a iluminar-te o destino! Caminha agora sob a sua luz, porque o amor cobre a multidão dos pecados.'" Matou a sede. "A pecadora de Magdala escutava o Mestre, bebendo-lhe as palavras." Bebendo. Humberto de Campos é um gênio! É um gênio! Ele fala que ela estava sedenta e agora está bebendo as palavras de Jesus... "Homem algum havia falado assim à sua alma incompreendida." Que homem tinha falado assim com ela? Imagine o que os patrícios falavam para ela: "Como você está cheirosa!" "Que cabelos lindos!" "Você é muito linda!" E coisas que não vamos falar, porque o DVD tem uma idade, uma censura. "Os mais levianos lhe pervertiam as boas inclinações. Os aparentemente virtuosos a desprezavam sem piedade. Engolfada em pensamentos confortadores e ouvindo as referências de Jesus ao amor, Maria acentuou levemente: 'No entanto, Senhor, tenho amado e tenho sede de amor.'" "Eu tenho amado..." "'Sim...' 'Sim', redarguiu Jesus, 'tua sede é real! O mundo viciou as fontes de redenção e é imprescindível compreenda que, em suas sendas, a virtude tem de marchar por uma porta muito estreita." Por que a virtude tem que marchar por uma porta estreita? Porque nós viciamos todas as portas. É isso que Jesus está dizendo. Só tem que caminhar pela porta estreita porque nós viciamos tudo, e, para sair do vício, você tem que passar pelo período de desintoxicação. Daí a porta estreita. "'Geralmente, um homem deseja ser bom com os outros ou honesto com os demais, olvidando que o caminho onde todos passam é de fácil acesso e de marcha sem edificações. A virtude no mundo foi transformada na porta larga da conveniência própria. Há os que amam os que lhe pertencem ao círculo pessoal, os que são sinceros com os seus amigos, os que defendem os seus familiares, os que adoram os deuses do favor... O que verdadeiramente ama, porém, conhece a renúncia suprema a todos os bens do mundo e vive feliz na sua senda de trabalhos para o difícil acesso às luzes da redenção. O amor sincero não exige satisfações passageiras, que se extinguem no mundo com a primeira ilusão. Trabalha sempre, sem amargura e sem ambição, com os júbilos do sacrifício. Só o amor que renuncia sabe caminhar para a vida suprema.' 'Só o amor pelo sacrifício poderá saciar a sede do coração?' Perguntou ela: "Só o amor pelo sacrifício poderá saciar a sede do coração?" "Jesus teve um gesto afirmativo e continuou: 'Somente o sacrifício contém o divino mistério da vida. Viver bem é saber imolar-se. Acreditas que o mundo pudesse manter o equilíbrio tão só com os caprichos antagônicos e por vezes criminosos dos que se elevam à galeria dos triunfadores? Toda luz humana vem do coração experiente e brando dos que foram sacrificados. Um guerreiro coberto de louros ergue os seus gritos de vitória sobre os cadáveres que juncam o chão, mas apenas os que tombaram fazem silêncio para que se ouça no mundo a mensagem de Deus. O primeiro pode fazer a experiência para um dia. Os segundos, os que tombaram, constroem a estrada definitiva na eternidade. Na tua condição de mulher, já pensaste no que seria o mundo sem as mães exterminadas no silêncio e no sacrifício? Não são elas as cultivadoras do jardim da vida, onde os homens travam a batalha? Muitas vezes, o campo enflorescido se cobre de lama e sangue. Entretanto, na sua tarefa silenciosa, os corações maternais não desesperam e reedificam o jardim da vida, imitando a Providência Divina, que espalha sobre um cemitério os lírios perfumados de seu amor.' 'Desgraçada de mim, Senhor, que não poderei ser mãe...'" "Estou perdida, eu não vou poder ser mãe..." "'E qual das mães será maior aos olhos de Deus? A que se devotou somente aos filhos de sua carne, ou a que se consagrou, pelo espírito, aos filhos das outras mães?' 'Senhor, doravante renunciarei a todos os prazeres transitórios do mundo para adquirir o amor celestial que me ensinastes. Acolherei como filhas as minhas irmãs no sofrimento, procurarei os infortunados para aliviar-lhes as feridas do coração, estarei com os aleijados e leprosos.'" O tempo passou... E essa mulher sempre acompanhou Jesus, apesar do desprezo dos apóstolos, que evitavam qualquer tipo de contato com ela. No entanto, ocorre a crucificação de Jesus e, quando Jesus vai deixar a lição mais gloriosa do Evangelho, a lição de que nenhum de nós vai morrer... Quando Ele aparece pela primeira vez, quem Ele procura? A mãe d'Ele, não é? Não. Não procura a mãe. Simão Pedro? Não. Ele não aparece para Simão Pedro primeiro. Mas Simão, o líder do colégio apostólico? Não. Para quem Jesus aparece em primeiro lugar? Maria Magdalena. Maria Magdalena. E Emmanuel vai explicar por quê. Cap. 92 do livro "Caminho, Verdade e Vida", porque a psicografia de Chico Xavier é como... uma toalha de renda... É preciso entrecruzar os fios. A mensagem se chama "Madalena". “Disse-lhe Jesus: 'Maria!' Ela, voltando-se, disse: 'Mestre!' Dos fatos mais significativos do Evangelho, a primeira visita de Jesus, na ressurreição, é daqueles fatos que convidam à meditação substanciosa e acurada. Por que razões profundas deixaria o Divino Mestre tantas figuras mais próximas de sua vida, para surgir aos olhos de Madalena em primeiro lugar? Somos naturalmente compelidos a indagar por que não teria aparecido antes ao coração abnegado e amoroso daquela que lhe servira de mãe, ou  aos discípulos amados? Entretanto, o gesto de Jesus é profundamente simbólico em Sua essência Divina. Dentre os vultos da Boa Nova, ninguém fez tanta violência a si mesmo para seguir o Salvador, como a inesquecível obsediada de Magdala. Nem mesmo Paulo de Tarso faria tanto. Nem mesmo Paulo de Tarso faria tanto, mais tarde, porque a consciência do apóstolo dos gentios era apaixonada pela Lei, mas não pelos vícios." Paulo era apaixonado pela Lei, Maria Magdalena era apaixonada pelos vícios da carne, a sensação. Sabor, cheiro, tato, som, cor. "Madalena, porém, conhecera o fundo amargo dos hábitos difíceis de serem extirpados, amolecera-se ao contato de entidades perversas, permanecia morta nas sensações que operam a paralisia da alma; entretanto, bastou o encontro com o Cristo para abandonar tudo e seguir-lhe os passos, fiel até o fim, nos atos de negação de si própria e na firme resolução de tomar a cruz que lhe competia no calvário redentor de sua existência angustiosa. É compreensível que muitos estudantes investiguem a razão pela qual não apareceu o Mestre primeiramente a Pedro, a João ou à sua mãe ou aos amigos, todavia, é igualmente razoável reconhecermos que, com o gesto inesquecível, Jesus ratificou a lição de que Sua doutrina será, para todos os aprendizes e seguidores, o código de ouro das vidas transformadas para a glória do bem." Vidas transformadas para a glória do bem. "E ninguém como Maria de Magdala houvera transformado a sua, à luz do Evangelho redentor." Foi o presente que Jesus deu para Maria de Magdala. Depois desse fato, ela pede... Ela dá a notícia para os apóstolos que Jesus estava vivo. Eles vão lá checar, Jesus aparece pra eles e ela pede para ficar com eles, pede para trabalhar, e os apóstolos não deixam. Não permitem que ela colabore na divulgação ou no trabalho do Evangelho. Não permitem sequer que ela fique na Casa do Caminho atendendo os doentes. Eu não estou falando de Haroldo Dutra Dias, estou falando de Simão Pedro, João Evangelista, Tiago... Estou falando dos apóstolos de Jesus. E ela então fica sozinha, mas, certo dia, uma turba de leprosos entra em Jerusalém. Os leprosos saíam do Vale dos Leprosos e iam até a cidade para recolher alimentos e água. E quando as pessoas viam que os leprosos estavam se aproximando, todos fechavam a porta da casa, fechavam tudo, colocavam água e comida no meio da rua, todo mundo fechava... Ficava tudo deserto, os leprosos passavam, recolhiam e iam embora. Só que naquele dia encontraram uma mulher linda que decidiu acompanhá-los. Maria de Magdala. E ela foi ao Vale dos Leprosos. Se Jesus te convidasse hoje para uma tarefa no movimento espírita: "Filho, tem uma tarefa para você no movimento espírita. Você vai ensinar a Doutrina Espírita para leprosos, no Vale dos Leprosos." Você ficaria muito feliz. Ela foi para o Vale. Lá ela cuidava dos leprosos, lá ela falava de Jesus, lá ela falava do Evangelho, lá ela amou. Será que nós somos capazes de amar pessoas doentes que nós desconhecemos? Doentes contagiosos... Para o resto da sua vida, você amar doentes contagiosos que você nunca conheceu? Essa mulher é uma gigante do Evangelho! A transformação dela é muito maior do que a de Paulo. Ela é uma heroína! Por isso Jesus presenteou essa mulher, aparecendo primeiro para ela. O que acontece? Passados os anos, Maria de Magdala contrai lepra. E... percebendo que já estava às portas do desencarne, voltou a Jerusalém. Não mais a mulher perfumada, não mais a mulher bonita, agora uma leprosa com o corpo faltando pedaços... É acolhida. "Uma noite, atingiram o auge as profundas dores que sentia. Sua alma estava iluminada por brandas reminiscências, e não obstante seus olhos se acharem selados pelas pálpebras intumescidas..." Já imaginaram? Os olhos dela não conseguiam nem abrir mais. "...via com os olhos da imaginação o lago querido, os companheiros de fé..." Os companheiros, ela via... aqueles que a abandonaram, os apóstolos, ela lembrava com alegria daqueles que a abandonaram. "...o Mestre bem-amado... Seu espírito parecia transpor as fronteiras da eternidade radiosa. De minuto a minuto, ouvia-se-lhe um gemido surdo, enquanto os irmãos de crença lhe rodeavam o leito de dor com as preces sinceras de seus corações amigos e desvelados. Em dado instante, observou-se que seu peito não mais arfava, Maria, no entanto, experimentava consoladora sensação de alívio. Sentia-se sob as árvores de Cafarnaum e esperava o Messias. As aves cantavam nos ramos próximos e as ondas sussurrantes vinham beijar-lhe os pés. Foi quando viu Jesus aproximar-se, mais belo do que nunca! Seu olhar tinha um reflexo do céu e o semblante trazia um júbilo indefinível. O Mestre, estendendo-lhe as mãos, e ela se prosternou..." Ajoelhou. "... exclamando como antigamente: 'Senhor!' Jesus recolheu-a brandamente nos braços e murmurou: 'Maria, já passaste a porta estreita. Amaste muito. Vem! Eu te espero aqui!'" Boa Noite. Obrigado a todos.