Bem agora que todos iam tirar um cochilo. Não tirem um cochilo! Levantem a mão, apertem a orelha esquerda o máximo que puderem. Levantem a mão se doer. Excelente. Obrigado por me receberem. (Risos) Não, não é verdade... Deixem-me contar uma história. Só quero tirar isso da tela por enquanto. Quero contar uma história que explica os primeiros três anos da neurobiologia da dor que estudamos na universidade. Oito anos atrás, eu caminhava no mato. Eu usava um sarongue. (Risos) Muito legal. Isso é o que aconteceu. Vocês viram aquilo? Esperem, foi isso o que aconteceu. Biologicamente, vou contar o que aconteceu naquele momento. Algo tocou minha pele na perna esquerda. Isso ativa os receptores no final das fibras nervosas mielinizadas de condução rápida, que sobem direto pela minha perna, direto pela minha medula espinhal, até essa parte do meu cérebro, e eles dizem: "Você acabou de ser tocado na pele da perna esquerda". (Ofegante) (Risos) Enquanto isso, o que quer que fosse, era suficientemente intenso para ativar as terminações nervosas livres; nós as chamamos de nociceptores. Elas são Lada Niva magros, não mielinizados, de condução lenta; alguém sabe o que é uma Lada Niva... (Risos) fibras nervosas. E essa mensagem viaja até a minha medula espinhal, e é o mais longe que ela vai. E diz para um neurônio fresco na minha medula espinhal: "Algo perigoso aconteceu na pele da sua perna esquerda, companheiro". (Risos) E o nociceptor espinhal leva essa mensagem até o tálamo, que fica lá em algum lugar, e diz: "Há perigo na pele da perna esquerda, companheiro". Agora o cérebro tem que avaliar quão perigoso isso realmente é. Então, ele olha tudo. E entendo o aconteceu comigo assim, com meu cérebro pensando: "Lobo frontal, já passamos por algo assim antes?" "Espere, vou perguntar ao córtex parietal posterior." "Já passamos por isso antes?" "Sim, nós passamos." "Aconteceu nesta fase do ciclo da marcha?" "Sim, aconteceu." "É proveniente do mesmo local?" "Sim." "O que é isso?" "Bem, desde pequeno, você costumava arranhar as pernas nos galhos. Isso não é perigoso. Eu vou dar a você, o organismo, algo, então pode chutar o galho e continuar seu caminho feliz". E foi o que aconteceu comigo. Não posso mostrar agora, mas tirei meu sarongue, entrei no rio, saí do rio, e essa é a última coisa que eu me lembro, ter sido picado por uma cobra marrom. (Murmúrios) Sobrevivente. (Risos) Muito obrigado. (Aplausos) Por algum motivo, a cobra marrom envenena, claramente, e uma das coisas que faz é ativar as fibras nervosas. Na verdade, meu cérebro recebeu essas mensagens dizendo: "Perigo! Perigo! Perigo! Perigo!" e, em sua sabedoria, disse: "Não. Não. Não". Seis meses depois, eu caminhava no mato com uma companhia chata. Vocês sabem como é um chato? Aquelas pessoas que, não importa o que digam, são chatas. (Risos) É irrelevante, mas vamos chamá-la de Naomi porque esse é o nome dela. (Risos) De qualquer forma, foi o que aconteceu. Ai! Ai! E estou agonizando. Sinto uma pontada de dor queimando minha perna. Direi, biologicamente, o que aconteceu. Algo tocou a minha pele na perna esquerda. Ativou as grandes e gordas fibras nervosas mielinizadas que enviaram uma mensagem até aqui. "Algo tocou a pele da sua perna esquerda." É intenso o bastante pra ativar essas terminações nervosas livres. Os receptores de perigo levam a mensagem para minha medula espinhal: "Algo perigoso aconteceu na pele da perna esquerda..." Plateia: Companheiro. Sim! (Risos) Muito bem, você nem ensaiou. Vai para o tálamo e diz a mesma coisa: "Algo perigoso acaba de acontecer na pele da perna esquerda..." Plateia: Companheiro! O cérebro diz: "Muito obrigado, tálamo. As crianças estão bem? Bem, então... (Risos) Córtex frontal, algo para me dizer? "Espere, vou perguntar ao córtex parietal posterior: onde estamos?" "Estamos caminhando no mato..." Plateia: Companheiro. (Risos) Você é um companheiro pouco feliz. "Nesta fase do ciclo da marcha?" "De onde vem isso? Já estivemos aqui antes?" "Ah sim, estivemos." "Na última vez, você quase morreu." "Eu vou fazer isso doer tanto que você não poderá fazer mais nada!" E eu estava em absoluta agonia pelo que pareceram minutos. Gritando de dor, até que um dos meus amigos olhou pra minha perna e viu o arranhãozinho de um galho. (Risos) A dor nessas situações era totalmente diferente por causa do significado. Quero convencê-los de que a dor é uma ilusão 100% do tempo. Aqui está uma ilusão visual... Deem uma olhada nessa foto, temos um quadrado com um A nele e outro com um B. Levantem a mão se vocês acham que o quadrado com A nele parece mais escuro que o quadrado com o B. Graças a Deus por isso. Nenhum de vocês tem uma desordem neurológica realmente constrangedora. Exceto você. (Risos) Isso não é verdade. Vejam o que acontece com outro olhar sobre isso. Estes são aqueles dois quadrados tirados daquela foto. Espero que vejam que são idênticos e alguns podem não acreditar em mim. Vou colocar o A em cima disso e vou colocar o B em cima disso. Alguns podem não acreditar em mim ainda, então por que nós simplesmente não movemos o A em cima do B, ou o B por cima do A? Não importa quanto tempo olhem, o A parecerá mais escuro que o B porque o cérebro está fazendo coisas bem legais, muito rapidamente sem a nossa consciência. Vejam isso. Virem a cabeça para o lado e deem uma olhada na mesma foto. Nada muda. (Risos) Fantástico. 100%! Então, o que realmente acontece aqui, exatamente a mesma frequência está atingindo sua retina, e envia uma mensagem para a parte de trás do cérebro, e então toda essa coisa legal acontece muito rapidamente pra fazer as perguntas: "O que isso realmente significa?" "O que é biologicamente vantajoso pra mim?" E então obtemos uma imagem visual. Isto é uma ilusão visual e a visão não tem a ver com emoção, não é necessariamente sobre sobrevivência, mas a dor é. Alguns podem não saber se não forem medicamente treinados, mas o que está acontecendo na perna direita desse cara, isso não está certo, isso é... (Risos) essa é uma situação perigosa, e uma mensagem de perigo chega ao cérebro, e o cérebro precisa fazer exatamente as mesmas perguntas: "O que isto significa? O que deve ser feito aqui?" E, com sorte, a orquestra no cérebro dessa pessoa fará a perna doer. No trabalho que realizo há muito tempo, fazemos nosso melhor para descobrir como podemos convencer as pessoas com dor de que entendemos que estão com dor, mas não se trata apenas dos tecidos do corpo. Como podemos convencê-los disso? E uma mudança conceitual crucial que achamos ser realmente importante é entender que a dor é o resultado final. A dor é uma saída do cérebro projetada para nos proteger. Não é algo que vem dos tecidos do corpo. Não há nada aqui. Mostramos aos pacientes uma faca afiada, e dizemos que esta faca é afiada, sim? Sim. E pode estar um pouco fria, é dura, tem todas essas propriedades. Esta faca, dolorosa ali parada. Não, não é. Essa faca não tem as propriedades da dor. E quando a enfiamos na barriga deles; nós fazemos isso regularmente, direto; (Risos) a barriga não adota a propriedade da dor. O cérebro tem que fazer algumas coisas muito rápidas e interessantes para projetar essa ilusão de que a dor existe lá. A dor é uma construção do cérebro, 100% do tempo. Podemos manipular a dor facilmente sem tocar nos tecidos. Fizemos esta experiência há um tempo, na qual temos voluntários saudáveis supostamente "normais". Não são pessoas normais, porque se voluntariaram para um experimento de dor, (Risos) mas digamos que são razoavelmente normais. Colocamos uma peça de metal muito fria nas costas da mão deles, e lhes mostramos uma de duas luzes. Uma luz é vermelha e outra é azul. Não falamos nada sobre as luzes, apenas lhes mostramos. Eu vejo essa mão. Perguntamos a eles: "Dói muito?" E se eles veem a luz vermelha, dói mais do que se veem a luz azul. O estímulo é exatamente o mesmo, o diferente é o significado do estímulo. Há uma indicação que diz: "Isso está muito quente". Porque vermelho significa quente. Então, o cérebro sensato e inteligente deveria dizer: "Não quero que você faça isso, então eu vou fazer isso doer". Há pessoas nos Estados Unidos que podem usar alunos de psicologia em experimentos em troca de pontos nas provas ou sexo, ou outra coisa. (Risos) Enfim, colocam a cabeça dentro do que pensam ser um estimulador, e eles se certificam de que o sujeito possa ver o botão de intensidade. E conforme aumentam o botão de intensidade; esta pequena figura lá mostrando as linhas subindo a uma taxa constante; essa é a dor de cabeça relatada por eles, e coincide com o botão de intensidade. Mas o estimulador não está fazendo nada. É só um daqueles secadores de cabelo de plástico antigos que não fazem nada. Vocês conhecem essas coisas? Você provavelmente já usou um. (Risos) O truque é que eles têm que ver o botão de intensidade. Sempre quis fazer um experimento com base no filme "Isto É Spinal Tap", em que o botão de intensidade vai até 11. Lembram-se daquele filme? O realmente importante do ponto de vista clínico; sou um neurocientista clínico, e vejo pacientes com dor; é que qualquer indício confiável de que eles estejam em perigo deve alterar a dor deles. Eles entram nos departamentos hospitalares com modelos como este na mesa. O que seu cérebro diz quando vê um disco vertebral que escorregou tanto que saiu da coluna? (Risos) Já viram um disco vertebral num cadáver? Não dá para soltar aqueles danados. Eles são imóveis, não dá para soltar um disco. Mas essa é a nossa linguagem e ela manipula nosso cérebro. Ela não pode não manipular nosso cérebro. Podemos até modular a localização da dor e fazer umas coisas interessantes. Está bem estabelecido que a dor reflexa causa dor em uma área do corpo que pode ser fisiologicamente normal. Podem ter ouvido falar de dor reflexa. (Espirro na plateia) Saúde! Fazemos experimentos em que causamos dor em um membro artificial, que nem é da pessoa. Este é Meng, um pós-doutorando em meu laboratório em Oxford, no Reino Unido, e roubamos um membro protético; que é uma outra história muito engraçada, mas não vou contar para vocês; e nós podemos fazer essa manipulação de modo que comece a sentir como se o membro plástico na sua frente fosse seu. E podemos fazer a mão de borracha doer. E podemos pegar uma faca e passá-la pela mão de borracha, e você tem reações cerebrais para proteger aquela mão de borracha. Está sentindo dor em um pedaço de plástico, efetivamente. Eis uma experiência legal em que pegamos duas pessoas do Clip-art da Microsoft, e colocamos uma "webcam" na testa de uma delas e um par de óculos de realidade virtual na outra. E então nós os fazemos apertar as mãos. E como estão apertando as mãos, a pessoa à direita, que está usando os óculos... o campo visual dela vem da testa da outra pessoa. Entenderam? Então, estão efetivamente olhando para a outra pessoa, pensando que são eles porque estão apertando as mãos, o comando motor se encaixa, tudo está bem. E então nós entramos e colocamos um estímulo doloroso no braço da pessoa, e eles veem o braço da pessoa ali, com quem estão apertando as mãos, e dizem: "Ai! Isso realmente dói". E nós dizemos: "Onde dói?" "No braço daquele homem". (Risos) Acertam todas as vezes, apontando exatamente onde estão, mas se vendo do lado de fora, tirando uma foto, temos o estímulo doloroso aqui, e eles estão dizendo: "Dói lá". O cérebro não está apenas produzindo dor, está projetando para este local no ar. Nós podemos manipular isso. Isso tudo se torna importante quando a dor persiste porque aí duas coisas acontecem que tornam a vida de alguém com dor realmente difícil, e custam ao país 40 bilhões de dólares ao ano. Custam mais à Austrália do que o câncer, doença cardiovascular e diabetes juntos. Obrigado por essa expressão facial, eu queria que alguém fizesse... (Risos) O problema é que se continuarmos estimulando os neurônios, as células cerebrais que produzem dor serão mais eficazes. Se tornarão cada vez mais sensíveis e precisaremos de uma influência menor. A ilusão de aumentar a sensibilidade torna-se muito inútil. Está tentando protegê-lo de algo que não precisa de proteção. É muito real. A outra coisa que acontece é que todas essas redes perdem a capacidade de serem específicas e precisas, de modo que a dor se espalha. A dor muda de qualidade. Finalmente, não é sequer informativa; é inútil e pouco informativa. Talvez a próxima palestra TED seja sobre a questão que realmente importa: "O que fazemos sobre isso?" Quem sabe? Não, nós sabemos, é o que estamos pesquisando, mas meu tempo acabou. Muito obrigado por me receberem. (Aplausos)