No dia 8 de dezembro de 1980,
fui encarregado de patrulhar
o distrito 20 de carro.
Recebi uma chamada que tiros haviam
sido disparados na Oeste 1, rua 72.
Um homem apontava e dizia:
"Este é o homem que está atirando"
Foi aí que percebemos
que era para valer.
Então olhei e vi um homem
com as mãos para o alto.
Eu o atirei contra a parede
e naquela hora, Jose me disse que
ele havia atirado em John Lennon.
Eu disse: "O que?"
(tiro)
Essa é uma obra de arte
da viúva de John Lennon, Yoko Ono.
Eu pensava em todas as janelas do mundo.
E há tantas delas com marcas
e perfurações de tiros.
Eu quis fazer um gesto simbólico
de uma perfuração de bala.
E você deve observá-la pela frente
e deve observá-la por trás.
Porque quando você a observa
pela frente, você é o atirador.
Quando a observa
por trás, você é a vítima.
Eu a fiz e então percebi.
"Deus, eu já vi isso...
...naquela noite."
Às 10:50 da noite, de uma segunda-feira,
do dia 8 de dezembro de 1980,
John Lennon foi assassinado
no Edifício Dakota, em Nova York.
Essa noite, um dos maiores músicos e
artistas do mundo, John Lennon dos Beatles
foi morto em frente
de sua casa em Nova York.
O impacto da morte de John Lennon
foi sentido em todo o mundo.
Liguei o rádio e 'Imagine' estava tocando.
Era como uma facada no coração.
Você sabia que era verdade.
Foi um golpe esmagador.
Fiquei paralizado. Tinha acabado de vê-lo.
Foi um choque. Um choque absurdo.
♪ Imagine all the people ♪
Não pude acreditar. Estava em choque
e me perguntei: "Quem fez isso?"
"Por que alguém machucaria o John?"
Então pensei que talvez e pudesse
ter uma foto do assassino.
O dia em que John Lennon morreu
Em janeiro de 1969, onze anos
antes de John morrer,
os Beatles faziam seu último show,
no telhado do prédio de seu escritório,
na Saddle Row.
Foi o fim de uma era.
John Lennon influenciou profundamente
um geração. E foi além.
- O que aconteceu aqui?
- O que eu sei?
Que a marca era gerenciada daqui, eu acho.
Eu não sei muito sobre
o que aconteceu aqui.
Um último show.
♪ Don't let me down ♪
Lembro-me dessa casa.
Eu estava naquela fila.
Era a voz dele.
Eu fico triste, fico bravo.
Me arrepia. Era a voz dele.
♪ Nobody ever loved me like she do ♪
E pensei: "Quero ter uma banda como esta.
Por que não posso fazer música assim?"
A vida do John, depois que ele deixou os
Beatles, foi uma fuga da Beatlemania.
Em 1971, ele encontrou seu refúgio
com Yoko em Nova York.
A cidade onde ele estaria nove anos mais
tarde para encontrar seu destino.
♪ New York city, babe ♪
A última vez que o vi, estávamos na
Madison Square Garden.
Ele disse: "Posso andar pelas ruas
e caminhar pelos parques.
As pessoas passam por mim e:
- 'Oi, John!' E continuam andando.
Em vez de - Oi John e blá blá blá..."
Ele disse: "Adoro isso."
E pensei que John havia
encontrado paz, finalmente.
♪ All we are saying
is give peace a chance ♪
A paz teve um preço.
O ativismo político de John
teve grande efeito no jovens,
e o próprio presidente o via
como uma ameaça.
Nixon estava determinado a negar
o Green Card para John.
Há uma gravação, em algum lugar,
do capanga de Nixon dizendo:
"Sabe, esse cara pode ganhar uma eleição."
Isso foi preservado.
O primeiro passo era mandá-lo embora.
Eles estavam dispostos a fazer isso.
♪ I would like ♪
Em agosto de 1980, após a dificuldade
de residência permanente,
John estava para embarcar em
uma nova aventura musical com Yoko.
Eles são vistos saindo do Dakota no
primeiro dia de gravação
do álbum Double Fantasy.
Não faziam ideia de que seria o último.
Seu co-produtor era Jack Douglas.
A ideia do álbum era fazer um diálogo
entre um homem e sua esposa.
Um homem que passou pelos anos 60.
Era sobre: "Aqui estamos, fazendo 40 anos,
e está tudo bem. Ainda podemos fazer isso,
ainda podemos ter nossa voz,
conseguimos passar por todos
aqueles anos terríveis.
Agora vamos olhar para o futuro.
Em setembro de 1980, o album
Double Fantasy está quase completo.
Ele o ouviu com atenção,
e vi o sorriso em seu rosto.
E ele gritou: "Mãe, avise a todos
que temos um álbum."
"Mãe" era o apelido de John para a mulher.
Ele me fazia rir o tempo todo.
Eu não tentava fazê-lo rir,
mas parecia que ele ria
o tempo todo de mim.
Quando eu dizia algo sério, ele dizia:
"Você é tão pequena para falar essas
coisas"
Ele achava isso engraçado.
Com os fãs, John era gentil.
Em novembro de 1980, o fã que seria o
último a tirar uma foto de John vivo,
teve sua primeira oportunidade.
Ele disse: "Vamos tirar essa foto agora.
Não sabemos se teremos outra oportunidade"
E isso aconteceu 21 antes
de ele ser assassinado.
Eu parecia uma criança em volta
da árvore de natal.
E quando fiquei ao lado dele,
ele pôs o braço no meu ombro.
Eu não podia acreditar que ele
havia me puxado para perto.
Ao fazer isso, ele me deu a ideia de que
eu poderia segurar sua gola de pelos.
Eu o segurava para ter certeza
de que não era um sonho,
de que ele não iria desaparecer.
A imagem mais icônica de John Lennon em
Nova York foi tirada por um amigo,
o fotógrafo Bob Gruen.
Numa sexta, 5 de dezembro, três dias antes
de sua morte, John o telefonou.
Ele estava de bom humor, brincalhão.
No dia seguinte, ele me pediu para voltar,
porque ele havia comprado uma jaqueta
e queria algumas fotos com ela.
Uma bonita jaqueta Yamamoto.
Então passamos a noite conversando,
enquanto eles trabalhavam no estúdio.
E foi ao amanhecer que fomos para a rua,
num sábado de manhã, 6 de dezembro.
E tiramos muitas fotos lá.
E foi a última vez que o vi.
Mais tarde, naquele sábado, 6 de dezembro,
John deu uma entrevista no rádio
ao DJ da BBC Andy Peebles, no estúdio de
gravação Hit Factory em Manhattan.
Ali estava meu herói.
Me lembro que ele pôs o braço
no meu ombro e disse: "obrigado por vir."
E eu pensei em falar: "O que você quer
dizer com 'Obrigado por vir?'"
Quando deixei a Inglaterra,
ainda não podia sair às ruas.
Ainda era a rua Carnaby e
tudo aquilo acontecendo.
Não podíamos andar pela quadra
ou ir a um restaurante
a não ser que quiséssemos fazer o papel de
estrelas e checar o lixo do restaurante.
Eu posso sair agora por essa porta
e ir a um restaurante.
Você tem ideia do quanto
isso é maravilhoso?
No final da entrevista, por alguma razão,
passou pela minha cabeça
perguntar a ele sobre segurança.
E ele usou a frase clássica: "Eu posso
andar pelas ruas e as pessoas dizem:
'Oi John, como vai? Como está o bebê?'"
E eu posso vê-lo, agora, dizer isso
com tamanha convicção.
Ele não poderia jamais ter imaginado
o que aconteceria em 48 horas.
Nunca, nunca poderia ter imaginado.
(suspiro)
Segunda-feira, 8 de dezembro, 1980.
Às 10 da manhã, Jonh Lennon deixa o
Edifício Dakota para ir ao barbeiro.
Ele só queria cortar o cabelo.
Talvez eu ainda tenha seus cabelos,
não sei bem.
Eu costumava guardar seus cabelos.
O dia começou com
a foto da Liebowitz.
Enquanto a fotógrafa Annie Liebowitz
termina a sessão de fotos
para a revista Rolling Stone, uma capa
que ficaria famosa mundialmente,
o fã de John, o fotógrafo amador
Paul Garesh chega, como de costume.
Eu cheguei no Dakota
perto de 11:45 da manhã.
Era um dia ameno para 8 de dezembro.
A única outra pessoa lá era um rapaz que
usava um sobretudo longo com gola de pelo,
e um chapéu de pelo.
Ele usava um cachecol e segurava o
álbum Double Fantasy embaixo do braço.
Ele me perguntou:
"Você está esperando o Lennon?"
Eu disse que sim.
E ele disse: "Meu nome é Mark.
Sou do Havaí."
E eu disse: "Eu sou Paul.
Sou de Nova Jersey."
Ele perguntou: "Você trabalha para ele?"
E eu disse que não.
Ele falou: "Eu vim do Havaí para
ter meu álbum autografado."
Então perguntei: "Onde você está
hospedado na cidade?
Foi então que ele começou a mudar
completamente de comportamento.
De um bobo para uma pessoa agressiva.
E disse: "Por que você quer saber?"
E eu falei: "Volte para onde você
estava e me deixe em paz."
E nós...
Nós iríamos fazer uma
entrevista com a rádio RKO, sabe?
Às 12:40 da tarde, a equipe
da rádio RKO de São Francisco,
com o radialista Dave Sholan, chega
cheia de expectativas para a entrevista.
Dirigimos até o Edifício Dakota,
que é um prédio impressionante.
É de tirar o fôlego.
E somos levados a um espaço incrível,
uma sala linda,
onde você tira seus sapatos,
que é um ótimo hábito,
senta-se em um sofá
e Yoko estava lá.
Me lembro de olhar para o teto e
ver lindas nuvens pintadas. Lindo!
Enquanto isso, Paul Garesh entra para
pegar uma cópia do livro de 1965 de John,
'A Spaniard in the Works', que
havia deixado para John autografar.
John estava vindo em direção à entrada.
Ele disse: "Vou autografá-lo
para você hoje, prometo."
Então voltei para o lado de fora.
O rapaz com o sobretudo estava lá.
Ele estava sozinho do outro lado.
Ele veio até mim e disse: "Sabe,
quero me desculpar com você."
Ele disse: "Te devo desculpas
pela forma como agi.
Estamos em Nova York e não sabemos
em quem podemos confiar hoje me dia."
Segunda-feira, 8 de dezembro 1980.
É 1:25 da tarde.
John Lennon começa uma entrevista
de duas horas e meia
com o radialista Dave Sholan.
A última entrevista que ele deu.
A porta se abre e John aparece,
dás uns pulos no ar dizendo:
"Aqui estou pessoal.
O show já vai começar"
Ele abre os braços e se aproxima.
Ele não poderia estar mais bem-humorado.
Durante a entrevista,
John fala sobre a história da sua vida,
dos anos em Liverpool, até
sua relação com Yoko e seu filho Sean.
Ele nasceu em 9 de outubro, como eu.
Somos quase como gêmeos.
Agora tenho mais razões
para estar saudável e feliz.
♪ People say I'm crazy, doing what I do ♪
Por volta de 1978-1979, ele dizia:
"Me sinto muito sozinho,
porque não há um homem
com quem eu possa conversar
sobre ser um marido ou estar em posição
de entender a respeito de mulheres.
Deve haver algum tipo grupo sobre isso.
Eu disse: "Bem, deve haver."
Mas não encontramos nenhum.
Um dia, vi John sentado na cama chorando.
E perguntei: "O que houve?"
Ele estava lendo um livro
chamado 'The First Sex'.
É um livro sobre mulheres que não recebem
crédito pelo que fizeram na história.
E ele disse: "Não sabia que estávamos
fazendo isso com as mulheres."
Ele tinha um coração muito bom.
Me parece, e me corrija se eu estiver
errado, que John veio de uma família
com um histórico muito 'macho'.
Muito 'macho'. Eu fiquei surpresa.
Mas sabe, acho que era normal
para os homens naquela época.
♪ When I was younger ♪
Esse é o bar em Liverpool onde John
costumava encontrar-se com seus colegas.
Um deles era Thelma Pickles.
Ela tinha 16 e John, 17.
Acho que era um romance.
Um romance de jovens.
John morava aqui, numa casa
chamada Mendips, com sua tia Mimi,
que cuidou dele
na ausência de sua mãe Julia.
Ele tinha coisas que jovens tinham.
Ele tinha um quarto imaculado.
Uma vez ele me perguntou se eu sabia que
fazer amor gastava a mesma energia
que correr por 8km. Eu não sabia.
E ainda não sei se é verdade.
Mas acreditei nele.
E então, isso se tornou
um eufemismo.
Uma noite, houve uma festa na escola de
arte, onde os dois estavam presentes.
Ele disse: "Vamos correr 8km?"
Então, fomos até a sala de História
da Arte, no andar superior.
Quando entramos, havia
pelo menos três outros casais.
Eu não havia percebido, num
primeiro momento, e então falei:
"Não vou ficar aqui."
E ele me bateu com força.
Eu não falei com ele depois disso.
Não me importava quem ele era,
quão interessante ele era,
quão engraçado ele era,
quão amável ele era,
quão adorável ele era.
Eu não ía ser agredida por um rapaz.
E não continuei a relação.
Os relacionamentos de John com mulheres
eram muitas vezes controversos.
Em 1970, ele havia se tornado uma
das pessoas mais famosas do mundo.
Seu primeiro casamento com Cinthia,
com quem teve um filho, Julian,
havia terminado.
Mas Yoko não foi popular.
A razão para o término dos Beatles,
com poucas evidências preciosas,
foi atribuída a ela.
♪ I can hardly express ♪
A hostilidade direcionada a Yoko não
diminuiu quando eles se mudaram para NY.
Me sentia horrível, mas
também culpada por ele.
Ele também estava sofrendo.
Porque seus discos não estavam vendendo.
E, de alguma forma, era
porque ele estava comigo.
Porque estávamos juntos
quase 26 horas por dia.
E acho que era bastante incomum
para o John se sentir assim.
E roqueiros sempre dão suas puladas
de cerca. Mas não havia isso,
porque ele temia que eu
pulasse também. Ele ria disso.
Porque eu também era uma artista. E
poderia me sentir à vontade com isso.
Diferentemente de outras mulheres.
E provavelmente eu fosse liberal,
mas não tanto assim.
Na verdade, foi o mal comportamento de
John com uma mulher em uma festa que,
em 1973 fez Yoko perceber que
eles precisavam de um tempo separados.
Eu chamo de meu fim de semana perdido.
Ele durou 18 meses.
Quando meu lado feminino morreu
aos poucos e ela disse: "Dá o fora daqui!"
Me dê 30 segundos para que
eu possa me sentir nesse espaço.
Elliot Mintz era um reporter
que vivia em Los Angeles
e que se tornou amigo de John e Yoko.
Yoko pensou que seria melhor
se John seguisse sozinho
e que os dois se separassem.
E ela sugeriu que ele saísse se Nova York
e fosse para Los Angeles.
Aquela decisão era em parte
porque eu estava aqui.
E, de alguma forma,
que eu pudesse tomar conta dele.
Isso é que é fardo.
Nas primeiras semanas, ele fez
o que as pessoas faziam na cidade,
se você está solteiro pela primeira vez e
sua profissão anterior era ser um Beatle.
♪ Who in the hell do you think you are?
A superstar? Well, right you are! ♪
Ele gostava de ação. Por algum tempo,
ele curtiu as festas.
Ele gostava das boates. Ele gostava de
beber. Mas não da atenção das mulheres.
Eu posso dizer, que depois de duas ou
três semanas vivendo essa experiência,
a única coisa que ele queria era
achar uma forma de voltar com a Yoko.
♪ How in the world you're gonna see?
Laughing at fools like me ♪
E eu contava a Yoko que ele
ficava dizendo: "Diga à mãe...
ele se referia a Yoko como 'mãe'... diga
que eu estou pronto para voltar para casa.
E eu dizia isso à Yoko e
ela dizia: "Não, ele não está."
Te direi quando ele estiver.
♪ Just like starting over ♪
Depois de 18 meses separados,
John e Yoko recomeçaram a relação.
Foi quando em 1979, seu filho Sean nasceu.
John havia mudado. E ele termina sua
entrevista histórica com Dave Sholin,
em 8 de dezembro, dizendo que ele estava
entrando em uma nova fase da vida.
Porque sempre considero
meu trabalho como uma só peça,
seja com os Beatles, David Bowie,
Elton John or Yoko Ono.
E acho que meu trabalho não terá terminado
até que eu esteja morto e enterrado.
E espero que isso não aconteça
por um bom tempo.
Terminamos a entrevista, nos
despedimos, todos tiramos fotos.
Eu tirei uma foto com John e Yoko, a qual
eu valorizo mais que qualquer coisa.
Guardei o equipamento e fui para o carro.
Nós íamos direto para o aeroporto.
São 4 da tarde. O fã e fotógrafo amador
Paul Garesh, ainda do lado de fora,
vê a equipe da RKO saindo do prédio
com o equipamento de gravação.
Vi um grupo de pessoas saindo com malas
prateadas e pensei que John sairia logo.
Em seguida, John sai e procura por um
carro que levaria Yoko e ele ao estúdio.
Ele se vira para Jose e pergunta:
"Jose, onde está o meu carro?"
Jose era o porteiro noturno.
Seu nome era Jose Perdomo.
Ele respondeu: "Ainda não
chegou, Sr. Lennon."
E olhando ao redor, pensei:
"Uau, isso é realmente incrível.
Aqui está John Lennon.
Na rua, em Nova York."
Pensei nisso rapidamente e deixei pra lá.
Nessa cidade, isso é normal e pronto.
Ele me disse: "Não esqueça seu livro.
Seu álbum já está autografado?"
Eu disse: "Trago o álbum amanhã.
Pego o livro antes de ir."
Enquanto ele falava comigo, o rapaz do
sobretudo se aproximou dele pela esquerda.
Ele não disse nada. Apenas
mostrou o álbum para o John.
E John se virou para ele e perguntou:
"Você quer que eu autografe o álbum?"
E o rapaz balançou a cabeça
de forma afirmativa.
Ele não disse nada.
Apenas balançou a cabeça.
Era uma boa oportunidade e
eu tirei algumas fotos.
A primeira era do John autografando
e olhando para o album.
E ele balançou a cabeça,
pegou o álbum e se afastou.
Então o John falou: "Nosso carro não está
aqui. Vocês vão para o aeroporto?"
- "Sim."
- "Vocês nos dariam uma carona?"
"Entrem. Estamos indo na mesma direção."
Enquanto ele entrava na limousine,
tirei uma foto dele.
Aquela acabou sendo
a última foto da minha vida.
Ele entrou na limousine e
estava de frente para mim.
Quando iam saindo, John olhou para mim
pela janela, acenou e sorriu.
E eu acenei de volta para ele.
E nunca mais o veria.
São 5 da tarde de segunda-feira,
8 de dezembro de 1980.
John Lennon pega uma carona para o estúdio
com o radialista que o entrevistou,
que casualmente o questiona sobre
sua relação com Paul McCartney.
Ele respondeu: "Ele é como um irmão. Eu o
amo. Famílias têm seus altos e baixos,
mas no final das contas, eu faria
qualquer coisa por ele e ele por mim."
Foi ótimo ouvir aquilo. Deixamos John e
Yoko no estúdio e nos despedimos.
Enquanto John e Yoko estavam ocupados
no estúdio, a algumas quadras dali
no Central Park, um jovem repórter
da NBC sofre um acidente de moto.
Ele virá a ser uma figura chave
nos eventos daquela noite.
Policiais e ambulâncias vieram do
Hospital St. Luke's Roosevelt.
Me lembro que, dentro da ambulância,
e um dos paramédicos disse:
"Você tem sorte. É uma segunda-feira
à noite e está tudo calmo,
a médica da emergência é amigável
e gentil e vai te ajudar rapidamente."
No estúdio, John e Yoko davam os últimos
toques na última faixa que gravariam.
Seu título viria a ter
um sentido triste.
A última coisa que fizemos foi gravar
'Walking on Thin Ice'.
Ainda é difícil falar e pensar sobre isso,
porque é uma música que me veio...
quando você ouve a música,
ela é sobre nós,
sobre como seremos lembrados
ou não quando virarmos cinzas.
Por que eu estava pensando sobre aquilo?
É muito estranho.
E...
John adorou a música e disse:
"Yoko, essa é a sua primeira número um."
"Acho que você conseguiu
sua primeira número um, Yoko."
Terminamos a mixagem aquela noite.
E o levei até o elevador.
E disse: "Te vejo na Sterling,
às 9 da manhã."
E...
Ele sorria muito. Estava bastante animado
e tinha uma fita da música com ele.
Yoko estava muito feliz.
E a porta do elevador fechou.
A última música que John gravou
foi a guitarra nessa faixa.
Quando estávamos no carro, eu disse:
"Vamos à um restaurante antes de voltar?"
"Não, quero ver Sean antes que ele durma."
Ele provavelmente já estava dormindo, mas
se ele queria ver Sean, então tudo bem.
Mas mesmo que tivéssemos ido ao
restaurante, não mudaria nada.
Não evitaria nada. Horrível.
Então...
E... o carro parou e descemos.
Foi terrível. Terrível demais.
Eu estava fazendo a ronda de carro
e recebi uma chamada que tiros haviam
sido disparados na Oeste 1, rua 72.
Um homem apontava e dizia:
"Este é o homem que está atirando"
Foi aí que percebemos
que era para valer.
Então olhei e vi um homem
com as mãos para o alto.
Eu o atirei contra a parede.
e naquela hora, Jose me disse que
ele havia atirado em John Lennon.
Eu disse: "O que?"
Eu vire para ver o que estava
acontecendo atrás de mim
e vi dois policiais carregando um homem
com sangue saindo de sua boca.
Foi aí que olhei e reconheci John Lennon.
Dois carros de polícia, um com
John atrás e outro com Yoko
se apressavam para o Hospital Roosevelt.
O médico da emergência,
Dr. Stephan Lynn estava a espera.
Eu cheguei antes do paciente. Não sabia
exatamente o que estava acontecendo.
Todos na emergência estavam prontos.
Por portas exatamente como estas,
dois policiais entraram.
Não havia trancas naquela época,
mas temos hoje.
Eles carregavam um corpo nos ombros.
Estava inconsciente. Estávamos prontos.
Foi uma noite muito corrida. Havia outras
pessoas com problemas sérios.
A sala de espera estava cheia de gente.
E havia um homem que tinha chegado
uma hora antes do Lennon,
que havia sofrido um acidente de moto.
E aconteceu que ele era um repórter.
A médica vem e me olha. Eu estava imundo.
Eu vou pedir uma radiografia para
saber a extensão do problema.
E naquele momento, a porta atrás
de mim se abre e um homem grita:
"Temos um baleado no peito."
E a médica pergunta: "Quando ele chegará?"
"Ele está chegando agora mesmo."
Ela diz: "Allen, desculpe, mas
preciso cuidar disso."
"Sem problemas, eu entendo."
Eu ouvi passos quando a porta se abriu
novamente e olhei para trás.
E há uma maca. 5 ou 6 policiais, não
sei bem, carregando a maca.
Colocamos o corpo em
uma maca na nossa frente.
Era claro que havia três ferimentos
a bala no lado esquerdo do peito
e um no braço esquerdo. Era claro,
também, que não havia circulação.
Inicialmente, não sabíamos
que era John Lennon.
Como parte da rotina, pegamos o RG
de suas roupas e ele dizia 'John Lennon'
mas a enfermeira disse: "Não parece o
John Lennon. Não pode ser."
Quase que imediatamente, Yoko Ono
entra na sala de emergência.
Sabíamos com que estávamos lidando.
Tínhamos uma pessoa muito
importante em nossas mãos
e era nosso dever tentar ressucitá-lo.
Dois policiais saíram e ficaram do lado
da minha cama. Um deles disse:
"Dá para acreditar? John Lennon."
Olhei para cima e perguntei: "Com
licença, senhor. O que você disse?"
Ele respondeu: "Não disse nada."
E foi embora.
Bem, ele disse 'John Lennon'?
Ele disse 'Jack Lemon'?
Ele falou algum outro nome que
ninguém conhece? E escuto choro.
E, de novo, eu viro e vejo uma mulher
asiática, com uma casaco longo de visom.
Eu sabia que era Yoko Ono.
Então tinha que ser John Lennon.
Allen Wise consegue chegar a um
orelhão e ligar para o jornal,
com a informação de que John Lennon
havia sido baleado, estava no hospital,
mas sua condição ainda desconhecida.
Um repórter britânico freelancer,
Tom Brook, vivia em Nova York.
Naquele dia, eu estava em casa.
Eu morava em Greewish Village
e recebi uma ligação de Jonathan King.
Ele me disse que havia recebido informação
de um tiroteio no Edifício Dakota e que
John Lennon poderia estar envolvido.
Quando ouvi aquilo, sabia que
poderia ser uma grande história.
Saí de casa rapidamente com meu gravador e
meu rádio, vim num taxi pela 8ª avenida
e cheguei aqui provavelmente
por volta de 11:15.
Minha namorada chegou,
pálida, olhou para mim
e disse: "John foi baleado."
Eu... fiquei paralisado.
Eu disse: "Acabei de vê-lo."
Ela disse que ele havia sido baleado no
Dakota e que estava no Hospital Roosevelt.
Nós corremos e pegamos um taxi e
seguimos para o Hospital Roosevelt.
Uma TV local grava o momento em
que o produtor Jack Douglas chega.
Meu nome é Jack Douglas.
Eu acabei de vê-lo.
- São ordens, senhor.
- A Yoko está aqui? O Fred está aqui?
- A Yoko está aqui.
Eu tinha um número especial para ligar
para a recepção do Dakota.
O lugar onde eles recebem as pessoas.
O portão de segurança.
E liguei para aquele número.
E eu disse: "Oi, aqui é o Elliot e
só quero saber se está tudo bem?
E... a pessoa desligou o telefone.
E isso nunca tinha acontecido antes.
Então fiz uma ligação rápida para
a American Airlines para reservar um
assento no último voo de LA para NY.
Eu estava sentado na maca e olhei para o
quarto e os vi cuidando do John.
Ele estava deitado na cama,
rodeado de médicos, sem roupa
e me lembro de ver muito sangue.
Descobrimos que todos os vasos sanguíneos
importantes que saíam do coração,
a aorta e todas as suas ramificações
haviam sido destruídas.
Tentamos achar um lugar para estancar
a hemorragia. E literalmente segurei
o coração do John Lennon nas mãos e
massageei para tentar reanimá-lo.
Fizemos transfusão de sangue, mas era
claro que, com todos os vasos destruídos,
não haveria nada que
pudéssemos fazer naquela noite.
Por volta de 11:10 e 11:15,
declaramos John Lennon morto.
♪ música instrumental ♪
Acho que todos nós naquela
sala de repente percebemos
o que estávamos fazendo, onde estávamos,
e com quem estávamos lidando.
Muitos começaram a chorar. Lembramos os
funcionários de não dizer nada a ninguém
até que uma declaração de imprensa
apropriada tivesse sido feita.
Dissemos aos funcionários que não poderiam
vender o uniforme manchado de sangue.
Nos certificamos de que lençóis e
equipamentos da sala estivessem seguros.
E que o relatório médico
também estivesse protegido.
E policiais começaram a aparecer por
todas as portas da emergência e disseram:
"Você, deite-se."
E eu disse: "Mas estou bem assim."
E eles: "Deite-se." A história da ABC já
havia sido publicada aquela hora.
Eu me deitei e eles me levaram
para fora da emergência.
E me puseram em uma outra sala
do lado de fora da emergência.
Naquela hora que percebi que teria
que ir conversar com Yoko Ono.
Foi quando me lembrei que estava cuidando
de Allen Wise, um diretor de notícias da ABC.
Ele estava deitado numa maca do
lado de fora da sala de ressuscitação,
mas a maca estava vazia.
O hospital tocava uma música de fundo. E
a que estava tocando era 'All my loving'.
A música termina e dois minutos depois
eu escuto um grito: "Não, não, não, não!
Sua primeira resposta foi imediata.
'Não é verdade. Você está mentindo.
Não pode ser. Não acredito em você."
Para mim, parece que isso
durou uns cinco minutos.
Ela estava deitada no chão e
batia a cabeça contra o piso.
Coloquei minhas mãos atrás de sua cabeça
para tentar evitar que ela se machucasse.
Yoko Ono ficou muito
abalada por um bom tempo.
Mas foi quando uma enfermeira trouxe
a aliança de John Lennon e me deu
para que eu a entregasse para ela, que
ela aceitou o fato do marido estar morto.
E fiquei comovido com
a primeira coisa que ela falou.
Ela disse:
"Meu filho Sean ainda está acordado. Ele
provavelmente está sentado em frente a TV.
Por favor, espere uns 25 minutos para
fazer o anúncio, para que eu possa
chegar em casa e contar-le eu mesma o que
aconteceu, antes que ele o saiba pela TV."
A médica que me atendeu volta e diz:
"OK, vamos continuar com você."
Eu disse: "Espere, doutora. O que
aconteceu com John? Ele está vivo?
Está morto? Ele está paralizado?
Eu vi todo aquele sangue.
Ela disse: "Não posso falar nada. Haverá
uma coletiva de imprensa em 40 minutos."
E então, eu disse:
"Deixe-me fazer uma pergunta.
A senhora é uma das principais médicas
aqui, correto?" Ela disse: "Sim."
"Se alguém é trazido com um
ferimento a bala... Faz apenas 20 minutos.
Se a pessoa estivesse viva,
você não seria requisitada?"
Ela disse: "Essa é uma
suposição precisa."
Eu disse: "OK. Preciso de um telefone."
Essa noite, um dos maiores músicos e
artistas do mundo, John Lennon dos Beatles
foi morto em frente
a sua casa em Nova York.
Então começamos com uma
atualização dessa história.
John Lennon foi baleado três
vezes por volta de 11 da noite.
Ele foi levado às pressas ao
Hospital Rossevelt de Nova York,
mas morreu depois de alguns minutos.
A polícia mantêm um suspeito sob custódia,
e o definem apenas como um doente mental.
Na segunda à noite, eu estava revelando
as fotos que havia tirado no sábado.
Atrasado, como sempre,
estava tentando terminar tudo.
Foi quando um amigo me ligou e disse que
havia visto na TV que Lennon estava morto.
Eu caí no chão, pensando como poderia
mudar aquilo, como consertá-lo,
como melhorá-lo. O que fazer para reverter
a situação e não havia nada a ser feito.
Depois de 15 minutos que havia chegado,
escutei que Lennon havia sido levado
ao Hospital Roosevelt e
que havia sido declarado morto.
Foi uma notícia horrível. E era meu
trabalho reportá-la à BBC de Londres.
O que fiz usando um telefone
público no final da rua 72.
No Reino Unido, é cedo de manhã.
Na linha, direto de Nova York, em frente
ao edifício onde ocorreu o assassinato,
nosso repórter Tom Brook. Tom, você pode
nos dizer o que aconteceu exatamente?
Como você disse, Graham,
John Lennon foi morto há duas horas.
Ele voltava para casa com
sua esposa, Yoko Ono..
A ex-namorada de John, Thelma,
acordou com o telefone tocando.
Era meu editor. Eu era jornalista
no noticiário da TV Granada.
Ele disse que John Lennon havia
sido baleado. Ele estava morto.
Eu ficava dizendo: "Você tem
certeza? Como? Não acredito."
Ele disse: "Precisamos
de você aqui, rápido."
Então, dirigi até lá nas
primeiras horas da manhã.
E passei pela Mandip. A casa aonde
costumávamos ir. Eu olhei para ela
e estava escura. Não parecia diferente.
Eu ainda esperava que ao chegar a Granada,
tudo não teria passado de um equívoco.
O radialista Dave Sholen chega em casa em
São Francisco, animado com a entrevista
que acabara de fazer há sete horas.
Ele não sabia da notícia
até ligar o rádio do carro.
Eu parei o carro e, por um momento,
apesar de saber que estava acontecendo,
eu rezei para que fosse um pesadelo.
Indo para Nova York, seu amigo Elliot
Mintz ainda não sabe que John morreu.
Uma comissária, sai do cockpit
chorando. Eu olhei para ela e perguntei:
"Você está bem?" Ela olhou para mim
e disse: "Mataram John Lennon."
Heathrow, Londres. São seis da manhã.
O entrevistador da BBC Andy Peebles
e seu produtor Paul Williams chegam
de Nova York sem saber da tragédia.
Paul deixou cair o telefone
e ele bateu no chão,
onde estávamos em Heathrow,
no terminal, e ele quicou.
Eu olhei para ele e ele tinha lágrimas nos
olhos e então perguntei: "O que foi?"
Pensei que algo ruim tivesse
acontecido com sua família.
Ele disse: "É o John."
E perguntei: "O que tem o John?"
"John Lennon. Ele foi baleado."
Eu disse: "Paul, não seja ridículo.
"Ele foi baleado?"
Ele disse: "Sim. Ele está morto."
Eu fiquei ali parado. Perplexo.
Eu fiquei chocado e me perguntei:
"Quem fez isso?"
Então disseram que havia informação que
o homem que o matou teria vindo do Havaí.
E quando disseram isso,
ela sabia imediatamente quem era.
Você não pode imaginar
o nojo e a fúria...
E lembrei que talvez eu pudesse ter sua
foto quando seu álbum era autografado.
Então, liguei para a polícia de
Nova York e disse
que eu tinha uma foto do assassino
com ele às 5 da tarde.
Eles desligaram na minha cara.
Então liguei para o Daily News.
Ele disse: "Você tem o que?
Ele disse: Paul, você tem certeza que
esse é o homem que o matou?"
Esse é o homem chamado Mark,
do Havaí, que estava esperando
o dia todo do lado de fora
por um autógrafo.
Ele perguntou: "Você tem certeza?"
Eu respondi: "Sim."
Ele continuou: "Você tem noção de que
colocaremos essa foto na capa do jornal?
E estivermos errados, será
um grande problema."
Eu disse: "Bem, não sei, mas esse
era o homem que estava lá o dia todo."
Ele disse: "Está bem, então."
Eles tinham conexão com a polícia
e tinham um repórter lá tentando
ver como o homem se parecia,
para saber se ele se
parecia com o da foto.
Mas ele estava coberto com
um casaco o tempo todo.
Mas o tempo estava se esgotando e o editor
disse: "Temos que por isso na capa."
Ele dise: "Você tem que descobrir algo.
Olhe seus sapatos, qualquer coisa...
Ele usa óculos?" O repórter respondeu:
"Ele está coberto. Não vejo nada."
E então ele disse: "Espere. Vejo um
cachecol por baixo do casaco."
E o editor disse: "Vá à imprensa."
Por causa do cachecol na foto.
É tão estúpido e sem sentido. Mas surtiu o
efeito que aquele monte de lixo queria,
que era ficar famoso. Fazendo aquilo
ele se conectou ao John para sempre.
E, infelizmente, é assim
que a história funciona.
Me afeta emocionalmente...
Sim... porque...
Sinto que todos perdemos. E nunca
saberemos o que ele teria feito.
A amiga de John, Cilla Black, estava
cantando 'Imagine' naquela noite.
Eu cantei um pouco.
Em uma noite boa, foi...
...foi sentimental.
Nunca dê um dia por garantido.
Digo isso porque, em uma fração
de segundo, a vida pode mudar.
Todos que amavam John pensavam
que o conheciam. Eu o conhecia.
Mas não sou muito diferente das
pessoas que pensavam que o conheciam,
porque ele era sua música,
em sua maior parte.
80% dele, era o que
ele nos deu de si mesmo.
Se as pessoas pensavam que
o conheciam, elas realmente o conheciam.
♪ Love is real ♪
Meu filho se chama Lennon
por causa do John Lennon.
Talvez tirem sarro dele por isso,
mas ele não se importa nem um pouco.
Como disse, eu amo o Lennon.
Creio que influenciar o pensamento
das pessoas foi, de certa forma,
tão marcante quanto suas músicas e letras.
Yoko precisou lidar com uma onda de
sofrimento de milhões no mundo todo.
Muitas pessoas estavam na rua...
Mas eu estava mais preocupada
com meus sentimentos e os de Sean.
Mas quando soube que algumas
pessoas se atiraram do telhado,
pensei, tenho que cuidar delas.
Porque sou sua esposa.
Oitos dias depois da morte de John, Paul
Garesh recebe um pacote do Dakota.
Era o livro que ele tinha
deixado para John autografar.
Abri o livro e ele tinha escrito:
'Amor, John Lennon, 1980.'
Foi a única vez que ele escreveu
'Amor' em algo para mim.
Ele o autografou às 3:30 da tarde
no dia 8 de dezembro.
Pela sugestão de Yoko, uma vigília
foi organizada no mundo todo,
com dez minutos de silêncio.
As centenas de milhares no Central Park
foram para a rua em frente ao Dakota.
Naquele momento, o
mundo todo estava unido,
criando um círculo
ao redor do globo.
E acho que aquela memória, ainda
que um pouco esquecida, ainda está lá.
E nós estamos juntos.
♪ love is real ♪
O coração de John Lennon se parecia com
o coração de qualquer outra pessoa.
Infelizmente, quando o encontrei, ele
estava vazio, sem sangue, sem vida,
e imóvel, mas era um bom coração.